sexta-feira, 4 de abril de 2014

A ERA DOS MORTOS - 39


CAPÍTULO 39


Jack Trevor e os outros sobreviventes assistiam passivamente o helicóptero pousar no heliporto da fortaleza. Os quatro agentes da guarda da torre estavam ansiosos e apontavam suas snipers para o helicóptero quando a porta do mesmo se abriu e um homem saiu.

Jack conhecia aquele homem. Já o tinha visto antes. Sabia que ele era perigoso e por precaução, colocou Cindy no chão e se colocou à frente de todos.

Aquele estranho homem que agora se aproximava deles com aparente calma havia sido o chefe de segurança das Industrias Lanister.

Há alguns anos atrás, Jack havia invadido um dos armazéns de Lanister a procura de pistas de onde o vírus T-523 poderia estar.  Foi a primeira vez que teve contato com aquele homem. Ele era organizado, forte e sabia como atirar. Trevor havia levado um tiro dele enquanto tentava escapar e por pouco não foi capturado. Era um homem implacável, mas Jack também o era e por isso sustentou um olhar ameaçador.

- Se eu fosse você, entraria nesse helicóptero de novo e sumiria da minha vista. Não há nada para você aqui. – disse Jack, num tom grave que indicava que ele não estava para brincadeira, embora não estivesse em posição de ameaçar ninguém naquele momento.

- Vim buscar Paris Lanister... Paris é a minha prioridade e só sairei daqui quando eu a encontrar. – disse o homem, levantando as mãos, como se estivesse desarmado.  

Um barulho chamou a atenção de todos. Os zumbis havia conseguido chegar até a porta que dava acesso ao terraço. Não levaria muito tempo agora.

- Vá embora! Suma antes que os zumbis...

- Sr. Trevor, eu sinto muito pelo que ocorreu na fortaleza, mas você precisa me dizer onde posso encontrar Paris Lanister. Ela está lá embaixo? – o misterioso homem insistiu. – Se estiver, devo insistir em resgatá-la.

- Alexia não está aqui. Ela está segura, mas eu morrerei antes de lhe dizer onde ela está...

- O senhor não está entendendo, Sr. Trevor. – continuou o homem. – Paris Lanister precisa vir comigo, agora. É uma questão fundamental.  E o senhor irá me dizer onde ela está, quando eu lhe disser para que eu vim...

Um novo baque estranho fez-se ouvir.

- Nós não temos muito tempo, Sr. Trevor... então eu vou começar dizendo que Paris é a chave para a nossa libertação...  E se o senhor quiser vê-la novamente a salvo, antes que Brandon chegue até ela, o senhor irá me dizer onde ela está...

Dois dias depois...

Lex acordou com uma terrível dor de cabeça. Não conseguiu dormir a noite toda, pois estava preocupada com Lizzie. Ela voltara a tossir e não parecia muito bem. Era uma sorte que a Dr. Melanie estava no casarão, pois ela poderia ajudar Lizzie.

Era estranho estar ali, uma vez que acostumara a sua vida na fortaleza.

Foi terrível se aproximar do casarão pela primeira vez, há dois dias atrás. Não havia muralhas como na fortaleza, mas a casa era completamente afastada da civilização, construída no centro de uma pequena ilha paradisíaca ao sul da Capital. Lex já havia visto aquela ilha antes.

Da casa de praia onde Lex passara os verões com o pai, Lex podia ver a praia. Uma vez, Teddy levou-a muito perto da casa com uma bateira motorizada que ele havia alugado para um dos verões.

Lex imaginava que a ilha era inabitada e se surpreendeu por ver a casa, surgindo no meio de uma grande clareira, geometricamente no interior da ilha.

Quando pousaram, houve pouco tempo para conhecer os arredores e concentrou suas energias em compreender seu interior e sua nova vida ali.

Havia uma cerca eletrificada e quase nenhuma das regalias que havia na fortaleza. Havia energia, mas por precaução, só era utilizada para manter a cerca e os aparelhos da enfermaria. Isso significava que banho quente e confortável estava fora de circunstância. Mas pelo menos, tinham um lugar seguro para ficar.

Ao redor do casarão, por fora da cerca elétrica, havia uma grande plantação de trigo, tomates, pepinos e morangos, cobertos por plástico transparente, numa grande estufa. Lex imaginou que era para evitar a contaminação pelos pássaros.

Não havia frangos, nem vacas, nem qualquer outro tipo de animal, fora um cachorro magro que era do caseiro do casarão, um senhor de idade chamado de Steve.  Foi o cachorro que havia acordado Lex naquela manhã. Quando abriu os olhos, viu a carinha do animal ao seu lado. Ele tinha as patinhas sobre a cama e tentava alcançar o rosto de Lex com o focinho.

- Bom dia, Bob! – disse Alice e o cachorro abanou o rabo. – Está com fome, imagino?

O cachorro latiu e Lizzie revirou-se na cama.

- É melhor ficar calado, Lizzie não está muito bem! – explicou Lex ao cachorro que parecia compreendê-la. – Vem... vamos descer.

O casarão tinha somente um andar e o térreo. Além disso, havia um porão, onde Steve guardava mantimentos. A casa era toda rústica, mas era bem grande. No primeiro andar, havia quatro quartos, divididos dessa maneira entre os sobreviventes: Lex e Lizzie; Dr. Melanie e Janaira; Casper e Alexander, o piloto do helicóptero; Briam e Steve.

No térreo do casarão, havia somente uma grande sala de jantar, com uma mesa enorme, a cozinha, a lavandeira e uma saleta que parecia um altar: havia até uma imagem de algum santo que Lex não conhecia.

Seguida por Bob, o cachorro, Alice encaminhou-se para a cozinha.

Nos dois dias em que estivera na casa, Alice fora a primeira a descer e a preparar o café: pão com geleia de morango e água. Naquela manhã, surpreendeu-se por ver Dr. Melanie sentada na mesa, com a cabeça deitada sobre os braços.

- Dr. Melanie? – perguntou Lex preocupada.

Quando a Dr. Melanie levantou a cabeça, percebeu que seu rosto estava inchado e os olhos vermelhos e marejados.

- O que aconteceu? – perguntou Lex, preocupada.

- Só estou triste! – respondeu ela, enxugando os olhos rapidamente. 

Lex não respondeu. Era óbvio que tudo era muito triste. Não queria pensar sobre o que havia acontecido com a fortaleza e seus habitantes que foram seus amigos por tantos dias. Quantos haviam perecido e quantos poderiam ter sobrevivido? Desde que pousaram na ilha, há dois dias atrás, não haviam mais entrado em contato.

Havia um rádio no casarão, que ficava num canto da sala de jantar. Steve ligava o rádio todos os dias e tentava contatar a fortaleza ou a Trevor & Associados, mas não havia tido sucesso. Alexander também tentara o rádio do helicóptero, mas só conseguiu captar uma mensagem entrecortada, ininteligível.

- Fico pensando... – balbuciou a médica - Eu sei... sei que você é importante. E sei que você não viria pra cá sem a sua irmã. Eu entendo isso e acho que é justo... mas porque o namorado da sua irmã, o Briam pôde vir??? Você acha que isso é justo? – perguntou Melanie, deixando as lágrimas correrem soltas. – Por que Lizzie pôde trazer o namorado dela e eu não pude trazer o meu? Casper trouxe a Janaira...

- Eu entendo, Dr. Melanie. – disse Lex, sem saber o que mais responder. - Eu acredito que Briam só está aqui porque é sobrinho de Abraham Smith, achei que a senhora soubesse. E eu não sabia que você tinha um namorado... 

- Briam é filho do porco Smith? – perguntou a médica, parecendo ainda mais revoltada – Devíamos mata-lo, não deixa-lo sobreviver.

Lex observou a médica um pouco surpresa por sua sentença. Um médico geralmente se preocupava em salvar vidas, não em tirá-las. Entretanto, Lex sabia que não deveria julgar. A médica estava em estado de choque por saber que seu namorado provavelmente não sobreviveria.

Lex até a compreendia. Jack não era seu namorado. Tiveram uma noite e alguns momentos e era tudo. E ainda assim, Lex sentia um pequeno buraco no coração por pensar que talvez ele não tivesse conseguido...

- Quem é seu namorado? – perguntou Alice, sentando-se defronte à médica.

- Abril... Abril Madison!

- Abril...? Eu o conheço. Ele é um agente. Ele foi gentil comigo. – falou Lex, lembrando do dia em que conheceu Abril no salão de jantar da fortaleza. Achou-o simpático. Lex lembrava de ter visto Abril perto de Jack quando fora levada por Casper. Se os dois estivessem juntos, talvez estivessem bem. Um poderia ter protegido o outro....

Ou talvez ambos estivessem mortos. 


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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