sexta-feira, 4 de abril de 2014

Alta Tensão - Capítulo 19



** CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO ANTERIOR **
[...]
     ― Eu não sou uma boa pessoa, Cida. Todos nós temos os nossos defeitos. Bom, essa pode ser uma das últimas vezes em que nós nos falamos. Eu... Eu vou embora com o meu...
     ― Com o Ugo.
     ― Isso. Vou embora com ele. Tenho pouco tempo de vida e quero aproveitar esse tempo sendo feliz.
     ― Total apoio, Wagner. Você merece.
     ― Eu não conheci minha filha Ingrid, mas conheci você, Cida. Tenho um grande apreço por você. Posso te pedir algo?
     ― Se estiver ao meu alcance...
     ― Me dá um abraço?
Ingrid se agacha e abraça Wagner. Um sentimento de pai e filha foi despertado. Aquele sentimento estava sendo selado naquele momento.
DÉCIMO NONO CAPÍTULO
     ― Agora eu preciso ir descansar. Só vim mesmo te pedir isso. Até mais.
     ― Até. Durma bem.
Wagner sai. Bruno sai do banheiro e se espanta:
     ― Esse não parecia o Wagner que jogou uma câmera na minha testa.
     ― Não mesmo. Depois que ele soube que a “Ingrid” estava morta, ele ficou assim.
     ― Sério, ele está mais manso. Sei lá.
      ― E o nosso champanhe, vai esperar? – Ingrid pega a taça e encosta na boca de Ugo, fazendo com que ele beba.
     ― Não mesmo. ― Bruno a beija.
     — Espera, Bruno...
     — O que foi?
     — Wagner está iludido com o Ugo... Eu... Eu vou contar a verdade pra ele antes que seja tarde. Preciso dizer antes que seja tarde demais. Ugo pretende fazer algo ao meu pai. Eu sinto.
     — Total apoio, meu amor.
***
Música: Marilyn Manson – Tourniquet.
     Wagner entra no quarto. Ugo o espera. Ele se levanta normalmente da cadeira de rodas.
     ― Bom,Ugo... Agora que você já sabe que eu estou novamente conseguindo andar, não tem por que ficar me prendendo nesta cadeira.
Wagner faz uma massagem nas costas de Ugo, que está sentado na cama, pensativo.
     ― Ta pensando em quê?
     ― Vai continuar me tratando feito escravo?
     ― Claro que não! A partir de hoje você não é mais meu motorista. Ok? Olha o que eu trouxe pra você? — Wagner entrega uma sacola a Ugo. É uma roupa de grife.
     ― Obrigado. Fico feliz...
     ― Quero você impecável amanhã. Ouviu?
     Ugo se levanta e prepara uma bebida de vodca com suco de laranja para ambos. Ele entrega um copo para Wagner.
     ― Vamos comemorar então, Wagner. Nada melhor do que vodca. Brindamos...
     ― Um brinde.
***
Música: Linkin Park – Burn it down.
     Analú e Alex estão deitados na cama de Wagner na mansão depois de longas horas de amor. Alex fuma um charuto enquanto Analú conversa com ele pousando a cabeça sobre o seu peito.
     ― Esse charuto do Wagner está muito bom! — dá uma tragada.
     ― Se ele sonhar que nós estamos aqui na cama dele, bebendo a bebida dele e fumando os charutos dele... Sei não.
     ― Quero mais é que ele se foda. Na boa... Se tiver cura pra mau coração, pro do Wagner não tem.
     ― Você não acha que ele possa se tornar uma pessoa melhor?
     ― Se ele se tornar uma pessoa melhor o inferno fecha. É o cão no inferno e o Wagner na Terra.
     ― Bobo... Sabe quem comprou a Flash?
     ― Não. Quem?
     ― Sua avó Gisela. Lembra dela?
     ― Só de foto. Mas pelo que eu sei, ela é melhor do que o Wagner como gente. Quero conhecê-la.
     ― Agora só quando eles voltarem de viagem. E sabe quem está aí? Sua sobrinha, Vanessa. Mimada...
     ― Eu já sou tio? Sou muito novo.
     ― Ela tem a minha idade. É filha do Adriano.
     ― Ta aí. Um dia eu quero rever os meus irmãos. Vou pedir ajuda a minha avó. Será que ela vai gostar de me ver?
     ― Claro que sim, amor. — Ela o beija e os dois rolam na grande cama de Wagner.
***
Wagner já está completamente bêbado. Ele ri à toa e Ugo apenas o observa.
     ― Ugo, você é um ótimo companheiro. Até encheu minha cara! — ri.
Ugo retira o documento impresso da pasta e dá uma caneta para que Wagner o assine.
     ― Assina Wagner. Assina. Coloca tuo nome aqui.
     ― Assinar? Pra quê? – Wagner já está quase desmaiando.
     ― Finge que é um autógrafo. Assina...
     Wagner assina. Logo após, Ugo levanta uma faca. Ele está prestes a atacá-lo, mas alguém bate na porta.

(espaço para abertura)
     ― Quem é?
     ― Sou eu, Cida.
     Ugo esconde a faca e deita Wagner na cama. Depois vai abrir a porta.
     ― O que quer?
     ― Quero falar com Wagner.
     ― Senhor Wagner.
Ingrid olha nos olhos de Ugo fixamente e diz:
     ― Ele está ou não?
     ― Está dormindo.
Ingrid tenta olhar para dentro do quarto, Mas Ugo a impede.
     ― Mais alguma coisa, Cida?
     ― Não.
Ugo fecha a porta e entra.
     ― Maldita... — olha para Wagner capotado na cama. — Vou esperar o sinal do Cérebro. Terá uma morte sofrida. Pedófilo desgraçado...
***
Música: Nx Zero – Maré.
     Passam-se dois dias. As praias estão lotadas e badaladas como sempre, veículos passando nas grandes avenidas da cidade sem parar... É um dia normal.
O navio já está voltando à Fortaleza. Aquele é o último dia de celebrações da venda da Flash.
     Ugo está sentado ainda com a faca na mão em uma cadeira de frente para Wagner (que dorme na cama). Ugo o observa dormir.
     ― Stronzo! Quero que chegue tua hora!
O celular de Ugo toca.
     ― Ele assinou, Cérebro.
     ― (voz distorcida pelo telefone) Ótimo. Hoje a noite será a última comemoração. Wagner vai falar algumas coisinhas no palco do navio não é?
     ― Sim. Seu último discurso.
     ― (voz distorcida pelo telefone) Já está tudo combinado. Vai rolar um blackout. Faça o que você quiser com ele, Ugo. Mas quero que ele tenha uma morte sofrida, lenta e dolorosa.
     ― Capiche.
***
Alessandra e Gianpaolo resolvem procurar um especialista em gravidez.
     ― Então, quer dizer que eu não posso ficar grávida?
     ― Sinto muito, mas é impossível. Seus óvulos não estão mais...
     ― Eu não quero saber de mais nada. – Alessandra corre e Gianpaolo vai atrás dela.
Ela está sentada na sala de esperas da clínica.
     ― Meu amor. Nós podemos adotar.
     ― (chorando) Eu queria uma criança sangue do meu sangue. Eu juro que seria boa mãe. Eu queria te dar um filho, Gian!
     ― Tudo bem, meu amor. Não fique assim. – Ele a abraça.
***
Música: Florence + The Machine – Spectrum.
Ingrid e Bruno almoçam no restaurante do navio.
     ― Ontem quando eu fui ver o Wagner no quarto, o Ugo pareceu estar me escondendo algo.
     ― Tipo o quê?
     ― Eu não sei. Mas tem alguma coisa de muito errada.
     ― Deixa disso, meu amor. Eles que se entendam.
     ― Não é tão fácil. Meu pai corre perigo, Bruno.
Ingrid vê Ugo falando no celular na entrada do restaurante e se levanta de onde está.
     ― Já volto.
Ugo vai para um lugar mais reservado e Ingrid o segue.
     ― Então Cérebro. Farei mais ou menos isso. Dessa noite Wagner não escapa.
Ingrid se assusta e corre de volta para a mesa onde estava.
     ― Bruno...
     ― O que foi amor?
     — Vão tentar matar o Wagner hoje à noite.
***
     Fidel vai até o quarto de Wagner implorar mais uma vez para que ele faça sua apresentação no navio.
     ― Não, não, não e não, Fidel!
     ― Por favor! Prometo que nunca mais eu peço nada ao senhor!
     ― Fidel... Eu vou deixar.
     ― Vai?
     ― Sim. Mas só porque você está se mostrando um excelente funcionário. – Wagner começa a tossir. — Vou colocar você em uma das apresentações de hoje à noite, antes do meu discurso. — conclui, com dificuldade.
     ― Ui! Obrigado! — Fidel saltita e sai.
***
     Cai a noite. O salão de festas do navio está lotado, com praticamente todos os convidados. O mar não está calmo. Os ventos anunciam uma tempestade.
     ― Vovó, parabéns pela compra da revista.
Gisela olha para Vanessa com um ar de raiva.
     ― Desculpe TIA Gisela.
     ― Assim está ótimo. Sou muito nova para ser bisavó de uma cavalona feito você. Parece que vai chover não é? Que frio! Ainda bem que o salão é coberto.
     Já começaram as apresentações. Fidel é o próximo. Ele está no camarim com uma peruca feminina estilo anos 80 e uma roupa de ginástica também feminina.
     ― Ai santa Amy me ajuda!
     ― Fidel, sua vez! — grita o organizador.
Fidel se benze e sobe no palco. Todos olham pra ele e ele fica estático.

Música: Michael Sembello – Maniac.

     Fidel começa a rebolar e sacudir o cabelo. Sua intenção é imitar uma cena clássica do filme Flash Dance. O público vai à loucura quando Fidel se senta na cadeira e puxa um balde d’água, que molha todo o seu corpo.
     ― Muito bom! Rebola Fidel! — grita Vanessa.
Gisela comenta:
     ― Vanessa, Wagner sumiu. Logo depois da apresentação do Fidel ele vai falar.
     ― Calma... Deve ter ido ao banheiro. O Ugo também sumiu, de certa está com ele.
     ― Ele que não demore muito. Não quero atrasos. Quero causar uma boa primeira impressão.
***
Ugo está guiando a cadeira de Wagner até o quarto onde eles estão no navio.
     ― Por que está me levando até o quarto, Ugo? Meu discurso é logo após a apresentação do Fidel.
Ugo não fala nada, apenas quando entra no quarto e tranca a porta.
     ― Levanta da cadeira.
     ― Pra quê? Por acaso sente minha falta? — Wagner se levanta da cadeira. Ele acredita que aquilo seja o início de um jogo de sedução. — Agora não é hora... Meu amor.
     — NÃO QUESTIONE E FAÇA O QUE EU TÔ MANDANDO FILHO DA PUTA! VOCÊ VAI MORRER AGORA! — Ugo empurra Wagner no chão, depois pega o radio e liga para o capitão do navio. — Capitão? Pode começar a brincadeira. Eu quero escuridão e gritos de pavor. Já!
***
No salão, Ingrid está aflita, pois perdeu Wagner de vista.
     ― Bruno, o Wagner não está aqui. Nem o Ugo. Vou até o quarto deles.
     ― Espere. Eu vou com você.
Os dois saem. Fidel continua dançando, mas a festa é interrompida por um grande apagão.