CAPÍTULO 50 - ÚLTIMO CAPÍTULO
Lex escutou uma ópera “desorquestrada” no interfone. Pessoas gritando. A voz de Jack implorando algo. Dantas e Janaira, mas não era possível descrever o que estava acontecendo. Pediu que Janaira lhe dissesse o que acontecia, mas Janaira também parecia estar na mesma condição que ela, confusa e sem saber o que pensar. Sentiu o chão tremer. Três vezes. Como se fossem explosões de algum lugar perto de onde ela estava, em seguida, viu detritos em chamas caindo pelo fosso da escadaria.
Alguma
coisa muito séria acontecia lá em cima.
Tomada
de assalto pela possibilidade de perder aquela batalha pela qual dera a própria
alma, Lex correu subindo os degraus de dois em dois. Segundos depois, Lex surgiu no 13º andar,
abrindo as portas com estrondo e uma chuva de bala choveu sobre ela. Ela
desviou do súbito ataque jogando-se no chão, mas uma das balas abriu um corte
feio em sua têmpora direita e depois cravou na porta atrás de si.
Grudada
no chão, Lex ergueu um pouco a cabeça para analisar a situação e viu Jack
imediatamente. Ele estava atrás de uma mureta. Junto com ele estavam outros
escravos.
Ela
se arrastou para se aproximar dele e quanto estava perto o suficiente, ele a
agarrou pelo colete e a puxou para si, envolvendo-a em seus braços.
-
Achei que eu iria morrer sem vê-la uma última vez – disse ele em seus ouvidos.
Lex se apoiou no peito de Jack e percebeu com medo que ele tinha uma ferida muito
pior do que a dela na altura do coração.
-
Oh, Jack! – disse ela, sentindo os olhos marejarem. – Você precisa de ajuda
urgente!
-
Acho que ainda vai demorar, amor! – falou Jack, parecendo mais cansado do que o
normal.
Lex
espiou por sobre a mureta. Apenas alguns segundos antes de outra chuva de balas
ser lançada em sua direção.
-
20 agentes visíveis! – disse Lex.
-
Abraham está escondido dentro de um quarto, maldito covarde! – falou Jack com
uma certa dificuldade para respirar. – Há mais agentes lá dentro, não sei
quantos.
Lex
olhou para o peito de Jack, onde as granadas deveriam estar. Ele havia gastado
as granadas que havia trazido. Isso explicava os estrondos e o estado daquele
lugar. Fuligem negra e destruição para todo canto, para não falar dos pedaços
de corpos espalhados pelo lugar como peças de decoração.
Então
Lex olhou para o próprio colete, onde havia mais três granadas e seus olhos se
estreitaram. Morte. Já havia feito muita coisa. Não poderia parar agora. Sentia
seu coração palpitar diante da possibilidade. Morte. Era seu nome agora. Nem
Paris, nem Lex, nem mesmo Alexia, que Jack gostava tanto de usar. Morte. Era o
seu nome. Sempre fora o seu nome. Onde quer que ela fosse, no fim, era o que a
definia. E agora que tudo se esclarecia em sua mente, Lex sabia o que fazer.
-
Vamos mandar ao mesmo tempo! – disse Lex, entregando uma granada para Jack e outra ao escravo assustado ao seu
lado. Eles tiraram o pino e em sua contagem, jogaram do outro lado,
abaixando-se.
O
estrondo foi tão forte que a mureta se rachou. Era possível ouvir os gritos,
sangue e mais pedaços de gente voando pela sala, encrustando-se às paredes,
desenhando um novo espaço. Olharam para cima, uma nuvenzinha de poeira descia
do teto rachado. Talvez fossem esmagados. Isso resolveria a situação. Dantas
não falou nada sobre o 13º andar ter sido construído para conter bombas. Mas
não era tempo para conjecturas, era tempo para ação.
Lex
levantou-se imediatamente, sua mente limpa de qualquer racionalidade. Sacou a
Beretta e começou a atirar cirurgicamente, atingindo cabeças e corações dos
pobres malditos cujos torsos ainda persistiam em respirar.
O
salão estava completamente destruído. E a força das três granadas abriram um
enorme buraco na parede da sala onde Abraham se escondia. O espaço estava
envolto em fumaça, não era possível ver muita coisa, mas mesmo assim, ela
avançou.
Uma
nova leva de balas procurou-a em meio a destruição, mas Lex era como aqueles
pássaros negros que sobrevoavam a fortaleza. Ela desviou e na primeira
oportunidade, atacou quem a atacava. Outro agente a atacou. Teria sorte mas
Jack o atingiu no rosto. Jack estava no seu lado. Ele também era um pássaro
negro a sobrevoar suas vítimas, fazendo rasantes, cheirando a morte. Ambos eram
pássaros negros.
Aproximaram-se
do buraco feito na parede, mas foram recebidos por novos tiros. Lex e Jack eram
pássaros negros. Antes que alguém os atingissem, eles se abrigaram contra a
parede. Cada um de um lado e ambos se encaravam. Não era preciso palavras. Eles
sabiam que era o fim. Era o fim. Nenhum
pote no fim do arco-íris, a não ser o fim do próprio arco-íris. Era tudo o que
eles desejavam. Era o prêmio que queriam.
Mudaram
o pente de seus revolveres e colocaram novos. Era quase como se conseguissem
ler o pensamento um do outro. Pássaros negros. Subindo em espiral, sem ninguém
para lhes dizer o que fazer. Jack e Lex invadiram o recinto. Era grito, tiro, e
rápidos movimentos para todo o lado. Lex tomou o lado da direita, Jack, o da
esquerda. Lutaram e mataram. Impiedosamente. Os agentes berravam ao encontrar a
morte, mas era uma morte rápida. Limpa. Eles ainda tinham suas armas e quando
as balas acabaram, de um lado e de outro, as lutas corporais iniciaram, mas
então já era tarde. Jack e Lex conviviam com o medo e aqueles agentes estavam
confrontando o medo pela primeira vez. Não sabiam o que fazer com ele. Pássaros
negros dando seus rasantes, fazendo suas vítimas.
Acabou
em alguns minutos. Só restou Abraham ajoelhado, as palmas levantadas como se
implorasse. Ele estava ferido. Uma bala no joelho, outra no braço, mas Jack e
Lex também estavam acabados. Outras balas alojadas em outros pontos do corpo,
mas algo os mantinha. Talvez fosse a
cura de Lanister, mas Lex sabia o que era: resistência. Jack e Lex eram iguais:
eram guerreiros.
Lex se afastou. Entendia que Abraham era de Jack. Precisava ser, assim como Brandon fora seu, em seus últimos segundos de vida. Jack analisou-o por vários minutos, talvez imaginando qual o pior castigo de todos. Certamente, algo parecido com o que Lex fizeram com Brandon. Entretanto, Jack não quis estender o prazer de fazer Abraham sofrer. Ele tirou a faca do colete e com um só golpe, introduziu-a no topo da cabeça de Smith. O excêntrico velho soltou um grunhido, algo entre dor e prazer. Em seguida um fio vermelho desceu de sua testa e ele caiu morto no chão.
Lex riria. Lex gargalharia até o fim dos tempos se Jack não tivesse tombado também segundos após Abraham.
Lex se afastou. Entendia que Abraham era de Jack. Precisava ser, assim como Brandon fora seu, em seus últimos segundos de vida. Jack analisou-o por vários minutos, talvez imaginando qual o pior castigo de todos. Certamente, algo parecido com o que Lex fizeram com Brandon. Entretanto, Jack não quis estender o prazer de fazer Abraham sofrer. Ele tirou a faca do colete e com um só golpe, introduziu-a no topo da cabeça de Smith. O excêntrico velho soltou um grunhido, algo entre dor e prazer. Em seguida um fio vermelho desceu de sua testa e ele caiu morto no chão.
Lex riria. Lex gargalharia até o fim dos tempos se Jack não tivesse tombado também segundos após Abraham.
-
Jack? – gritou ela, correndo para ele. Ela colocou sua cabeça sobre seu colo,
mas não sabia o que mais poderia fazer. Ele estava pálido. O esforço havia lhe
tirado mais sangue de seu ferimento, ou poderia haver um outro ferimento, talvez
mais perigoso, fatal. – Fique comigo, Jack!
-
Alexia... – disse ele, com a voz embargada. – Você me fez muito feliz. No meio
desse horror... nunca imaginei que poderia encontrar a felicidade novamente. Eu
amo você, querida. Sei que não acredita em mim. Eu lhe dei razões para não
acreditar em mim, mas eu não posso fingir pra mim mesmo. Eu queria me afastar
de você e, entretanto, meu corpo procura o seu como eles tivessem sidos feitos
um para o outro.
Ambos
habitavam lugares sombrios. Ambos navegavam durante a tempestade. Ambos
encontravam a mesma coisa na troca de olhares. A paz serena de uma caverna no
mar. A profundeza do precipício, diante da beleza única e inalcançável. Ambos
se pertenciam. Ambos se completavam.
Era
a verdade que ambos em algum ponto haviam rejeitado.
-
Não me deixe – ela sussurrou rasgando parte de sua calça para fazer compressa
sobre o ferimento de Jack. Estava ocupada demais com a tentativa de conter a
hemorragia, quando sentiu os dedos de Jack sobre a sua mão.
-
Alexia...
Lex
parou e olhou para Jack que tinha o pescoço esticado para olhar para ela. Havia
algo mais naqueles olhos azuis, e sabia o que era. Ele estava desistindo. Ele
havia cumprido seu dever, seu papel de líder. Ele libertara sua preciosa
fortaleza, libertara os escravos da Cidadela e agora pretendia ir embora.
Talvez ele tivesse planejado isso o tempo todo. Ela sentiu os olhos arderem, a
face corar, o sangue ferver como se tivesse sido atirada numa panela de pressão.
-
Covarde idiota!!! – gritou ela para ele.
-
Eu não mereço viver, Lex. Eu sou responsável pela morte de bilhões de pessoas
porque eu falhei. Sou responsável pelas vidas que foram confiadas a mim. Eu sei
que muitos foram recuperados pela cura de Lanister. E os que morreram, Lex? Eu
mereço morrer. Eu mereço morrer e morri pela causa, Lex. Agora deixe-me ir...
vá embora e deixe-me. Eu não quero que a última lembrança que você tenha de
mim, seja a minha morte.
-
E você, Senhor da Fortaleza... você sabe o que eu passei? Você sabe tudo o que
fizeram comigo e o que eu fiz com os outros? Eu sou um monstro, Jack. Um
maldito monstro que mal pode olhar pra si mesmo. Mas eu continuo. Eu continuo.
A vida é assim. A vida é dura. É difícil e é todos os dias. Enfrentar uma hora
após a outra. Eu te amei mais do que qualquer outra coisa e ainda assim repeli
você, afastei a única coisa boa que aconteceu comigo para longe mim. Eu mereço
viver? Mereço morrer, Jack? Eu continuo. Eu continuo... Você pode continuar
também...
-
Alexia... Estou tão cansado... – disse ele, a voz quase um sussurro.
-
Por mim, Jack... Continue por mim senão por você... Assim como eu continuo por
você! Jack... Jack...
Jack fechou os olhos. Quando seus cílios se tocaram, uma lágrima escorreu pela face coberta de fuligem, sangue e dor.
-
Jack...?
LEIA O EPÍLOGO
ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE -
MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV
VIRTUAL
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