Angélica estava dentro da ambulância, que
corria apressadamente pelas avenidas de São Paulo. Estava a caminho do melhor
hospital da grande cidade. Ao seu lado, e de pé, Eliana a encarava, passando as
mãos no rosto da irmã, podendo tocar em sua pele. Angélica abriu os olhos, viu
que estava sendo sustentada por vários aparelhos, e que sua irmã a fitava
sorrindo:
– O Miguel morreu mesmo, Eliana? Ele morreu? –
Ela fez uma pausa, e começou a chorar. – Conta a verdade, por favor.
– Agora não é hora de falar sobre isso,
Angélica. Por favor, tente se acalmar.
– Mas... E o Miguel, Eliana?
A enfermeira se aproximou,
ajeitando o vidro de soro e dizendo para a mulher que acabara de ter o filho, o
qual se encontrava no colo de outra enfermeira:
– Se acalme. Vai ficar tudo bem.
E
Angélica fechou os olhos. Acabou voltando a dormir. Estava exausta de sofrer.
Ele estava dentro do carro, tentando correr o mais rápido que podia. O acelerador não deixava de ser pisado em nenhum segundo. Olhou no ponteiro: a velocidade era de cento e vinte quilômetros por hora. A sorte era que o asfalto não tinha buracos, e que estava sem muito movimento. Observou no retrovisor e pôde ver que os dois carros de polícia perseguiam seu veículo, com as sirenes ligadas, a cerca de trinta metros. De repente Luigi começou a perder o controle do automóvel, pois a pista estava muito molhada. Sim, estava chovendo. A enxurrada lavava o asfalto, fazendo que ele ficasse muito liso.
– Droga! – Gritou ele quando o
carro saiu da pista e bateu de frente com o barranco.
Sem perder tempo, ele
tirou apressadamente o cinto de segurança. Depois abriu a porta, passando as
mãos na testa, a fim de conter o sangue que vazava no ferimento causado pelo
baque. Sem medir esforços, ele se enfiou no meio do mato, atravessando as
árvores, e seguindo sendo molhado pela forte chuva.
Parecia ter conseguido se
despistar dos policiais, que se encontravam observando o carro, e se havia
alguém dentro do mesmo. Luigi corria muito rápido. Seus passos eram grandes e
hábeis. E chegou a hora de atravessar o barranco de uma represa, no meio
daquela mata. Na verdade não era possível vê-lo por completo, pois a água da
enchente causada pela chuva o cobria. Mas foi pelo rumo certo. Ficou com muito
medo. Os passos se contraíam contra a água. Seu coração batia muito forte. Foi
quando sentiu que não pisava em absolutamente nada. E se viu arrastado. No meio
daquele desespero todo, ele tentou lutar contra o peso exercido pela água.
Olhou para trás, e viu que o barraco havia sido destruído – A represa estourou.
Então Luigi não conseguiu aguentar mais. Deixou-se abater pelas fortes ondas, e
afundou. Seu nariz ficou tampado. Tentava respirar, mas só fazia aumentar ainda
mais a quantidade de líquido que entrava por seus pulmões. Foi quando teve um
forte alívio. A água não havia saído de si, e sim: a sua vida foi embora.
Jornalistas agitados, trânsito engarrafo, e diversos fotógrafos circulando pelas ruas de São Paulo: isso era o que ocorria no dia seguinte. A notícia de que Angélica Waltsalles estava viva fazia qualquer um escutou o nome da diva ficar chocado com tamanho mistério. Jornais, televisão e emissoras de rádio por todo o Brasil anunciavam esta notícia: “Angélica está viva!”.
Mas em São Paulo era muito mais
agitado. Porque é nessa cidade que a mulher pisa, que a mulher vive. O hospital
onde a bela estava internada estava cercado por todo tipo de carro, à procura
da informação incansável de ser investigada: como ela sobreviveu?
Ela amamentava o seu filho, com
cuidado, para que ele não pudesse se engasgar. Passou as mãos por sua cabeça e
pôde perceber que era muito parecido com a pessoa mais importante que surgiu a
sua vida, e que se foi por culpa da que a estragara. Miguel havia morrido. Era
a pior coisa que poderia acontecer.
O velório acontecia na casa dos Cordeiro. Os caixões não podiam mostrar os corpos. Os pais estavam sentados ao banco ao lado. Choravam inconformados. A dor de perder os únicos filhos era tamanha. Silvana apertava a mão de Bruno, olhando em seus olhos:
– Tudo por culpa dessa
Angélica...
– Ela que matou nossos filhos...
Nossos filhos tão cheios de vida.
E
assim, continuaram a observar o caixão enquanto podiam, pois ainda naquele dia,
os dois corpos iriam para baixo da terra. Foi quando uma mulher loira, e
desesperada invadiu a casa, chorando entre os caixões. Ela gritava um único
nome:
– Miguel!
Abaixou-se
ao chão, colocando a dor na barriga e deixando as lágrimas escorrerem por seu
rosto, sem tirar dos pensamentos o acontecido tão trágico. Dois homens
aparecerem e a recolheram. Ela foi se arrastando, lutando para poder continuar
encostada ao caixão do amado.
– Calma, dona Angélica. – Disse
um dos homens antes de fechar a porta da casa e saírem para o jardim.
Duas semanas depois...
Ela encara o homem em sua frente. Seus
olhos transmitiam que queria revelar algo muito precioso e também valioso. O
delegado terminou de fazer algumas anotações em sua caderneta. Ao mesmo tempo,
jornalistas posicionavam microfones perto da boca da miss universo, para que
pudessem gravar tudo o que ela iria dizer. Por fim, o homem a sua frente a
olhou. E ela pôde começar o que queria.
– Eu vou te contar tudo,
delegado. Vou contar como fiquei viva. Vou contar toda a verdade.