segunda-feira, 31 de março de 2014

Alta Tensão - Capítulo 17



DÉCIMO SÉTIMO CAPÍTULO

No capítulo anterior, Wagner diz à sua advogada que quer vender todas as filiais da revista Flash e deixar todos os seus bens restantes para sua secretária Cida (que na verdade é Ingrid).

***

     ― Você só pode estar brincando, amigo. — Dra. Albaniza se espanta.
     ― Não. Você não é minha advogada? Então redija um novo testamento deixando tudo pra ela. Cida é a única pessoa que se preocupa comigo.
     ― Não. Não é.
     ― Desculpe... Você também é. Mas essa garota foi melhor amiga da minha filha, e eu quero deixar tudo pra ela. Ok?
     ― Pode deixar, Wagner. Se esta é a sua decisão... E quanto à venda da revista?
     ― Pode pôr a venda.

***



     No dia seguinte, a seguinte manchete aguçou o interesse de diversos empresários do Brasil e do mundo:

“DEPOIS DA REVELAÇÃO BOMBÁSTICA SOBRE SUA VIDA SEXUAL, WAGNER PEREGRINI COLOCA TODAS AS FILIAIS DA REVISTA FLASH MAGAZINE A VENDA.”

Em Recife, Adriano lê a notícia e fica perplexo:
     ― Quem diria... Depois de tantos anos, Wagner vai vender a Flash. Também, finalmente descobriram seus podres, não é? Se eu fosse ele pagaria pra ir para fora do planeta. Mas quem vai desembolsar tamanha quantia? A Flash vale bilhões!
     Em Fortaleza, Alex comemora. Ele está conversando com Analú. É horário de almoço.
     ― Parece que o império da bunda vai cair!
     ― Como assim, Alex? – Analú bebe um gole de suco.
     ― Ora, a Flash vai ser vendida pra alguém que saiba administrar. Tomara não é?
     ― Mas por que “império da bunda”?
     ― “BUNDA”. É nisso que se resume a Flash hoje em dia. Com as funkeiras popozudas virando o rabo cheio de crostas pra qualquer câmera e aparecer nas folhas dignas de virarem papel higiênico daquela vergonha que se diz revista. Mas vamos deixar isso pra lá, não é?
     — Ta... Alex... A gente ta namorando?
     ― Não sei... Só se você quiser.
     ― Não sei se é uma boa.


Alex pega na mão de Analú, que se arrepia com o toque do rapaz.
     ― Eu te amo, Analú.
     ― E seu pai?
     ― Para de dizer que o Wagner é meu pai. Ele não passa de um idiota. E para de mudar de assunto.
Ela sorri.
     ― Eu gosto muito de você. Vou demorar um tempo pra me acostumar.
     ― Então...?
     ― Namorados.
Os dois se beijam.
***
     Estamos novamente em um cemitério, porém é um cemitério de classe alta. Flores são pousadas no túmulo de Norma Peregrini (1948 -1987).
     ― Estou de volta, minha filha. Que saudade! – Suspira Gisela, agora uma senhora de oitenta anos.




     É tarde na Flash Magazine e mesmo com a notícia da venda da revista a redação trabalha a mil por hora para a edição da semana seguinte. Pode ser a última.
     Wagner já está em casa, sendo medicado por Vanessa, que continua puxando o seu saco.
     ― Vovô do céu! Não sabia que o senhor era do babado!
     ― Vanessa vai embora? Se eu pudesse eu morava naquele hospital. – reclama Wagner.
Vanessa sai e Fidel entra com uma bandeja em mãos.
     ― Seu chá da tarde, senhor. Tem geleia, queijo, croissant e tudo o que o senhor gosta.
     ― Obrigado, Fidel. Pode deixar aí.
Tempos depois, Ugo entra.
     ― Senhore Wagner?
     ― Ai meu pai amado! Não vou ter sossego mais na minha vida!
     ― Mas acontece que tem alguém aí.
     ― Se for jornalista da concorrência diga que eu morri.
     ― Pior, senhor.
Gisela invade o quarto e diz:
     ― Gostou da surpresa genrinho?
     Wagner se espanta. Sempre achou que sua ex-sogra estivesse morta. Da última vez que a viu estava em coma.
     ― O que esse cadáver está fazendo aqui? Quem te tirou do inferno Gisela? – Wagner está espantado.
     ― Para a sua tristeza eu não morri. Mas quando soube que estava colocando a Flash à venda eu não resisti. Quero comprá-la.
     — Sua Dercy Gonçalves de araque! Eu não te venderia a Flash por nada.
     ― Nem pelo dobro do que você está cobrando?
     ― Quem garante que você tem cacife?
     ― Eu pago até o seu sorriso, Wagner. Este difícil de se ter, mas até pago. Wagner... Melhor vender a mim do que para um desconhecido.
     ― Desse jeito eu não vou sorrir. Vou gargalhar.
     ― Acredite na palavra de sua velha sogra. Bom... Mudando um pouco de assunto, não vou perguntar dos meus netos. Sei bem o que você fez com eles, mas eu esperava encontrar aqui pelo menos o Alex.
     ― O Alex é um vagabundo sem futuro, Gisela. É a vergonha da família.
     ― Ele deve estar um lindo rapaz! Foi o único que a mídia não caiu em cima. O Adriano e a Alessandra eu acompanhei o crescimento deles de longe, claro, mas pelas revistas, internet. Quem diria Wagner: Adriano dono de uma rede de hospitais e Alessandra modelo e estilista, dona de uma grife!
     ― São todos ingratos.
     ― A quê eles seriam gratos? Por ter traído a mãe deles com a empregada? Por ter os maltratado? Vamos deixar tudo em off, não é? E aí, vai vender ou não?
     ― Não tem outra saída não é verdade? Negócio fechado. Velha caquética.

***


     A partir daquele momento, não se sabia quem, mas já haviam comprado a Flash. Os trabalhadores (jornalistas, secretárias, diretores, faxineiros) de todas as filiais estavam apreensivos com a chegada do novo dono. Este ainda uma incógnita.
     Passado algum tempo e a situação sendo amenizada, Wagner resolve convocar uma coletiva, para explicar como funcionará a venda da Flash.
     Ele está sentado na sua cadeira de rodas perto de uma mesa. Vários jornalistas estão na sala. Ugo acompanha Wagner.
     ― Sinto que estou muito velho para administrar as cinco filiais da Flash Magazine: Roma, Fortaleza, Paris, Johanesburgo e Tókio. Como os meus filhos se negaram dar continuidade ao império Flash, vos comunico que estou vendendo a revista. A última edição ainda com a minha administração sairá no final desse mês, contando a história desde os primórdios da Flash. – Wagner finge estar com a voz embargada por causa do choro. Ele dá uma pausa e depois continua. – Isso não é um fim. Não mesmo. A Flash continuará chegando às casas dos leitores. Só comunico que a revista está em boas mãos.
     ― O senhor pode nos dizer quem é o novo dono da Flash? – pergunta um jornalista.
     ― Então... Essa notícia será dada apenas no dia do lançamento da nova Flash, que será no meu navio particular no fim do mês. Digamos que será o fim de um longo ciclo e o começo de um novo. Será uma festa de arromba.

***


Enquanto isso, na mansão Peregrini, Gisela se comporta como a madame da vez. Fidel a serve enquanto ela toma sol de maiô na beira da piscina.
     ― Obrigada, rapaz. — diz Gisela, pegando a taça com o suco de maracujá.
     ― Qualquer coisa é só chamar dona...
      ― Dona Gisela Saboya, prazer. Qual é o seu nome, rapaz adorável?
     ― Fidel. Obrigado pelo adorável e pelo rapaz. – Fidel sorri.
     ― Com licença senhorita Gisela. — sai.
Vanessa, de biquíni entra na piscina e encara Gisela.
     ― Não vai dizer seu nome, mocinha? – diz Gisela.
     ― Vanessa Peregrini. Neta de Wagner Peregrini.
     ― Neta? E é filha de qual dos filhos de Wagner?
     ― Do Adriano. Mas ele agora diz que não é meu pai. Tolo. Tem um ódio mortal do meu avô e achou ruim o fato de eu vir passar uns tempos aqui.
     ― Então vem cá dá um abraço na sua bisavó.
     ― A senhora é minha bisavó?
     ― Mas não conta pra ninguém. – sorri. – Ainda estou muito nova pra ser bisavó, mas esses rapazes têm filhos cada vez mais cedo!
     ― Sinto que eu e a senhora vamos nos dar muito bem.
     ― Oh, sim, claro. O que acha de sairmos para torrar o dinheiro da herança do meu marido? Garcia morreu e deixou uma quantia formidável. Mas tão formidável que eu não tenho mais nem lugar pra enfiar o dinheiro.
     ― Gastar é comigo mesmo, bisa.
     ― Bisa não. Temos quase o mesmo corpo, poderíamos ser irmãs.
     Vanessa estranha tamanha autoestima da bisavó.

***

     Gianpaolo está deitado na cama de casal e se alarma quando Alessandra sai de dentro do banheiro com um teste de gravidez em mãos.
     ― Deu negativo, Gianpaolo. Alarme falso.
     ― Mas sua menstruação...
     ― É normal atrasar. — se senta na cama. — Eu nunca vou conseguir. Tenho quase quarenta anos, Gianpaolo.
     ― Você pode fazer tratamento, meu amor.
     ― Isso demora muito. Que queria tanto um bebê!
     ― Vamos ter fé. Conseguiremos. Você vai ver. Mas pra isso temos que tentar. — ele a beija.
***

     Ingrid ainda está aprendendo a mexer no seu computador, onde se resume a maioria do seu trabalho como secretária na revista Flash. Sua mão está posicionada no mouse, onde ela clica inutilmente em um link que não responde. A mão de outra pessoa se coloca em cima da sua. Ingrid se vira rapidamente e se surpreende ao ver Ugo.
     ― Algun problema, Cida?



DIREÇÃO DE ARTE -  MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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