DÉCIMO SÉTIMO CAPÍTULO
No capítulo
anterior, Wagner diz à sua advogada que quer vender todas as filiais da revista
Flash e deixar todos os seus bens restantes para sua secretária Cida (que na
verdade é Ingrid).
***
―
Você só pode estar brincando, amigo. — Dra. Albaniza se espanta.
―
Não. Você não é minha advogada? Então redija um novo testamento deixando tudo
pra ela. Cida é a única pessoa que se preocupa comigo.
―
Não. Não é.
―
Desculpe... Você também é. Mas essa garota foi melhor amiga da minha filha, e
eu quero deixar tudo pra ela. Ok?
―
Pode deixar, Wagner. Se esta é a sua decisão... E quanto à venda da revista?
―
Pode pôr a venda.
***
No
dia seguinte, a seguinte manchete aguçou o interesse de diversos empresários do
Brasil e do mundo:
“DEPOIS DA
REVELAÇÃO BOMBÁSTICA SOBRE SUA VIDA SEXUAL, WAGNER PEREGRINI COLOCA TODAS AS
FILIAIS DA REVISTA FLASH MAGAZINE A VENDA.”
Em Recife, Adriano lê a notícia e
fica perplexo:
―
Quem diria... Depois de tantos anos, Wagner vai vender a Flash. Também,
finalmente descobriram seus podres, não é? Se eu fosse ele pagaria pra ir para
fora do planeta. Mas quem vai desembolsar tamanha quantia? A Flash vale
bilhões!
Em
Fortaleza, Alex comemora. Ele está conversando com Analú. É horário de almoço.
―
Parece que o império da bunda vai cair!
―
Como assim, Alex? – Analú bebe um gole de suco.
―
Ora, a Flash vai ser vendida pra alguém que saiba administrar. Tomara não é?
―
Mas por que “império da bunda”?
―
“BUNDA”. É nisso que se resume a Flash hoje em dia. Com as funkeiras popozudas
virando o rabo cheio de crostas pra qualquer câmera e aparecer nas folhas
dignas de virarem papel higiênico daquela vergonha que se diz revista. Mas
vamos deixar isso pra lá, não é?
—
Ta... Alex... A gente ta namorando?
―
Não sei... Só se você quiser.
―
Não sei se é uma boa.
Alex pega na mão de Analú, que se
arrepia com o toque do rapaz.
―
Eu te amo, Analú.
―
E seu pai?
―
Para de dizer que o Wagner é meu pai. Ele não passa de um idiota. E para de
mudar de assunto.
Ela sorri.
―
Eu gosto muito de você. Vou demorar um tempo pra me acostumar.
―
Então...?
―
Namorados.
Os dois se beijam.
***
Estamos
novamente em um cemitério, porém é um cemitério de classe alta. Flores são
pousadas no túmulo de Norma Peregrini (1948 -1987).
―
Estou de volta, minha filha. Que saudade! – Suspira Gisela, agora uma senhora
de oitenta anos.
É
tarde na Flash Magazine e mesmo com a notícia da venda da revista a redação
trabalha a mil por hora para a edição da semana seguinte. Pode ser a última.
Wagner
já está em casa, sendo medicado por Vanessa, que continua puxando o seu saco.
―
Vovô do céu! Não sabia que o senhor era do babado!
―
Vanessa vai embora? Se eu pudesse eu morava naquele hospital. – reclama Wagner.
Vanessa sai e Fidel entra com uma
bandeja em mãos.
―
Seu chá da tarde, senhor. Tem geleia, queijo, croissant e tudo o que o senhor
gosta.
―
Obrigado, Fidel. Pode deixar aí.
Tempos depois, Ugo entra.
―
Senhore Wagner?
―
Ai meu pai amado! Não vou ter sossego mais na minha vida!
―
Mas acontece que tem alguém aí.
―
Se for jornalista da concorrência diga que eu morri.
―
Pior, senhor.
Gisela invade o quarto e diz:
―
Gostou da surpresa genrinho?
Wagner
se espanta. Sempre achou que sua ex-sogra estivesse morta. Da última vez que a
viu estava em coma.
―
O que esse cadáver está fazendo aqui? Quem te tirou do inferno Gisela? – Wagner
está espantado.
―
Para a sua tristeza eu não morri. Mas quando soube que estava colocando a Flash
à venda eu não resisti. Quero comprá-la.
—
Sua Dercy Gonçalves de araque! Eu não te venderia a Flash por nada.
―
Nem pelo dobro do que você está
cobrando?
―
Quem garante que você tem cacife?
―
Eu pago até o seu sorriso, Wagner. Este difícil de se ter, mas até pago.
Wagner... Melhor vender a mim do que para um desconhecido.
―
Desse jeito eu não vou sorrir. Vou gargalhar.
―
Acredite na palavra de sua velha sogra. Bom... Mudando um pouco de assunto, não
vou perguntar dos meus netos. Sei bem o que você fez com eles, mas eu esperava
encontrar aqui pelo menos o Alex.
―
O Alex é um vagabundo sem futuro, Gisela. É a vergonha da família.
―
Ele deve estar um lindo rapaz! Foi o único que a mídia não caiu em cima. O
Adriano e a Alessandra eu acompanhei o crescimento deles de longe, claro, mas
pelas revistas, internet. Quem diria Wagner: Adriano dono de uma rede de
hospitais e Alessandra modelo e estilista, dona de uma grife!
―
São todos ingratos.
―
A quê eles seriam gratos? Por ter traído a mãe deles com a empregada? Por ter
os maltratado? Vamos deixar tudo em off, não é? E aí, vai vender ou não?
―
Não tem outra saída não é verdade? Negócio fechado. Velha caquética.
***
A
partir daquele momento, não se sabia quem, mas já haviam comprado a Flash. Os
trabalhadores (jornalistas, secretárias, diretores, faxineiros) de todas as
filiais estavam apreensivos com a chegada do novo dono. Este ainda uma incógnita.
Passado
algum tempo e a situação sendo amenizada, Wagner resolve convocar uma coletiva,
para explicar como funcionará a venda da Flash.
Ele
está sentado na sua cadeira de rodas perto de uma mesa. Vários jornalistas
estão na sala. Ugo acompanha Wagner.
―
Sinto que estou muito velho para administrar as cinco filiais da Flash
Magazine: Roma, Fortaleza, Paris, Johanesburgo e Tókio. Como os meus filhos se
negaram dar continuidade ao império Flash, vos comunico que estou vendendo a
revista. A última edição ainda com a minha administração sairá no final desse
mês, contando a história desde os primórdios da Flash. – Wagner finge estar com
a voz embargada por causa do choro. Ele dá uma pausa e depois continua. – Isso
não é um fim. Não mesmo. A Flash continuará chegando às casas dos leitores. Só
comunico que a revista está em boas mãos.
―
O senhor pode nos dizer quem é o novo dono da Flash? – pergunta um jornalista.
―
Então... Essa notícia será dada apenas no dia do lançamento da nova Flash, que
será no meu navio particular no fim do mês. Digamos que será o fim de um longo
ciclo e o começo de um novo. Será uma festa de arromba.
***
Enquanto isso, na mansão Peregrini,
Gisela se comporta como a madame da vez. Fidel a serve enquanto ela toma sol de
maiô na beira da piscina.
―
Obrigada, rapaz. — diz Gisela, pegando a taça com o suco de maracujá.
―
Qualquer coisa é só chamar dona...
― Dona Gisela Saboya, prazer. Qual é o seu
nome, rapaz adorável?
―
Fidel. Obrigado pelo adorável e pelo rapaz. – Fidel sorri.
―
Com licença senhorita Gisela. — sai.
Vanessa, de biquíni entra na
piscina e encara Gisela.
―
Não vai dizer seu nome, mocinha? – diz Gisela.
―
Vanessa Peregrini. Neta de Wagner Peregrini.
―
Neta? E é filha de qual dos filhos de Wagner?
―
Do Adriano. Mas ele agora diz que não é meu pai. Tolo. Tem um ódio mortal do
meu avô e achou ruim o fato de eu vir passar uns tempos aqui.
―
Então vem cá dá um abraço na sua bisavó.
―
A senhora é minha bisavó?
―
Mas não conta pra ninguém. – sorri. – Ainda estou muito nova pra ser bisavó,
mas esses rapazes têm filhos cada vez mais cedo!
―
Sinto que eu e a senhora vamos nos dar muito bem.
―
Oh, sim, claro. O que acha de sairmos para torrar o dinheiro da herança do meu
marido? Garcia morreu e deixou uma quantia formidável. Mas tão formidável que
eu não tenho mais nem lugar pra enfiar o dinheiro.
―
Gastar é comigo mesmo, bisa.
―
Bisa não. Temos quase o mesmo corpo, poderíamos ser irmãs.
Vanessa
estranha tamanha autoestima da bisavó.
***
Gianpaolo
está deitado na cama de casal e se alarma quando Alessandra sai de dentro do
banheiro com um teste de gravidez em mãos.
―
Deu negativo, Gianpaolo. Alarme falso.
―
Mas sua menstruação...
―
É normal atrasar. — se senta na cama. — Eu nunca vou conseguir. Tenho quase
quarenta anos, Gianpaolo.
―
Você pode fazer tratamento, meu amor.
―
Isso demora muito. Que queria tanto um bebê!
―
Vamos ter fé. Conseguiremos. Você vai ver. Mas pra isso temos que tentar. — ele
a beija.
***
Ingrid
ainda está aprendendo a mexer no seu computador, onde se resume a maioria do
seu trabalho como secretária na revista Flash. Sua mão está posicionada no
mouse, onde ela clica inutilmente em um link que não responde. A mão de outra
pessoa se coloca em cima da sua. Ingrid se vira rapidamente e se surpreende ao
ver Ugo.
―
Algun problema, Cida?
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
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