segunda-feira, 24 de março de 2014

Assim que Amanhecer - Capítulo 16


           
             Ele escutou aquilo e sentiu algo muito forte dentro de si. Sentiu que a pessoa que ele mais amava estava triste, simplesmente por uma decisão sua. Sentiu que realmente Angélica estava certa: não deveria se revelar a ninguém. Miguel passou uma das mãos no rosto da mulher, e pôde perceber que seu olhar era angustiante e medonho.
     – A Melissa? Por que ela faria isso? Meu Deus, não to acreditando que...
     – Não acredite. – Ela se levantou da cama. – Pra que acreditar em mim? Ela é sua irmã. Você deve acreditar nela.
     – Me escute, meu amor: isso não pode ser possível. Não tem cabimento ela tirar fotos suas e...
     – Guarde suas opiniões pra si. O que há entre a gente acabou aqui.
     – O que quer dizer com isso? – Lágrimas escorrendo em seus olhos puderam ser vistas. Lágrimas que começaram a aparecer com a última frase da mulher. Lágrimas que significavam os seus verdadeiros sentimentos.
     – Que não dá pra ficar com uma pessoa que não aceita minhas decisões. E outra: sua família não é de confiança.
     E ela se dirigiu até o guarda-roupa, abrindo-o e começando a pegar suas roupas, colocando-as numa mala, que estava em baixo da cama.




     Angélica desceu as escadas da mansão, deixando Miguel lá em cima, inconformado por não conseguir correr e alcançar sua amada, dando-lhe um beijo e dizendo: “Eu te amo”. Gritou seu nome. Ela parou. Como estava já em baixo, subiu apenas um degrau e encarou o seu grande amor.
     – Vai viver sua vida sem mim. Vai viver sua vida com uma mulher que aceite suas decisões, e que não se importe com o que ela realmente quer. Não quero ninguém me fazendo de fantoche, Miguel. Eu sou independente e quero viver a minha vida como eu bem querer. – Disse isto, dirigindo-se até a porta e a abrindo, deixando para trás o homem, que nem se quer teve alternativa. Ele se jogou escadas abaixo, sentindo dores por todo o corpo, e gritando o nome da mulher de sua vida.


     – Adeus, Miguel. – Angélica disse antes de virar a chave do carro e pisar no acelerador, consequentemente soltando a embreagem. Tentava conter as lágrimas que saíam de si, limpando-as com as próprias mãos. Precisava seguir sua vida, de acordo com o que realmente queria. E estava disposta a isto. Mais uma vez voltou a dizer a frase: “Adeus, Miguel”, quando se encontrava a mais de um quilômetro.

Nove meses depois...

     A mulher sentada em uma cadeira de madeira estava balançando-se. A enorme barriga dizia como ela sentia-se: grávida. E faltavam poucos dias para a criança poder respirar o ar do universo. A casa era de alvenaria, e se encontrava alguns metros de um lado. Ela se levantou da cadeira, dirigindo-se até o sofá. Sentou-se. E foi aí que sua consciência foi tomada pelas lembranças. Lembranças de quando ela deu o primeiro beijo em Miguel, exatamente onde estava sentada. Lembranças de quando olhava o corpo do homem, desejando-o, assim como ele fazia. Mas a principal lembrança era de quando foi ao hospital pela última vez:



     – A senhora está grávida, dona “Simone”. – Disse o médico para Angélica, que sentiu algo muito forte dentro de si. Parecia que o paraíso estava aberto para só ela entrar, e poder viver ao lado de seu novo amor: o filho que nasceria.
     – Eu to grávida? – Ela perguntou ao mesmo tempo em que sorria e se emocionava com aquilo tudo. Sua boca ficou úmida, e seus olhos ficaram brilhantes.



   Mas ela não estava contente naquele momento. Queria muito mais além de um filho, ou simplesmente: o próprio pai. Queria de volta o primeiro homem por quem se apaixonou de verdade. Queria tê-lo a qualquer custo. Precisa tocá-lo, sentir o seu cheiro, e poder beijá-lo.
– Eu vou atrás de ti, Miguel. Eu te quero de volta, meu amor. Ou morrerei de angústia.

A porta da casa foi batida e a mulher ruiva, com as famosas sardas no rosto, que usava um vestido preto e uma sapatilha vermelha, correu para atender. Abriu. Em sua frente estava uma gestante, sorrindo. E com uma pele angelical, além de estar muito sadia. Ela deu as boas vindas.
– Estou de volta, Melissa.
– Angélica? – Ela se indignou, lembrando exatamente do que “aquele ser humano” fez com ela há alguns anos e mais uma brincadeira há poucos meses. – Fique sabendo que não é bem vinda nessa casa e...
Melissa foi interrompida pelas palavras do irmão, que sorriu para a grande amada, convidando-a.
– Entre, Angélica. Essa casa é sua.
E ela obedeceu. Deu mais um passo e estava na sala. Aproximou-se do grande amor sentado na cadeira de rodas. Sorriu para ele, segurando sua mão, e colocando-a em sua barriga. Miguel pôde sentir algo muito quente: o fogo do amor. Mas também sentiu algo se mexer. Angélica apresentou o que era.
     – Nosso filho, Miguel. Nosso filho.
Depois disso ela se abaixou com dificuldade, para fazer algo muito valioso: poder sentir o sabor de seu beijo. E fizeram exatamente isso, enquanto ao lado, Melissa estava ao telefone, acabando logo com aquilo, e trazendo de volta o que menos queriam: a dor do desespero.
    – Exatamente, Eliana. A Angélica voltou.
A voz da outra linha não demorou muito pra responder.
    – É bom você apreciar a imagem dela o quanto puder, porque ainda hoje, ela estará queimando nas chamas do inferno. – Disse antes de desligar o telefone, e olhar para a arma em cima da mesa ao lado de sua cama.


COLABORADORES - LUIZ GUSTAVO E MÁRCIO GABRIEL
APOIO - VICTOR MARÇAL
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ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
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