DÉCIMO QUARTO CAPÍTULO
Wagner ainda está chocado com a
morte do detetive.
― Isso não
pode estar acontecendo! — Wagner brada.
― O que foi
vovô? – Vanessa pergunta.
― Nosso
passeio na Flash Magazine vai ter de ficar para outra hora. Tenho que resolver
umas coisas. — vira-se para o motorista — Ugo, coloque-me no carro e me leve
até o endereço que eu vou te dar...
***
Wagner
e Ugo chegam até o escritório do detetive. Já não há mais o corpo do homem lá,
apenas sangue espalhado pelo chão. Ugo age friamente, sabe que é o culpado pela
morte do homem. Apenas guia a cadeira de Wagner até os policiais que ali estão.
― O senhor
sabe se o detetive tinha algo para mim? – Wagner pergunta.
― Apenas
encontramos um endereço numa caderneta.
― Tem o
nome da pessoa?
― Sim. Chama-se
Ingrid Ferreira. Conhece?
Wagner abre um sorriso e Ugo
espanta-se.
― Sim,
conheço. Minha filha. O senhor pode me dar o endereço?
***
Ingrid está aflita varrendo o chão
da entrada do escritório da revista Flash. Triste pela morte da amiga Cida e
ansiosa para falar com Wagner. Ela está disposta a abrir o jogo com o pai.
Magnólia, a secretária, mexe no computador e percebe a aflição de Ingrid.
― Moça,
algum problema?
― Na
verdade tem. — Ingrid responde e se aproxima da secretária. – Eu to esperando o
Dr. Wagner.
―
(gargalha) E por que ele falaria com uma reles faxineira?
― Pelo
mesmo motivo que ele contratou uma cachorra pra ser secretária. Ele tá aí ou
não?
― Não,
criancinha, ele não está. Olha os modos... Mas o que esperar de uma empregada
ex-catadora de lixo?
― Nossa, a
senhora é fofoqueira mesmo hein? Mas não vou discutir com você. Fica na tua aí
e faz o teu trabalho que eu faço o meu.
Ingrid pega
a vassoura do chão e sai. Ela decide ir logo para o velório da amiga, pedindo
para sair cedo do serviço.
***
Wagner
desce do carro e com ajuda do seu fiel motorista Ugo, se ajeita na cadeira de
rodas. O lugar é um lixão, ou seja, perto da casa de Ingrid.
― Eu sinto
que estou muito perto de encontrar minha filha.
― Assim
espero Wagner. — Ugo dá um sorriso satânico.
Os dois chegam à porta da casa.
― Bata
palmas. Veja se tem alguém. — ordena Wagner.
Ugo bate palmas, mas fica tudo em
um silêncio total.
― Não tem
ninguém aí, senhores. Dona Inês saiu. Foi para o enterro da garota que morava
aí com ela. — uma mendiga responde.
― Ent..
Enterro?
― Sim. A
garota foi assassinada essa noite. É uma pena.
Wagner fica zonzo. Não pode
acreditar.
― A senhora
sabe qual é o cemitério?
― É no
Parque da Paz. Eu não fui porque eu não conhecia a garota...
Wagner joga
uma nota de cem no chão e pede para que Ugo o leve até o cemitério.
***
Ingrid chega ao cemitério. Há
apenas Inês chorando ao lado do caixão de Cida.
― Ela era
inocente, não merecia isso! Não conhecia muito a moça, mas sei que ela tinha
bom coração...
Ela abraça a senhora.
― Ela vai
pra um ligar melhor. Eu sofro muito. Cidinha era a minha melhor amiga!
De repende,
Wagner e Ugo adentram na sala onde está sendo velado o corpo de Cida. Ingrid
reconhece Ugo, da última noite. Foi ele quem matou a sua amiga, pensando que
era ela.
―
Desculpem-nos o incômodo, mas acho que essa garota é minha filha... — Wagner é
direto. — Como ela se chamava?
Inês começa
a dizer, mas Ingrid interrompe, dizendo o seu próprio nome, fazendo com que
assim a garota tome sua identidade:
― Ela se
chamava Ingrid Ferreira. Lamento pela morte da sua filha.
Wagner desejaria se ajoelhar, porém
não pode.
―
Essa é a Ingrid mesmo?
―
Eu sinto muito, Doutor Wagner, mas ela foi assassinada esta noite. — a
verdadeira Ingrid começa a assumir a identidade da amiga morta.
―
Alguém matou o detetive para descobrir o paradeiro da minha filha, Ugo! E
acabou matando a pobre inocente também. Maldito! — Wagner chora.
Inês
pega Ingrid pelo braço e se retira, deixando Ugo e Wagner a sós, com o corpo de
Ingrid, que na verdade é Cidinha.
***
―
O que você está fazendo, Ingrid? Falsidade ideológica é crime! — diz Inês.
―
É por uma boa causa. Minha vida está em jogo! Aquele homem que está com o Dr.
Wagner. Foi ele quem matou a Cida pensando que era eu. Agora deixe ele se
enrolar. Certamente foi alguém misterioso que ele mandou me matar. Agora ele
que se afogue na própria merda que ele fez.
―
Abre o jogo com o seu pai. Quem ta fazendo merda é você!
―
Eu não posso. Mas eu tenho um plano. Eu vou tentar me aproximar do Wagner, para
protegê-lo. É meu dever como filha.
―
Ele abandonou sua mãe com você no ventre dela!
―
Mas eu vejo que ele se arrependeu, pois ele está me procurando!
―
Eu não te entendo, Ingrid. Por que você mentiu? Aquela não é a Ingrid, é a Cidinha,
sua melhor amiga. Ingrid é você, a filha dele, que está viva.
― Eu
preciso me proteger e proteger ele. Só que antes eu tenho que saber quem está
mandando essa cobra criada (Ugo) acabar com a minha vida e destruir os planos
do Wagner.
― Você ta
ficando maluca.
― Não. Só
quero o que é meu de direito e eu nunca tive oportunidade. Essa, é única.
***
Ingrid e
Inês voltam à sala onde o corpo de Cidinha está sendo velado. Wagner ainda acha
que aquela ali é sua filha.
― Ela tem
os traços de Yolanda...
― Por favor,
Wagner. Vamos embora, capiche? — Ugo
tenta tirar Wagner dali.
― Ela era
minha melhor amiga. — Ingrid encara Ugo e depois olha para Wagner. – Eu... —
fica com a voz embargada — Eu não sei se vou poder viver sem a... Ingrid.
― Quero dar
toda a assistência necessária à família. Você trabalha...
― Meu nome
é Cida, como já disse. — Ingrid mente mais uma vez.
― Desculpe,
não me dou bem com nomes. Então, você trabalha?
― Sim...
Trabalho na revista do senhor. Sou faxineira. Comecei há alguns dias.
― Quer dizer
que você trabalha na Flash?
―
Exatamente. Sou faxineira.
― Não é
mais. A partir de hoje você é minha nova secretária. Não posso deixar a melhor
amiga da minha filha desamparada. Aceita Cida?
Ingrid sorri.
― Não sei
nem o que dizer...
― Não diga
nada... É uma forma de agradecimento.
***
Os dias
passam.
Ingrid está
na casa de Dona Inês. Ansiosa para o primeiro dia como secretária de Wagner,
mas ainda um pouco triste pela morte da amiga. Ela tira uma foto de dentro de
uma caixa, onde ela guarda algumas lembranças. A foto é de duas adolescentes,
mal vestidas, mas que estão felizes. É ela e Cida. Ingrid aperta a foto contra
o peito e fecha os olhos.
― Ingrid...
Tem um rapaz aí querendo falar com você. Você vai falar com ele? – Inês atrapalha
a sessão nostalgia de Ingrid.
― Quem é?
― Não disse
nenhum nome.