segunda-feira, 24 de março de 2014

A ERA DOS MORTOS - 34


CAPÍTULO 34



As palavras de Lizzie e Janaira retumbaram pela mente de Lex nos dias que se seguiram.

Durante duas semanas não vira o Sr. Trevor nem por uma vez. Jack parecia ter sumido da fortaleza, mas as desculpas variavam: ou ele estava na muralha, ou estava em missão externa, ou ainda, no laboratório de Bio.

Por um lado, foi bom para Lex que estava com vergonha de vê-lo e, por outro lado, postergava a resolução de seus sentimentos para com ele e uma embaraçosa conversa para esclarecer a situação em que ambos se encontravam, se é que ainda havia “algo” entre eles depois de como ela agira.

No dia seguinte, as coletas de sangue e tecido iniciaram e como percebeu, Jack tinha razão quanto a sua saúde. Cada vez mais, Lex sentia-se debilitada. Eram um litro de sangue por dia e o tecido de pele era sempre retirado de sua coxa, o que era bastante dolorido. Ao final da quinzena, ela apresentara uma anemia profunda que os complementos de ferro e outras vitaminas não estavam resolvendo.  Treinamento, então, estava completamente fora da equação.

- Prontinho! – disse a Dr. Melanie tirando o acesso do soro preso ao braço esquerdo de Lex. – E aqui está outro complemento, este é mais forte. – disse-lhe entregando um frasco - Tome dois comprimidos após o almoço, Lex. Se quiser, posso mandar servir o almoço e o jantar no dormitório para que você permaneça descansando.

- Não, Doutora! – reclamou Lex, enfiando o frasco num dos bolsos do colete – Já estou me sentindo atrofiada. Pelo menos, preciso fazer este mínimo de esforço pra me sentir viva.

- Sei como deve estar se sentindo. É torturante, não é? – disse a Dr. Melanie com um olhar bondoso.

Lex gostava imensamente de Dr. Melanie. Ela era sempre gentil com ela.

- Não... – falou Lex para tranquilizar a médica – Já passei por coisas bem piores.

- Sim, imagino...

Depois que a médica saiu, Lex levantou-se com cuidado. Sua coxa estava protegida por gaze e curativo, mas ainda assim, era dolorido andar, pois o tecido da calça roçava o ferimento.

Quando saiu da enfermaria, olhou em direção a entrada do corredor que levava a cadeia. Brandon estava lá, apodrecendo na escuridão como merecia. Entretanto, Lex sentia que devia vê-lo. Janaira lhe dissera que Lex precisava enfrentar a si mesma, mas Lex sabia que não conseguiria fazer isso enquanto não visse Brandon face a face.

Reuniu coragem naquela manhã e investiu contra o corredor. Agora, não parecia tão assustador como quando fora presa. Todas as portas estavam abertas e havia um silencio sepulcral no caminho. Entrou na câmara da prisão má iluminada e levou alguns segundos para entender o que estava acontecendo.

Brandon não estava lá. A porta de ferro da cadeia estava aberta, as chaves ainda estavam na fechadura. Com uma seringa injetada no pescoço, um agente jazia morto encostado a grade. Brandon deveria tê-lo matado usando alguma droga ou veneno e depois fugira.

Uma onda de adrenalina passou pelo corpo de Lex que começou a superventilar como se estivesse tendo novamente uma crise de pânico. “Controle-se”, disse a si mesma, olhando ao redor. Não havia sinal de Brandon por ali. Sabia que se ele fugira, o fizera a mais tempo.

Voltou por onde viera surgindo no corredor da enfermaria. Olhou para dentro, mas não viu a Doutora Melanie. Continuou pelos corredores da fortaleza, sem saber direito o que fazer. No saguão de entrada, não avistou nenhum agente por perto, parecia que todos haviam abandonado seus postos. Alguma coisa estava acontecendo e não sabia exatamente o que era e se tinha a ver com a fuga de Brandon.

Resolveu subir as escadas em desespero, mais rápido do que sua perna lhe permitia e sentia que escorria sangue por dentro da calça preta de agente.  No andar dos agentes especiais, viu Casper e Barbra sentados no sofá. Pareciam preocupados, mas ao divisá-la, ficaram ainda mais assustados.

- O que...? – começou Casper, mas Lex o interrompera.

- Preciso ver o Sr. Trevor, agora! – falou Lex e se encaminhou para o quarto de Jack, abriu abruptamente a porta e invadiu o recinto, esperando encontra-lo ali dentro, mas estava vazio. Já ia dando a meia volta quando percebeu que Barbra estava impedindo o caminho sob a batente da porta.

- Brandon fugiu... precisamos alertar o Sr. Trevor.

- Eu sei – disse ela, num tom grave e, ao mesmo tempo, distante. E em seguida ela deu dois passos para dentro e fechou a porta – Fui eu que o ajudou a fugir.

- O que? – Lex perguntou perplexa, dando alguns passos para trás.

- Você é mesmo uma tonta. Uma idiotazinha besta que acha que o mundo está a seus pés, não é?

- Não estou entendendo... – disse Lex, mas sabia que pelo tom ameaçador de Barbra, isso não significava uma boa coisa.

- Eu sempre amei Jack. Idolatrei-o por todos esses anos, sendo sempre fiel às suas ideologias. Mas desde que você surgiu nessa fortaleza, ele está distante de mim, me evitando a qualquer custo e agora... disse que o que havia entre nós, está acabado para sempre. Que ele não me ama e que eu devo esquecê-lo... tocar minha vida... TOCAR MINHA VIDA!!! Como eu posso tocar minha vida nesse maldito apocalipse??? Minha vida é ele!! Minha vida é só ele!!

Enquanto falava, Barbra tirou um pequeno revolver do coldre. Instintivamente, Lex levou a mão a coxa, mas nem o coldre e nem sua arma estavam lá. Como a retirada de tecido era no mesmo lugar em que ficava seu coldre, Lex ficara inabilitada de colocar a arma onde devia. Agora, arrependia-se de não ter usado o coldre do colete.

- Você não pode me matar! – falou Lex, sentindo a voz sair trêmula – Se me matar, a Cidadela irá invadir a fortaleza e mesmo assim, Jack jamais te perdoaria.

- Jack não saberá. – falou ela, com um sorriso nos lábios intensamente vermelhos. – Foi pra isso que eu soltei Brandon. Dei a ele a ordem de matá-la. Obviamente ele falhou nessa empreitada, mas ainda assim, posso dizer que foi ele que a matou e que fugiu novamente. Jack acreditará em mim. E quanto a Cidadela, não se preocupe. Jack sempre tem um plano reserva. Há uma outra fortaleza. Não é grande como esta e não suportará todas as pessoas que estão aqui. Mas tenho certeza que ele levará os agentes mais próximos dele e eu estaria ao lado do meu amor para fazê-lo superar a sua ausência. Nunca gostei dessa fortaleza mesmo. Nunca foi meu plano ter que salvar e sustentar uma porção de pobres-coitados que estão sugando todos os nossos recursos e paz de espírito do meu amado Jack. Não vê??? É perfeito. Se você sumir... tudo ficará bem.

- Você terá condenado centenas de pessoas!

- Quem se importa? – disse Barbra, destravando a arma.

Foi então que Lex agiu. Ela avançou sobre Barbra batendo contra sua mão no mesmo instante que um tiro foi disparado atingindo em cheio o abajur sobre o criado mudo de Jack.  Em seguida, houve uma batalha entre as duas para controlar a arma. Lex estava debilitada, foi difícil para ela. Ainda assim, ela era muito mais forte e, torcendo a mão de Barbra, fê-la derrubar a arma no chão. Em seguida, fechou os punhos e procurou um dos olhos de sua inimiga, batendo com toda força. Barbra tombou ao chão no mesmo minuto em que Casper abria a porta.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou Casper, assustado. Provavelmente o barulho do tiro o alertara.

- Ela tentou me matar – disse Lex, cambaleante, escorando-se na escrivaninha do Sr. Trevor.

- É mentira! – gritou Barbra, chorando, o sangue escorrendo no olho roxo.  – Ela é maluca! Garota Instável e maluca.

Casper se aproximou e ergueu a arma caída do chão.

- Esta arma é sua, Barbra! A maluca é você! Sabe o que aconteceria se Alexia tivesse morrido? Você condenaria a todos nós!!!

- Não... não condenaria não... Jack é que se condenou ao abrigá-la aqui. Não entende??? Todos os problemas que estamos enfrentando surgiram quando ela veio pra cá.

- Brandon fugiu, Casper... pelo que Barbra disse, ela o ajudou a fugir – disse Lex, alertando-o – Precisamos encontrar Jack e...

- Já sabemos! – informou Casper, com um tom sombrio – Ao que parece, Brandon fugiu durante a madrugada. Assassinou os agentes que estavam de guarda. Pegos de surpresa, nem conseguiram reagir. Pelo que parece, ele fugiu com um dos jipes. Se obteve sucesso ou não, não sabemos. Só que sabemos é que o filho da puta deixou os portões da muralha externa abertos e os zumbis invadiram. Chegaram até a muralha interna e Jack está lá, tentando conter uma catástrofe.

- Espero que todos morram comidos vivos pelos malditos zumbis! – disse Barbra, parecendo descontrolada, tentando fugir, mas Casper a segurou firme no seu braço e não deixou que ela escapasse. 

- Você tem noção do que está fazendo, Barbra? Tem noção do que fez? Você estava aqui desde o início. Estava aqui quando a fortaleza não era mais do que uma ideia, como pôde fazer isso? Você está destruindo tudo o que lutamos para construir – disse ele, chacoalhando Barbra, tão transtornado quando ela, mas depois se controlou – Vou levar Barbra para a cadeia, mas você deve ficar aqui, Alexia. Jack me encarregou de mantê-la a salvo. Se o pior acontecer, vamos evacuar com o helicóptero e você deverá vir conosco.

- E as outras pessoas?

- Talvez Jack consiga conter a invasão. Mas se não puder fazer isso, não teremos outra alternativa a não ser fugirmos.

- Eu não fugirei sem a minha irmã e meus amigos.

- Sei disso. Você fica aqui e eu vou buscar sua irmã e Janaira. – falou Casper.

- E Briam... – adicionou Lex, preocupada com o amigo.

- Sim.... o sobrinho de Smith poderá nos ser útil. Vou buscá-lo também.

- E eu... vocês precisam levar a mim também... eu sempre fui fiel... sempre... – Barbra choramingou.

- Cale a boca, Barbra... – disse Casper afastando-se do quarto, arrastando Barbra com ele.

Lex sentou-se na cama do Sr. Trevor completamente trêmula. Brandon havia fugido, Barbra havia atentado contra a sua vida e Jack estava numa luta insana para proteger a fortaleza. Com certeza, as coisas não estavam saindo muito bem. Não queria imaginar no que aconteceria se a fortaleza fosse invadida. O tempo todo estava temendo uma invasão de Abraham Smith, sem se dar conta de que os zumbis ao redor de sua morada eram ainda mais letais, principalmente agora que estava transformados, mais velozes e mais agressivos.


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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