sexta-feira, 7 de março de 2014

Assim que Amanhecer - Capítulo 09


           
Música: “Brand New Day – Lorena Simpson”.

Ela não mediu esforços. Em sua cabeça veio uma única alternativa: desaparecer dali. Mas se deixasse o corpo do homem caído na faixa de pedestres, ficaria com a consciência ainda mais pesada do que já estava. Como percebeu que as pessoas que presenciaram o acidente estavam se aproximando, Angélica não perdeu tempo, ajudou o homem a se levantar, o qual entrou no carro da mesma mancando. Logo depois, ela se apressou até a cadeira de rodas, e a apanhou. Correu para o carro.
    – O que você tá fazendo? – Perguntou ele, inconformado.
    – Fique quieto. Eu só não quero que ninguém descubra.
    O carro acelerou-se, e as pessoas que chegaram até o local da batida ficaram impressionadas com aquilo.

    As ruas estavam tranquilas naquele dia. Era sábado. E foi essa tranquilidade um dos motivos que fez Angélica decidir “correr” com seu automóvel. Olhando pelo retrovisor, ela pôde perceber que o rapaz que atropelara ela bela. Os braços eram fortes e os cabelos castanhos, com os olhos da mesma cor faziam dele uma joia rara. Apreciada com aquilo, ela decidiu se explicar:
     – Cara, foi mal. Tá, eu sou mesmo a Angélica. Não posso mentir. Você me viu. Reconheceu.
     – Eu não estou entendendo nada. – Perguntou passando uma das mãos no ralado do joelho. – Mas você não tava morta?
     – Acalme-se. Levarei você para um lugar. E te explicarei tudo.




Música: “Hoje eu Sonhei com Você – Humberto e Ronaldo”.

     A linda casinha de madeira praticamente no meio de uma floresta era aconchegante, capaz de fazer qualquer pessoa se encantar com o conforto e simplicidade. Não era a chácara que Eliana e Luigi tentaram matá-la. Era um lugar que só Angélica conhecia. Deitado em um dos sofás da sala, o homem ainda reclamava da dor. Mas Angélica cuidava de seus ferimentos, usando um algodão molhado em álcool.
     – Quase te matei e nem perguntei seu nome – Disse ela, a fim da resposta que queria. E conseguiu.
     – Meu nome é Miguel.
Angélica encarou-o, ainda admirada com sua beleza. Achava o nome muito bonito, assim como dono. Aproveitou que passava o algodão em umas das pernas, e tocou-a. Sentiu que o sangue esquentava aquela parte do corpo do homem.
     – Não sabia que uma miss sabe curar ferimentos.
     – Nem todas. Eu sei. – Disse ela, rindo, sem disfarçar a força de vontade em cuidar de sua “vítima”.
     – Você é muito bonita, sabia?
Bastaram essas palavras para Angélica ficar ainda mais impressionada com o belo homem. Sentiu uma coisa estranha dentro de si, como nunca. O estômago pareceu ter se mexido todo, e a vontade de “se esconder” a pegou de surpresa. Encarou Miguel, e por fim o respondeu.
     – Digo o mesmo a você.
     Ela tocou suavemente em sua perna mais uma vez, roçando o algodão. Foi aí que Miguel percebeu quanto delicada e feminina ela era. Uma coisa o dominara. A sensação de desejo o tomava. Percebeu que sua masculinidade e toda a feminilidade da linda mulher em sua frente faziam dele um homem especial.
     – Escuta, se você é mesmo a Angélica, me responde: como sobreviveu? Eu não entendi nada.
      Essas eram as palavras que transformaram a mulher de uma hora para a outra. Da sensação estranha, ela passou a ter uma grande preocupação e nervosismo.
     – Eu não posso te contar. Nem te conheço. Quem garante que você vai guardar segredo.
     – Acho que não é a única que tem um segredo.
     A palavra fez a bela loira voltar seu olhar para Miguel. Observou o gesto que ele fazia com a boca. Sentiu vontade de beijá-lo, mesmo não o conhecendo direito. Parecia uma adolescente a procura de um garoto para ‘ficar’.
     – Você também tem um? – A pergunta foi direta.
     – Tenho. E... Que tal a gente fazer um pacto? Eu conto o meu e você conta o seu?
     – Eu não sou nenhuma doida! Quem disse que posso confiar em você?
     – O meu segredo é esse: eu sempre tive vontade de ter você.
     Houve alguns segundos de silêncio. Angélica sentiu seu coração ainda mais palpitante. Não estava entendendo. A quietude foi quebrada:
      – Oi? Como assim?
Ele se ajeitou no sofá, para poder espichar as pernas, mas lembrou-se que não podia: usava cadeira de rodas. E a mesma estava logo ao lado. Angélica o fitou, esperando a resposta:
      – Eu sempre tive vontade de te conhecer, sabe? Há três anos. E foi por isso que eu to assim: entrevado.
      – Espera aí, você... Você não fez nenhuma loucura, fez?
      O que ela não queria que ele dissesse acabou saindo de sua boca. E a verdade veio à tona. Ele se lembrou do passado.

14 de Abril de 2009.
     O rapaz estava em frente a um objeto de peso muito utilizado nas academias: você levanta o máximo de quilogramas que pode. E eram cinquenta quilos. Os dois amigos ao seu lado o zoavam.
     – Duvido tu levantar esse ferro. Se levantar casa com a Angélica.
     – Cês tão duvidando, né? – Disse ele, seguro em suas palavras – Vou provar pra vocês.
     Miguel se preparava para levantar o peso, enquanto um dos seus amigos cochichava no ouvido do outro: “Nem se ele levantar esse treco a Angélica vai dar bola pra ele. Garoto pobre com uma miss Brasil. Vê se pode!”.
    “Por você, Angélica”. – Foram os pensamentos do belo rapaz, que levantou de uma vez o objeto. Por um instante estava conseguindo firmar, até seus amigos acabarem com a brincadeira.
     – Agora cê tem que esperar a gente contar até dez.
E ele foi aguentando... Aguentando... Aguentando... Quando chegou ao número seis, não conseguiu mais sustentar os cinquenta quilos. E de uma vez, soltou o peso, que caiu sobre suas pernas. A dor era insuportável. O desafio que não levaria a nada se tornou uma tragédia.

Música: “Memories – David Guetta”.

      Angélica balançava a cabeça, não acreditando no acabara de ouvir. Mas ao mesmo tempo tinha vontade de rir.
      – Eu era miss Brasil nesse tempo?
      – Sim. Tempos antes de você se candidatar a miss universo.
As gargalhadas tomaram conta da bela mulher, que perdeu toda a graça com as palavras seguintes do rapaz:
      – Agora conta o seu. Como ficou viva?
      – Já disse: o meu não é simples. É minha vida. Sou eu! Se eu contar, eu vou estar...
      – Confie em mim – Segurou uma das mãos dela, já que ela se encontrava sentada ao seu lado no sofá.
      – Se prepara. Você não vai achar graça nenhuma do que vai ouvir. – Alertou a loira antes de começar a falar do seu pretérito. E imperfeito.


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APOIO - VICTOR MARÇAL
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ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
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