Música:
“Brand New Day – Lorena Simpson”.
Ela não mediu esforços. Em sua cabeça veio uma
única alternativa: desaparecer dali. Mas se deixasse o corpo do homem caído na
faixa de pedestres, ficaria com a consciência ainda mais pesada do que já
estava. Como percebeu que as pessoas que presenciaram o acidente estavam se
aproximando, Angélica não perdeu tempo, ajudou o homem a se levantar, o qual
entrou no carro da mesma mancando. Logo depois, ela se apressou até a cadeira
de rodas, e a apanhou. Correu para o carro.
– O que você tá fazendo? – Perguntou
ele, inconformado.
– Fique quieto. Eu só não quero que
ninguém descubra.
O carro acelerou-se, e as pessoas
que chegaram até o local da batida ficaram impressionadas com aquilo.
As ruas estavam tranquilas naquele
dia. Era sábado. E foi essa tranquilidade um dos motivos que fez Angélica
decidir “correr” com seu automóvel. Olhando pelo retrovisor, ela pôde perceber
que o rapaz que atropelara ela bela. Os braços eram fortes e os cabelos
castanhos, com os olhos da mesma cor faziam dele uma joia rara. Apreciada com
aquilo, ela decidiu se explicar:
– Cara, foi mal. Tá, eu sou mesmo a
Angélica. Não posso mentir. Você me viu. Reconheceu.
– Eu não estou entendendo nada. –
Perguntou passando uma das mãos no ralado do joelho. – Mas você não tava morta?
– Acalme-se. Levarei você para um
lugar. E te explicarei tudo.
Música: “Hoje eu Sonhei com Você –
Humberto e Ronaldo”.
A linda casinha de madeira
praticamente no meio de uma floresta era aconchegante, capaz de fazer qualquer
pessoa se encantar com o conforto e simplicidade. Não era a chácara que Eliana
e Luigi tentaram matá-la. Era um lugar que só Angélica conhecia. Deitado em um
dos sofás da sala, o homem ainda reclamava da dor. Mas Angélica cuidava de seus
ferimentos, usando um algodão molhado em álcool.
– Quase te matei e nem perguntei seu
nome – Disse ela, a fim da resposta que queria. E conseguiu.
– Meu nome é Miguel.
Angélica
encarou-o, ainda admirada com sua beleza. Achava o nome muito bonito, assim
como dono. Aproveitou que passava o algodão em umas das pernas, e tocou-a.
Sentiu que o sangue esquentava aquela parte do corpo do homem.
– Não sabia que uma miss sabe curar
ferimentos.
– Nem todas. Eu sei. – Disse ela, rindo,
sem disfarçar a força de vontade em cuidar de sua “vítima”.
– Você é muito bonita, sabia?
Bastaram
essas palavras para Angélica ficar ainda mais impressionada com o belo homem.
Sentiu uma coisa estranha dentro de si, como nunca. O estômago pareceu ter se
mexido todo, e a vontade de “se esconder” a pegou de surpresa. Encarou Miguel,
e por fim o respondeu.
– Digo o mesmo a você.
Ela tocou suavemente em sua perna
mais uma vez, roçando o algodão. Foi aí que Miguel percebeu quanto delicada e
feminina ela era. Uma coisa o dominara. A sensação de desejo o tomava. Percebeu
que sua masculinidade e toda a feminilidade da linda mulher em sua frente
faziam dele um homem especial.
– Escuta, se você é mesmo a
Angélica, me responde: como sobreviveu? Eu não entendi nada.
Essas eram as palavras que
transformaram a mulher de uma hora para a outra. Da sensação estranha, ela
passou a ter uma grande preocupação e nervosismo.
– Eu não posso te contar. Nem te
conheço. Quem garante que você vai guardar segredo.
– Acho que não é a única que tem um
segredo.
A palavra fez a bela loira voltar
seu olhar para Miguel. Observou o gesto que ele fazia com a boca. Sentiu
vontade de beijá-lo, mesmo não o conhecendo direito. Parecia uma adolescente a
procura de um garoto para ‘ficar’.
– Você também tem um? – A pergunta
foi direta.
– Tenho. E... Que tal a gente fazer
um pacto? Eu conto o meu e você conta o seu?
– Eu não sou nenhuma doida! Quem
disse que posso confiar em você?
– O meu segredo é esse: eu sempre
tive vontade de ter você.
Houve alguns segundos de silêncio.
Angélica sentiu seu coração ainda mais palpitante. Não estava entendendo. A
quietude foi quebrada:
– Oi? Como assim?
Ele
se ajeitou no sofá, para poder espichar as pernas, mas lembrou-se que não
podia: usava cadeira de rodas. E a mesma estava logo ao lado. Angélica o fitou,
esperando a resposta:
– Eu sempre tive vontade de te
conhecer, sabe? Há três anos. E foi por isso que eu to assim: entrevado.
– Espera aí, você... Você não fez nenhuma
loucura, fez?
O que ela não queria que ele
dissesse acabou saindo de sua boca. E a verdade veio à tona. Ele se lembrou do
passado.
14 de Abril de 2009.
O
rapaz estava em frente a um objeto de peso muito utilizado nas academias: você
levanta o máximo de quilogramas que pode. E eram cinquenta quilos. Os dois
amigos ao seu lado o zoavam.
– Duvido tu levantar esse ferro. Se
levantar casa com a Angélica.
– Cês tão duvidando, né? – Disse
ele, seguro em suas palavras – Vou provar pra vocês.
Miguel se preparava para levantar o
peso, enquanto um dos seus amigos cochichava no ouvido do outro: “Nem se ele
levantar esse treco a Angélica vai dar bola pra ele. Garoto pobre com uma miss
Brasil. Vê se pode!”.
“Por você, Angélica”. – Foram os
pensamentos do belo rapaz, que levantou de uma vez o objeto. Por um instante
estava conseguindo firmar, até seus amigos acabarem com a brincadeira.
– Agora cê tem que esperar a gente
contar até dez.
E ele foi
aguentando... Aguentando... Aguentando... Quando chegou ao número seis, não
conseguiu mais sustentar os cinquenta quilos. E de uma vez, soltou o peso, que
caiu sobre suas pernas. A dor era insuportável. O desafio que não levaria a
nada se tornou uma tragédia.
Música:
“Memories – David Guetta”.
Angélica balançava a cabeça, não acreditando
no acabara de ouvir. Mas ao mesmo tempo tinha vontade de rir.
– Eu era miss Brasil nesse tempo?
– Sim. Tempos antes de você se
candidatar a miss universo.
As
gargalhadas tomaram conta da bela mulher, que perdeu toda a graça com as
palavras seguintes do rapaz:
– Agora conta o seu. Como ficou
viva?
– Já disse: o meu não é simples. É
minha vida. Sou eu! Se eu contar, eu vou estar...
– Confie em mim – Segurou uma das
mãos dela, já que ela se encontrava sentada ao seu lado no sofá.
– Se prepara. Você não vai achar
graça nenhuma do que vai ouvir. – Alertou a loira antes de começar a falar do seu
pretérito. E imperfeito.
COLABORADORES - LUIZ GUSTAVO E
MÁRCIO GABRIEL
APOIO - VICTOR MARÇAL
DIREÇÃO DE ARTE - VICTOR MARÇAL e
MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
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