Os flashes das câmeras registravam a saída triunfal de Eliana e Luigi, que para todos, estavam chocados, pois acabaram de reconhecer o corpo de uma mulher que sempre esteve presente em suas vidas: Angélica Waltsalles.
– Como farão de agora para frente?
– Pra vocês está tudo acabado?
– É verdade que vocês pretendem se
casar?
Eram
algumas das perguntas que os amantes escutavam até poderem entrar no carro e
irem para suas casas. Até esse percurso, Eliana segurava em suas mãos um lenço.
As lágrimas que saíam eram falsas, e não diziam absolutamente nada do que ela
sentia: um prazer em ficar com o dinheiro de sua irmã.
“Confirmado: Angélica Waltsalles foi
morta, e seu corpo queimado foi jogado em rio.”. Era essa a frase que estampava
os jornais principais do Brasil. Nenhum brasileiro deixou de saber da notícia
que chocou todo o mundo: quem seria capaz de acabar com a vida de uma mulher
tão linda? E de destruir seus sonhos? Para todos era uma dúvida, mas para os
grandes responsáveis por todo esse “vuco-vuco”, Eliana e Luigi, tudo estava
claro, e não devia sair da boca de nenhum deles para que alguém ouvisse.
Absolutamente ninguém.
Eram dez pessoas sentadas na mesa de uma agência de advocacia. O advogado de Luigi e Eliana analisava os papéis. Enquanto fazia isso, o casal de amantes nem imaginava que os olhares maldosos dos outros homens presentes eram capazes de matar, de tão intensos e fortes que eram. Desconfiança: o que definia cada um deles. Observavam cada gesto de Eliana e de Luigi, tentando descobrir se existe um sofrimento verdadeiro.
– Bom, senhores, estamos aqui para
discutir sobre a herança de Angélica Waltsalles, que por sinal, é imensa. – Introduziu Rodrigo, o advogado contratado de
Eliana e Luigi, que por sinal, era totalmente competente, pois além de ter
ganhado vários casos, está se preparando para viajar e começar o doutorado,
para especializar ainda mais o seu talento em defender. – É claro que a esposa
de Luigi não imaginava ter esse fim tão... Como posso dizer?! Tão incrédulo.
Que deus a receba aos céus. Enfim: o testamente de Angélica não estava
preenchido com as devidas informações. Repito: o inesperável ocorreu. A morte
estranha bagunçou a sua vida por completo. Então entraremos em um acordo, nessa
reunião, da divisão dos bens da mesma para os únicos herdeiros: sua irmã e seu
marido, que por sinal, amava Angélica muito. Digo isso porque vejo no próprio
rosto de Luigi sua expressão de sofrimento, de angústia.
Os outros homens já estavam com sono
da introdução tão animada do advogado, que prosseguiu:
– Decidimos que Eliana Waltsalles,
irmã genética da falecida, ficará com a casa, e com os bens materiais.
Eliana segurou-se para não pular de
alegria. Estava feita. “Poderei andar
naquele carrão da minha irmã, enquanto os paparazzis tiram fotos e...”.
Seus pensamentos foram interrompidos
pelo doutor Rodrigo, que continuou:
– Também decidimos que o senhor
Luigi Gatti, esposo da falecida, que agora está viúvo, ficará com o todo o
dinheiro depositado na conta do banco da mesma. O equivalente a mais de
quinhentos milhões de reais.
A vontade do homem era sair da
cadeira, beijar Eliana, a levar para a cama e comemorarem juntos a vitória
utilizando o prazer da carne. Mas não era a hora. Teriam tempo para isso ao
final da reunião.
– E gostaria que vocês assinassem. E
já estará tudo pronto: herança repartida honestamente.
Os papéis circularam por todos os
cantos da mesa, para que todas as testemunhas e também doutores da lei pudessem
assiná-la, confirmando a ordem de entregar os bens de Angélica entre os únicos
herdeiros. Era a vez dos últimos colocarem seus nomes. Um dos homens percebeu
que Eliana ficou nervosa com a caneta na mão, que tremia. Mas não foi por isso
que desistiu. Assinalou e confirmou o que tinha a ser feito. Luigi repetiu com
um pouco mais de felicidade. Só de pensar em segurar nas mãos um cheque de um
valor desejado por todo cafajeste como ele, sentia uma sensação muito boa. O
advogado do casal de amantes foi o último a assinar. Com o término, checou todo
o documento e constatou:
– Agora sim: vocês passam a partir
de agora a serem os donos de toda a fortuna deixa por Angélica.
– O senhor sabe muito bem que nunca
quis ficar com nada da minha irmã – Disse Eliana, que para a cena parecer mais
real, fingiu segurar o choro. – Eu a amava de mais. Eu cresci ao lado dela. Ela
foi minha melhor amiga, minha companheira e...
– Por favor, Eliana. Agora não é
hora. Está tudo resolvido. – Eliana foi interrompida pela voz de Rodrigo.
Para o advogado dos pilantras, o
sofrimento de ambos parecia totalmente real, mas para as testemunhas e outros
advogados presentes, havia alguma coisa errada na história.
A porta da mansão se abriu e os dois entraram beijando-se calorosamente. Eliana foi começando a se despir. A vontade de comemorar se tornava cada vez mais intensa. Só de tocar no corpo do amante, já sentia prazer. Por fim, chegaram ao quarto. Jogaram-se cama, e tiveram uma noite de amor selvagem e quente. Não houve palavras, e sim: sensações que a cada minuto queriam ser saciadas ainda mais.
Nove meses depois.
O carro em alta velocidade prosseguia
pela avenida Brasil. A mulher ao volante não conseguia disfarçar a ansiedade a
vontade de recuperar sua vida, de voltar a ser ela. Ao passar pelos prédios,
lembrava-se de tudo que viveu em São Paulo. Dos momentos bons e principalmente
dos ruins. A velocidade aumentava cada vez mais. Seu olhar sério no retrovisor
do carro mostrava a sua principal personalidade: hábil e transparente.
Percebeu que à frente uma faixa de
pedestres passara a ser ocupada por um cadeirante. O ponteiro marcava mais de
oitenta quilômetros por hora. Tentou frear, mas atingiu o homem em cheio. A
pancada foi tão grande que a cadeira de rodas do rapaz foi parar alguns metros
dali. Ela desceu do carro, desesperada. Passando as mãos pelos cabelos loiros,
e amassando-os ao rosto. Aproximou-se dele, caído na rua, com alguns
ferimentos, e reclamando da dor. O mesmo a encarou no fundo de seus olhos, e
assustado, ainda agonizando, suspirou:
– Angélica Waltsalles?
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