Segundo Testamento
Sexto Capítulo
Passaram-se
25 anos. Cada irmão foi para o seu lado e conseguiu fazer sua vida aos poucos.
Ugo continua ao lado de Wagner, porém como seu motorista e segurança. Ele
mantém contato com uma pessoa misteriosa, deixando-a informada de todos os
passos de seu patrão.
***
Ugo desliga o telefone e volta a
pôr o ouvido na porta. Agora ele escuta a advogada, Dra. Albaniza falando:
― Wagner, eu acho melhor você pensar bem.
Procura seus filhos.
― O Adriano nunca falaria comigo. E a
Alessandra tá em Paris pelas últimas informações que recebi. Já o Alex... Deve
estar com aquele violão idiota nas rodoviárias da vida. Eu tenho vergonha
daquele menino. Formado em direito e insiste em viver mendigando por aí. — Wagner
responde.
― Faz isso. Em uma semana eu volto ok?
Escute sua amiga.
Albaniza levanta-se e Wagner, mesmo
fraco e na cadeira de rodas a puxa.
― Não me faz procura-los. Eles não
vão querer conversa comigo.
― Wagner, meu amigo... tratando-se de
dinheiro, qualquer um esquece os problemas do passado.
***
Fidel,
o novo mordomo da mansão de Wagner pendura um quadro do patrão na parede.
― Ui, Que gato! — suspira. — Ai se
eu pudesse! Mas por enquanto eu sou apenas um pobre mordomo. A gata
borralheira. Mas espera só eu me tornar panicat.
Wagner Peregrini que me aguarde. Ele mesmo naquela cadeira de rodas ainda dá um
caldo.
―
Falando sozinho, pai? — Analú, sua filha, interrompe.
Fidel quase cai da escada quando vê
Analú, sua filha e também cozinheira da mansão.
―
Ai filhota, assim você me mata do coração, amor!
―
Você estava olhando pro quadro do Dr. Wagner de novo né? Ai, ai papai, quando é
o senhor vai parar com essa tara pelo teu patrão?
―
Psiu! Fala baixo, abestada! Vai que o Ugo escuta! Ou até mesmo o meu gatão?
―
Cinquenta anos nas costas e fica atrás de bater cabelo na night e arriscando o
emprego dando em cima do patrão. Quero ver quando o senhor vai crescer. Abre o
olho, Sr. Carlos Fidel Santana.
―
Eu sou uma eterna garotinha tá? E não fica espalhando a minha idade e nem meu
nome completo por aí. Agora deixa eu cuidar, Analú. Vai fazer o rango, filha.
Fidel
assumiu-se homossexual aos quarenta anos de idade, quando foi abandonado pela
esposa, que fugiu de desgosto e o deixou sozinho com Analú. Os dois arrumaram
emprego na mansão Peregrini e trabalham lá desde então.
***
Wagner
precisa da ajuda de Ugo para subir as escadas. Ele o pega no colo e coloca em
uma cadeira que há no andar de cima da casa.
―
Non entendo por que o senhor non procura um médico. Poderia até se curar.
Parla-me, que doença tem?
―
Por que insiste em fazer essa pergunta, hein Ugo? Vamos, pode me deixar
sozinho. Eu quero entrar no meu quarto e ir dormir.
Wagner
entra no quarto. Por trás da cortina do seu quarto vê uma silhueta que dança
uma dança bem sensual.
― Quem está aí?
Ele
pensa estar tendo uma alucinação. Será Norma que voltara do inferno para
azucriná-lo?
―
Norma?
De repente, a cortina abre. Wagner
leva um susto. Seu mordomo vestia um dos vestidos favoritos de sua falecida
esposa.
―
Não é a Norma não. — diz ele, assustado. ― Sou eu, Fidel.
―
Me perdoa doutor. Hoje mesmo eu vou embora da mansão.
Fidel
para a música e começa a tirar o vestido. Mas Wagner o interrompe:
―
Não! Não tira!
Fidel
arregala os olhos. Como assim “não tira?”, pensa ele.
―
Eu... Eu guardei esses vestidos, e todos os objetos da Norma por tanto tempo!
Ninguém nunca ousou entrar aqui, Fidel.
―
Eu já pedi desculpas, senhor. — Fidel abaixa a cabeça. — Eu sou ridículo. Eu só
não resisti... Mas eu juro que nesses dez anos de trabalho aqui eu nunca em
sequer toquei em nenhum vestido da senhora sua esposa. Essa é a primeira vez. O
senhor vai demitir a mim e a minha filha?
―
Não. Mas que isso se torne um segredo só nosso, ok?
***
Jangurussu
é um dos bairros mais humildes de Fortaleza. Muitas pessoas tiram do lixão o
seu sustento, e com Ingrid não é diferente. Sempre foi uma menina de rua. Não
sabia o que era luxo, nem mesmo o que era apenas um lar e uma refeição digna.
Nunca estudou.
A
única recordação que ela tinha das suas origens era uma fotografia dela quando
bebê no colo de sua falecida mãe, Yolanda. Nunca soube quem era o seu pai e nem
nunca quis saber.
―
Eu nem acredito que o meu barraquinho vai ficar pronto! — Ingrid comemora com a
amiga Cida.
―
Chega de passar frio, não é amiga!
―
O barraco está prontinho. Esse é o novo lar de vocês. — diz o homem que estava
construindo o barraco com madeiras, lonas e papelões.
As
amigas se abraçam.
―
Esse é o resultado do nosso esforço, Cidinha. Que bom que eu tenho você, amiga!
―
Nós somos irmãs. Desde os tempos das ruas. A gente era criança, cheirava cola,
roubava. Mas tomamos um rumo diferente na nossa vida, né Ingrid?
Elas
mobíliam o barraco com alguns móveis, alguns mesmo achados no lixo.
***
Ugo
flagra Fidel saindo do quarto de Wagner.
― Mi scusi, bichona.
― Sai do armário Ugo! Sou bicha sim
e com muito orgulho tá? Agora você, é uma enrustida. Sua masculinidade é tão
falsa quanto menstruação de travesti. Dr. Wagner tá descansando. Não quer que
ninguém o incomode. Ninguém. — frisa.
―
Io sou VIP. Posso entrar no quarto a hora que eu quiser.
Fidel
dá uma rabissaca e vai embora. Ugo entra no quarto.
―
O que o mordomo fazia em tuo quarto? — Ugo pergunta para Wagner.
Wagner
vira a cadeira de rodas e olha para Ugo. Pega na mão daquele que já fora um
adolescente ingênuo (agora é um homem de quarenta anos) e diz:
―
Está com ciúmes? Pra mim só existe você.
Ugo
o repreende fazendo com que solte sua mão. Wagner continua:
―
Por que você não me faz aquela massagem? Preciso aliviar a tensão...
***
Paris
– França.
Bruno Valente é um paparazzo
de 35 anos que foi até a França em busca de flashes exclusivos para uma vida
melhor.
―
Eu preciso entrevistar a Alessandra Saboya e o marido dela, cara. Antes que
eles voltem para o Brasil. – Bruno fala ao telefone enquanto toma um café numa
lanchonete com vista para a torre Eiffel.
―
(voz pelo telefone) Essa é uma boa
oportunidade pra você voltar para a sua terrinha querida, não acha?
―
Ah, Calebe! Eu ainda não consegui uma boa grana. Eu quero conseguir “A
entrevista” uma exclusiva. Ou uma foto exclusiva de um artista famoso. Assim eu
vendo pra revista Flash e ganho uma grana boa. Aí sim eu volto pro Brasil.
―
(voz pelo telefone) Se você quer mesmo
economizar, para de ficar tomando cafezinho em lanchonete chique. Além do mais,
o que levaria a Alessandra Saboya a te dar uma entrevista? Velho, você não
trabalha pra nenhuma revista, jornal, enfim!
―
Tenho os meus meios. Agora me deixa desligar que a ligação custa um olho da
cara.
Bruno
bebe um gole de café e pega o jornal. Bem na frente, ele mostra a foto de
Alessandra (agora uma mulher de 33 anos, rica, ex-modelo, estilista e com um ar
enjoativo e arrogante). A matéria,
em destaque:
“Alessandra Saboya fait ses débuts aujourd'hui sa nouvelle collection.”
(Alessandra Saboya estreia
hoje sua nova coleção).
― Hoje eu te entrevisto, fera.
COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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