quarta-feira, 5 de março de 2014

Alta Tensão - Capítulo 06



Segundo Testamento

Sexto Capítulo

Passaram-se 25 anos. Cada irmão foi para o seu lado e conseguiu fazer sua vida aos poucos. Ugo continua ao lado de Wagner, porém como seu motorista e segurança. Ele mantém contato com uma pessoa misteriosa, deixando-a informada de todos os passos de seu patrão.

***

Ugo desliga o telefone e volta a pôr o ouvido na porta. Agora ele escuta a advogada, Dra. Albaniza falando:

     ― Wagner, eu acho melhor você pensar bem. Procura seus filhos.

     ― O Adriano nunca falaria comigo. E a Alessandra tá em Paris pelas últimas informações que recebi. Já o Alex... Deve estar com aquele violão idiota nas rodoviárias da vida. Eu tenho vergonha daquele menino. Formado em direito e insiste em viver mendigando por aí. — Wagner responde.

     ― Faz isso. Em uma semana eu volto ok? Escute sua amiga.

Albaniza levanta-se e Wagner, mesmo fraco e na cadeira de rodas a puxa.

     ― Não me faz procura-los. Eles não vão querer conversa comigo.

     ― Wagner, meu amigo... tratando-se de dinheiro, qualquer um esquece os problemas do passado.

***


     Fidel, o novo mordomo da mansão de Wagner pendura um quadro do patrão na parede.

― Ui, Que gato! — suspira. — Ai se eu pudesse! Mas por enquanto eu sou apenas um pobre mordomo. A gata borralheira. Mas espera só eu me tornar panicat. Wagner Peregrini que me aguarde. Ele mesmo naquela cadeira de rodas ainda dá um caldo.

     ― Falando sozinho, pai? — Analú, sua filha, interrompe.

Fidel quase cai da escada quando vê Analú, sua filha e também cozinheira da mansão.

     ― Ai filhota, assim você me mata do coração, amor!

     ― Você estava olhando pro quadro do Dr. Wagner de novo né? Ai, ai papai, quando é o senhor vai parar com essa tara pelo teu patrão?

     ― Psiu! Fala baixo, abestada! Vai que o Ugo escuta! Ou até mesmo o meu gatão?

     ― Cinquenta anos nas costas e fica atrás de bater cabelo na night e arriscando o emprego dando em cima do patrão. Quero ver quando o senhor vai crescer. Abre o olho, Sr. Carlos Fidel Santana.

     ― Eu sou uma eterna garotinha tá? E não fica espalhando a minha idade e nem meu nome completo por aí. Agora deixa eu cuidar, Analú. Vai fazer o rango, filha.

     Fidel assumiu-se homossexual aos quarenta anos de idade, quando foi abandonado pela esposa, que fugiu de desgosto e o deixou sozinho com Analú. Os dois arrumaram emprego na mansão Peregrini e trabalham lá desde então.

***

     Wagner precisa da ajuda de Ugo para subir as escadas. Ele o pega no colo e coloca em uma cadeira que há no andar de cima da casa.

     ― Non entendo por que o senhor non procura um médico. Poderia até se curar. Parla-me, que doença tem?

     ― Por que insiste em fazer essa pergunta, hein Ugo? Vamos, pode me deixar sozinho. Eu quero entrar no meu quarto e ir dormir.

     Wagner entra no quarto. Por trás da cortina do seu quarto vê uma silhueta que dança uma dança bem sensual.

― Quem está aí?

     Ele pensa estar tendo uma alucinação. Será Norma que voltara do inferno para azucriná-lo?

     ― Norma?

De repente, a cortina abre. Wagner leva um susto. Seu mordomo vestia um dos vestidos favoritos de sua falecida esposa.

     ― Não é a Norma não. — diz ele, assustado. ― Sou eu, Fidel.






     ― Me perdoa doutor. Hoje mesmo eu vou embora da mansão.

     Fidel para a música e começa a tirar o vestido. Mas Wagner o interrompe:

     ― Não! Não tira!

     Fidel arregala os olhos. Como assim “não tira?”, pensa ele.

     ― Eu... Eu guardei esses vestidos, e todos os objetos da Norma por tanto tempo! Ninguém nunca ousou entrar aqui, Fidel.

     ― Eu já pedi desculpas, senhor. — Fidel abaixa a cabeça. — Eu sou ridículo. Eu só não resisti... Mas eu juro que nesses dez anos de trabalho aqui eu nunca em sequer toquei em nenhum vestido da senhora sua esposa. Essa é a primeira vez. O senhor vai demitir a mim e a minha filha?

     ― Não. Mas que isso se torne um segredo só nosso, ok?

***



     Jangurussu é um dos bairros mais humildes de Fortaleza. Muitas pessoas tiram do lixão o seu sustento, e com Ingrid não é diferente. Sempre foi uma menina de rua. Não sabia o que era luxo, nem mesmo o que era apenas um lar e uma refeição digna. Nunca estudou.

     A única recordação que ela tinha das suas origens era uma fotografia dela quando bebê no colo de sua falecida mãe, Yolanda. Nunca soube quem era o seu pai e nem nunca quis saber.

     ― Eu nem acredito que o meu barraquinho vai ficar pronto! — Ingrid comemora com a amiga Cida.

     ― Chega de passar frio, não é amiga!

     ― O barraco está prontinho. Esse é o novo lar de vocês. — diz o homem que estava construindo o barraco com madeiras, lonas e papelões.

     As amigas se abraçam.

     ― Esse é o resultado do nosso esforço, Cidinha. Que bom que eu tenho você, amiga!

     ― Nós somos irmãs. Desde os tempos das ruas. A gente era criança, cheirava cola, roubava. Mas tomamos um rumo diferente na nossa vida, né Ingrid?

     Elas mobíliam o barraco com alguns móveis, alguns mesmo achados no lixo.

***

     Ugo flagra Fidel saindo do quarto de Wagner.

     ― Mi scusi, bichona.

     ― Sai do armário Ugo! Sou bicha sim e com muito orgulho tá? Agora você, é uma enrustida. Sua masculinidade é tão falsa quanto menstruação de travesti. Dr. Wagner tá descansando. Não quer que ninguém o incomode. Ninguém. — frisa.

     ― Io sou VIP. Posso entrar no quarto a hora que eu quiser.

     Fidel dá uma rabissaca e vai embora. Ugo entra no quarto.

     ― O que o mordomo fazia em tuo quarto? — Ugo pergunta para Wagner.

     Wagner vira a cadeira de rodas e olha para Ugo. Pega na mão daquele que já fora um adolescente ingênuo (agora é um homem de quarenta anos) e diz:

     ― Está com ciúmes? Pra mim só existe você.

     Ugo o repreende fazendo com que solte sua mão. Wagner continua:

     ― Por que você não me faz aquela massagem? Preciso aliviar a tensão...

***

Paris – França.



     Bruno Valente é um paparazzo de 35 anos que foi até a França em busca de flashes exclusivos para uma vida melhor.

     ― Eu preciso entrevistar a Alessandra Saboya e o marido dela, cara. Antes que eles voltem para o Brasil. – Bruno fala ao telefone enquanto toma um café numa lanchonete com vista para a torre Eiffel.

     ― (voz pelo telefone) Essa é uma boa oportunidade pra você voltar para a sua terrinha querida, não acha?

     ― Ah, Calebe! Eu ainda não consegui uma boa grana. Eu quero conseguir “A entrevista” uma exclusiva. Ou uma foto exclusiva de um artista famoso. Assim eu vendo pra revista Flash e ganho uma grana boa. Aí sim eu volto pro Brasil.

     ― (voz pelo telefone) Se você quer mesmo economizar, para de ficar tomando cafezinho em lanchonete chique. Além do mais, o que levaria a Alessandra Saboya a te dar uma entrevista? Velho, você não trabalha pra nenhuma revista, jornal, enfim!

     ― Tenho os meus meios. Agora me deixa desligar que a ligação custa um olho da cara.

     Bruno bebe um gole de café e pega o jornal. Bem na frente, ele mostra a foto de Alessandra (agora uma mulher de 33 anos, rica, ex-modelo, estilista e com um ar enjoativo e arrogante). A matéria, em destaque:



“Alessandra Saboya fait ses débuts aujourd'hui sa nouvelle collection.”

(Alessandra Saboya estreia hoje sua nova coleção).



     ― Hoje eu te entrevisto, fera.


COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO

DIREÇÃO DE ARTE -  MÁRCIO GABRIEL

ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL

REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL

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