sexta-feira, 28 de março de 2014

Alta Tensão - Capítulo 16



DÉCIMO SEXTO CAPÍTULO

     Vanessa mal chegou de Recife e já se sente dona de todo o prédio da revista Flash. Wagner, por sua vez, põe as rédeas na neta.
     ― Vovô! Não sabia que o senhor viria tão cedo...
     ― Sim, vim cedo.
     ― O senhor não acredita. “Essazinha” aí – aponta para Ingrid – teve o descaramento de me tratar mal. Vai demitir ela, não vai?
     — Eu não vou demitir ninguém. Muito menos a Maria Aparecida... Cida. — Wagner olha para Ingrid. Ela sorri.
     ― Como assim, vô? Ela não me deixou entrar na sua sala. Eu sou sua neta!
     ― Vamos deixar claro uma coisa, Vanessa: Na minha ausência, quem manda nessa sala aqui é a Cida. Ouviu? Ou melhor, ouviram?
     Ingrid e Vanessa assentem com a cabeça. Wagner dirige-se a Ingrid e diz:
     ― Cida, vou explicar tudo o que você tem que fazer aqui. O trabalho é difícil, mas você se acostuma.
     ― Pra mim nenhum trabalho é duro, Sr. Wagner.
     ― Ótimo. — vira a cabeça pra Ugo, que está guiando a cadeira de rodas. — Ugo leve-me até minha sala.

***




Bruno continua hospedado no apartamento do seu amigo Calebe. Como passou a noite toda fora, só chega de manhã.
     ― Bom dia, Bruno. Vejo que passou a noite toda fora. Diz aí, alguma gata?
     ― Cara... Peguei nada mais nada menos do que a filha do Wagner Peregrini.
     ― (rindo) Fala sério, Bruno. A tal catadora de lixo? Você ta sonhando. Só que é melhor o senhor acordar, porque a situação aqui não é a das melhores. Daqui a pouco acaba a comida, o mês e aí cortam a água, a luz...
     ― E cadê a foto do Wagner com as bichonas no show da Jennifer Lopez?
     ― Eu fiquei pensando... não sei se é uma boa vender aquilo, Bruno.
     ― Vende pra qualquer concorrente da Flash e pede sigilo, Calebe. E pede também um preço salgado. – Bruno morde uma maçã e se senta no sofá. – Menos do que vinte mil reais você não ganha.
     ― Não tenho coragem.
     ― Então me dê as fotos que eu mesmo as vendo. Ainda não engoli aquela humilhação que ele me fez passar.
     ― Tá ok. Mas a gente divide a grana metade e metade.
     ― Combinado.

***

     Ingrid estava mudando sua concepção sobre Wagner. Às vezes chegava até a se arrepender de estar enganando aquele homem, seu pai. Se todos diziam que Wagner Peregrini era o homem mais enjoado do mundo, com ela ele era respeitoso. Mostrava cada parte do trabalho de secretária para Ingrid e logo ela estava aprendendo tudo direitinho.
     ― Então, Cida. É basicamente isso o que você tem de fazer.
Ugo interrompe os dois com o tablet na mão.
     ― Dr. Wagner! Dr. Wagner!
     ― O que foi agora, Ugo? Não está vendo que estou ocupado?
     ― O senhor precisa ser forte agora.
     ― O que há?
     Ugo dá o tablet para o patrão. Wagner quase tem um ataque de nervos: sua foto com os GoGo Boys no show da Jeniffer Lopez estava em todos os sites de fofocas do Brasil.
     ― Que tipo de palhaçada é essa? Por favor, Cida, deixe-me a sós com o Ugo.
     ― Pois não, senhor.
Ingrid sai. Wagner olha para Ugo com os olhos arregalados.
     ― E agora, Ugo. Me pegaram. Me pegaram! O que eu faço? O que eu faço?
     ― O senhor vai ter que sumir. Ou se assumir...
     ― E deixar a Flash nas mãos de quem?
     ― Da Vanessa?
     ― Aquela ali não sabe de nada. É uma baba ovo. – Wagner puxa o braço de Ugo. – O que quer que aconteça, Ugo... Você não vai me abandonar, não é?
Ugo muda de assunto:
     ― Eu vou tentar amenizar a situação por aqui. Com licença.

***

Na redação da revista Flash, só se ouve burburinhos e fofocas a respeito de Wagner. Ugo chega para pôr moral.
     ― Ordem! Ordem! Essa notícia do Dr. Wagner com os GoGo boys é pura montagem. É uma brincadeira de mau gosto. Então eu não quero ouvir nada, NADA a respeito disso. Capiche?
Os jornalistas e outros funcionários da revista apenas confirmam balançando a cabeça.
     ― Melhor assim.

***



     Na saída da revista, Wagner e Ugo percebem que jornalistas cercaram o prédio. O empresário tenta tapar o rosto com uma pasta, enquanto Ugo e alguns seguranças tentam mover-se entre a multidão de paparazzi.
― Wagner, o senhor é homossexual?
― O que tem a dizer sobre isso?
― O senhor gosta de outras divas do pop? Madonna? Britney? Gaga? Cher?
― Quem é esse homem? É seu companheiro?(aponta para Ugo)
     Wagner não aguenta a pressão dos jornalistas e acaba desmaiando na cadeira de rodas. 

***

     ― Dessa vez Wagner se assume! BICHONA! – gargalha Alessandra, mexendo no seu notebook, no escritório.
Gianpaolo, seu marido, escuta a moça falando sozinha e vai até lá.
     ― Algum problema, amor?
     ― Não. Estou às mil maravilhas. Wagner finalmente está colhendo o que plantou.
     ― Amor... Mesmo com tudo o que ele fez à vocês... Wagner é seu pai.
     ― Não. Ele não é. Você nunca entenderia Gianpaolo...
     ― Entendo sim. E te apoio. – beija Alessandra.

***

     No hospital, Ugo espera que Wagner acorde. Finalmente, Wagner abre os olhos.
     ― Onde estou? Finalmente acordei de um pesadelo, Ugo...
     ― Não foi um pesadelo, doutor.
Wagner põe a mão direita na testa, sinalizando preocupação.
     ― Não sei o que fazer... Não sei por que diabos essa doença não me mata logo.
     ― Por que o senhor precisa fazer alguma coisa ainda aqui na Terra...
     ― O quê, por exemplo?
     ― Conquistar o perdão dos seus filhos.
     ― Impossível.
Alguém dá uma leve batida na porta, depois abre. É Ingrid. Ela traz flores.
     ― Cida? – Wagner espanta-se.



     ― O que está fazendo aqui bambina? Não vê que é apenas a secretária!
     ― Cale-se, Ugo! – interrompe. – Aproxime-se, Cida.
     ― Obrigada, doutor. Trouxe flores para o senhor. — Ingrid entrega as flores para Wagner, encarando Ugo.
     ― Muito gentil da sua parte, Cida. – agradece.
     ― Então... Só vim ver como o senhor estava. Já vou indo.
Ingrid vira as costas, porém Wagner a chama.
     ― Não precisa ir agora... Senta aí, querida.
     ― Obrigada. — Ingrid senta.
     ― Ugo, eu preciso falar com a Cida. Se não se importa, quero que me deixe sozinho com ela.
 Ugo sai com a cara emburrada e bate a porta.

***



     ― Caraca! A foto da bichona do Wagner já é notícia no mundo inteiro! – Bruno se espanta enquanto fuça a internet. – Preciso ligar para a Ingrid. Quer dizer... Cida. Ah, mas ela não tem celular. Ingrid...
Bruno se lembra da noite passada:
 (Flashback)
     ― Parece que eu... Caí! – Ingrid puxa assunto.
     ― Quer ir pra casa agora?
     ― Não mesmo.
     Os dois se beijam. Bruno tira a roupa de Ingrid, deixando-a completamente nua.
     ― Louco. Vai me deixar nua aqui?
     ― Vem pro mar.
(Fim do Flashback)

***



     ― O que o senhor gostaria de falar comigo? – pergunta Ingrid.
     ― Você nem me conhece, Cida e... Se preocupa tanto comigo!
Ingrid pega na mão de Wagner.
     ― Vejo o senhor como o pai que eu e Ingrid, que Deus a tenha, nunca tivemos. Sei que ela gostaria de conhecer o senhor. Ela passou a vida toda te procurando...
     ― Como assim?
     ― Ela chegou a tentar emprego na Flash. Trabalhou comigo lá nos últimos dias da vida dela. — Ingrid finge choro. Wagner levanta a cabeça de Ingrid com o dedo indicador.
     ― Ingrid está em um lugar melhor agora, Cida. — sorri.
     ― Assim espero, Dr. Wagner. – Ingrid também sorri.

***

     Ugo espera nervoso do lado de fora do quarto de Wagner no hospital. Tenta ouvir a conversa, mas não consegue. Tempos depois, Ingrid sai.
     ― Tchau, Ugo.
Ugo, ainda emburrado, responde:
     ― Ciao, Cida.
Então, Ugo entra no quarto.
     ― O que tanto conversava com a secretária, senhore?
     ― Não é da sua conta, Ugo. Mas vejo minha filha nessa moça.
     ― Sinto dizer, mas sua filha está morta, senhore.
     — Não precisa repetir.

***

     Ingrid resolveu visitar o túmulo de Cidinha no cemitério. Ela pousa as outras flores      que comprara em cima da pedra.
     ― Desculpa por tamanha frieza, minha amiga... Eu queria muito que acontecesse tudo de forma diferente. Mas um dia eu vou agradecer a você por tudo, viu? – chora.
     ― Pensei que você já tivesse superado isso... – soa uma voz masculina. Ingrid vira e olha para Bruno. Ela levanta e o abraça.
     ― Como me achou aqui?
     ― Já que não estava na Flash, nem na casa de D. Inês, resolvi tentar aqui...
     ― Obrigada por me aguentar... – enxuga as lágrimas.
     ― Obrigado pela noite de ontem. Eu nunca fiz tamanha loucura na minha vida.
     ― E eu? Ultimamente minha vida está uma verdadeira loucura.

***

Bruno e Ingrid conversam em um restaurante.
     ― Ingrid... Tem certeza de que quer levar esse plano à diante?
     ― Preciso proteger o Wagner das garras do Ugo, meu amor. Sinto que é o meu dever de filha.
     ― Mas sabe que ele não fez o dever de pai quando abandonou sua mãe, não é verdade?
     ― Como já devo ter dito, Wagner é um ser humano que erra, meu bem. Como qualquer outro.

***

     Fidel liga o rádio e por um milagre toca sua música preferida
       ― Ui,não acredito!
     ― O que foi, pai? — pergunta Analú enquanto corta cebola.
       ― Hello! Minha música preferida!
     Fidel começa a se requebrar como se estivesse no filme Flashdance, mas a música é parada por Ugo, que chega de surpresa e desliga o rádio.
     ― Vamos parar com a palhaçada?
     Fidel liga o rádio. Ugo, por sua vez desliga. Os dois ficam ligando e desligando o rádio até que Ugo se descontrola e o joga no chão, partindo o objeto em vários pedaços.
     ― Meu rádio!
     ― Aprenda a me escutar da próxima vez. Fidel me ajuda a separar algumas roupas do Dr. Wagner. Ele está internado.
     ― O que aconteceu, bi?
     ― Nada que lhe interesse. Menos conversa e mais ações. Vamos Fidel!
     ― Esse italiano tá todo besta. Se acha o patrão só porque o Dr. Wagner não está. Quero ver se...
     ― CALA A BOCA SUA BICHA INÚTIL E FAZ O QUE EU ESTOU MANDANDO! (amansando a voz) entendeu?
     ― Acordou de mau humor hoje hein. Quero ver na hora de trocar a fralda do velho... — Fidel vê que Ugo o encara. — Tá, já to indo.

***

Ao saber da internação do amigo, Dra. Albaniza visita Wagner.
     ― Oh, meu amigo... Por que não me disse antes?
     ― Disse o quê?
     ― Deixa pra lá. E aí, como está?
     ― Mal. Terrivelmente mal. Meus filhos não quiseram meu perdão e eu encontrei minha filha com a Yolanda...
     ― Isso é bom!
     ― Se ela estivesse viva, sim.
     ― Oh, sinto muito.
     ― Albaniza, tomei uma decisão.
     ― Decisão? Que decisão?
     ― Venderei a Flash. Suas filiais no Brasil, em Roma, Paris, Johanesburgo... Vou vender tudo e sumir no meu iate!
     ― E quanto ao testamento?
     ― Deixe tudo para a minha secretária, Maria Aparecida dos Santos, a Cida. É definitivo.



COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE -  MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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