DÉCIMO SEXTO CAPÍTULO
Vanessa
mal chegou de Recife e já se sente dona de todo o prédio da revista Flash.
Wagner, por sua vez, põe as rédeas na neta.
―
Vovô! Não sabia que o senhor viria tão cedo...
―
Sim, vim cedo.
―
O senhor não acredita. “Essazinha” aí – aponta para Ingrid – teve o
descaramento de me tratar mal. Vai demitir ela, não vai?
—
Eu não vou demitir ninguém. Muito menos a Maria Aparecida... Cida. — Wagner
olha para Ingrid. Ela sorri.
―
Como assim, vô? Ela não me deixou entrar na sua sala. Eu sou sua neta!
―
Vamos deixar claro uma coisa, Vanessa: Na minha ausência, quem manda nessa sala
aqui é a Cida. Ouviu? Ou melhor, ouviram?
Ingrid
e Vanessa assentem com a cabeça. Wagner dirige-se a Ingrid e diz:
―
Cida, vou explicar tudo o que você tem que fazer aqui. O trabalho é difícil,
mas você se acostuma.
―
Pra mim nenhum trabalho é duro, Sr. Wagner.
―
Ótimo. — vira a cabeça pra Ugo, que está guiando a cadeira de rodas. — Ugo
leve-me até minha sala.
***
Bruno continua hospedado no
apartamento do seu amigo Calebe. Como passou a noite toda fora, só chega de
manhã.
―
Bom dia, Bruno. Vejo que passou a noite toda fora. Diz aí, alguma gata?
―
Cara... Peguei nada mais nada menos do que a filha do Wagner Peregrini.
―
(rindo) Fala sério, Bruno. A tal catadora de lixo? Você ta sonhando. Só que é
melhor o senhor acordar, porque a situação aqui não é a das melhores. Daqui a
pouco acaba a comida, o mês e aí cortam a água, a luz...
―
E cadê a foto do Wagner com as bichonas no show da Jennifer Lopez?
―
Eu fiquei pensando... não sei se é uma boa vender aquilo, Bruno.
―
Vende pra qualquer concorrente da Flash e pede sigilo, Calebe. E pede também um
preço salgado. – Bruno morde uma maçã e se senta no sofá. – Menos do que vinte
mil reais você não ganha.
―
Não tenho coragem.
―
Então me dê as fotos que eu mesmo as vendo. Ainda não engoli aquela humilhação
que ele me fez passar.
―
Tá ok. Mas a gente divide a grana metade e metade.
―
Combinado.
***
Ingrid
estava mudando sua concepção sobre Wagner. Às vezes chegava até a se arrepender
de estar enganando aquele homem, seu pai. Se todos diziam que Wagner Peregrini
era o homem mais enjoado do mundo, com ela ele era respeitoso. Mostrava cada
parte do trabalho de secretária para Ingrid e logo ela estava aprendendo tudo
direitinho.
―
Então, Cida. É basicamente isso o que você tem de fazer.
Ugo interrompe os dois com o tablet
na mão.
―
Dr. Wagner! Dr. Wagner!
―
O que foi agora, Ugo? Não está vendo que estou ocupado?
―
O senhor precisa ser forte agora.
―
O que há?
Ugo
dá o tablet para o patrão. Wagner quase tem um ataque de nervos: sua foto com
os GoGo Boys no show da Jeniffer Lopez estava em todos os sites de fofocas do
Brasil.
―
Que tipo de palhaçada é essa? Por favor, Cida, deixe-me a sós com o Ugo.
―
Pois não, senhor.
Ingrid sai. Wagner olha para Ugo
com os olhos arregalados.
―
E agora, Ugo. Me pegaram. Me pegaram! O que eu faço? O que eu faço?
―
O senhor vai ter que sumir. Ou se assumir...
―
E deixar a Flash nas mãos de quem?
―
Da Vanessa?
―
Aquela ali não sabe de nada. É uma baba ovo. – Wagner puxa o braço de Ugo. – O
que quer que aconteça, Ugo... Você não vai me abandonar, não é?
Ugo muda de assunto:
―
Eu vou tentar amenizar a situação por aqui. Com licença.
***
Na redação da revista Flash, só se
ouve burburinhos e fofocas a respeito de Wagner. Ugo chega para pôr moral.
―
Ordem! Ordem! Essa notícia do Dr. Wagner com os GoGo boys é pura montagem. É
uma brincadeira de mau gosto. Então eu não quero ouvir nada, NADA a respeito
disso. Capiche?
Os jornalistas e outros
funcionários da revista apenas confirmam balançando a cabeça.
―
Melhor assim.
***
Na
saída da revista, Wagner e Ugo percebem que jornalistas cercaram o prédio. O
empresário tenta tapar o rosto com uma pasta, enquanto Ugo e alguns seguranças
tentam mover-se entre a multidão de paparazzi.
―
Wagner, o senhor é homossexual?
―
O que tem a dizer sobre isso?
―
O senhor gosta de outras divas do pop? Madonna? Britney? Gaga? Cher?
―
Quem é esse homem? É seu companheiro?(aponta para Ugo)
Wagner
não aguenta a pressão dos jornalistas e acaba desmaiando na cadeira de rodas.
***
―
Dessa vez Wagner se assume! BICHONA! – gargalha Alessandra, mexendo no seu
notebook, no escritório.
Gianpaolo, seu marido, escuta a
moça falando sozinha e vai até lá.
―
Algum problema, amor?
―
Não. Estou às mil maravilhas. Wagner finalmente está colhendo o que plantou.
―
Amor... Mesmo com tudo o que ele fez à vocês... Wagner é seu pai.
―
Não. Ele não é. Você nunca entenderia Gianpaolo...
―
Entendo sim. E te apoio. – beija Alessandra.
***
No
hospital, Ugo espera que Wagner acorde. Finalmente, Wagner abre os olhos.
―
Onde estou? Finalmente acordei de um pesadelo, Ugo...
―
Não foi um pesadelo, doutor.
Wagner põe a mão direita na testa,
sinalizando preocupação.
―
Não sei o que fazer... Não sei por que diabos essa doença não me mata logo.
―
Por que o senhor precisa fazer alguma coisa ainda aqui na Terra...
―
O quê, por exemplo?
―
Conquistar o perdão dos seus filhos.
―
Impossível.
Alguém dá uma leve batida na porta,
depois abre. É Ingrid. Ela traz flores.
―
Cida? – Wagner espanta-se.
―
O que está fazendo aqui bambina? Não vê que é apenas a secretária!
―
Cale-se, Ugo! – interrompe. – Aproxime-se, Cida.
―
Obrigada, doutor. Trouxe flores para o senhor. — Ingrid entrega as flores para
Wagner, encarando Ugo.
―
Muito gentil da sua parte, Cida. – agradece.
―
Então... Só vim ver como o senhor estava. Já vou indo.
Ingrid vira as costas, porém Wagner
a chama.
―
Não precisa ir agora... Senta aí, querida.
―
Obrigada. — Ingrid senta.
―
Ugo, eu preciso falar com a Cida. Se não se importa, quero que me deixe sozinho
com ela.
Ugo sai com a cara emburrada e bate a porta.
***
―
Caraca! A foto da bichona do Wagner já é notícia no mundo inteiro! – Bruno se
espanta enquanto fuça a internet. – Preciso ligar para a Ingrid. Quer dizer...
Cida. Ah, mas ela não tem celular. Ingrid...
Bruno se lembra da noite passada:
(Flashback)
― Parece que eu... Caí! – Ingrid puxa
assunto.
― Quer ir pra casa agora?
― Não mesmo.
Os dois se beijam. Bruno tira a roupa de
Ingrid, deixando-a completamente nua.
― Louco. Vai me deixar nua aqui?
― Vem pro mar.
(Fim
do Flashback)
***
― O que o
senhor gostaria de falar comigo? – pergunta Ingrid.
―
Você nem me conhece, Cida e... Se preocupa tanto comigo!
Ingrid pega na mão de Wagner.
―
Vejo o senhor como o pai que eu e Ingrid, que Deus a tenha, nunca tivemos. Sei
que ela gostaria de conhecer o senhor. Ela passou a vida toda te procurando...
―
Como assim?
―
Ela chegou a tentar emprego na Flash. Trabalhou comigo lá nos últimos dias da
vida dela. — Ingrid finge choro. Wagner levanta a cabeça de Ingrid com o dedo
indicador.
―
Ingrid está em um lugar melhor agora, Cida. — sorri.
―
Assim espero, Dr. Wagner. – Ingrid também sorri.
***
Ugo
espera nervoso do lado de fora do quarto de Wagner no hospital. Tenta ouvir a conversa,
mas não consegue. Tempos depois, Ingrid sai.
―
Tchau, Ugo.
Ugo, ainda emburrado, responde:
―
Ciao, Cida.
Então, Ugo entra no quarto.
―
O que tanto conversava com a secretária, senhore?
―
Não é da sua conta, Ugo. Mas vejo minha filha nessa moça.
―
Sinto dizer, mas sua filha está morta, senhore.
—
Não precisa repetir.
***
Ingrid
resolveu visitar o túmulo de Cidinha no cemitério. Ela pousa as outras flores que comprara em cima da pedra.
―
Desculpa por tamanha frieza, minha amiga... Eu queria muito que acontecesse
tudo de forma diferente. Mas um dia eu vou agradecer a você por tudo, viu? –
chora.
―
Pensei que você já tivesse superado isso... – soa uma voz masculina. Ingrid
vira e olha para Bruno. Ela levanta e o abraça.
―
Como me achou aqui?
―
Já que não estava na Flash, nem na casa de D. Inês, resolvi tentar aqui...
―
Obrigada por me aguentar... – enxuga as lágrimas.
―
Obrigado pela noite de ontem. Eu nunca fiz tamanha loucura na minha vida.
―
E eu? Ultimamente minha vida está uma verdadeira loucura.
***
Bruno e Ingrid conversam em um
restaurante.
―
Ingrid... Tem certeza de que quer levar esse plano à diante?
―
Preciso proteger o Wagner das garras do Ugo, meu amor. Sinto que é o meu dever
de filha.
―
Mas sabe que ele não fez o dever de pai quando abandonou sua mãe, não é
verdade?
―
Como já devo ter dito, Wagner é um ser humano que erra, meu bem. Como qualquer
outro.
***
Fidel
liga o rádio e por um milagre toca sua música preferida
―
Ui,não acredito!
―
O que foi, pai? — pergunta Analú enquanto corta cebola.
―
Hello! Minha música preferida!
Fidel
começa a se requebrar como se estivesse no filme Flashdance, mas a música é
parada por Ugo, que chega de surpresa e desliga o rádio.
―
Vamos parar com a palhaçada?
Fidel
liga o rádio. Ugo, por sua vez desliga. Os dois ficam ligando e desligando o
rádio até que Ugo se descontrola e o joga no chão, partindo o objeto em vários
pedaços.
―
Meu rádio!
―
Aprenda a me escutar da próxima vez. Fidel me ajuda a separar algumas roupas do
Dr. Wagner. Ele está internado.
―
O que aconteceu, bi?
―
Nada que lhe interesse. Menos conversa e mais ações. Vamos Fidel!
―
Esse italiano tá todo besta. Se acha o patrão só porque o Dr. Wagner não está.
Quero ver se...
―
CALA A BOCA SUA BICHA INÚTIL E FAZ O QUE EU ESTOU MANDANDO! (amansando a voz)
entendeu?
―
Acordou de mau humor hoje hein. Quero ver na hora de trocar a fralda do
velho... — Fidel vê que Ugo o encara. — Tá, já to indo.
***
Ao saber da internação do amigo,
Dra. Albaniza visita Wagner.
―
Oh, meu amigo... Por que não me disse antes?
―
Disse o quê?
―
Deixa pra lá. E aí, como está?
―
Mal. Terrivelmente mal. Meus filhos não quiseram meu perdão e eu encontrei
minha filha com a Yolanda...
―
Isso é bom!
―
Se ela estivesse viva, sim.
―
Oh, sinto muito.
―
Albaniza, tomei uma decisão.
―
Decisão? Que decisão?
―
Venderei a Flash. Suas filiais no Brasil, em Roma, Paris, Johanesburgo... Vou
vender tudo e sumir no meu iate!
―
E quanto ao testamento?
―
Deixe tudo para a minha secretária, Maria Aparecida dos Santos, a Cida. É definitivo.
COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
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