DÉCIMO QUINTO CAPÍTULO
― O que
você está fazendo aqui? Como achou o lugar onde eu moro? – Ingrid pergunta.
― Fiquei
preocupado com você... Soube da morte da sua amiga.
Ingrid
abraça Bruno, que mesmo sendo um estranho, ainda é uma das únicas pessoas com
quem ela pode contar.
― Vem dar
uma volta comigo Ingrid? Tomar um sorvete. Que tal?
― Eu... Eu
não sei. Bruno eu preciso te contar uma coisa. É uma coisa importante.
― Então
você me conta enquanto tomamos um sorvete ok?
***
Fidel serve
o jantar de Wagner na cama enquanto ele conversa com Ugo. Wagner parece
indisposto.
― Aqui está
o seu jantar, Doutor.
― Pode se
retirar, Fidel.
Fidel
sai. Ugo pergunta:
― Dr. Wagner... O senhor não acha que exagerou convidando aquela
moça pra ser sua secretária? O que vai ser daquela outra sua secretária?
― A lerda
da Magnólia? Vou demitir.
***
Ingrid e
Bruno tomam sorvete em uma barraquinha em frente à Praia do futuro. O cenário
está lindo, o céu à noite e o mar o compõem.
― O que
você queria me falar Ingrid?
― Eu não
sei como começo...
― Pode
confiar em mim, Ingrid.
― Então
comece não me chamando mais de Ingrid. Me chame de Cida.
― Mas Cida
não é o nome daquela sua amiga que faleceu?
― Sim. Eu
vou te explicar do começo: Eu sou filha de Wagner Peregrini.
Vanessa
resolve sair naquele domingo à noite para conhecer as noites cearenses. Ela
anda pela praia com as sandálias em mãos. Seu celular toca. É Adriano, seu pai.
― Melhor
atender. Vai que papai tem uma síncope? Alô?
― (em off)Vanessa! Eu não acredito. Onde é que você
está? Como você me abandona justo em um momento tão difícil?
― O corpo
do Thiago já deve ter virado pó dentro daquele caixão e o senhor não sai desse
luto eterno né? Senhor Adriano, papai querido... Eu estou às mil maravilhas
aqui em Fortaleza, com o meu avô.
― (em off)Seu avô? O Wagner? O Wagner não é meu pai e
nunca será. Portanto ele não é seu avô.
― Mas você
carrega o sangue nas suas veias e o sobrenome dele.
― (em off)E você não acha que eu não tenho vergonha?
A conversa de Vanessa e Adriano é
interrompida por causa de um pivete que passa, rouba o celular da garota e sai
correndo.
― Ai,
socorro! Pega ladrão, pega ladrão!
A praia está deserta no lugar onde
Vanessa se encontra.
***
Alex decide
ir até o portão da mansão sem deixar que ninguém o veja. Coincidentemente Analú
esta colocando o lixo para fora e vê o filho de Wagner.
― Alex! —
os dois se abraçam.
― Eu tava
com tanta saudade, Analú!
― Mas você
sabe que não pode vir aqui.
― Vim te
trazer uma coisa...
― O que é?
Alex tira do bolso uma caixa com
uma correntinha banhada a ouro.
― É sua.
Presente meu.
― Alex!
Você não pode ficar comprando coisa assim. Você ta sem dinheiro!
― Que nada.
Eu consegui emprego. –— mente.
― Você ta
mentindo...
― É...
Desculpa, mas eu gosto muito de você e eu queria te dar algo que...
― Como
assim gosta de mim?
Alex fica encabulado e sem
palavras.
― Tipo
assim... — Alex beija Analú.
― Alguém
pode me explicar que pouca vergonha é essa? – Wagner flagra os dois. ― Hein? Expliquem-me já que história é
essa de vocês ficarem aí se agarrando no portão da minha casa! – Wagner
aproxima a cadeira de rodas. – Fidel! Ô Fidel!
Tempo depois, Fidel chega.
―
O que aconteceu, patrão? – pergunta.
―
Sua filha, mal sai do hospital e já fica aí se agarrando. E com o meu filho.
―
Só tem duas coisinhas que você esqueceu Wagner. A primeira, é que eu não sou
seu filho. A segunda é que a Analú já é maior de idade e faz o que quiser. — interrompe
Alex.
―
Eu... Eu estava em horário de serviço, Alex. — diz ela.
―
Você não é escrava do Wagner, Analú!
―
Vá embora, Alex. Antes que eu chame a polícia. Olhe para os seus trajes. Parece
até um mendigo. — debocha Wagner.
―
Engraçado não é? Minhas roupas podem ser sujas, mas eu tenho a consciência
limpa. Já o senhor, o que tem de podre de rico, tem de mau caráter. Mesmo preso
a essa cadeira. Se eu pudesse, eu trocava meu sangue pelo de qualquer catador
de lixo, que eu sei que é mais honesto do que você. — Alex vira para Analú e
rouba um selinho dela. – Até mais ver. – Sai.
Analú tenta falar alguma coisa, mas
Wagner a interrompe.
―
Não precisa se explicar. Sei que uma garota do seu nível só conseguiria ficar
com um marginal feito o Alex...
―
O carro já está pronto, senhor. – diz Ugo, aproximando-se com a chave na mão.
―
Obrigado. Onde está a Vanessa?
―
Saiu. Foi dar uma volta.
―
Então eu janto sozinho. Analú, não precisa preparar jantar.
Ugo
coloca Wagner dentro do carro e guarda a cadeira de rodas no porta-malas. Analú
fica pensativa.
―
É melhor você entrar, filhota. – diz Fidel, beijando a cabeça da filha.
―
Não vai falar nada?
―
Quem sou eu pra te pedir juízo? Você faz o que quer da sua vida.
―
Que bom.
―
Agora vai dormir. Mais tarde o azedo incubado chega provavelmente bêbado, e aí
já viu.
***
―
Isso que você está me contando parece... Parece filme!
―
É a mais pura verdade, Bruno. Eu corro perigo de vida. É por isso que agora eu
quero que me chamem de Cida. Pelo menos na frente de pessoas desconhecidas. A
Ingrid morreu junto com a minha amiga. – Ingrid abaixa a cabeça e começa a
chorar. ― A culpa é toda minha, Bruno.
―
Calma, Ingrid. Tudo vai ficar bem. A culpa não foi sua! Quer que eu te leve pra
casa agora?
―
Não. Eu quero uma dose de cachaça. Casa é o último lugar que eu quero estar
agora. Por que eu sei que quando eu chegar lá a Cidinha não vai estar me
esperando... Ela era uma irmã pra mim.
―
A conta, por favor.
O garçom traz a conta, mas Ingrid
exige:
―
Não, uma dose de cachaça.
―
Por favor... Traga. — Bruno resolve aceitar.
Ingrid bebe a dose assim que o
garçom a traz, e logo pede outra e mais outra. Bruno a acompanha e logo no
final da noite os dois estão bêbados.
―
Senhores... O bar já vai fechar.
―
Eu... Eu quero mais cachaça! – diz Bruno, completamente bêbado.
―
Preciso afogar as mágoas... – concorda Ingrid.
O garçom apenas os observa. Bruno
tira uma nota da carteira e a põe na mesa.
―
Vamos, Ingrid. Fica com o troco ô garçom!
Bruno coloca o braço direito no
ombro de Ingrid. Ela, por sua vez tira os sapatos. Eles saem do bar e vão
direto para a praia, caminhando pela a areia. A praia está deserta. Metros mais
tarde, Ingrid cai e puxa Bruno para consigo. Ele fica por cima dela e os dois
trocam olhares.
―
Parece que eu... Caí! – Ingrid puxa assunto.
―
Quer ir pra casa agora?
―
Não mesmo.
Os dois se beijam. Bruno tira a
roupa de Ingrid, deixando-a completamente nua.
―
Louco. Vai me deixar nua aqui?
―
Vem pro mar.
Bruno
tira a sua roupa enquanto corre para o mar. Ingrid o segue. Eles entram na água
e se beijam. Destaque para a luz da lua que ilumina perfeitamente os dois.
“Eu
queria que aquele estranho não fosse mais um estranho; e não era mais. Eu nunca
me senti tão mulher, eu nunca fiz tamanha loucura! Bruno... quem é esse homem
que confessara que me amava numa transa em plena luz da lua? Que amor é esse
que surge em meio à lamentações e cachaça? Devo eu acreditar?”
***
Amanhece.Ingrid chega à casa de
Dona Inês, no lixão.
―
Abre essa porta, D. Inês!
—
Menina onde você passou a noite? Tá toda molhada e cheia de areia! – diz Inês,
ao abrir a porta.
―
São que horas?
―
Cinco e meia.
―
Nossa senhora, eu tenho que estar as sete na Flash!
―
Não acredito que você vai mesmo ser secretária do Wagner!
―
Eu tenho que me aproximar dele, já disse. Agora eu tenho que tomar um banho. Já
conversamos.
***
(Narrado por Ingrid)
“Diferente
chegar naquela revista com uma roupa apresentável, colocar um salto alto (mesmo
eu não sendo muito fã). Diferente chegar naquele lugar e alguém que nunca
reparara em mim sorrir e me dar bom dia. Detestava saber que aquilo só era
possível por causa da morte da minha amiga; detestava saber que eu estava viva
e ela morta no meu lugar; detestava saber que eu estava usando o nome dela para
manter-me viva.”
Ingrid
se senta na cadeira da secretária. Não sabe nada de informática, tampouco ligar
o computador.
―
Melhor esperar o Wagner aparecer. — suspira.
De
repente uma moça chega. Trata-se de Vanessa. Ela saiu de casa antes do avô e
invadira a revista usando o nome dele.
―
Você deve ser a secretária não?
―
Sim, sou.
―
Ótimo. Meu nome é Vanessa Peregrini. Cheguei de Recife há poucos dias. Sou neta
do Dr. Wagner, então, dê-me licença. Preciso entrar na sala dele.
Vanessa se dirige até a porta, mas
Ingrid é mais rápida e fica na frente dela.
―
Desculpe, senhorita, mas não estou autorizada a deixar terceiros entra nessa
sala.
―
Não sou terceira. Sou uma Peregrini. Ouviu bem. UMA PEREGRINI!
―
Tanto faz. Vai ter que esperar. — a secretária encara.
Vanessa aponta o dedo indicador
para o rosto de Ingrid. Ela lê o crachá.
―
Então... Maria Aparecida... Cida. Pobre adora apelido, abreviatura né. Cida.
Saiba que vovô faz tudo o que eu peço. Você está ferrada.
―
Não. Ela não está. Você está. –
interrompe Wagner, surgindo de repente.
COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
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