quarta-feira, 26 de março de 2014

Alta Tensão - Capítulo 15




DÉCIMO QUINTO CAPÍTULO

― O que você está fazendo aqui? Como achou o lugar onde eu moro? – Ingrid pergunta.
― Fiquei preocupado com você... Soube da morte da sua amiga.
     Ingrid abraça Bruno, que mesmo sendo um estranho, ainda é uma das únicas pessoas com quem ela pode contar.
― Vem dar uma volta comigo Ingrid? Tomar um sorvete. Que tal?
― Eu... Eu não sei. Bruno eu preciso te contar uma coisa. É uma coisa importante.
― Então você me conta enquanto tomamos um sorvete ok?
***

Fidel serve o jantar de Wagner na cama enquanto ele conversa com Ugo. Wagner parece indisposto.
― Aqui está o seu jantar, Doutor.
― Pode se retirar, Fidel.
Fidel sai. Ugo pergunta:
― Dr. Wagner... O senhor não acha que exagerou convidando aquela moça pra ser sua secretária? O que vai ser daquela outra sua secretária?
― A lerda da Magnólia? Vou demitir.

***


Ingrid e Bruno tomam sorvete em uma barraquinha em frente à Praia do futuro. O cenário está lindo, o céu à noite e o mar o compõem.
― O que você queria me falar Ingrid?
― Eu não sei como começo...
― Pode confiar em mim, Ingrid.
― Então comece não me chamando mais de Ingrid. Me chame de Cida.
― Mas Cida não é o nome daquela sua amiga que faleceu?
― Sim. Eu vou te explicar do começo: Eu sou filha de Wagner Peregrini.



Vanessa resolve sair naquele domingo à noite para conhecer as noites cearenses. Ela anda pela praia com as sandálias em mãos. Seu celular toca. É Adriano, seu pai.
― Melhor atender. Vai que papai tem uma síncope? Alô?
― (em off)Vanessa! Eu não acredito. Onde é que você está? Como você me abandona justo em um momento tão difícil?
― O corpo do Thiago já deve ter virado pó dentro daquele caixão e o senhor não sai desse luto eterno né? Senhor Adriano, papai querido... Eu estou às mil maravilhas aqui em Fortaleza, com o meu avô.
― (em off)Seu avô? O Wagner? O Wagner não é meu pai e nunca será. Portanto ele não é seu avô.
― Mas você carrega o sangue nas suas veias e o sobrenome dele.
― (em off)E você não acha que eu não tenho vergonha?
A conversa de Vanessa e Adriano é interrompida por causa de um pivete que passa, rouba o celular da garota e sai correndo.
― Ai, socorro! Pega ladrão, pega ladrão!
A praia está deserta no lugar onde Vanessa se encontra.

***

Alex decide ir até o portão da mansão sem deixar que ninguém o veja. Coincidentemente Analú esta colocando o lixo para fora e vê o filho de Wagner.
― Alex! — os dois se abraçam.
― Eu tava com tanta saudade, Analú!
― Mas você sabe que não pode vir aqui.
― Vim te trazer uma coisa...
― O que é?
Alex tira do bolso uma caixa com uma correntinha banhada a ouro.
― É sua. Presente meu.
― Alex! Você não pode ficar comprando coisa assim. Você ta sem dinheiro!
― Que nada. Eu consegui emprego. –— mente.
― Você ta mentindo...
― É... Desculpa, mas eu gosto muito de você e eu queria te dar algo que...
― Como assim gosta de mim?
Alex fica encabulado e sem palavras.
― Tipo assim... — Alex beija Analú.
― Alguém pode me explicar que pouca vergonha é essa? – Wagner flagra os dois. ― Hein? Expliquem-me já que história é essa de vocês ficarem aí se agarrando no portão da minha casa! – Wagner aproxima a cadeira de rodas. – Fidel! Ô Fidel!
Tempo depois, Fidel chega.
     ― O que aconteceu, patrão? – pergunta.
     ― Sua filha, mal sai do hospital e já fica aí se agarrando. E com o meu filho.
     ― Só tem duas coisinhas que você esqueceu Wagner. A primeira, é que eu não sou seu filho. A segunda é que a Analú já é maior de idade e faz o que quiser. — interrompe Alex.
     ― Eu... Eu estava em horário de serviço, Alex. — diz ela.
     ― Você não é escrava do Wagner, Analú!
     ― Vá embora, Alex. Antes que eu chame a polícia. Olhe para os seus trajes. Parece até um mendigo. — debocha Wagner.
     ― Engraçado não é? Minhas roupas podem ser sujas, mas eu tenho a consciência limpa. Já o senhor, o que tem de podre de rico, tem de mau caráter. Mesmo preso a essa cadeira. Se eu pudesse, eu trocava meu sangue pelo de qualquer catador de lixo, que eu sei que é mais honesto do que você. — Alex vira para Analú e rouba um selinho dela. – Até mais ver. – Sai.
Analú tenta falar alguma coisa, mas Wagner a interrompe.
     ― Não precisa se explicar. Sei que uma garota do seu nível só conseguiria ficar com um marginal feito o Alex...
     ― O carro já está pronto, senhor. – diz Ugo, aproximando-se com a chave na mão.
     ― Obrigado. Onde está a Vanessa?
     ― Saiu. Foi dar uma volta.
     ― Então eu janto sozinho. Analú, não precisa preparar jantar.
     Ugo coloca Wagner dentro do carro e guarda a cadeira de rodas no porta-malas. Analú fica pensativa.
     ― É melhor você entrar, filhota. – diz Fidel, beijando a cabeça da filha.
     ― Não vai falar nada?
     ― Quem sou eu pra te pedir juízo? Você faz o que quer da sua vida.
     ― Que bom.
     ― Agora vai dormir. Mais tarde o azedo incubado chega provavelmente bêbado, e aí já viu.

***


     ― Isso que você está me contando parece... Parece filme!
     ― É a mais pura verdade, Bruno. Eu corro perigo de vida. É por isso que agora eu quero que me chamem de Cida. Pelo menos na frente de pessoas desconhecidas. A Ingrid morreu junto com a minha amiga. – Ingrid abaixa a cabeça e começa a chorar. ― A culpa é toda minha, Bruno.
     ― Calma, Ingrid. Tudo vai ficar bem. A culpa não foi sua! Quer que eu te leve pra casa agora?
     ― Não. Eu quero uma dose de cachaça. Casa é o último lugar que eu quero estar agora. Por que eu sei que quando eu chegar lá a Cidinha não vai estar me esperando... Ela era uma irmã pra mim.
     ― A conta, por favor.
O garçom traz a conta, mas Ingrid exige:
     ― Não, uma dose de cachaça.
     ― Por favor... Traga. — Bruno resolve aceitar.
Ingrid bebe a dose assim que o garçom a traz, e logo pede outra e mais outra. Bruno a acompanha e logo no final da noite os dois estão bêbados.
     ― Senhores... O bar já vai fechar.
     ― Eu... Eu quero mais cachaça! – diz Bruno, completamente bêbado.
     ― Preciso afogar as mágoas... – concorda Ingrid.
O garçom apenas os observa. Bruno tira uma nota da carteira e a põe na mesa.
     ― Vamos, Ingrid. Fica com o troco ô garçom!
Bruno coloca o braço direito no ombro de Ingrid. Ela, por sua vez tira os sapatos. Eles saem do bar e vão direto para a praia, caminhando pela a areia. A praia está deserta. Metros mais tarde, Ingrid cai e puxa Bruno para consigo. Ele fica por cima dela e os dois trocam olhares.
     ― Parece que eu... Caí! – Ingrid puxa assunto.
     ― Quer ir pra casa agora?
     ― Não mesmo.
Os dois se beijam. Bruno tira a roupa de Ingrid, deixando-a completamente nua.
     ― Louco. Vai me deixar nua aqui?
     ― Vem pro mar.
     Bruno tira a sua roupa enquanto corre para o mar. Ingrid o segue. Eles entram na água e se beijam. Destaque para a luz da lua que ilumina perfeitamente os dois.

“Eu queria que aquele estranho não fosse mais um estranho; e não era mais. Eu nunca me senti tão mulher, eu nunca fiz tamanha loucura! Bruno... quem é esse homem que confessara que me amava numa transa em plena luz da lua? Que amor é esse que surge em meio à lamentações e cachaça? Devo eu acreditar?”

***

Amanhece.Ingrid chega à casa de Dona Inês, no lixão.
     ― Abre essa porta, D. Inês!
     — Menina onde você passou a noite? Tá toda molhada e cheia de areia! – diz Inês, ao abrir a porta.
     ― São que horas?
     ― Cinco e meia.
     ― Nossa senhora, eu tenho que estar as sete na Flash!
     ― Não acredito que você vai mesmo ser secretária do Wagner!
     ― Eu tenho que me aproximar dele, já disse. Agora eu tenho que tomar um banho. Já conversamos.
***


(Narrado por Ingrid)
“Diferente chegar naquela revista com uma roupa apresentável, colocar um salto alto (mesmo eu não sendo muito fã). Diferente chegar naquele lugar e alguém que nunca reparara em mim sorrir e me dar bom dia. Detestava saber que aquilo só era possível por causa da morte da minha amiga; detestava saber que eu estava viva e ela morta no meu lugar; detestava saber que eu estava usando o nome dela para manter-me viva.”

     Ingrid se senta na cadeira da secretária. Não sabe nada de informática, tampouco ligar o computador.
     ― Melhor esperar o Wagner aparecer. — suspira.
     De repente uma moça chega. Trata-se de Vanessa. Ela saiu de casa antes do avô e invadira a revista usando o nome dele.
     ― Você deve ser a secretária não?
     ― Sim, sou.
     ― Ótimo. Meu nome é Vanessa Peregrini. Cheguei de Recife há poucos dias. Sou neta do Dr. Wagner, então, dê-me licença. Preciso entrar na sala dele.
Vanessa se dirige até a porta, mas Ingrid é mais rápida e fica na frente dela.
     ― Desculpe, senhorita, mas não estou autorizada a deixar terceiros entra nessa sala.
     ― Não sou terceira. Sou uma Peregrini. Ouviu bem. UMA PEREGRINI!
     ― Tanto faz. Vai ter que esperar. — a secretária encara.
Vanessa aponta o dedo indicador para o rosto de Ingrid. Ela lê o crachá.
     ― Então... Maria Aparecida... Cida. Pobre adora apelido, abreviatura né. Cida. Saiba que vovô faz tudo o que eu peço. Você está ferrada.
     ― Não. Ela não está. Você está. – interrompe Wagner, surgindo de repente.



COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE -  MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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