quarta-feira, 19 de março de 2014

Alta Tensão - Capítulo 12



DÉCIMO SEGUNDO CAPÍTULO

 
     O pequeno grande jatinho — um dos maiores bens da família Peregrini — está pronto para levá-los até Recife. Adriano... Wagner encontrará seu primogênito, filho o qual sempre desacreditara. Hoje em dia é um médico brilhante, dono de uma clínica e pai de dois filhos.
     ― Ugo... Põe a mão aqui no meu coração...
     ― Pra que? — o italiano questiona.
     ― Eu tô mandando. Te pago pra me obedecer.
Ugo obedece ao pedido de Wagner.
     ― Está sentindo, Ugo? Nunca me senti tão nervoso. Tudo isso por que ficarei frente a frente com Adriano. Meu filho mais velho!
     ― Tens medo do que ele possa falar?
     ― Claro. – Wagner fecha os olhos e aperta a mão de Ugo no seu peito. – Mas seja o que for, sei que ele nunca me perdoará.
     ― Ele pode perdoar o senhor... Já faz tanto tempo! – Ugo tenta tirar suavemente a mão de Wagner de seu peito.
     ― O tempo não cura mágoas. Isto é mentira. Adriano foi o mais afetado de todos. Mas eu não me arrependo de nada, de nada! Se ele e o que é hoje é por minha causa. Se ele tivesse todos os mimos que a mãe dele dava a ele, de certa ele não seria tão... Tão maduro como é hoje.
***
     Alex pega o seu violão e começa a tocar. As pessoas do bar não dão muita atenção.
     ― Quando o segundo sol chegar/
Para realinhar as órbitas dos planetas... ♪

     O rapaz olha a sua volta e os bêbados continuam brigando, os namorados se beijando e as outras pessoas agindo como se nada tivesse acontecendo. Ele termina a música e ninguém bate palmas.
     No final do show, o dono do bar entrega exatamente vinte reais para Alex.
     ― Mas esse não era o combinado!
     ― Então aprenda a tocar e cantar.
     ― Eu ganho mais do que isso quando toco na rua. As pessoas esperavam o quê? Que eu tocasse uma música idiota em que nela se repita uma frase sem sentido por uns três minutos? Não sou cantor sertanejo.
     ― Então vá pra rua, que é o seu lugar.
     O dono do bar joga a nota de vinte reais em cima de Alex. O cantor, por sua vez, abaixa-se, pega o dinheiro e coloca no bolso da camisa do homem.
     ― Soque esse dinheiro todo no meio da sua bunda.
Alex se retira e o dono do bar fica parado e sem palavras.
***
Recife – Pernambuco
     ― Vanessa, que horas você vai levantar desse sofá e ir pra faculdade?
     Este que pergunta é Adriano. Agora um homem feito. 42 anos, cabelos grisalhos e pai dos gêmeos Thiago e Vanessa. Esta última, uma garota de 19 anos, folgada e mal criada. Adriano agora sente as dores do que é ter uma filha mimada.
     ― Amanhã. Agora eu tenho que assistir à novela das seis e mais tarde tem a das oito, que tá imperdível...
     ― Sempre ta imperdível né? O que vai ser do seu futuro hein? – põe a pasta em cima da mesa de centro. – Faltando aula pra assistir novela. E não é a primeira vez.
     ― Eu nunca quis ser médica, pai. Você me obriga a estar num curso que eu detesto que é medicina. O Thiago é um idiota que faz tuas vontades e vai na tua onda.
     ― Mais respeito.
     ― Por que o senhor não me deixa ser jornalista hein? O que custa?
     ― Não quero que você siga os mesmos passos que o idiota do seu avô. – Senta-se. – Custa fazer ao menos uma vez a minha vontade?

***


     Enquanto Adriano pensa que Thiago está na aula, o filho está na balada tomando todas e torrando o dinheiro do pai.
     ― E aí, gata? — senta-se no banco do bar. ― Vem sempre aqui?
     ― Não... Primeira vez.
     ― A minha também... Hoje eu resolvi extrapolar. Eu sempre fui um nerd que obedecia ao papai, mas hoje não! Mas e aí...Quer dançar?
     ― Vamos?
     A festa acaba, e Thiago, bêbado, pega o carro e mesmo assim dirige. Sua vista fica embaçada e ele força, tenta enxergar as coisas no meio da estrada. De repente ele vê um caminhão surgindo na contramão. Thiago tenta desviar e acaba capotando o carro. O veículo cai dentro do rio.

***

Fortaleza, Ceará.
     Alessandra resolve ir até a quadra onde o marido está treinando. Gianpaolo Ventura é um famoso jogador de basquete. Eles se cumprimentam com um selinho depois que o jogador faz uma cesta.
     ― Algum problema, amor?
     ― Sim. Meu pai me procurou. Ai, amor eu ainda to muito transtornada com tudo o que aconteceu.
     ― O que ele queria Alessandra?
     ― Ele veio com uma conversa estranha. Disse que queria o meu perdão, e queria que eu administrasse os seus bens.
     ― Mas... Pra que isso?
     ― Ele acha que esta perto de morrer. Pelo estado dele eu até concordo... Mas vaso ruim não quebra. É capaz de ele enterrar eu, você e todo mundo e continuar vivo.
     ― Falando nisso, você já procurou os seus irmãos?
     ― Sei que o Alex mora aqui em Fortaleza, mas se eu passasse por ele na rua eu não o reconheceria. Da última vez que eu o vi ele era uma criança de colo. Hoje é um homem de 26 anos. Já o Adriano mora em Recife.

***

Recife – Pernambuco
     O telefone na casa de Adriano toca. Vanessa continua assistindo a novela e nem se mexe.
     ― Custa levantar daí, Vanessa? – Adriano atende ao telefone. – Alô?
     ― Gostaria de falar com algum familiar do senhor Thiago Peregrini...
     ― Aqui é o pai dele.
     ― Aqui é da polícia federal. Infelizmente o seu filho sofreu um acidente e teve o carro capotado e caído no rio. Sinto muito lhe informar, mas ele não sobreviveu.





     Velório de Thiago Peregrini. Só estão presentes os parentes mais próximo, incluindo o pai, Adriano, e a irmã gêmea, Vanessa.
     ― Meu filho! Meu filho!  ― Adriano pousa a cabeça no corpo do filho que está dentro do caixão e começa a chorar. — Por que você foi fazer isso, Thiago?! Hein?
     ― Calma pai. — Vanessa, chorosa, tenta levantar o pai e acalmá-lo.
     ― O Thiago nunca foi disso. Ele sempre foi um garoto estudioso. Eu tenho certeza que isso foi culpa das companhias.
     De repente, duas pessoas surgem no salão onde o corpo do rapaz está sendo velado. Nada mais é do que Wagner e o seu fiel escudeiro Ugo.
     Adriano põe a mão no peito, gesticulando um susto.
     — Eu não acredito! Não pode ser...
     ― Meus sinceros pêsames, Adriano.
     ― O senhor não tem um pingo de vergonha na cara? Não ta vendo o meu estado?
     ― Faz tanto tempo... Faz tanto tempo que eu não te vejo, meu filho querido!
     — E que continuasse afastado de mim. Esse é o pior dia da minha vida.
Wagner guia a cadeira até o caixão onde está o corpo de Thiago.
     ― Meu neto... Sinto muito por não ter o visto em vida... – põe a mão direita sobre as mãos do corpo do rapaz.
     ― Ele não é seu neto! Tire as mãos dele, Wagner. Pegue o seu capacho — aponta para Ugo. — E se manda daqui. Já!
     ― Deixe-me falar com você?
     Vanessa apenas observa. Sabe que o avô é rico e logo trata de segui-lo, assim que ele sai do salão.
***
     ― Esperem! — Vanessa chama. Ugo vira a cadeira de Wagner.
     — Quem é você? – Wagner pergunta.
     ― Sua neta. Prazer, Vanessa Peregrini. Tenho seu sangue, seu sobrenome... E sua ambição.
***
     Adriano chega em casa. Seu coração está apertado, e ele está assustado com tudo o que aconteceu. Primeiro a morte do filho, depois o reencontro rápido com o pai. Ex pai, como Adriano sempre diz.
     ― Cadê a Vanessa? Ela sumiu durante o velório e durante o enterro do irmão! — Adriano senta no sofá e põe a mão na cabeça. – Essa casa fica tão vazia sem o Thiago! – Pega um porta retrato onde está a foto dele com os dois filhos e aperta contra o peito.

***

     ― Eu não tenho mais nada pra fazer nessa cidade, Ugo. Não quero ver o Adriano nunca mais na minha vida. Sabe o que eu vou fazer? Pôr a Flash à venda, deixar tudo pra minha filha com a Yolanda e tirar férias até o dia da minha morte. Você aguentaria me ver morto, Uguinho?
     Ugo não responde nada. Apenas carrega o patrão para cima da cama do quarto do hotel.
     ―Vou para o meu quarto.
     ― Não vá... Faça-me companhia.
     ― Imagino que o senhor queira ficar sozinho.
     ― Quero você do meu lado. Deite-se comigo.
     Ugo pensou em dizer que jamais se deitaria com aquele homem. Porque sentia nojo dele. Mas Ugo era como se fosse o escravo de Wagner. Uma ordem daquele velho era como se fosse uma hipnose.
     Ugo deita-se na cama. Wagner põe a mão sobre a barriga de Ugo.
     ― Está confortável? Creio que não... Tire a roupa.
     Aquele seria mais uma noite de abuso? Como aquele homem quase morto tinha tamanho poder de persuasão?
     O interfone toca. Ugo fora salvo pelo gongo. Pelo menos naquele instante.
     ― Vou atender. Pode ser algo importante.
     ― Deve ser a minha netinha.
Ugo levanta-se da cama e vai até o interfone.
     ― Pode mandar entrar. — Ugo avisa no interfone.
     Vanessa entra no quarto minutos depois. Ainda vestia o mesmo vestido preto que usava no velório do irmão.
     ― Vovô querido! – Abraça Wagner e beija o seu rosto. Wagner está sentado de costas para a cabeceira da cama.
     ― O enterro do seu irmão acabou agora?
     ― Na verdade eu não fui. – Acende um cigarro. — O Thiago não merecia meus prantos. Depois que eu falei com vocês, fui dar um rolé por aí.
     ― Essa é das minhas. — diz Wagner.

***
     Dia seguinte. Ingrid mal saiu do hospital e já está pronta para um dia de trabalho.
     ― Melhor você ficar em casa uns dias. O médico te deu atestado!
      — Eu não aguento ficar muito tempo parada, Dona Inês. – Ingrid responde. — Vambora, Cidinha? Se não a gente vai chegar atrasada.
     ― Ingrid... Pensa bem no que você vai fazer chegando perto daquele homem. Ele quis matar a sua mãe quando soube que ela estava grávida de você!
     ― Eu só to esperando uma oportunidade pra falar com o Wagner Peregrini.

***

Adriano acorda. Em cima da mesa tem um bilhete. Ele lê.
     ― “Papai. To indo embora. Sei que vai ser difícil para o senhor, mas eu conheci meu avô. Ele é um cara legal, diferente do que você me descrevia. Espero que um dia me entenda. Vanessa”.
Adriano se enfurece e rasga o bilhete.
     ― Eu não acredito que esse homem voltou pra tirar de mim a minha filha! Eu não vou suportar isso!



COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE -  MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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