DÉCIMO SEGUNDO CAPÍTULO
O
pequeno grande jatinho — um dos maiores bens da família Peregrini — está pronto
para levá-los até Recife. Adriano... Wagner encontrará seu primogênito, filho o
qual sempre desacreditara. Hoje em dia é um médico brilhante, dono de uma
clínica e pai de dois filhos.
―
Ugo... Põe a mão aqui no meu coração...
―
Pra que? — o italiano questiona.
―
Eu tô mandando. Te pago pra me obedecer.
Ugo obedece ao pedido de Wagner.
―
Está sentindo, Ugo? Nunca me senti tão nervoso. Tudo isso por que ficarei
frente a frente com Adriano. Meu filho mais velho!
―
Tens medo do que ele possa falar?
―
Claro. – Wagner fecha os olhos e aperta a mão de Ugo no seu peito. – Mas seja o
que for, sei que ele nunca me perdoará.
―
Ele pode perdoar o senhor... Já faz tanto tempo! – Ugo tenta tirar suavemente a
mão de Wagner de seu peito.
―
O tempo não cura mágoas. Isto é mentira. Adriano foi o mais afetado de todos.
Mas eu não me arrependo de nada, de nada! Se ele e o que é hoje é por minha
causa. Se ele tivesse todos os mimos que a mãe dele dava a ele, de certa ele
não seria tão... Tão maduro como é hoje.
***
Alex
pega o seu violão e começa a tocar. As pessoas do bar não dão muita atenção.
― Quando o segundo sol chegar/
Para
realinhar as órbitas dos planetas... ♪
O rapaz olha a sua volta e os bêbados
continuam brigando, os namorados se beijando e as outras pessoas agindo como se
nada tivesse acontecendo. Ele termina a música e ninguém bate palmas.
No
final do show, o dono do bar entrega exatamente vinte reais para Alex.
―
Mas esse não era o combinado!
―
Então aprenda a tocar e cantar.
―
Eu ganho mais do que isso quando toco na rua. As pessoas esperavam o quê? Que
eu tocasse uma música idiota em que nela se repita uma frase sem sentido por
uns três minutos? Não sou cantor sertanejo.
―
Então vá pra rua, que é o seu lugar.
O
dono do bar joga a nota de vinte reais em cima de Alex. O cantor, por sua vez,
abaixa-se, pega o dinheiro e coloca no bolso da camisa do homem.
―
Soque esse dinheiro todo no meio da sua bunda.
Alex se retira e o dono do bar fica
parado e sem palavras.
***
Recife
– Pernambuco
―
Vanessa, que horas você vai levantar desse sofá e ir pra faculdade?
Este
que pergunta é Adriano. Agora um homem feito. 42 anos, cabelos grisalhos e pai
dos gêmeos Thiago e Vanessa. Esta última, uma garota de 19 anos, folgada e mal
criada. Adriano agora sente as dores do que é ter uma filha mimada.
―
Amanhã. Agora eu tenho que assistir à novela das seis e mais tarde tem a das
oito, que tá imperdível...
―
Sempre ta imperdível né? O que vai ser do seu futuro hein? – põe a pasta em
cima da mesa de centro. – Faltando aula pra assistir novela. E não é a primeira
vez.
―
Eu nunca quis ser médica, pai. Você me obriga a estar num curso que eu detesto
que é medicina. O Thiago é um idiota que faz tuas vontades e vai na tua onda.
―
Mais respeito.
―
Por que o senhor não me deixa ser jornalista hein? O que custa?
―
Não quero que você siga os mesmos passos que o idiota do seu avô. – Senta-se. –
Custa fazer ao menos uma vez a minha vontade?
***
Enquanto Adriano pensa que Thiago
está na aula, o filho está na balada tomando todas e torrando o dinheiro do pai.
―
E aí, gata? — senta-se no banco do bar. ― Vem sempre aqui?
―
Não... Primeira vez.
―
A minha também... Hoje eu resolvi extrapolar. Eu sempre fui um nerd que
obedecia ao papai, mas hoje não! Mas e aí...Quer dançar?
―
Vamos?
A
festa acaba, e Thiago, bêbado, pega o carro e mesmo assim dirige. Sua vista
fica embaçada e ele força, tenta enxergar as coisas no meio da estrada. De
repente ele vê um caminhão surgindo na contramão. Thiago tenta desviar e acaba
capotando o carro. O veículo cai dentro do rio.
***
Fortaleza,
Ceará.
Alessandra
resolve ir até a quadra onde o marido está treinando. Gianpaolo Ventura é um
famoso jogador de basquete. Eles se cumprimentam com um selinho depois que o
jogador faz uma cesta.
―
Algum problema, amor?
―
Sim. Meu pai me procurou. Ai, amor eu ainda to muito transtornada com tudo o
que aconteceu.
―
O que ele queria Alessandra?
―
Ele veio com uma conversa estranha. Disse que queria o meu perdão, e queria que
eu administrasse os seus bens.
―
Mas... Pra que isso?
―
Ele acha que esta perto de morrer. Pelo estado dele eu até concordo... Mas vaso
ruim não quebra. É capaz de ele enterrar eu, você e todo mundo e continuar
vivo.
―
Falando nisso, você já procurou os seus irmãos?
―
Sei que o Alex mora aqui em Fortaleza, mas se eu passasse por ele na rua eu não
o reconheceria. Da última vez que eu o vi ele era uma criança de colo. Hoje é
um homem de 26 anos. Já o Adriano mora em Recife.
***
Recife
– Pernambuco
O
telefone na casa de Adriano toca. Vanessa continua assistindo a novela e nem se
mexe.
―
Custa levantar daí, Vanessa? – Adriano atende ao telefone. – Alô?
― Gostaria de falar com algum familiar do
senhor Thiago Peregrini...
―
Aqui é o pai dele.
― Aqui é da polícia federal. Infelizmente o
seu filho sofreu um acidente e teve o carro capotado e caído no rio. Sinto
muito lhe informar, mas ele não sobreviveu.
Velório
de Thiago Peregrini. Só estão presentes os parentes mais próximo, incluindo o
pai, Adriano, e a irmã gêmea, Vanessa.
―
Meu filho! Meu filho! ― Adriano pousa a
cabeça no corpo do filho que está dentro do caixão e começa a chorar. — Por que
você foi fazer isso, Thiago?! Hein?
―
Calma pai. — Vanessa, chorosa, tenta levantar o pai e acalmá-lo.
―
O Thiago nunca foi disso. Ele sempre foi um garoto estudioso. Eu tenho certeza
que isso foi culpa das companhias.
De
repente, duas pessoas surgem no salão onde o corpo do rapaz está sendo velado.
Nada mais é do que Wagner e o seu fiel escudeiro Ugo.
Adriano
põe a mão no peito, gesticulando um susto.
—
Eu não acredito! Não pode ser...
―
Meus sinceros pêsames, Adriano.
―
O senhor não tem um pingo de vergonha na cara? Não ta vendo o meu estado?
―
Faz tanto tempo... Faz tanto tempo que eu não te vejo, meu filho querido!
—
E que continuasse afastado de mim. Esse é o pior dia da minha vida.
Wagner guia a cadeira até o caixão
onde está o corpo de Thiago.
―
Meu neto... Sinto muito por não ter o visto em vida... – põe a mão direita
sobre as mãos do corpo do rapaz.
― Ele
não é seu neto! Tire as mãos dele, Wagner. Pegue o seu capacho — aponta para
Ugo. — E se manda daqui. Já!
―
Deixe-me falar com você?
Vanessa
apenas observa. Sabe que o avô é rico e logo trata de segui-lo, assim que ele
sai do salão.
***
―
Esperem! — Vanessa chama. Ugo vira a cadeira de Wagner.
—
Quem é você? – Wagner pergunta.
―
Sua neta. Prazer, Vanessa Peregrini. Tenho seu sangue, seu sobrenome... E sua
ambição.
***
Adriano
chega em casa. Seu coração está apertado, e ele está assustado com tudo o que
aconteceu. Primeiro a morte do filho, depois o reencontro rápido com o pai. Ex
pai, como Adriano sempre diz.
―
Cadê a Vanessa? Ela sumiu durante o velório e durante o enterro do irmão! —
Adriano senta no sofá e põe a mão na cabeça. – Essa casa fica tão vazia sem o
Thiago! – Pega um porta retrato onde está a foto dele com os dois filhos e
aperta contra o peito.
***
―
Eu não tenho mais nada pra fazer nessa cidade, Ugo. Não quero ver o Adriano
nunca mais na minha vida. Sabe o que eu vou fazer? Pôr a Flash à venda, deixar
tudo pra minha filha com a Yolanda e tirar férias até o dia da minha morte.
Você aguentaria me ver morto, Uguinho?
Ugo
não responde nada. Apenas carrega o patrão para cima da cama do quarto do
hotel.
―Vou
para o meu quarto.
―
Não vá... Faça-me companhia.
―
Imagino que o senhor queira ficar sozinho.
―
Quero você do meu lado. Deite-se comigo.
Ugo
pensou em dizer que jamais se deitaria com aquele homem. Porque sentia nojo
dele. Mas Ugo era como se fosse o escravo de Wagner. Uma ordem daquele velho
era como se fosse uma hipnose.
Ugo
deita-se na cama. Wagner põe a mão sobre a barriga de Ugo.
―
Está confortável? Creio que não... Tire a roupa.
Aquele
seria mais uma noite de abuso? Como aquele homem quase morto tinha tamanho
poder de persuasão?
O
interfone toca. Ugo fora salvo pelo gongo. Pelo menos naquele instante.
―
Vou atender. Pode ser algo importante.
―
Deve ser a minha netinha.
Ugo levanta-se da cama e vai até o
interfone.
―
Pode mandar entrar. — Ugo avisa no interfone.
Vanessa
entra no quarto minutos depois. Ainda vestia o mesmo vestido preto que usava no
velório do irmão.
―
Vovô querido! – Abraça Wagner e beija o seu rosto. Wagner está sentado de
costas para a cabeceira da cama.
―
O enterro do seu irmão acabou agora?
―
Na verdade eu não fui. – Acende um cigarro. — O Thiago não merecia meus
prantos. Depois que eu falei com vocês, fui dar um rolé por aí.
―
Essa é das minhas. — diz Wagner.
***
Dia
seguinte. Ingrid mal saiu do hospital e já está pronta para um dia de trabalho.
―
Melhor você ficar em casa uns dias. O médico te deu atestado!
— Eu não aguento ficar muito tempo parada,
Dona Inês. – Ingrid responde. — Vambora, Cidinha? Se não a gente vai chegar
atrasada.
―
Ingrid... Pensa bem no que você vai fazer chegando perto daquele homem. Ele
quis matar a sua mãe quando soube que ela estava grávida de você!
―
Eu só to esperando uma oportunidade pra falar com o Wagner Peregrini.
***
Adriano acorda. Em cima da mesa tem
um bilhete. Ele lê.
―
“Papai. To indo embora. Sei que vai ser difícil para o senhor, mas eu conheci
meu avô. Ele é um cara legal, diferente do que você me descrevia. Espero que um
dia me entenda. Vanessa”.
Adriano se enfurece e rasga o
bilhete.
―
Eu não acredito que esse homem voltou pra tirar de mim a minha filha! Eu não
vou suportar isso!
COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
© 2014 -
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS