quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Assim que Amanhecer - Capítulo 06



    Eliana virou-se para trás, e pôde ver o amante nos corrimões da escada da mansão. O sorriso dizia que haviam ganhado o jogo. A arma em sua mão direita era o objeto central. E no chão, o corpo da delegada permanecia jogando o sangue para fora.
    – Agora temos que dar um jeito de sumir com esse corpo o mais rápido possível – Olhou para o chão e pôde perceber que o sangue havia manchado o carpete.
    Luigi desceu as escadas, se aproximando do cadáver e pegando um dos braços do mesmo. Sem querer, encostou-se ao sangue que estava grudado. Fez uma cara de nojo. Novamente voltou a ter atitude, agarrando de vez o corpo. Eliana o acompanhou.
           
Música: “Tunnel Vision – Justin Timberlake”.

Andaram sob as gramas do jardim verde, rodeado de flores. As mãos da mulher levada nos braços do homem estavam amolecidas e brancas. Não havia sangue. Pararam em um local, perto da garagem. Eliana se aproximou de uma tampa e a abriu. O forte odor se espalhou pelas narinas dos dois. Era horrível.
    – Isso tá insuportável! Joga logo pra gente fechar.
Luigi não mediu esforços, e assim que pode, encostou a cabeça da defunta na beira da fossa. Soltou. Era possível ver lá no fim do buraco as moscas varejeiras começarem a pôr seus ovos no corpo.





Música: “Sexy Bitch – David Guetta”.

     O carro parado na beira da estrada tinha dentro quatro jovens. Praticamente dois casais de namorados. Um dos rapazes era loiro, de olhos castanhos cor de mel, enquanto o outro tinha a pele morena e bronzeada. Ambos eram atléticos. Diego e Lucas, respectivamente.
     Diego era quem dirigia. Já tinha dezoito anos. Não perdeu tempo. Fez a carteira de motorista o quanto mais antes. Ao seu lado, estava sua namorada: Débora. A garota, com apenas dezessete anos, era o que todo rapaz desejava: totalmente sexy. Cabelos negros, e uma pele branca, acompanhada pelos lábios macios e carnudos.
     Nos bancos de trás, e sem cinto de segurança, por sinal, estavam Lucas e Aline. O rapaz moreno e a garota ruiva. Apesar de ter algumas sardinhas no rosto, Aline era bela, e para Lucas, não havia outra cara metade para ele.
     Os quatro olhavam fixamente para uma placa. Estavam na estrada de chão. E não pararam em vão. E sim, com um objetivo: buscar o lazer na natureza. A placa dizia “O Buraco da Teresa”. Necessariamente, era o nome dado ao local. Um riacho, e bem fundo. A água era escura. E claro: a dona do local se chamava Teresa, que foi a compradora do lugar há cerca de seis anos. Resumindo: era a detentora daquele espetáculo da natureza.
     Desceram do carro e já era possível escutar uma música em um volume altíssimo. Não era rock, eletrônico, pop... Era o ritmo que todos os quatro detestavam: o funk. A música entrava e saía no ouvido dos jovens já pirando os mesmos logo de uma vez. Mas não ia ser por isso que desistiriam de se divertir. Diego olhou no relógio digital, que ganhara do pai há cinco semanas.
    – Gente, já são duas horas. Vamos logo.

  Logo na entrada, era possível ver uma figura, que logo de cara, causava um riso instantâneo. A mulher era de aparência nada agradável. Suas pernas, além de serem cambotas, eram negras, ou queimadas do sol. O pano amarrado na cabeça era como uma espécie de toca. E os dentes – O pior de tudo – Eram podres, e mal cuidados. Resumindo: a criatura era horrorosa. E era Teresa.
    – Então vocês vieram visitar meu buraco? – Disse ela coçando uma das axilas, o que causou certo “nojo” nas duas garotas que seguravam as mãos dos namorados.
   – Exato. – Respondeu Lucas – A senhora cobra cinquenta por pessoa?
    – Cobro sim. Vou logo avisando: se cagarem na minha água, e eu achar a merda, eu aumento o preço. Eu deixo entrarem no meu buraco pra se divertir, e não pra fazerem nojeira. Entendidos? – Disse a última palavra abrindo bem a boca.
    – A gente entendeu sim. – Aline falou – A senhora acha que a gente é cachorro? Fica tranquila.  
   Teresa encarou a jovem profundamente. A sensação estranha invadira o rosto da mesma. Por fim, deixaram para trás a senhora, e seguiram para o rio. Como estava logo na entrada, recepcionando, Teresa arranjava um jeito de se divertir. Encostou-se ao rádio, que estava sobre a janela da casa de madeira pintada de azul e apertou em um dos botões. Em milésimos de segundos, a música “Titanic” começou a tocar. Não era aquela do filme. E sim aquele funk capaz de mexer com as tripas de qualquer funkeiro. E com ela não foi diferente. Sua cintura e suas pernas mexiam exageradamente ao ritmo da música. A saia rodada laranja, com um tecido sujo, batia nas canelas secas, que eram chamadas de “perna de saracura”, pelos próprios visitantes do local.
    – E é assim que dança. – Disse ela antes de dar uma rebolada – To parecendo é a Mulher Melancia com esse meu “popozão” redondo. Ah, sou muito gostosa.
    
   As horas não pararam de passar naquele dia. É ironia dizer isso, afinal, todos os dias as horas passam. Mas para os quatro jovens que permaneciam no riacho, elas passaram rapidamente. Eram os únicos que ainda estavam ali. A regra do local era clara: podiam ficar o tempo que quiserem no rio, mas tinham que pagar. Enquanto as garotas usavam biquínis, os rapazes utilizavam sungas. Aline saiu da água, sentando-se na margem, coberta por areia.  O namorado, Lucas, aproximou-se, beijando-a, e dizendo:
    – Volta pra água gata. Volta. Eu to doido pra...
Foi interrompido pelo alto grito que se expandiu por entre os seus ouvidos. Além dele, Aline e Diego estavam assustados. Teresa apareceu correndo.
    – O que aconteceu? – Perguntou a dona do local? – Que gritaria é essa?
Olharam para o lado e puderam perceber o desespero de Débora, que vinha nadando apressadamente. Ao se acalmar, e abraçar o namorado, ele perguntou:
     – O que houve, Débora?
    – Eu vi uma pessoa morta. – Explicou ela, em choque e trêmula.

Música: “Sweet Nothing – Calvin Harris”.

Saíram de dentro do rio, e foram pela margem, enquanto Débora mostrava o caminho. Ao chegaram numa árvore, com as raízes já alagadas, ela apontou para o chão. O coração dos quatro – Incluindo Teresa, e tirando Débora - Se palpitou. Havia uma mulher totalmente queimada. E morta. E o mais importante: era totalmente parecida com Angélica Waltsalles. Ou era a própria.


COLABORADORES - LUIZ GUSTAVO E MÁRCIO GABRIEL
APOIO - VICTOR MARÇAL
DIREÇÃO DE ARTE - VICTOR MARÇAL e MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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