segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Alta Tensão - Segundo Capítulo



     — Eu não acredito que o Wagner me trai com ela. Yolanda sua vagabunda! — Norma Peregrini quebra as coisas que estão no criado mudo do grande quarto. — Calma, Norma, calma. Respira, respira… Eu não posso me dar ao luxo de sofrer por causa daqueles dois. — fala para si mesma.
     Norma fica estática olhando para a foto.


    Enquanto Norma sofre pela descoberta da traição, Wagner e Yolanda se encontram no meio do expediente em um motel luxuoso. Ela está nua, apenas coberta com um lençol e tomando champanhe. Wagner está sem camisa, fumando um charuto e olhando a janela.
     — Eu tô me sentindo no céu, Wagner! — Yolanda comemora depois de tomar um gole de champanhe.
     — Resolvi fazer uma surpresinha pra você… — dá uma tragada.
     — Amei a surpresa. E hoje a gente tem um tempinho a mais. Disse à anta da tua esposa que eu ia fazer umas compras pra casa.
     — Ótimo. — Wagner se aproxima e eles se beijam.
     Ainda beijando Yolanda, Wagner a toma em seus braços fazendo com que o lençol saia de cima do seu corpo, revelando-lhe belas curvas. Ele a deita na cama e fica por cima dela, tirando as calças, enfim. As lembranças do resultado do exame, que lhe revelaram pouco tempo de vida voltam à sua mente, lhe fazendo perder a concentração.
     — O que aconteceu, leão? Você brochou cara!
     — Desculpa, Yolanda. Não sei onde eu estou com a cabeça...
     Yolanda pensa um pouco e resolve contar um segredo, aproveitando o momento:
     — Wagner, eu tenho que te contar uma coisa séria… — diz ela, hesitando, e pondo a mão do empresário na sua barriga.
     — Você quer dizer que…
     — Sim. Eu tô esperando um filho teu.
***
     Aquela notícia choca Wagner. Ele volta perplexo para a sede da Revista Flash Magazine, porém ele já meio que esperava aquela notícia. Ele e Yolanda nunca se preveniram!
     — Dra. Albaniza?
     — Oi Wagner, meu amigo. Está melhor?
     — Por um lado sim, mas eu preciso da sua ajuda. Acompanhe-me até minha sala, por favor? — ele estende a mão e mostra a porta da sala para a sua advogada.
***
     Wagner se senta em sua cadeira e mostra a outra cadeira para que a advogada se sente.
     — No que posso ajudar o senhor, Dr. Wagner?
     — Eu quero fazer o meu testamento. Hoje. Agora.
     Enquanto Wagner dita e relembra todos os seus bens e para quem os deixaria, Albaniza datilografa tudo em máquina de escrever, surpreendendo-se com algumas revelações que saem da boca do empresário involuntariamente.
***
     Norma continua trancada no quarto. Sua mãe, Gisela bate na porta, mas ela não responde.

     — Tudo bem filha. Deixe-me que eu mesma resolva o problema com o Adriano. Depois eu passo na escola da Alessandra e pego ela ok? O Alex está com a empregada. — fala um pouco alto, para que a filha escute do outro lado da porta.

Nenhum som. Nenhum sinal. Gisela resolve então não insistir.

     — Estranho… — ela sai.



     Assim que Gisela sai e desce as escadas em direção à porta de saída, Norma abre a porta. Ela olha para os dois lados e vai até o quarto do seu filho Adriano. Em suas mãos está um pedaço de papel, escrito e molhado em lágrimas. Ela abraça o travesseiro do filho e depois põe o papel rabiscado debaixo dele.

     — Adeus, filho.

     Norma sai do quarto de Adriano e volta para o seu. Deixa aberta a porta do quarto, mas tranca a do banheiro. Ela tira a roupa e liga a torneira para encher a banheira. Quando a banheira finalmente fica cheia, ela entra, pega um barbeador, arranca a gilete (não se importando com a dor dos seus dedos cortados) e começa a cortar seus pulsos, pescoço e pernas.




     — Filha! Cheguei! — Diz Gisela segurando a mão de Adriano de um lado e de Alessandra no outro. Sua voz ecoa naquela grande e vazia casa. — Norma? Será que a mãe de vocês continua trancafiada naquele quarto? — Pergunta aos netos.
     — Não sei vó. Eu posso brincar lá na piscina?
     — Agora, Alessandra?
     — Eu tô com calor! Vem Adriano? A gente pode chamar o Ugo também. —sugere a garota.
     — Com o Ugo não. Aquele italiano é chato demais. Você o trata como se fosse nosso irmão, mas ele não é nada nosso. Nada! É só o filho do motorista.
     — Calma, calma. Vão os dois. E Adriano, mocinho, depois você vai ter uma conversa muito séria comigo e com a sua mãe. Ouviu?
     — Ouvi, vó. — suspira — A gente pode ir agora?
     — Podem.
     As crianças saem e logo depois Gisela vai até o quarto da filha. Ela entra ao ver que a porta está aberta, e logo depois vê uma água avermelhada por todo o chão do quarto.
     — Norma? Norma! Norma abre essa porta! Norma! — Gisela bate na porta do banheiro.
     Ela revira as gavetas do quarto e procura uma cópia da chave do banheiro. Minutos depois ela acha, e sem pensar, corre e vai abrir a porta. Gisela espanta-se com a visão horrenda que tem. Um grito seco ecoa no quarto, e depois por toda a mansão.
— AAAH!
     Gisela cai desmaiada no chão.
***
     Wagner está quase chegando em casa quando nota viaturas e o carro da perícia em frente a ela. Dá um aperto no seu coração, e logo ele pensa: “Que Yolanda e o seu bastardo estejam mortos!”. Seu desespero aumenta mais quando vê a tal empregada consolando os seus filhos, que choram em pânico.
     — O que aconteceu aqui? — pergunta Wagner, preocupado.
     — A mamãe está morta! — responde Alessandra, chorando.
Ugo chega e a menina corre e o abraça.
     — Me ajuda, Ugo, me ajuda! Minha mãe, minha mãe!
     Adriano retira a cabeça do ombro de Yolanda e vai ao encontro de Alessandra e Ugo.
     — Alessandra, vem pra cá. EU sou seu irmão! — Adriano encara Ugo.
     Ugo sabe que Norma havia se suicidado e que parte da culpa era dele. Porém o garoto é tão perverso que nem liga.
     Enquanto os adolescentes discutem de um lado, Wagner tenta saber o que havia acontecido com Norma.
     — Parece que ela se suicidou, Wagner.
     — Como assim, Yolanda? Que motivo ela tinha pra isso hein? Eu dei tudo para aquela mulher, e é assim que ela me retribui?
     Wagner corre até o quarto e vê os homens retirando o corpo de sua esposa de dentro da banheira. Um dos médicos avisa à Wagner que Gisela teve um ataque do coração e foi enviada às pressas para o hospital.
     — Desculpe-me, mas o senhor não pode ficar aqui. — Um perito avisa à Wagner. — Precisamos dar uma olhada no quarto.
     O perito vai até o banheiro e começa a investigar. Wagner sai do quarto, mas uma foto sobre a mesa de cabeceira chama a sua atenção. Ele guarda a foto no bolso e sai.
***
     Adriano pousa sua cabeça no travesseiro. Tenta dormir, mas antes mesmo de pôr o pijama já sabia que não conseguiria fazê-lo. Sua mãe está morta! É difícil de acreditar. Não tinha nem mesmo sua avó Gisela para ampará-lo.
     Resolve sair do quarto para ver como sua irmã dormia. Alessandra parecia ter desmaiado na sua cama. A pobre menina dormiu sob o efeito de remédios. Já Alex, o irmão mais novo, nada entendia do que estava acontecendo.
     Adriano ouve alguns gemidos vindos do quarto dos seus pais. Se sua mãe estivesse viva, apostaria que era ela. O pobre e inocente garoto sabia o quão bruto seu pai era, e principalmente da intimidade dos dois. Mas aquele gemido não era de Wagner, tampouco de Norma, claro.Olhando pela brecha da porta, vê Wagner e Ugo semi nus conversando.
     — Vista a roupa e caia fora daqui. — Wagner segura o braço de Ugo. — Se falar qualquer coisa sobre isso, eu te mato.
     Ugo sai do quarto e Wagner se arruma para dormir. No corredor, Adriano espera o italiano, que se assusta com a voz do herdeiro Peregrini.
     — Ugo, me responde: O que você estava fazendo sozinho e pelado no quarto com o meu pai?
     Ugo abaixou a cabeça. Aquela era a sua resposta.
     — Seu imundo!
     — Suo padre è uno stronzo, Adriano. Ele mi obbliga! Ele è un pedofilo!
     — Eu sempre desconfiei de você.
     — Io non sono gay. Io non sono gay!
     Ugo se estressa. Seu sangue ferve. Ser julgado por algo que ele faz sem escolha é um peso para ele. Sendo assim, o italiano segura o pescoço de Adriano e o pressiona contra a parede do corredor.
     — Se dici isso a alguém, Adriano, ti mato. Io te mato. Non sto brincando.
     — Filho de uma cadela imundo. — diz Adriano, com dificuldade.
     Ugo repete:
     — Digo mais una vez. Non sto brincando.
     A pressão psicológica faz com que Adriano fique apavorado. Quando Ugo solta seu pescoço, ele corre até o seu quarto, onde fica em segurança. Sua cabeça fervilha de tantos pensamentos.
     — Meu pai… Pedófilo? Esse idiota não respeita nem a memória da minha mãe, que nem sequer foi enterrada ainda! E o Ugo... quem diria!
     Adriano tenta de novo dormir. Ele sabe que isso não ajuda em nada, mas mesmo assim vira a face do travesseiro. Um pedaço de papel com uma letra tremida e manchada (provavelmente com lágrimas) debaixo dele chama a sua atenção.
     — É a letra da mamãe!
Adriano lê atentamente e se choca ao saber das revelações e recomendações de Norma.
***


     O corpo de Norma Peregrini está sendo velado na mansão onde ela viveu boa parte da sua vida ao lado de Wagner, de sua mãe e dos seus filhos. Foram convidados parentes e os amigos mais íntimos da família Peregrini. O caixão está no salão, logo na entrada da casa.
     Wagner olha fixamente para os olhos de Ugo, talvez para lembrá-lo da noite passada. O menino perto dele não parece ter 15 anos, e sim 5. Ele o intimida e o manipula de uma forma que palavras não são suficientes para explicar.
     Wagner recebe Albaniza, sua advogada, que acaba de chegar para dar os pêsames.
     — Meus pêsames, amigo.
     — Obrigado, Albaniza. Você é a única pessoa que se importa comigo. — Wagner começa a tossir e interrompe a fala.
     — Algum problema, Wagner?
     Wagner pega o lenço e continua tossindo. É impossível falar naquele momento.
     — Wagner, quer que eu chame um médico?
     Ao terminar de tossir, ele retira o lenço de perto da boca. Está encharcado de sangue.
     — Céus!
     — Isso é normal, Albaniza.
     — Você precisa se tratar Wagner. Que doença que você tem? Diz logo!
     — Fala baixo. Eles podem escutar.
     Uma mulher, parente de Norma abraça Wagner chorando. Ele joga o lenço sujo de sangue em cima de Albaniza.
     — Joga isso aí no lixo. Já está na hora do sepultamento.
     Muito choro. Wagner tinha razão, já estava na hora do enterro. Ele percebe que durante o velório todo seu filho Adriano não havia dado as caras.
     — Onde está o Adriano? — pergunta ele à Yolanda, que está com Alex nos braços.
     — Ele deve estar ainda muito chocado, meu amor. Por isso não desceu.
     — “Meu amor”, não. Aqui você é a empregada.
     — Mas eu estou esperando um filho seu.
     — Sobre esse bastardo conversamos depois.
     — Bastardo? Agora que a sua mulher morreu podemos assumir nosso romance!
     — Ai,ai, Yolanda … Faz-me rir. Acha que conquistou o seu pedaço no bolo não é? Consolando os meus filhos, dando uma de esposa e mãe… Cale a sua boca e vá chamar o Adriano agora!
     Na mesma hora que Yolanda, ainda chocada com as palavras do amante, põe o pé no primeiro degrau da escada, Adriano surge, gritando:
     — Parem com essa palhaçada agora!
     — Adriano! O que você pensa que está fazendo?
     — Para com essa novelinha, seu escroto. É isso o que você é, Wagner. Um bruto, um escroto!
     — Respeite a memória da sua mãe, pentelho. Ela não está mais entre nós, mas eu sou o seu pai. EU SOU O SEU PAI!
     — QUEM É VOCÊ PRA FALAR EM RESPEITO? VOCÊ DEIXOU DE SER MEU PAI A PARTIR DO MOMENTO EM QUE VOCÊ TRAIU MINHA MÃE COM A YOLANDA! ISSO MESMO PESSOAL, ESSES DOIS AÍ TEM UM CASO. WAGNER E A EMPREGADA DA SUA MANSÃO ... FOI POR CAUSA DELES QUE MINHA MÃE, NORMA PEREGRINI, SE SUICIDOU!
      A atenção dos paparazzi e de suas câmeras é totalmente desviada para Adriano.


COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE -  MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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