sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A ERA DOS MORTOS - 21


CAPÍTULO 21



        Enquanto descia as escadas da torre, Jack sentia a preocupação tomar conta de seu ser. Tinha medo da reação de Alexia, mas sabia que precisava cortar o mal pela raiz, antes que ela se envolvesse ainda mais por ele.  

Ela não poderia se apaixonar por ele e sabia que era isso que se passava com ela. O erro fora seu: não deveria se aproximar tanto dela, não deveria circundá-la de cuidados como estava tentando fazer, sabia que no estado em que ela se encontrava - fragilizada e aterrorizada dentro e fora da fortaleza - a chance de se apaixonar por ele era realmente grande.

Ela não o conhecia. Se conhecesse, jamais o olharia com aquele olhar sonhador e apaixonado que costumava lançar a ele. “Maldição!”, pensou ele, alcançando a guarita da torre.

A torre mais alta da fortaleza tinha o formato arredondado. Havia outras três, mas era apenas para guarita. A única que funcionava como heliporto era aquela em que estava. No entanto, mesmo o último andar, antes do terraço, fora liberado para ser uma guarita. Havia exatamente quatro janelas, uma para cada lado da fortaleza e sempre haveria 4 agentes de nível 3 ali, armados com snipers de longo alcance.

- Olá, Sr. Trevor! Bom saber que o senhor está vivo. Todos nós estávamos preocupados – falou um dos agentes.

- Obrigado, pessoal! – falou Trevor e continuou a descer. O restante dos andares da torre era permeado pelas escadarias que desciam em formato caracol. Eram cinco andares de escada e Trevor pensou que teria sido muito bom se tivesse instalado elevadores ali. Claro que elevadores consumiam energia, mas seria um conforto, caso precisassem ascender rapidamente ao heliporto.


Quando desceu o último lance, atingiu uma pesada porta de madeira e finalmente o quarto andar, o andar dos agentes especiais. No corredor principal do andar, caminhou até o laboratório e abriu a porta. Brandon, Bio, Barbra e Casper o esperavam ali.

Barbra ao vê-lo, correu e envolveu seu pescoço com os braços, cobrindo seus lábios com um beijo demorado. Aquilo irritou-o um pouco. Claro que era normal para Barbra querer abraça-lo e beijá-lo, mas gostaria que ela agisse mais como uma agente do que como uma namorada apaixonada. Já bastava um coração partido por dia.

Internamente, entretanto, não pôde deixar de sentir que o ‘quase-beijo’ que Alexia ensaiou com ele fora muito mais mágico e encantador do que a molhada e grudenta carícia que Barbra lhe fazia agora.

- Não imagina o quanto eu sofri ao saber o que aconteceu. Como é que você vai numa missão suicida assim, meu amor? – reclamou Barbra, com os olhos marejados. Jack numa a tinha visto daquele jeito. Talvez ela realmente o amasse.

- Na verdade, é isso que eu quero saber – disse ele, virando-se para Brandon – Como é que você manda agentes sem a minha autorização para uma missão suicida na maldita avenida Atlântida, sendo que um deles era um bebê?

- É simples, chefe! – falou Brandon, parecendo casual, mas estava lívido. – Fiz o que fiz para proteger a fortaleza! Mas parece que não surtiu efeito: a única criatura que eu não queria que retornasse, voltou com o senhor, pelo que Casper me contou!

- Como é que é? – falou Trevor, agigantando-se enquanto se aproximava de Brandon. Mais um metro e o seguraria pela lapela e o esmurraria até verter sangue, mas Casper o segurou.

- Escute, chefe! – falou Casper. – Brandon teve um bom motivo. Apenas escute.

- Escutar o que? Você mandou uma menina... uma menina para um missão de alto risco. Por sua culpa, Brandon, quatro agentes morreram e duas pessoas que tentaram nos salvar. Como você explica isso?

- Ele só fez isso, porque eu sugeri que o fizesse, chefe! – dessa vez foi Bio quem falou e isso fez Trevor se acalmar.

- Como é que é? – perguntou ele. – Por que você faria isso, Bio?

- Eu sinto muito, chefe! Sinto muito mesmo. Mas eu descobri algumas coisas e falei para o Brandon. Pedi a ele que desse uma maneira para tirar a Srta. MacNichols da fortaleza enquanto descobria como lidar com ela.

- Eu não estou entendendo... – replicou Jack, aquilo tudo parecia mal contado.

- Apenas ouça, querido! Verá que Bio e Brandon estão com a razão. – falou Barbra.

Jack achava muito difícil uma explicação plausível para o que eles andaram fazendo, mas resolveu aquietar-se e escutar.

- Eu estava testando uma das amostras que o Sr. Laniter nos enviou pela Srta. MacNichols, quando derramei, sem querer uma solução sobre a valise que o Sr. Lanister mandou. Eu fui limpá-la e foi quando eu descobri isso – disse ele, mostrando uma pasta com uma série de papéis dentro. – Isso é um relatório das empresas Lanister e acho que pertence a Srta. MacNichols. Ela deve ter esquecido na mala ou pensado que essas informações estariam a salvo, escondidas no compartimento secreto que descobri ao limpar a valise.

Trevor franziu o cenho, sem entender, mas Bio continuou.

- Bem, encontrei nessa pasta documentos importantíssimos e secretos e ainda instruções de uma missão, uma missão que a Srta. MacNichols deveria cumprir.


- Agora você vai me dizer que Alexia é uma agente das empresas Lanister, é isso?

- Não, Chefe, é muito mais do que isso... Nesses documentos, há correspondências secretas entre o Sr. Lanister e Abrahan Smith, o novo diretor das empresas Lanister. Eles sabiam o tempo todo dos efeitos do vírus e calcularam o momento exato de liberá-lo. – continuou Bio.

- Mas Lanister disse que...

- Ele nos enganou, Jack. – falou Casper. – Aquele fuinha desgraçado nos enganou direitinho.

- Isso é surreal! – falou Jack, sem poder acreditar – Porque Lanister liberaria a droga sabendo que o vírus se espalharia.

- Por que era parte do plano deles: aqui há dados sobre uma cidadela totalmente segura criada para abrigar os sobreviventes depois da liberação do vírus. Somente algumas pessoas teriam oportunidade de entrar nessa cidade e teriam que pagar milhões para serem aceitas.

- Eu não entendo porque fariam algo assim... – falou Trevor, sem conseguir acompanhar o que Bio explicava.

- É um projeto. Eu fiquei uma noite toda lendo esse maldito projeto. O projeto se chama ‘jardim do éden’. A intenção era de fato matar todas as pessoas do planeta e criar um mundo em que Lanister e Smith serão os reis, os deuses, e o que mais você pode imaginar. A cidadela foi feita para abrigar 2 milhões de pessoas. Depois que o mundo todo acabasse, essas 2 milhões de pessoas teriam um planeta todo a seu dispor: todo o petróleo, toda  água, todos os recursos que já estavam escassos antes mesmo desse maldito apocalipse ter acontecido seriam deles. Tudo ficaria no domínio deles e os sobreviventes seriam escravos, fazendo qualquer vontade que Smith e Lanister quiserem. É um plano diabólico, Jack, diabólico. Há plantas aqui, mapas para a tal cidade, mas creio que devamos nos afastar deles. Li um outro documento em que Smith autoriza a morte de qualquer sobrevivente que se aproximar  da Cidadela assim que a infestação iniciar.

- Acho muito estranho tudo isso. Alexia disse que Lanister está na mansão. Ficou abrigado no subsolo.

- É mentira! Tudo o que saiu da boca dessa menina é mentira, Jack! – disse Brandon e Trevor sabia exatamente a que o psiquiatra se referia.

- Alexia MacNichols é uma agente das empresas Lanister. Na pasta há um briefing para que Alexia se infiltre na fortaleza. Instruções que demonstram que a missão dela é fazer você se apaixonar por ela. Ela deveria ser sua amante e liberar informações para a Cidadela. – explicou Bio.

- E como ela faria isso? A única vez que ela saiu da fortaleza foi a mando de Brandon.

- Ela está usando os nossos satélites! – dessa vez foi Barbra quem se manifestou – Desde que ela chegou aqui, os nossos satélites não têm funcionado. No briefing da garota, há descrições de como sabotar e hackear os nossos sinais. Smith e Lanister já devem saber da nossa localização e dos nossos pontos fracos.

- Se soubessem, já teriam atacado. – falou Trevor, recusando-se a acreditar naquilo tudo. – Alexia não é uma agente. Nós a investigamos antes de termos invadido a mansão Lanister. Eu mesmo fiquei de tocaia na frente da casa dela. Ela tem vinte e cinco anos, mas de fato é uma menina. A vida dela era o pai. Vocês não podem achar mesmo que Alexia é...

- Jack, você não a viu em ação. – falou Casper – No dia do treinamento para agentes, a garota demonstrou ser uma verdadeira máquina. Não pode ser natural. Ela fez tudo o que eu pedi como se fosse brincadeira. E depois, quando Malvino estava treinando os bebês, ela era insaciável. Enquanto todos estavam exaustos e pedindo para parar, ela continuava. Num só dia Malvino ensinou Judô, Muay Thai, Kung Fu, todo o tipo de defesa pessoal. E as armas? O objetivo era fazê-los se acostumar a uma arma somente: os revólveres pequenos, mas a garota não se satisfez: aprendeu desde os rifles até snipers... tudo isso num só dia. Não, meu amigo, ela é uma agente... sem dúvida. Eu achei na época que era somente força de vontade e dedicação, mas agora eu sei que ela estava se mostrando.

Jack abaixou a cabeça, tentando processar aquilo tudo. De fato, lembrou-se que no dia no treinamento, Alis mostrou uma mira invejável para alguém que só estava começando. E também havia o fato de que ela fora enviada a uma missão impossível com quatro agentes experientes e somente ela retornou com vida. E a força que ela demonstrou ao içá-lo para o terraço da lanchonte na Av. Atlântida? Ela era uma garota jovem, pequena e aparentemente delicada, mas sua força era disforme. Realmente, o que Casper dizia, fazia sentido.

- Eu sei que você está gostando dela, Jack. – agora era Barbra que falava. – Mas pense que ela é uma espiã e se você não tomar uma atitude ela pode fazer algo mais sério contra nós. Você precisa destruí-la, antes que ela destrua a nós todos!

Lex ficou um bom tempo no terraço da torre, ao lado do helicóptero, enquanto secava as lágrimas e tentava recompor-se. O vento soprava forte ali, ainda mais forte do que sobre a muralha, entretanto, não havia aquele cheiro de podridão no ar, nem pássaros agressivos fazendo rasantes para atacá-la. Olhando para Leste, Norte e Sul da Fortaleza, só se podia ver um grande mar verde com árvores irregulares e algumas clareiras. Para Oeste, Gregória parecia minúscula e então a rodovia 175 era como um rio serpenteando outros lagos de florestas e outras cidades. Parnaso parecia distante a sudoeste e a capital, só se divisava por sua grande fumaça cinza ao sul de Parnaso. A vista ia até o mar, mas mal se podia contemplar as praias ao redor da capital, muito menos do porto internacional. Lembrou-se do pai e da praia que costumavam passar os verões. Gostaria muito de poder contar com os ombros do pai para chorar.

Enquanto apreciava a paisagem, Anderson, o piloto, apareceu e abriu o helicóptero, retirando algumas caixas de papelão que pareciam pesadas.

- Precisa de ajuda? – perguntou Lex, tentando ser simpática.

- É melhor não! É que vou entrar no Depósito C e somente níveis 2 podem ter acesso.

Lex havia esquecido completamente daqueles níveis hierárquico de agentes da fortaleza e pensou que seria uma boa ideia descer e descansar, pois no outro dia poderia treinar com os outros agentes bebês como ela. E teria que se esforçar para compensar os dias perdidos.

Até o quinto andar da fortaleza, Lex acompanhou Anderson, mas desceu sozinha os andares seguintes. O dormitório nr. 2 estava quase vazio, não fosse por 4 mulheres que descansavam ou dormiam deitadas em suas camas e uma outra que tricotava sentada.

Lex mergulhou na cama e fechou os olhos. Imediatamente, a figura de Jack Trevor apareceu em sua mente. Ele a considerava uma ‘menina’ inexperiente e boba demais para amá-lo. Aquela conversa com o Sr. Trevor fora desastrosa. Deveria ter mentido, dito a ele que não estava apaixonada, mas sabia que não conseguiria fingir. Porque não manteve segredo como até então? Por que se humilhar daquela forma?

Lex abriu os olhos ao escutar a porta se abrir com estrondo, pois percebeu que Lizzie, Janaira e Briam haviam entrado.

- Meu Deus! Quando eu vi você passando pelo 4º andar, achei que estava vendo coisas. Tive que chamar Lizzie e encontrei Briam pelo caminho – disse Janaira com um largo sorriso – Pensamos que você estava morta, Lex.

Enquanto Janaira falava, Lizzie havia se atirado sobre Lex e a abraçava, como poucas vezes elas se abraçaram.

- Achei que estava sozinha neste mundo – falou Lizzie, entre lágrimas, depois de se afastar um pouco da irmã.- Malvino falou que viu você e o Sr. Trevor serem encurralados por zumbis.

- De fato! – falou Lex, acariciando os cabelos da irmã – foi um milagre nos salvarmos. Na verdade, se não fosse pelo Sr. Trevor, eu teria morrido. Ele foi me buscar. Ele me salvou tantas vezes que nem posso contar. Serei eternamente grata – disse Lex, sinceramente, sentindo a voz embargada.
- Eu sabia! – declarou Janaira – Você é apaixonada pelo Sr. Trevor.

Lex sentiu seu sorriso morrer.

- Ele não se interessa por mim. – confessou ela, entristecida. – Disse para eu me envolver com pessoas da minha idade.

- Sinto muito, amiga! – disse Janaira, com pesar – Mas... bem... sei que é chato dizer isso... mas ele é muita areia para o seu caminhãozinho.

- Não entendi o que quer dizer! – falou Lex. Estava a par do que significava aquele ditado, mas precisava escutar a opinião de Janaira.

Janaira podia ser cruel às vezes, mas tinha um senso prático invejável e uma grande habilidade para perscrutar os sentimentos dos outros.

- Ele é o todo poderoso, Lex – explicou Janaira. – É um homem importante, ocupado, com muitas responsabilidades nas costas e muita autoridade e poder também. E você... você é só a Lex.

- Janaira tem razão! – falou Lizzie – Sinto muito, Lex, mas é até melhor se afastar dele... Ele me assusta às vezes.

- Pode assustar, mas ele é tudo de bom!- complementou Janaira. – Com certeza, metade das mulheres da fortaleza – senão mais – devem estar em cima dele, pois sabem que ele é igual a proteção, segurança e status nesse mundo em que estamos. Você é bonitinha, meiguinha, determinada, mas não é... não é uma Barbra da vida. Você sabe que os dois têm um relacionamento, não sabe?

- Na verdade, não! – confessou Lex, sentindo-se ainda mais ridícula por ter aberto seu coração ao Sr. Trevor.

- Não é bem um relacionamento – dessa vez foi Briam que falou – Pelo que me disseram Barbra força a barra com o Sr. Trevor, mas ele vive repelindo ela. As pessoas dizem que os dois dormem juntos às vezes, mas ele não permite que ela vá até ele. Ele é quem procura ela quando está afim.

- Isso parece errado! – falou Lex – E cruel.

- Viu só! – falou Lizzie – Pelo jeito, ele foi generoso te dispensando assim. Ou ia acabar te usando como faz com a Barbra.

- Eu não me importaria de ser usada por aquele homem de vez em quando – colocou Janaira, com ares de sonhadora, enquanto Briam sorria.

- Credo Janaira – falou Lizzie, mas ela também sorriu – Achei que o seu lance era com o Casper.

- E é! Casper é meu namorado agora, Lex – falou Janaira, explicando – Só estou dizendo que o Sr. Trevor é um homem atraente, embora Casper, também seja.

Os quatro gargalharam, mas segundos depois, Lex deixou que lhe escapasse pelos lábios aquilo que mais temia:

- Eu o amo!!! Eu amo o Sr. Trevor...

Houve segundos de silêncio em que os três olharam surpresos para Lex. Em seguida, a porta do dormitório se abriu, mas dessa vez cinco agentes entraram, seguidos por Casper que parecia indisposto.

- Que bom que os quatro estão reunidos. Assim não terei que catá-los pela fortaleza – falou Casper, num tom misterioso – Em nome da autoridade da Fortaleza Trevor, eu, Frank Casper, agente especial, líder dos agentes e da segurança interna e externa, informo a vocês: Briam Smith, Janaira Silva, Elizabeth MacNichols e Alexia MacNichols, que vocês estão presos por traição e espionagem de acordo com o código da Fortaleza!




ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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