segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A ERA DOS MORTOS - 22


CAPÍTULO 22



         Lex levantou-se da cama, sem saber direito se ria ou se chorava. A expressão de Casper era séria, apavorante até e todos sabiam que Casper e Trevor não eram pessoas de brincadeira. Mas a acusação de traição a la filme de James Bond provocava uma estranha vontade de sorrir.

- Como é que é? – perguntou diante da impassível face de Casper.

- Levem os prisioneiros até a cadeia! – falou Casper, depois de alguns segundos. Os quatro agentes começaram a se mover, fazendo Lex dar um passo para trás.

- Frank, o que está acontecendo, meu bem? – perguntou Janaira, aproximando-se de Casper, mas quando ela levantou a mão para tocar o rosto do agente especial, ele agarrou seu pulso como se ela fosse um animal.

- É melhor não me tocar! – falou ele, afastando a mão de Janaira com uma certa brutalidade. - Traidora!

Os olhos de Janaira marejaram imediatamente, mas Casper, pelo contrário, apenas se afastou, fazendo menção em sair do dormitório. A bela morena tentou segui-lo, mas um agente se interpôs entre ambos e agarrou-a pelos pulsos, virou-a bruscamente e algemou os braços dela nas costas.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou Lex, vendo aquela cena. Como aquele agente algemava Janaira, assim também os outros estavam fazendo com Briam e Lizzie e, por último, com ela – Eu gostaria de ver o senhor Trevor. Eu gostaria de ver o senhor Trevor, agora! – exigiu Lex, imaginando que ele poderia esclarecer o que estava acontecendo.

- Verá... em breve! – falou Casper, antes de se afastar de uma vez.

A contragosto, Lex, Lizzie, Briam e Janaira foram arrastados para fora do Dormitório Nr. 2 e levados escadas abaixo. Tomaram um corredor pelo qual Lex jamais passara, pois sabia que a enfermaria – e consequentemente, Dr. Brandon – ficava por ali. Mas antes que chegasse até a enfermaria, foram forçados a descer uma escada. Estava escuro ali embaixo, pois não havia nenhuma janela e o ar era pesado e mal-cheiroso.

Com o tempo, seus olhos se acostumaram e Lex pode ver que estavam num corredor com várias portas, mas seguiram adiante. Logo entraram por uma porta que continha um ambiente iluminado por uma luz bruxuleante e entraram numa antessala de abóbada arredondada. Dali, Lex percebeu que haviam duas celas grandes e escuras. Uma delas era ocupada por Malvino que dormia sobre uma cama de beliche, na parte inferior.

Abriram a cela onde Malvino estava e jogaram Briam ali dentro. Depois foi a vez de Lex, Lizzie e Janaira serem jogadas na outra cela. Quando a porta da cela se fechou, Lex teve uma estranha sensação. Lembrava-se do que lhe aconteceu há três anos atrás.

Depois de ter desacordado naquela viela, esfaqueada pelo seu raptor, Lex acordara numa maca. Estava completamente atada a maca. Havia cinco cintas de couro segurando seu corpo: duas nas pernas e três no dorso e as mãos estavam atadas com fita adesiva na lateral da cama.

Ela tentou se mover, mas era inútil. Tentou gritar, mas apenas um som abafado surgiu de sua boca, colada com fita adesiva. Tinha dores pelo corpo, mas percebeu que havia soro entrando pelo seu braço direito.

- Olá, vadia! – disse aquela voz sibilante, assustando Lex. O seu raptor a olhava com estranhos olhos verdes. Eram semicerrados e havia uma estranha sombra negra passando por eles.

- Por fvor...! – ela tentou dizer, enquanto as lágrimas escapavam de seus olhos.

O homem se aproximou devagar: tinha um bisturi nas mãos.

 - Por onde quer começar seu tormento? Pernas ou braços? Ah... já sei?

O algoz aproximou-se de Lex e enfiou o bisturi entre o dedo e a unha. Lex gritou de dor e pânico, enquanto assistiu aterrorizada seu raptor arrancar unha por unha.

Lex espantou as próprias memórias balançando a cabeça.

Presa! Enjaulada como se fosse um animal. Seria esse seu destino, afinal? Lex não entendia o que acontecia e ainda que se esforçasse para entender o que havia feito de errado para ser trancafiada na prisão da fortaleza, nada lhe vinha à mente.

Assim que os agentes sumiram no corredor, Lex passou a analisar seu catre. Tentou mover as grades, ver se estavam fracas ou se poderiam ser abertas, mas as pesadas e grossas barras pareciam perfeitamente instaladas.

- Meu Deus, meu Deus, o que está acontecendo? – perguntou Janaira, com os olhos já inchados. A atitude de Casper para com ela foi de fato agressiva, principalmente por estarem namorando.

Lex não queria pensar no pior, mas sabia que havia dedo de Dr. Brandon naquela história, mas estava confiante de que logo o Sr. Trevor a tiraria dali e esclareceria toda a situação. Ficaram ali por horas. Malvino e Briam estavam conversando alguma coisa em sua cela e Lizzie tentava consolar Janaira, sentadas a um canto do catre. Lex, por outro lado, não conseguia sossegar. Andava de um lado para outro. Chegou um momento em que suas costas começaram a latejar e ela lembrou que provavelmente deveria estar na hora de tomar a outra dose do antibiótico.

Estava pensando em se deitar quando escutou um barulho e se virou para a entrada da antessala. Jack Trevor estava ali, em pé, olhando para as celas com um estranho olhar. De qualquer forma, ao vê-lo, os olhos de Lex brilharam e ela se aproximou das barras com um sorriso aliviado.

- Oh, Sr. Trevor. Graças a Deus o senhor veio! Sabia que viria! Casper nos prendeu. Não sabemos direito o que está acontecendo...


Lex parou de falar ao perceber que havia algo errado com ele. Ele estava sério, como nunca o vira antes. Parecia abatido com olheiras profundas. Trazia uma pasta consigo e não a largou nem mesmo ao apanhar uma cadeira que havia no canto da antessala para coloca-la diante da cela de Lex, bem no centro do ambiente, onde se sentou.

Depois tirou do bolso um comprimido, pegou um copo de água sob uma pequena mesinha no canto da antessala e os estendeu para Lex.

- Tome isso! – disse ele, com um tom esquisito.

- O senhor não vai nos libertar? – perguntou Lex, sentindo seu coração disparar. Como Casper, ele parecia transtornado. Sabia que o Casper não faria nada sem ordens do Sr. Trevor, então sabia que a ideia de prendê-la poderia ter partido dele. Não queria pensar nisso, mas... – Sr. Trevor...?

- É a amoxicilina! Tome agora! – ordenou ele.

Lex colocou as mãos entre as barras da grade e pegou o comprimido e o copo de água das mãos de Trevor e os tomou, enquanto ele retornou um pouco e se sentou sobre a cadeira que havia preparado, tomando a pasta nas mãos e a abrindo sobre o colo.

- Essa pasta foi encontrada na valise que o Lanister mandou para a fortaleza por seu intermédio, Srta. MacNichols!

“Srta. MacNichols?”, pensou Lex, sentindo falta do “Alexia” que o Sr. Trevor gostava tanto de usar com ela.

- A Senhorita a reconhece? – perguntou ele.

- Não, senhor! – respondeu ela, suscintamente, passando o olho em cima da pasta. Era uma pasta simples de arquivo, mas parecia lotada de papéis – Casper falou que fomos presos por traição e espionagem....

- De fato! – falou o Sr. Trevor, folheando a pasta. – Encontramos informações valiosas sobre a organização liderada por Lanister e Abraham Smith para criar uma Cidadela para manter milhões de sobreviventes – como Lex arqueou as sobrancelhas sem entender muito o que ele dizia, ele continuou: - algo muito parecido com a Fortaleza, só que infinitamente mais organizada e melhor abastecida.

- Isso é bom, não é? Mais sobreviventes – disse Lex, ainda sem saber o que pensar.

- Claro... seria muito bom, se não fossem eles os responsáveis por dizimar o planeta. A liberação da droga que foi para China, foi realizada intencionalmente. Durante todo o tempo, Lanister e Smith sabiam das consequências. Não foi um acidente infeliz, Srta. MacNichols, foi uma forma cruel e efetiva de ‘limpar’ o planeta das pessoas. Claro que o efeito colateral – os indesejáveis zumbis – serão também dizimados quando eles liberarem no ar um outro vírus capaz de aniquilá-los. Como vê, um plano perfeito e diabólico.

- Eu escutei tudo o que o senhor discutiu com o Sr. Lanister na mansão e não creio que ele seja diabólico, como quer crer. O Sr. Lanister perdeu a sanidade, mas não posso imaginá-lo destruindo o mundo. Para que o faria? – perguntou Lex, incrédula com aquilo tudo. E o que aquilo tudo tinha a ver com ela. Isso não explicava porque ela estava presa.

- Aí é que está a questão! Os cientistas do mundo inteiro têm divulgado há muito tempo que os recursos do planeta estão se esgotando. Não havia petróleo, agua, comida, energia elétrica e tudo o mais em quantidade suficiente para os quase 7 bilhões de pessoas que antes populavam o mundo. Se, de repente, bilhões de pessoas morressem, então, haveria recursos para os sobreviventes e ainda, o poder ficaria centralizado em Lanister e Smith. Quem não gostaria de dominar o planeta dessa forma?

- Eu não gostaria! – respondeu Lex, seriamente, sem gostar do rumo e do tom irônico que o Sr. Trevor tomava naquela conversa. – E não sei o que isso tudo tem a ver comigo e com meus amigos.

- Tem certeza que não? – falou o Sr.Trevor, virando mais uma página da pasta. – Há instruções, documentos, relatos que envolvem você nesta pasta e também os seus amigos.

- Do que ele está falando? – perguntou Janaira, enxugando os olhos e levantando-se com indignação.- Eu não tenho nada a ver com coisa alguma.

O Sr. Trevor tirou uma foto de Janaira do tamanho de uma folha de papel.

- Janaira Silva. – falou ele, fazendo-a se calar. – Segundo os documentos que possuo, você está envolvida até o pescoço. Como Lex,  você é uma agente das indústrias Lanister.

Lex olhou para Janaira que tinha os olhos marejados. Ela estava com medo, todos estavam, pois entendiam que aquilo, de alguma forma, era muito grave.

- Srta. MacNichols, você foi enviada aqui por alguma razão que ainda não está clara para nós. De acordo com obriefing que achamos, você deveria contatar dois agentes também infiltrados: Janaira Silva e Briam Smith. Vocês três devem ter rido muito às minhas custas, imaginando que eu nunca descobriria, não é? Não há nada aqui da sua irmã, mas acredito que ela também deva ter participado de toda a tramoia- vociferou Jack, com um amargor na voz

- Isso é mentira! – gritou Janaira. – Eu não sou nenhuma espiã...

- De qualquer forma, Alexia – continuou o Sr. Trevor, com um terrível tom irônico - Os outros especiais acham que a senhorita está aqui para revelar a nossa posição a Lanister, mas sei que não é isso. Quando o vírus se espalhou, eu mesmo contatei Lanister e informei nossa posição a ele. Tenho certeza que você está aqui com algum outro intuito e seria muito bom se me dissesse agora, qual o seu objetivo ao se infiltrar na minha fortaleza. Se disser a verdade, eu prometo que tentarei fazer tudo ao meu alcance para ajudá-la... mas não me teste, Alexia... não me teste...

- O senhor foi envenenado pelo Dr. Brandon, Sr. Trevor. Eu tenho certeza de que ele andou lhe dizendo essas coisas, mas é mentira! Eu não sou uma agente do Sr. Lanister. Eu me demiti das empresas Lanister no mesmo dia em que o senhor invadiu a mansão. – defendeu-se Lex, torcendo para que o Sr. Trevor conseguisse enxergar a verdade.

- Isso é o que quer que eu pense. Você é mesmo uma boa atriz. Foi tudo armação, não é mesmo. Você inventou um passado triste para me fazer ter pena de você. Eu deveria de fato ter matado você na mansão Lanister, quando eu tive a chance.

- E porque não faz isso agora? – disse Lex, erguendo o queixo de forma provocativa. Fervia de raiva e tristeza internamente, mas não deixaria aquilo barato – O senhor é o todo-poderoso por aqui, não é mesmo. Por que não me mata agora, se acha que sou mesmo uma espiã.

- Porque eu preciso saber o que você quer de mim...

- Eu não quero nada que o senhor já não tenha me dado. – disse Lex a beira do desespero. - O senhor resgatou a mim e a minha irmã. Acolheu-me aqui, tem nos protegido. Mesmo quando eu achei que estava morta, o senhor foi me resgatar. Eu não poderia pedir mais... Eu não entendo porque está me acusando dessas coisas que não fiz... O Dr. Brandon...

- PARE DE COLOCAR A CULPA EM BRANDON! PARE DE ME JOGAR CONTRA O HOMEM QUE ME SALVOU! Talvez esse seja seu plano: nos colocar uns contra os outros e ver a casa pegar fogo, não é? Se fazer de menina ingênua e apaixonada para dar o bote depois...

- Não... Sr. Trevor, por favor, acredite em mim. - suplicou Lex - Ele é um bandido. Eu tenho certeza de que isso é mais um plano dele contra mim.

- Nem foi ele que achou esses documentos, Alexia...Foi Bio. É você a mentirosa, a bandida... Aqui na pasta há um relatório forjado assinado pelo delegado que recebia propina de Lanister. Ele forjou o Boletim de Ocorrência em que você relata o seu ataque há três anos atrás. Nunca houve um ataque, você nunca foi sequestrada, nem torturada, nem estuprada. Foi tudo um embuste. Você foi colocada de propósito na instituição em que Dr. Brandon trabalhava, pois sabia que ele estava a procura de alguém parecida com Paris Lanister. Alguém que poderia fazer o velho Lanister contar a senha de que precisávamos para invadir as instalações das indústrias Lanister. Você foi uma maldita atriz desde o princípio... e eu acreditei. Eu tive pena... sentia a culpa me consumindo todos esses meses por ter feito você passar por um novo trauma depois de tudo o que havia passado.

- ISSO AGORA É DEMAIS! – disse Lizzie que estava até o momento calada. – MOSTRA PRA ELE, LEX. MOSTRA AS CICATRIZES PARA ELE. PROVA PRA ELE QUE FOI TUDO VERDADE, LEX, PELO AMOR DE DEUS...

- Eu tenho várias cicatrizes para provar o que aconteceu comigo, Sr. Trevor. Por dias, o Dr. Brandon me cortava e me costurava de volta. Então, como pode dizer que aquilo não aconteceu....? – disse Lex, sentindo que as lágrimas rolavam soltas pelo rosto. – Como pode fazer isso comigo... ?

- Podem ser cicatrizes do seu treinamento como agente dupla a mando de Smith. Acha mesmo que eu vou acreditar nessa história novamente.

- Sr. Trevor... eu imploro...

- Não, Alexia. Sou eu que imploro: diga o que você veio fazer aqui... diga qual é o objetivo da sua missão. Não me obrigue a...

- A que? – perguntou Lex, arqueando as sombrancelhas. – A me torturar? O senhor faria isso? Eu sou inocente. O senhor torturaria uma mulher inocente por conta de uma acusação falsa?

- Acusação falsa? – falou Trevor e Lex pode ver que seus olhos brilharam como se estivesse segurando lágrimas. – Você é realmente boa. Realmente faz a gente duvidar... Eu acreditei... até acreditei que você realmente gostava de mim... – e depois disso, Jack tirou um documento de dentro da pasta. Parecia ser uma carta escrita a mão. – Sabe o que é isso, Alexia... é uma carta de Amanda Lanister, esposa do Sr. Lanister, morta a vinte anos atrás, para o seu pai, Teodoro MacNichols que você carinhosamente chama de Teddy.... quer que eu leia...? Imagino que você já a leu diversas vezes, mas insisto em fazê-lo novamente:

“Querido Teodoro...

Sei que está furioso comigo e ainda não me perdoou por tê-lo afastado de sua própria filha, mas não poderia deixar que Lanister descobrisse o nosso terno caso de amor. É por ela, por Paris que escrevo agora, pois ela precisa do pai como nunca antes... “

- O que está insinuando? – falou Lex, interrompendo-o – que Paris Lanister era filha do meu pai, que era minha irmã?

- Continuando... – disse o Sr. Trevor, num tom cínico:

“Há alguns meses descobrimos que Paris tem um câncer agressivo e foi desacreditada pelos médicos. Desde então, meu marido tem feito estranhos experimentos com a menina. Ela tem sofrido muito, Teddy, e certamente morreria nas mãos dele se eu não fizesse o que fiz: eu convenci Abraham Smith a forjar a morte da minha filha, substituindo-a por um cadáver. Ela está viva, sob os cuidados de Amélia, minha assistente pessoal, na casa da praia da rua Almirante Cruz...”

Lex sentiu suas pernas tremerem e caiu sentada, com dificuldades para respirar.

- Lex, você está bem? – perguntou Lizzie, ajoelhando-se ao lado da irmã. – Você está branca...

- A casa da praia na rua Almirante Cruz era a casa que o pai costumava nos levar quando crianças, lembra-se? – falou Lex, com dificuldade.

- O que isso quer dizer, Lex. Não estou entendendo? – falou Lizzie.

- Deixe-me terminar a leitura e talvez entendam o que eu quero dizer... – falou o Sr. Trevor continuando com a tórrida leitura:

“Abraham forjou novos documentos para a menina que a partir de agora se chamará ALEXIA MACNICHOLS  e você e Amélia serão os pais dela. Proteja-a, Teddy... proteja a nossa filhinha... com amor... AMANDA LANISTER”

- Isso... isso quer dizer que mamãe não é a sua mãe? Quer dizer que somos só meia-irmãs? – perguntou Lizzie, com olhos marejados.

- É mentira! – disse Lex, recuperando o fôlego. – Tudo o que está naquela pasta é mentira! Também isso deve ser mentira! Amélia e Teddy sempre foram os meus pais...

- Lex... – Lizzie olhou Lex nos olhos com um pesar que doeu na alma, porque Lex conseguiu ler naquele olhar o que a irmã pensava. Havia entre Amélia e Lex algo que ela nunca pode explicar direito. Uma rejeição nem sempre discreta que a mãe sempre reservou a Lex. Amélia esquecia dos aniversários de Lex, esquecia de lhe dar presentes no Natal, enquanto gastava o que podia e não podia com Lizzie. Lizzie, como uma boa irmã, sempre dividia o que ganhava com Lex.

Depois de algum tempo, Lex aprendeu a lidar com aquilo, pois tinha o pai que a amava e que a tratava como uma princesa, motivo de ciúmes da própria Amélia. Mas houve um incidente que serviu para inverter as afeições de ambas. Lex dançava balé e, aos 12 anos, ganhou a oportunidade de uma audição para a Escola Praetoris de Dança Clássica, sonho de qualquer menina. Lex preparou-se arduamente para o teste e no dia, Amélia deveria buscar Lex exatamente às onze e meia para ir à Capital, onde era sediada a escola. Depois da uma hora da tarde, Lex percebeu que Amélia não viria e pediu à Secretaria da Escola para entrar em contato com o pai. MacNichols veio voando e ambos viajaram para Capital a uma velocidade absurda. Entretanto, chegaram para a audição com quarenta minutos de atraso e não deixaram que Lex se apresentasse.

Lex lembrava que aquela era sua memória mais amarga de infância. Chorou durante toda a viagem de volta e quando retornou à casa descobriu que Amélia tinha ido ao cabelereiro fazer as unhas. Lex ficou uma fera e pela primeira vez em toda a sua vida, gritou com Amélia. Depois disso, sua mãe passou a tratar-lhe melhor. Era delicada e amorosa e foi, na maioria das vezes, uma boa mãe.

Não queria admitir, mas aquela informação faria todo o sentido do mundo: Amélia MacNichols não era sua mãe e ela era, na verdade, Paris Lanister, filha de Amanda Lanister e o pai Teddy MacNichols. Todavia, admitir que isso poderia ser verdade era admitir que ela era mesmo uma agente de Lanister, e compactuava com aquele plano insano e diabólico de conquistar o mundo, dizimando todos com um vírus que causa a zumbificação.

Só poderia ser um plano de Brandon para desacreditar Lex, ou talvez fosse algo pior.

- É mentira! – disse Lex, tomando fôlego mais uma vez. Ela segurou-se nas grades da cela e se levantou, encarando o Sr. Trevor. – Isso tudo é mentira. E você está colocando sua fé num maldito mentiroso!

- Num mentiroso com provas! – falou Trevor, com um amargor na voz.  Depois disso ele também se levantou e colocou a mão sobre a de Lex. -  Por favor, Alexia! Eu quero acreditar em você. No minuto em que você surgiu nos portões da fortaleza eu prometi a mim mesmo que iria protege-la, que iria mantê-la longe de tudo o que lhe afligisse. Mas há pessoas aqui que dependem da minha proteção também e eu preciso fazer o que é certo para mantê-las a salvo.

- E o que é certo? – perguntou Lex, sentindo as lágrimas escorrerem pelos olhos – o que o senhor vai fazer comigo?

- Dê-me alguma coisa... qualquer coisa... qualquer coisa que me faça duvidar de tudo o que há nesta pasta, uma centelha de dúvida sequer que me faça investigar.

- Eu não tenho nada... só tenho a minha palavra de que sou inocente, assim como minha irmã e meus amigos.

Trevor abaixou a cabeça e afastou a mão dos dedos de Lex que ainda tentaram alcança-lo.

- Sr. Trevor... por favor...

- Eu não tenho outra alternativa, Alexia... Eles querem a sua cabeça... mas eu sei que não posso fazer isso. E não creio que vá fazer alguma diferença, de qualquer forma. Toda a informação sobre a fortaleza e suas defesas já devem ter sido enviadas pelo nosso sinal hackeado...

- Eu não sei do que está falando...

- Então, vou expulsá-la da fortaleza...- continuou Trevor, como se estivesse num monólogo - você, sua irmã, a Srta. Silva e o Sr. Smith.

- Ah, meu Deus, não... eu não tenho nada a ver com isso... eu sou inocente – berrou Janaira, tomada pelo desespero.

- A decisão já foi tomada  e eu não vou voltar atrás. Malvino os acompanhará.

- Eu??? Mas eu não sou traidor! – falou Malvino, levantando-se da cama de onde apreciava o show sem se importar até o momento.

- Mas é um covarde. E isso, pra mim, é ainda pior. Você irá com eles. Eu lhes darei armas e munição e vou ajuda-los a sair da fortaleza em segurança. Mas se ousarem retornar... serão executados ainda nos portões.

- Isso não pode estar acontecendo... não pode... POR FAVOR, EU SOU INOCENTE. - berrou Janaira.

Enquanto Janaira entrava no desespero, Lizzie se aproximou de Lex e apoiou a cabeça no ombro da irmã mais velha.

- Vamos morrer, não vamos...? – perguntou Lizzie, tomada de tristeza.

- Não – respondeu Lex, olhando para o Sr. Trevor com o queixo levemente erguido, tentando reunir o pouco de orgulho que poderia ter, embora soubesse que não havia chances para eles lá fora. – Não vou morrer depois de tudo o que passei... eu me recuso a morrer...

Trevor olhou para Alexia com um misto de tristeza e orgulho, pois sabia que aquela menina era determinada quando queria e era uma sobrevivente. Ela poderia ser uma traidora, uma espiã de Lanister conspirando contra a Fortaleza, mas não poderia negar que ela realmente soube encontrar o caminho para seu coração. Tinha sentimentos por ela. Admirava sua coragem e ela era como sua irmã mais nova, talvez algo mais... não tinha certeza. Tudo o que se referia a Alexia MacNichols era incerto.

Jack saiu da prisão aos trôpegos, com uma forte sensação de náusea e quando subiu as escadas, deu com Casper que o esperava no corredor da enfermaria.

- E então? – perguntou Casper, o amigo parecia tão abalado quanto ele.

Jack balançou a cabeça como que para arrancar dele aquela sensação de torpor. Estava errado, estava tudo errado e mesmo assim...

- Eu os expulsei.

- Não sei se você fez o certo, chefe! Talvez devêssemos executá-los. É mais humano, Jack. Você sabe que eles não vão sobreviver.

- Não... – falou Jack, olhando para a escuridão de onde saíra. – Sempre há alguma esperança, não há?

- Do que está falando, chefe? – perguntou Casper.

- Ela é especial, Frank... Alexia é especial. Ela é forte e inteligente e é dedicada. Enquanto a irmã estiver viva, ela terá motivos para viver e viverá... Ela pode arranjar uma maneira de contatar a Cidadela e ser resgatada. Eu a vi em campo. A menina sabe o que fazer.

- E Janaira? – perguntou Casper, olhando para os próprios pés.
Jack sabia que Frank havia se relacionado com Janaira. Isso era algo raro para ele. Frank era focado demais no trabalho. Tinha suas noites de amor com prostitutas. Sempre uma prostituta diferente. Para ele ter um romance por mais de uma semana era algo realmente novo. E isso indicava que ele sentia algo por Janaira.

- Ela é individualista, mas é esperta. Sempre há esperança...

- Até não haver mais... – completou Casper, com tristeza. – E jamais saberemos. No fim, o castigo será nosso...

Jack olhou para Casper, tomado de assalto por  aquele sentimento. Se deixasse Alexia partir,
 jamais saberia com certeza seu destino. Jamais saberia se ela estava viva ou morta. A pergunta era: poderia ele conviver com isso?



ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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