CAPÍTULO 24
O sol já estava a pino quando chegaram a intersecção com a Rodovia 175 que dava acesso a Parnaso, mas nenhum deles fez menção em parar para comer. Havia poucos zumbis perambulando por ali, alguns se arrastavam pelo chão, mas era possível desviar deles, caminhando com uma certa pressa. O problema é que os zumbis que ficavam para trás estavam determinados a segui-los e logo haveria uma multidão deles seguindo-os pelo caminho, o que seria fatal se precisassem retornar.
- É melhor tentarmos um dos carros. –
sugeriu Lex.
Havia muitos carros na estrada. Alguns
com as portas abertas, manchados de sangue por todo o lado. Havia alguns
fechados e com corpos ou zumbis dentro deles, o que era uma visão aterradora.
Enquanto andavam, Malvino passou a verificar se um dos carros tinha a chave na
ignição. Não demorou muito achar um velho palio de quatro portas nas condições
que procuravam.
- Vamos... entrem todos! – gritou
Malvino para que todos se agilizassem. Uma demora de alguns segundos faria
alguns dos zumbis os alcançarem. Por sorte, nenhum chegou perto quando todos
subiram a bordo e Malvino deu a partida. – E agora? Pra onde vamos, chefe? –
perguntou Malvino, querendo fazer brincadeira, mas esperava que Lex pudesse dar
o endereço da Cidadela de Lanister e Smith para que todos pudessem ficar a
salvo.
- Há um supermercado grande na estrada:
o Zumba. Nós vamos para lá! – falou Lex, traçando o plano em sua cabeça. – A
frente do supermercado estava lotada de zumbis quando passei por ali, mas há
uma estrada lateral que provavelmente deve levar aos fundos do edifício. Acho
que podemos tentar entrar, verificar a situação e depois barricar o prédio.
Pode ser a nossa pequena fortaleza, pelo menos, por enquanto.
- Como assim? – perguntou Malvino,
sentindo um embrulho no estomago. E quando percebeu um trecho vazio de zumbis
na estrada, freou com intensidade e olhou para Lex que estava sentada no banco
do carona. – Achei que fosse nos levar até a Cidadela que o Sr. Trevor falou.
Achei que você era a minha passagem para a segurança. Eu não vou até nenhum
supermercado lotado de zumbi, você está louca?
- Eu não sei onde é a tal Cidadela! –
falou Lex, irritada. – Será que você não escutou o que eu disse o tempo todo
para o Sr. Trevor? Eu sou inocente. Não sou nenhuma traidora. Não tenho nada a
ver com o Sr. Lanister, nem sei onde a maldita Cidadela é.
- Bem, uhm – disse Briam, sentado no
meio de Lizzie e Janaira no banco de trás. – Eu sei!
A surpresa foi geral e todos olharam
para Briam, inclusive Lizzie que não sabia o que dizer.
- Eu sou Briam Smith, o sobrinho de
Abraham Smith.
- Então você era o traidor o tempo
todo? – perguntou Lizzie, visivelmente transtornada.
- Não... eu não sou traidor de nada.
Por isso fiquei calado. Se eu dissesse ao Sr. Trevor que era sobrinho de Smith,
ele me mataria, sem pestanejar. Meu tio sempre disse que o Sr. Trevor é
impiedoso.
- Mas, porque não está na Cidadela se é
mesmo parente de Abraham Smith? – perguntou Lex.
- Meu tio me chama de sobrinho inútil. Um dia antes dessa merda de vírus acontecer ele disse que se eu fizesse uma coisa, ele me devolveria a herança da minha mãe que ele roubou de mim.
- E que coisa é essa? – dessa vez foi
Janaira a perguntar.
- Eu deveria seguir Alexia MacNichols e
leva-la em segurança até a Cidadela. – confessou Briam – Eu não sou nenhum
bandido. E juro que caí nessa história toda por culpa do meu tio.
- Foi por isso que chegou à Fortaleza
no mesmo instante que nós, não é? – perguntou Lex, lembrando-se da primeira vez
que o vira, quando ele cruzou os portões da fortaleza no último instante.
- Eu estava de tocaia no seu bairro
vigiando e seguindo você já há horas quando começou toda a loucura. Eu vi vocês
fugindo num carro abandonado e as segui até a entrada da colina na Mansão
Lanister e depois, as segui até a Fortaleza. Eu estava o tempo todo atrás de
vocês e por muita sorte, entrei na fortaleza no momento em que o Sr. Trevor
abriu os portões. Eu achei que iria morrer ali, juro por Deus que imaginei que
isso ia acontecer. Então, quando eu percebi que havia sido aceito num lugar que
oferecia proteção, resolvi ficar, até resolvi ser agente, fazer parte da
equipe. O Sr. Trevor foi muito mais para mim do que o meu tio jamais foi. Eu
juro, Lex, juro que não sou o traidor. Não tenho nada a ver com o tal sinal que
foi hackeado, não mexi em nada... juro...
- Eu acredito em você! – disse Lex,
colocando a mão sobre os ombros do amigo. Sabia da agonia de dizer a verdade e
não lhe darem credito. Não faria isso com seu amigo.
- Bem... se você sabe onde é a
Cidadela, talvez possamos todos ir até lá e... – começou Malvino, mas Briam o
interrompeu.
- Não... – falou Briam, imediatamente.
– Eu conheço o meu tio. Ele talvez me deixasse entrar, mas com certeza mandaria
matar todos vocês e iria usar Lex como rato de laboratório. Se existe algo
nesta vida que me assusta mais do que esses zumbis é meu tio. Acreditem em mim,
vocês não querem ir até a Cidadela e, principalmente, vocês não querem conhecer
Abraham Smith. O melhor a fazer é seguirmos o plano de Lex.
- Merda... merda!!! – falou Malvino, batendo com o pulso no volante do carro.
- É melhor sairmos daqui. – falou
Janaira, olhando para trás.
- Tudo bem... – retornou Malvino,
voltando a dirigir - mas saibam que eu não concordo com esse plano maluco.
Vamos morrer... merda... vamos todos morrer...
- É aqui, entra!!! – falou Lex, ao ver
a saída para uma estrada pequena, de chão batido. Era, de fato, ao lado de um
supermercado grande de construção pré-moldada e paredes de tijolos a vista com
o letreiro bem grande.
Eles estacionaram mais a frente e
quando saíram, Lex olhou em volta, com cuidado, certificando-se de que não
haviam mortos vivos ali. Abaixados e arrastando-se no chão, subiram um pequeno
morro com uma relva verde que ia até os joelhos, o suficiente para deixa-los
ocultos.
– Estamos com sorte. O vento está a
nosso favor. Isso significa que os zumbis não devem nos notar por algum tempo.
Lex deu uma boa olhada. Havia uma
entrada nos fundos e deveria estar fechada, mas havia uma porta que poderia ser
arrombada com um tiro da Beretta. O problema é que eles deveriam ultrapassar um
cercado com um portão de dois metros.
- Acho que precisaremos fazer isso em
etapas. Talvez o supermercado esteja cheio de zumbis dentro.
- Eu não acho não. – falou Lizzie. –
Não deveríamos nos separar. Se morrermos, morreremos todos juntos.
- Eu também acho que teremos mais
chance se fizermos isso todos juntos! – falou Briam.
- Tudo bem... – falou Lex, olhando mais
uma vez o local. De fato, não havia nenhum morto vivo dentro do cercado. E nos
fundos, havia um ou outro perambulando por ali. A grande maioria estava na
frente. – Certo, então vamos fazer o seguinte. Malvino e eu iremos na frente.
Malvino irá pular o portão e tentar arrombar a porta, enquanto eu fico de
guarda para que os outros venham. Vocês só devem vir quando eu der o sinal.
Briam... cuida da minha irmã...
- Por que que eu tenho que ir já, com você? – perguntou Malvino, quando Lex se levantou.
Sem se dar ao trabalho de responder,
Lex correu em direção ao portão, com Malvino ao seu encalço.
Ela deu um soco num dos zumbis e um
golpe com o joelho em outro. Juntou as duas palmas para criar um apoio para
Malvino que colocou um dos pés ali. Como ele teve dificuldade, ela o içou para
cima com esforço, pois ele era um homem grande e encorpado. Quando ele
finalmente conseguiu transpor o portão, ela fez sinal para que os outros
viessem. Olhou para Malvino e percebeu que ele tirou a Beretta da mochila e
atirou na maçaneta da porta. O barulho de alto estampido com certeza atrairia
mais zumbis.
- Está limpo! – disse Malvino, olhando para dentro. – Pode vir...
Lizzie foi a primeira que os alcançou e
Lex ajudou-a a subir o portão. Janaira e Briam também começaram a subir o
portão. Quando os três chegaram ao topo, Lex fez menção em segui-los, mas um
zumbi surgiu do nada com o dente em direção ao seu pulso. Ela tentou lutar com
ele, mais um outro morto-vivo surgiu pelas costas e tentou avançar em seu
pescoço. De repente, o zumbi que lhe atacava pelas costas foi lançado a algum
metros e o outros balançou como se tivesse recebido o impacto de uma bala e
caiu aos pés de Lex. Ela olhou para ele e realmente, na nuca, havia um
ferimento a bala. Lex resolveu subir logo no portão e pulou para o outro lado.
Enquanto Janaira, Lizzie e Briam correram para dentro, Lex ficou olhando para
fora, imaginando o que havia acontecido. Alguém havia atirado. Alguém havia
salvado a vida dela, mas quem? Olhou ao redor, mas não havia ninguém por perto
e os outros já haviam entrado no supermercado. Não perdeu muito tempo pensando
e mesmo sem poder explicar o que estava acontecendo, correu para dentro.
Jack Trevor, em pé em seu jipe,
distante o suficiente para não ser visto, olhou mais uma vez com a sniper,
certificando-se de que todos haviam entrado no supermercado. Gostaria de poder
fazer algo mais por Alexia. Sua pequena Alexia. Enfim... imaginou que jamais a
veria novamente. Estaria enganado? De qualquer forma, aquilo o fazia pensar:
porque ela não os levara até a Cidadela? Por que os guiou até um supermercado
se ela era uma agente de Lanister. Nada daquilo fazia sentido.
Jack havia decidido seguir Alexia e os
outros renegados pois imaginou que ela os levaria direto para Cidadela de
Lanister. Era imprescindível que ele obtivesse informações sobre a cidadela.
Talvez ela tivesse percebido que ele a seguia e estava ainda querendo bancar a
inocente. Por outro lado, havia também outra explicação.... Talvez ela fosse
mesmo inocente!
Jack sentou-se diante do volante, mas não deu a partida imediatamente. Tinha medo. Não dos zumbis que se aproximavam, mas de nunca mais ver Alexia. Sua vida de repente parecia ter ficado sem sentido, sem alegria, se esperanças...
Olhou para o horizonte: nuvens escuras
se aproximavam. Eram nuvens estranhas. Pareciam carregadas, mas a coloração não
parecia estar correta: era de um azul marinho muito forte. Talvez fosse apenas
ilusão de ótica.
Deu a partida no jipe depois de olhar
uma última vez para o supermercado.
- Boa sorte, querida! - viu-se dizendo
em voz alta.
Lex fechou a porta assim que entrou no supermercado e, com a ajuda de Malvino e Briam fez uma barricada com uma pesada geladeira desligada que havia ali perto. Só então ela se virou para contemplar o lugar.
Estavam numa área de carga e descarga.
Ao lado da porta, havia um grande portão de ferro, mas estava bem fechado.
Havia um caminhão ali, mas não parecia haver ninguém. Olharam em volta, mas não
havia nada muito importante ali para eles e por isso, entraram por uma outra
porta. Deram num corredor. Havia outras portas que davam para pequenos
escritórios e uma sala de reuniões. Quando abriram a única porta que estava
fechada, viram que dava para os corredores do supermercado. Estava muito
escuro, mas eles perceberam que havia velas acesas. Andaram alguns metros todos
juntos, em prontidão, todos com as armas nas mãos, embora Janaira e Lizzie nem
as tivessem destravado. Foi quando pararam.
Na frente deles, um grupo de mais ou
menos dez pessoas estavam tão assustados quando eles. Eles seguravam cabos de
vassoura e frigideiras nas mãos e pareciam indefesos diantes das Berettas.
- O que querem aqui? – perguntou um
homem mais velho vestido com um uniforme de supermercado, como se fosse o
gerente.
- Não queremos encrenca... só estamos
procurando proteção. – respondeu Lex, sem abaixar a arma.
- É melhor irem andando... ou iremos
atacar! – respondeu o homem.
- OLHA AQUI!!! – falou Lex, num tom que
não sabia que possuía – EU NÃO VEJO COMO AS ARMAS DE VOCES PODEM VENCER AS
NOSSAS. MAS SE QUISEREM ATACAR, PODEM VIR COM TUDO, JURO QUE NÃO VOU ME
IMPORTAR DE MATAR TODOS VOCÊS!!!
As pessoas, a maioria mulheres, olharam
assustadas para Lex e choramingaram.
- Me desculpem... não tenho intenção de
machucar ninguém. Andamos durante a noite inteira e o dia inteiro. Estamos
cansados e com fome e logo irá anoitecer. Então vamos ter que resolver as
nossas diferenças, pois não tenho intenção de sair daqui.
- Olha moça... também não tive a
intenção de ofender, mas eramos em cinquenta pessoas aqui dentro até que
deixamos um grupo entrar e um deles estava mordido. Pode imaginar o que
aconteceu então, não é? Não queremos confusão. E espero que não haja ninguém
mordido entre vocês. – falou o homem que parecia ser o líder daquele grupo.
- Não há, eu posso garantir! – disse
Lex, e discretamente, puxou a manga de seu casaco.
- Certo... então acho que não temos outra alternativa a não ser deixa-los ficar.
- Ótimo! Meu nome é Lex, este é Briam, Lizzie, Janaira e Malvino. – disse Lex, apresentando os companheiros. – Estamos muito cansados. Temos comida, mas precisamos de um lugar para dormir.
- Tudo bem, então. Acho que seremos
companheiros, já que se recusam a sair – falou o homem – Meu nome é Alfredo, eu
era o gerente do supermercado. Passamos o dia inteiro aqui. Muita comida já
apodreceu. Não tem mais nenhuma verdura, nem fruta, mas ainda tem muita
conserva por aí, se quiserem, e outras bobagens como chips, chocolate e doces.
Nós dormimos no armazém do subsolo. É o lugar mais seguro.
Lex guardou a Beretta e instruiu os demais a fazerem o mesmo, mas fez um sinal para que ficassem atentos até saberem mais sobre os anfitriões daquele lugar. Logo descobriu que seis dos sobreviventes eram do supermercado. Uma mãe e um menino de doze anos estavam fazendo compras no instante em que fecharam o supermercado e havia ainda duas pessoas que haviam chegado no grupo em que havia uma pessoa infectada. Enquanto Alfredo contava a história aos demais, Lex afastou-se um pouco, tomou um dos corredores e, certificando-se de estar sozinha, ergueu a manga do braço direito. No mesmo instante, sentiu as pernas tremerem e se sentou no chão frio do supermercado, olhando para o pulso: ali, no meio do antebraço, a marca profunda de uma mordida.
Sorriu entre lágrimas, pensando que
aquilo era irônico. Ter lutado tanto para morrer assim. Enxugou as lágrimas.
Sua irmã não poderia vê-la assim. Cobriu a manga e retornou ao lugar onde todos
estavam. Finalmente, os cinco se sentaram e tiraram os sanduíches preparados em
suas mochilas.
- Não vai comer o seu? – perguntou
Lizzie ao perceber que Lex não comeria o lanche.
Não havia lógica em comer, uma vez que não sobreviveria muito tempo e que aquela refeição talvez fizesse falta para a irmã.
- Não estou com fome.
Quando escureceu e a noite estava alta,
Alfredo os levou até uma porta que dava para uma escada no subsolo.
- Vamos... nós dormimos aqui! – falou
ele, e entrou.
- Esperem um pouco antes de irem! –
falou Lex, tentando passar instruções. – Eu vou ficar aqui fora para... para
vigiar, mas quero que tenham cuidado lá em baixo. Não deixem suas armas a vista
e é melhor que um de vocês sempre fique acordado vigiando os demais. Não
sabemos se podemos ou não confiar nessas pessoas.
- Porque você tem que ficar aqui? –
perguntou Lizzie. – Se quer mesmo ficar de vigia, fica lá em baixo, Lex.
- Eu quero ficar aqui fora, só esta
noite, Lizzie, por favor, confie em mim.
- Eu confio... Eu nem acredito que você
nos trouxe aqui em segurança e ainda atacou praticamente sozinha aqueles
zumbis. Você parece a versão feminina do rambo. Dá quase pra acreditar que você
é uma espiã secreta - falou Lizzie, sorrindo - Mas eu estou com medo, gostaria
que ficasse comigo.
- Isso não tem graça, Lizzie – disse Lex, retribuindo com um forçado sorriso. – Eu te amo, sabia, irmã? Você é muito especial pra mim. Quero que se lembre disso. Você é forte. Se algo acontecesse comigo, eu tenho certeza de que continuaria lutando. Você é uma lutadora... sei que é...
- Não, não sou. – disse Lizzie, sem
perceber que a voz de Lex estava embargada. – Eu morreria rapidinho sem você.
Mas estou cansada demais para teimar. Fique aqui, se quiser... nos vemos amanhã...
Quando Lizzie finalmente desceu, Lex
fechou a porta. Caminhou pelos corredores do supermercado no meio da escuridão
e se sentou chorando no meio de um deles. Não queria morrer, não queria, mas
não tinha outra alternativa. Se continuasse viva, transformar-se-ia numa
daquelas coisas. Talvez machucasse sua própria irmã.
Não... não poderia deixar que isso acontecesse.
Tirou a Beretta da mochila novamente e
colocou o cano na boca. Tinha o dedo sob o gatilho, mas por alguma razão, não
apertou e largou a Beretta no chão.
- Só mais uns minutos... – falou ela
para si mesma. – Eu quero aproveitar todos os minutos que me pertencem... todos
os minutos.
Ela deixou-se deitar no chão, sentindo as lágrimas extravasarem. Sentia falta do Sr. Trevor. Ele saberia o que dizer ou fazer. Queria que ele pudesse estar ali, abraçando-a, consolando-a. Dizendo-lhe que tudo iria ficar bem. Pensava nele, os pensamentos focavam-se nele como se ele fosse o ar que ela respirava e antes que pudesse controlar seu próprio corpo, sentiu as pálpebras pesando e adormeceu...
- Você deve ter vigiado o sono, mana!!! – falou Lizzie, dando um tapinha nas costas de Lex que se levantou num impulso – Calma... está tudo bem.. só ‘tava’ tirando um sarrinho. Achei que iria te encontrar acordada.
Lex estremeceu, sem saber direito o que
estava acontecendo. Olhou para o alto e viu que o sol entrava pelos janelões,
cerca de três metros do chão.
- Já é manhã? – perguntou Lex,
agarrando o pulso de Lizzie com força – JÁ É MANHÃ, LIZZIE?
- Já... já... ‘tá’ de mal humor é?
Deveria ter dormido lá em baixo... tem uns colchões... O cheiro é bem ruim, mas
é confortável, pelo menos.
Lex levantou-se, agarrou a Beretta que
estava no chão e se afastou, sumindo num dos corredores.
- Mana? Mana? – ficou Lizzie a lhe chamar, mas ela continuou, despistando a irmã. Quando achou um canto, sentou-se e ergueu a manga. A mordida ainda estava lá. Estava feia, parecia infeccionada, mas estava bem melhor do que no dia anterior. Era uma mordida. Com certeza. Com 100 por cento de certeza era uma mordida. Sentiu quando os dentes apodrecidos daquele zumbi enterraram-se em seu pulso. Como então, ela estava viva? Como ela poderia estar viva e bem? Lex olhou em volta, tentando em vão pensar e achar uma resposta para tudo aquilo, mas sabia que só havia uma.
Lembrava-se da carta de Amanda
Lanister. Lembrava-se da história que Trevor lhe contara. Paris Lanister tinha
câncer, mas Lanister fizera várias experiências que pareciam cruéis aos olhos
de uma mãe. Mas se Paris Lanister estivesse viva, isso indicaria que as
experiências haviam de fato curado o câncer de Paris. E talvez, aquelas
experiências tivessem criado alguma mutação genética em Paris Lanister.
Lex sempre foi frágil e superprotegida
por Teddy. Mas sobreviveu quando foi brutalmente atacada há três anos atrás.
Além disso, de fato, ela não teve dificuldades em fazer o treinamento de
Agentes. Era como se aquilo tudo fosse natural para Lex. E quando realmente
precisou, descobriu-se forte, uma guerreira preparada para tudo. E se...
Lex sentiu dificuldades para respirar diante de um pensamento tão infame. Entretanto, era a única explicação para o que acontecia. Algumas informações naquela pasta que Jack Trevor possuía poderiam estar corretas. Talvez Lex fosse mais do que imaginava ser. Talvez por isso, Abraham Smith havia pedido para Briam para leva-la com vida até a Cidadela.
Fechou os olhos, mais para tentar se acalmar do que qualquer outra coisa, mas um pensamento, uma reminiscência qualquer de memória lhe veio à mente.
Estava deitada numa cama, não... numa
maca de hospital. Ela tinha cinco anos de idade e chorava de dor. Queria
arrancar a agulha presa em seu pulso, mas uma mão a impediu.
- Não, filhinha... – disse Lanister, passando a mão nos cabelos de Lex. – Eu sei que dói... mas vai passar logo, meu amor. E você vai ficar bem... vai ficar bem como nunca esteve. Nunca mais vai ficar doente, eu prometo.
- Dói, pai... dói muito!
- Eu sei, querida... sei que dói...
Lanister se aproximou e ela se
aconchegou em seus braços.
- Eu te amo, meu amor... me perdoe por isso... Vai dar tudo certo, Paris... vai dar tudo certo, minha filhinha.
- Lex? Lex? Está tudo bem?
Quando Lex abriu os olhos, viu Lizzie
preocupada ajoelhada diante dela.
- Eu lembrei, Lizzie... lembrei do meu pai... do Lanister... eu sou Paris Lanister... eu sou Paris Lanister, Lizzie...
ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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