quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A ERA DOS MORTOS - 20


CAPÍTULO 20

Lex olhou novamente o enorme arranhão nas costas. O espelho revelava que não era profundo, mas escorria sangue e parecia estar infeccionado.

Em sua cabeça, um turbilhão de pensamentos assolava sua razão, mas sabia que não havia mais nada a fazer. Sabia qual era a sua sentença: como Molly, ela precisava morrer.

Respirou fundo, mais para tomar coragem do que por necessidade. Sentia-se bem. Nada que indicasse que em questão de horas ela se transformaria numa morta-viva. Vestiu novamente a camisa, abotoando os botões de dois em dois. Enquanto o fazia, Lex percebeu que seus dedos tremiam. Estava nervosa e seus olhos lacrimejavam sem permissão. Quando terminou, abriu a porta e enfiou o rosto para fora. Trevor falava com os três agentes que agora estavam acordados. Toni já dormia numa das camas, completamente exaurido pelas 24 horas que passaram no esgoto e Andreia consolava Cindi que choramingava com saudades da Molly.

- Sr. Trevor? – falou ela, para chamar a atenção dele, mas todos os outros olharam para ela também. – Sr. Trevor, o senhor poderia vir aqui por um minuto?
Andreia franziu o cenho, desconfiada da atitude de Lex. Por outro lado, os três agentes sorriram com malícia, imaginando o motivo de uma moça estar chamando Trevor para o banheiro feminino.

- Tudo bem, Alexia? – perguntou Trevor, visivelmente preocupado com o chamado de Lex.

- Por favor, eu preciso da sua ajuda aqui! – falou ela, tentando controlar o desespero que tomava conta do seu ser.

Ele resolveu vir e quando passou pela bateira da porta, Lex fechou-a atrás dele.

- O que está acontecendo, Alexia? Você está bem? Está passando mal?

- Antes que pense mal de mim, quero que saiba que não é o que você está pensando! – desatou ela a falar, desabotoando novamente a blusa.

- No momento, estou cansado demais para pensar algo. – agulhou ele, preocupado – Mas imagino que esteja abalada com tudo o que aconteceu. Antes de fazer qualquer besteira, há remédios aqui para controlar qualquer surto... 

- Sr. Trevor, eu não estou surtando! – falou ela, aborrecida.

- Então o que diabos v...?

Ela arrancou a camisa, sem paciência, ficando apenas de sutiã.

- Alexia... o que você está fazendo.....?

Então ela se virou. Houve alguns segundos de silêncio entre ambos. E foi Lex quem o quebrou:

- Eu fui arranhada! – declarou ela, tentando controlar a respiração. – Fui arranhada, senhor. Vou virar uma daquelas coisas agora!

O senhor Trevor se aproximou. Puxou-a pela cintura e Lex pôde sentir a pressão de seus dedos sobre suas costas.

- Você pode ter se arranhado nos túneis, quando pulou no bueiro.

- O senhor sabe que não... o senhor viu quando aquele zumbi me pegou de jeito. Eu fui arranhada, senhor....

Ele se curvou para verificar melhor o ferimento. Com habilidade, desencaixou a trava do sutiã e tirou a peça de ambos os braços, deixando-o cair ao chão. Depois disso, puxou Lex para mais perto dele.

- Que droga, Alexia! – falou ele, respirando profundamente. – Não dá pra saber... Não há material de análise aqui... E você pode ter se ferido na explosão. Você queimou seu braço, pode ter se arranhado então...

Lex levantou o braço esquerdo e viu então uma queimadura - pequena para o tamanho do fogo que a consumiu no momento da explosão. Pensou com um certo alívio que talvez Trevor tivesse razão. Talvez o arranhão fora em consequência da explosão, ainda assim...

- O Senhor matou Molly! – falou Lex num tom de acusação, mas não era o que ela pretendia dizer, ela sabia que era necessário. As palavras nem sempre saem como queremos...

- Eu não vou matar você! – declarou ele, afastando-se dela.

- Desculpe-me, senhor Trevor! – falou ela, virando-se. Só então percebeu que estava nua e tampou com os braços os seios à mostra. Seus dedos se alongaram o suficiente para cobrir uma velha cicatriz que tinha embaixo do seio direito, na altura do estômago. Era estranho estar assim, tão exposta diante de um homem, mas de alguma maneira, sentia que poderia confiar nele, só não queria que ele visse suas cicatrizes. Não queria despertar mais pena do que já comumente despertava – Não quero me transformar numa daquelas coisas. Se tiver a mínima chance de eu ter sido infectada, prefiro morrer...

- Com Molly foi diferente. Eu tive certeza de que ela fora infectada. Com você, não há como saber, Alexia!

- Mas, Senhor Trevor... – implorou ela, sentindo os olhos arderem. – Eu não quero virar uma dessas coisas e machucar alguém...

- E não vai! – falou Trevor, aproximando-se para colocar uma das mãos nos ombros de Lex. – Vamos fazer assim, Alexia: vamos deixar Toni, Andreia e Cindi dormirem nas camas e você vai dormir ao meu lado no chão. Ao menor sinal de que você está se transformando, eu juro que mato você. Estarei com o meu revolver preparado durante todo o tempo.

- E se demorar.... e se o senhor dormir? Está cansado! Todos nós estamos!

- Eu não vou dormir, Alexia! Eu já fiquei muito mais tempo sem poder dormir. Não se preocupe. Eu vou sair agora. Quando sair, não diga a ninguém que está ferida! Não queremos gerar pânico desnecessário.

Quando Trevor saiu do banheiro feminino, Lex revolveu tomar banho. Enquanto se lavava, percebeu que o sangue escorria pelo corpo. Enxugou bem as costas com uma toalha que ficou manchada de sangue, mas percebeu que o sangue parou logo de escorrer. Escolheu roupas pretas no armário e se vestiu. Quando saiu para o dormitório, percebeu que as luzes já estavam apagadas. Todos já estavam em suas camas e percebeu que o Sr. Trevor havia ajeitado um colchão no chão. No seu lado, havia um espaço para Lex, com um travesseiro preparado para ela. Antes de se deitar ao lado dele, entretanto, ela hesitou. Se ela se transformasse, ele seria a sua primeira vítima.

- Deite-se, Alexia! – ordenou ele, indicando com a mão, o espaço ao lado dele.

Ainda titubeante, ela se deitou de frente para ele. Agradeceu por estar escuro, ou ele veria que ela estava enrubescida pela situação em que ela se encontrava.   

- Não se preocupe! Vigiarei seu sono durante toda a noite, Alexia! – sussurrou ele.

Ele colocou uma das mãos em seu ombro e ela, inconscientemente, aproximou-se dele, encolhendo-se próxima de seus braços. Ela não tinha medo dele. Ele era um homem poderoso, autoritário e amedrontador, mas realmente não tinha medo dele, não como tinha de Brandon. Por três anos, ela evitou qualquer contato, até mesmo de estar na presença de um homem e agora, com Trevor, ela secretamente ansiava por estar na sua presença. Acabara de se despir na frente dele e não se sentiu mal, nem teve qualquer medo ou surto psicótico.

Aquilo era surreal. Ela poderia se apaixonar por qualquer pessoa (sobrevivente) naquele mundo pós-apocalíptico, mas não Trevor. Não o "Senhor da Fortaleza". Ele era perigoso e ela sabia que poderia se ferir deixando aquele sentimento tomar conta de seu coração. 

Contudo, o medo e a suspeita de uma contaminação pressionaram ainda mais seus sentimentos e mesmo sabendo que o melhor era se afastar, mais vontade tinha ela de se sentir aconchegada pelos braços de Jack Trevor.

Escutou o barulho da respiração dele e mesmo sem levantar os olhos para ele, sabia que ele a vigiava. Ela estava cansada, exausta pelo dois dias agitados e sem dormir. Queria poder ficar alerta, evitar que algo desse errado, mas suas pálpebras começaram a pesar e antes que pudesse controlar o próprio sono, fechou os olhos...


Quando era apenas uma menina, Teddy MacNichols costumava levar Lex e Lizzie para uma casa de praia nos arredores da capital. A casa em que passavam o verão não era grande, pelo contrário, era talvez um pouco maior que um casebre. A mãe e Lizzie não gostavam muito daquela casa, pois a praia estava sempre deserta, não era muito badalada. Lex, entretanto, amava cada dia que passava na companhia de seu pai, pescando num trapiche a beira do mar que ali era tão calmo quanto uma lagoa. Não havia muito espaço na areia e a maior parte da encosta era de pedras, mas para quem soubesse nadar, era um excelente recanto. Depois de pescar durante todo o dia, Lex pulava do trapiche e nadava por longos metros. As vezes, Teddy a acompanhava, embora não tivesse tanta destreza quanto ela na água. Naquela época, parecia que o mundo inteiro não existia, apenas ela e o pai, na beira do mar...

De alguma forma, estava ali novamente. Seu pai havia acabado de pular na agua e a chamava, mas ela preferiu estender uma grande toalha a beira de uma árvore, um salgueiro-chorão grande e bonito, cujos galhos quase tocavam a agua. Dali, ela podia observar as brincadeiras do pai na água e escutar os barulhos da natureza que acalmavam sua alma. Os pássaros piavam e dançavam no ar, o vento mexia com as folhas das árvores e a agua batia calmamente nas pedras da encosta. Nada era tão pacífico, tão perfeito quanto aqueles sons.

Escutou então o grito do pai e quando olhou para o mar, não o vira. Achou que ele havia mergulhado e que emergiria a qualquer instante, mas passaram-se alguns segundos sem que ele aparecesse. Ela levantou-se preocupada, protegendo os olhos do sol que batiam forte em seus olhos, tentando divisar alguma coisa na agua. De repente viu que no lugar onde seu pai estava um minuto atrás havia uma grande mancha vermelha.

- Pai? Pai? – gritou ela, desesperada e se jogou na agua nadando rapidamente até o ponto em que deveria encontra-lo.

Mergulhou profundamente e viu que no fundo seu pai boiava como se estivesse afogado. Ela forçou o corpo para o fundo e quando estava prestes a alcança-lo, Teddy abriu os olhos num olhar demoníaco: era um zumbi...

Lex acordou assustada. Já era manhã, mas todos que estavam no dormitório estavam dormindo, com exceção de Jack Trevor que havia sumido. Lex tentou levantar-se, mas sentia-se mal. Suas costas latejavam.  Com dificuldade, escorou pela parede até o banheiro feminino. Quando se olhou no espelho, percebeu que havia algo errado. Estava pálida, com olheiras fundas e escuras e a órbita dos olhos um pouco avermelhada. Ergueu a camisa para olhar as costas. O arranhão havia piorado. A pele ao redor estava enegrecida, como se estivesse necrosada.

- Está pior, não é? – falou Trevor, que havia aberto a porta do banheiro.

- Onde o senhor estava? O senhor disse que ficaria vigiando meu sono! – reclamou ela, aborrecida com ele.

- Já faz mais de dez horas, Alexia. Você não vai virar uma morta-viva. Só está com infecção. Só isso!

- Mas olha pra mim! Eu já pareço uma zumbi!

- Não está assim tão ruim! E para a  sua informação, foi por isso que eu sumi. Eu desci até o reservatório de remédios. Por sorte achei “amoxicilina”. Irônico, não? Foi o que Brandon mandou Nilson achar naquela maldita farmácia, segundo Malvino me contou. – disse ele, tirando do bolso uma cartela. Ele abriu uma capsula e deu a pílula para Alis. – Segundo as instruções, você deve tomar isso de 12 em 12 horas.

- Acha mesmo que é só uma infecção? – perguntou ela, engolindo imediatamente o remédio.

- Claro! Bio falou que o tempo récord de transformação num caso de um leve arranhão é de 4 horas. E o seu arranhão não teve nada de leve, não é? Se você fosse se transformar, já o teria feito. Não se preocupe, Alexia... você vai ficar bem... Tenho certeza agora que você deve ter se ferido na hora da explosão ou em algum outro momento – disse ele, num tom tranquilo.

Lex achou que o sr. Trevor tinha razão. Ela não havia sido infectada. Provavelmente se ferira durante um momento de agitação e, com a adrenalina elevada, ela não percebeu. Lex não desejava morrer, tinha sua irmã para proteger, mas não gostaria de se transformar num monstro, e isso a abalou a ponto de querer que ele a matasse.  
- Obrigada, Sr. Trevor... – falou ela, olhando com ternura para ele. Ele sabia meter medo em qualquer um, mas também sabia ser gentil e preocupado quando queria – Se não fosse pelo senhor, eu talvez tivesse me matado na noite passada e seria totalmente em vão.

- De fato, menina... – sorriu ele, exibindo os dentes bem alinhados.

- Menina... – repetiu Lex, sentindo-se incomodada pelo jeito que ele a chamou. Achou que o “Bebê” de Malvino, Nilson e os outros agentes não a incomodaram tanto quanto o ‘menina’, proferido pelo sr. Trevor.  

- É o que você é, Alexia: uma menina! – falou ele, incognitamente, sem que ela pudesse compreender o que ele queria com aquilo. – Não fale a ninguém que você está ferida, pelo menos, até estarmos na fortaleza! Não queremos criar pânico desnecessário por conta de suspeitas infundadas. Agora venha! O helicóptero já está pronto para partir.

- Helicóptero?

Lex nunca antes havia estado num helicóptero e muito menos andado em um. Cindi estava tão empolgada quanto ela, ambas coladas à janela, cada qual de um lado, tentando apreender o mundo lá embaixo. Andreia e Toni, sentados no meio, já não estavam tão animados assim. Pelo contrário, ambos pareciam ansiosos e Lex não sabia se era por conta da viagem de helicóptero ou de estarem embarcando em um novo mundo: a fortaleza Trevor. A fortaleza era sinal de conforto, de segurança, mas havia muitas regras e um só rei: Jack Trevor, que no helicóptero já se portava como tal, sentado ao lado do piloto, dando ordens pelo headset.


Havia milhões de motivos para que Lex não se apaixonasse por ele. E, no entanto, o simples fato de estar sentada atrás dele, observando cada comando, cada movimento, já cativava seu coração. O que sentia era muito forte, como nunca antes se sentira na vida. Ele fora seu algoz. Ele a ameaçou, quase tirou sua vida. Era um homem autoritário, turrão, brutamontes, até. Em outros momentos, um perfeito cavalheiro, sempre preocupado com a sua condição. Ah, se ele soubesse!, suspirou Lex, sem poder conter os próprios sentimentos.


- Alexia!!! – gritou o Sr. Trevor, para chamar sua atenção. O barulho das hélices era muito grande. – Olhe, é a mansão Lanister!!!

Lex olhou para onde Trevor apontava. De fato, era a mansão Lanister, no alto da colina. O pátio da mansão que antes era belo e garboso agora virava palco de mortos vivos que perambulavam de um lado para outro.

- O senhor acha que Lanister pode estar vivo? – gritou Lex, de volta, colocando a mão sobre o ombro de Trevor.

- Talvez.

O helicóptero fez uma curva e Lex pode contemplar o seu antigo bairro. A visão era aterradora. A quantidade de mortos vivos que se concentravam em certas ruas era absurdo. Não imaginava que poderia haver sobreviventes. No caso de Cindi, Toni e Andreia, achou que fora pura sorte estarem num lugar com um grande estoque de comida, onde as janelas eram gradeadas e as portas reforçadas. De outra forma, não haveria mais nenhum sobrevivente.

Continuando para o norte, Lex pode logo ver de longe a fortaleza Trevor e sua torre negra despontando no céu. Era estranho pensar assim, mas ver a fortaleza, deu-lhe a estranha sensação de que enfim, retornava para o lar...

Como Dorothy voltara para o seco e sem graça Kansas no “Mágico de Oz”, Lex retornava para a fortaleza com outros olhos. Ali, naquela casa de pedra, onde a vida era dura, o alimento escasso e o perigo presente através da figura do Dr. Brandon, Lex ficava perto do Sr. Trevor, servia como uma agente e sua irmã estava relativamente segura. E isso, naquele mundo apocalíptico, era o que lhe bastava. Era seu lar, seu lugar, seu abrigo. Por isso, quando o helicóptero enfim tocou o chão na mais alta torre da fortaleza, Alexia sorriu, fechando os olhos. Mordeu os lábios inferiores, pois o fazia quando estava contente e quando abriu novamente os olhos, divisou o rosto do Sr. Trevor a observando.

- Chegamos! – falou ele, e parecia que, também para ele, era bom estar de volta.

As hélices demoraram alguns segundos para pararem, mas enquanto diminuiam a velocidade, o Sr. Trevor saiu e abriu a porta de Lex, estendendo o braço para ajuda-la.

Lex ergueu sua mão e tocou a dele e algo especial ocorreu. Uma transferência de energia, um sentimento peculiar, Lex não sabia direito como descrever, mas tocar na mão do Sr. Trevor, ali, na fortaleza, fazia ambos emitirem energias diferentes. Ela o olhou nos olhos e se aproximou, ainda sentada no helicóptero, pois ali ficava do mesmo tamanho que ele.

- Sr.Trevor... – balbuciou ela, tocando o rosto dele com a outra mão,  passeando com os dedos sobre sua têmpora e fazendo uma pequena carícia nos seus cabelos negros. – Eu preciso lhe dizer algo...

Ela aproximou-se e tocaria seus lábios quando escutou uma voz grave:

- JACK!! – Era a voz de Casper, do Frank Casper, o irmão mais velho, um dos agentes especiais. E ao chamar a atenção de Trevor, Casper rompeu com o clima mágico que havia se instaurado entre os dois.

- Venha! – disse o Sr. Trevor, tirando Lex do helicóptero delicadamente. Pelo outro lado, o piloto, um dos agentes que estava no prédio da Trevor & Associados, trazia Cindi no colo e Andreia e Toni ao seu lado.

- Meu Deus! Juro que imaginei que havíamos perdido você, chefe! – disse Casper, aproximando-se para dar um abraço no Sr. Trevor. – Malvino falou que vocês – e nisso Casper olhou para Lex com um olhar acusador - foram rodeados por mortos-vivos. Eu tive que colocar o filho da puta covarde na cadeia por um tempo, agora acho que vou deixa-lo ainda mais tempo, sabendo que havia como salvá-los.

- Ele se apavorou! – contou Trevor. – Essa não é uma atitude de um agente. Rebaixe-o de Nível também.

- E os outros? – perguntou Casper – Nilson era um excelente agente.

- Morreram todos! – explicou Trevor – Aquele lugar era uma maldita arapuca, infestada de mortos-vivos. Era uma missão suicida. Preciso falar com Brandon urgente sobre isso.

- Bom... sobre isso – disse Casper, olhando feio para Lex, que desconfiou de que algo não estava certo – Precisamos conversar lá no laboratório. É urgente! Descobrimos algumas informações que você precisa processar.

- Do que se trata? – perguntou Trevor, atiçado pela curiosidade.

- É melhor discutirmos lá embaixo. – Casper olhou de soslaio para Alexia. Até mesmo o Sr. Trevor voltou o olhar para ela.

- Algo errado? – insistiu Jack, olhando novamente para Casper.

- Algo muito errado! – disse Casper suscintamente, deixando o mistério no ar.

- Certo! Irei em seguida... vá na frente! – disse Trevor e depois virou-se para o Piloto do Helicoptero – Anderson, entre também. Leve os sobreviventes até Barbra, depois volte para buscar os mantimentos. Eu preciso ficar alguns segundos a sós com a Srta. MacNichols.

- Certo. – concordou Anderson, sumindo com Cindi, Andreia e Toni escadas abaixo, mas Casper ainda ficou alguns segundos ali parado olhando para os dois.

- Você escutou o que eu disse, Casper? – perguntou o Sr. Trevor, de um modo bem autoritário. – Preciso conversar com Alexia a sós.

Casper olhou desconfiado para Alexia, antes de responder:

- Sim, Senhor! – concordou Casper e saiu em seguida pisando firme com os coturnos.

- Parece que algo muito grave aconteceu! – opinou Lex quando ficou a sós com o Sr. Trevor.

- Sim... mas há sempre algo grave acontecendo – falou o Sr. Trevor aproximando-se de Lex. – O que eu quero falar é sobre o que aconteceu há alguns minutos, antes de Casper nos interromper.

- Sr. Trevor, eu... – disse Lex nervosamente, esfregando as mãos.

- Você se apaixonou por mim! – explicou o Sr. Trevor, calmamente.

Lex arregalou os olhos, ainda mais nervosa. Abriu e fechou os olhos, mas nenhum som saiu de sua boca.
- É normal isso acontecer, Alexia! – falou o Sr. Trevor, como se ela fosse uma adolescente. – Você perdeu seus pais, tem vivido situações de muito estresse e acabou transferindo sua afeição para mim, porque eu a tenho protegido.

- É mais do que isso! – reclamou Alexia, espalmando suas mãos no peito do Sr. Trevor. – Eu amo o senhor. Tenho amado já algum tempo, mas tem ficado cada vez mais claro para mim que o senhor representa muito para mim. É mais do que meu protetor. Eu tenho querido ficar na sua presença, ainda que o senhor me assuste algumas vezes.

- Alexia. Você é jovem, inexperiente e psicologicamente abalada, e você sabe disso. A situação estava cada vez pior a nossa volta. É óbvio que isso poderia acontecer.

- Não sente nada por mim, então? – perguntou ela, com a voz quase inaudível, com medo da resposta que o Sr. Trevor poderia dar.

- Você não tem ideia do quanto eu gostaria de me confortar em você, mas eu seria um idiota se eu fizesse isso. Você não me ama, pois não me conhece. Não sabe do que sou capaz. Eu não sou um homem romântico, não sou o seu príncipe encantado e essa fortaleza não é um castelo. Eu sou um monstro, Alexia, e você deveria se afastar de mim ao invés de querer se aproximar. Posso ser um canalha, mas não vou me aproveitar da sua fragilidade.

Lex franziu o cenho, compreendendo o que ele queria lhe dizer, mas não teve coragem de lhe responder algo. Sentia-se envergonhada demais e por isso se afastou, tirando suas mãos dele.

- Ótimo! Sei que você deve estar carente e deve procurar se relacionar com outras pessoas, mas tenha em mente a precaução, Alexia, para não se deixar iludir pelo que ‘acha’ que está sentindo. E talvez deva procurar algum rapaz da sua idade. Como Briam... ele parece gostar de você...


Lex queria dizer ‘É o senhor que eu amo e estou certa do que estou sentindo’, mas nada saiu de seus lábios. Ela ficou parada, observando enquanto ele descia as escadas, entrando na fortaleza depois de ter partido seu coração.




ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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