segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A ERA DOS MORTOS - CAPÍTULO 19


CAPÍTULO 19



 

      Cindi chegou de repente, interrompendo a conversa que Jack e Lex gostariam de continuar. Lex sentia que havia ainda muitas coisas entre eles e talvez sempre houvesse, mas aquela explicação do Sr. Trevor a fez admirá-lo ainda mais. Sabia que ele poderia ser cruel e brutal, mas também sabia que ele tentava o melhor para todos e carga de ser o centro de tudo, de deter tal poder deveria ser extremamente estressante.

A menina parecia muito aborrecida, com lágrimas nos olhos, parecendo muito agitada. Percebendo a angústia da menina, Lex se ajoelhou para ficar do tamanho dela:

- Tudo bem, Cindi? – perguntou Lex, tirando uma sujeirinha do rosto dela, com o polegar.

- Minha mãe está ali na rua. Ela fica andando para lá e para cá. Às vezes, eu vou no terraço e posso olhar pra ela. Se nós sairmos daqui, não vou mais poder ver minha mãe! – falou ela, choramingando.  – Não quero sair daqui, mas também não quero ficar sozinha!

- Oh, querida! – falou Lex, abraçando a menina – Você entende que sua mãe está doente, não entende? Entende que ela não é mais como era antes, não entende? – disse ela, tentando ser delicada. Como explicar a uma menina de 7 anos que sua mãe era um monstro que a comeria viva se ela duvidasse?

- Eu sei, ela tentou me morder... eu fiquei com medo e fugi! Mas é minha mãe... – explicou a menina suscintamente. Cindi era uma sobrevivente também, pensou Lex, olhando para a menina com um misto de admiração e pesar.

Em seguida, Lex olhou para Jack, esperando o apoio dele.

- Se você ficar aqui, não vai poder conhecer outras pessoas. E aonde nós estamos indo, há outras crianças que você poderá encontrar e brincar. – disse Trevor. Era óbvio que não poderiam deixar a menina lá, mas entre força-la a ir e convencê-la a ir, a segunda opção era bem melhor, principalmente em se tratando de uma criança.

- Outras crianças? – falou a menina, arregalando os olhos.

- Sim, não há muitas, apenas 34 crianças abaixo de quinze anos, mas você poderá brincar com elas. Deve haver umas três ou quatro crianças da sua idade! – falou Trevor, sabendo que aquilo havia atingido em cheio a disposição da menina a acompanha-los.

- 34 crianças? – perguntou Lex, surpresa com a informação. Ela mesma imaginou que deveria ter no máximo 20.

- As crianças estão com suas mães no dormitório feminino nr. 3 – explicou Jack, rapidamente.

- Então, eu vou... – disse a menina, segurando na mão de Lex.

- Eu guardei 25 latinhas de feijão, abacaxi, pêssego e milho enlatados. – falou Toni, entrando no aposento, esbaforido, trazendo uma mochila nas costas que parecia bem pesada.

- Tem certeza que não é muito pesado? Se você tiver outra mochila, eu posso ajudar a levar algumas coisas também! – falou Trevor, preocupado. Esperava que o sistema de esgoto estivesse livre de zumbis, mas se houvesse algum bueiro aberto, e geralmente havia, então eles poderiam encontrar mortos-vivos ali também. E se precisassem correr, Toni enfrentaria problemas.

- Não, é a única que achei. – falou Toni.

Molly foi a última a aparecer e trouxe dois hamburgueres bem caprichados que Lex e Trevor comeram com vontade. Todos os sobreviventes da Avenida Atlântida estavam ansiosos para sair, mas era óbvio na tensão que havia no ar, que também estavam receosos. Alternadamente, olhavam pela janela, vigiando o pôr do sol e os zumbis que faziam menção em entrar na viela.

Jack tentou desviá-los da situação perguntando coisas a respeito da av. Atlântida e da lanchonete. Conforme explicaram os funcionários - Toni, Andreia e Molly - o dono da lanchonete havia ligado um pouco depois que o pânico começou a abater sobre a cidade. Ele estava apavorado, tentando fugir de casa pois a filha adolescente dele havia se transformado após ter sido atacada numa balada e agora tentava ataca-lo. Depois disso, a rede de celulares havia caído e eles não tiveram mais contato com ninguém.

Quando eles terminar de contar a história sobre o dono da lanchonete, o sol já se havia posto e a viela onde ficava a saída dos fundos da lanchonete já estava na penumbra.

- Acho que já podemos ir! – falou Trevor, olhando pela janela. Só havia um zumbi perambulando por ali. Um dos olhos estava fora da órbita, pendurado ao rosto por um fino nervo. Era horripilante e o barulho de agouro que ele produzia era ainda pior. – Vamos ter que matá-lo com a faca para não chamar a atenção.

- É estranho! – Colocou Toni. – Os zumbis nunca vêm a viela.

- É porque estamos aqui. Os zumbis sentem o nosso cheiro. - explicou Trevor.

- Eu achei uma lanterna! – falou Andreia que parecia muito nervosa ao vasculhar uma gaveta da despensa.

- Quem ficar por último, fica com a lanterna da Andreia. Eu tenho uma lanterna para ir à frente. – recomendou Jack, preparando-se para sair.

- E quem vai ficar por último? – perguntou João, olhando na direção de Lex. – Porque eu não quero ir na retaguarda e acho que ninguém mais aqui tem treinamento. A moça pode ir atrás, não?

- Alexia virá comigo! – falou Trevor, num tom autoritário.

- Eu posso ficar para trás. – falou Lex, concordando com João. – É melhor que alguém fique para trás para cuidar da retaguarda e João tem razão: além do senhor, eu sou a única com algum treinamento.

- Eu não gosto disso! – disse Trevor, olhando para Lex. Os olhares que os dois trocaram foram intensos e inexplicáveis para Lex. Cada vez mais ela sabia que sentia algo por ele, mas não sabia exatamente o que era. E, principalmente, não sabia se ele se sentia dessa forma também. – Eu não vim até aqui pra te perder nesses túneis, Alexia.

- Não vai me perder, senhor! Eu não vou morrer, já lhe disse: sou uma sobrevivente – disse ela, sorrindo, para convencê-lo. A verdade é que ela se sentia nervosa e gostaria de ter tido mais treinamento. Imaginava o que ele poderia dizer, mas surpreendeu-se com o que ele fez em seguida. Ele se aproximou dela e deu-lhe um terno beijo na testa. Lex era tão baixinha que ele precisou se curvar um pouco. Ela segurou a respiração enquanto ele a beijava, sem conseguir mexer um músculo. Ele, depois que afastou o rosto para contemplá-la, colocou a mão sobre os ombros dela e lhe fez uma carícia com a ponta do polegar.

- Sei que tivemos as nossas diferenças. Espero que possamos sobreviver para resolver essas animosidades entre nós. – disse ele, sorrindo. Alexia também sorriu, mas sentia-se triste com a ínfima possibilidade de não sobreviver ou de perdê-lo. - tome cuidado, querida. – disse-lhe ele e depois, afastou-se dela - Certo! O plano é esse: eu matarei o zumbi e entrarei no bueiro. Assim que entrar, vocês devem correr e entrar atrás de mim. Eu vou esperar por vocês, mas devem ser rápidos.

- Certo! – responderam os outros.

A porta se abriu e um ar fétido invadiu a sala. Quando Trevor saiu, Toni fechou rapidamente a porta. Com a rapidez de um soldado bem treinado, Jack aproximou-se do zumbiu e enfiou uma faca no queixo da criatura zarolha, aniquilando-o instantaneamente. Em seguida, aproximou-se do bueiro. Esforçou-se para tirar a tampa do bueiro. Lex podia ver os músculos se contraindo em baixo do uniforme negro, na tentativa de levantar o pesado objeto.

- Tá levando muito tempo! – falou Toni, preocupado. Ele apontou para a entrada da viela. Havia uns três zumbis que se aproximavam, entrando na viela.

Jack por fim, conseguir deslizar a pesada tampa para o lado, e pulou para dentro.

- É agora! Vamos! – falou Lex, abrindo a porta.

Toni e Andreia foram os primeiros a sair. Depois foi Molly, levando Cindi no colo. A cozinheira segurou no braço da menina e a desceu. Provavelmente Trevor estava lá embaixo para amparar a menina. Quando Molly sumiu no buraco, Lex virou-se para João:

- Vai, João! Vai!

Lex trancou a porta na saída, atrás de João, caso precisassem retornar para a lanchonete. Quando se virou para correr para o bueiro, levou um susto, havia uma zumbi muito próxima dela. Ela usou o punho e acertou em cheio no seu nariz que entrou para dentro da face, quebrando a cartilagem e disparando pus e sangue para fora. Deu graças a Deus por usar luvas, pois se não usasse, talvez tivesse se contaminado com um arranhão.

Empurrando a morta-viva que caiu no chão desajeitada, Lex correu para a entrada do bueiro. Ela tencionava fechar a abertura, mas viu que era pesada demais para ela.

- Venha, Alexia! – gritou o Sr. Trevor do breu que havia ali dentro. – Não há tempo de fechar a entrada!

- Mas podem entrar alguns zumbis! – reclamou Lex, ainda lidando para deslizar o tampão, preocupada com os dois zumbis restantes que estavam muito próximos dela e havia outros entrando na viela.

- Alexia, não vai fazer muita diferença! Eu escutei barulho aqui embaixo. Já há zumbis aqui – falou ele, num tom que meteu medo em Lex. Imaginou que em algum momento, eles poderiam encontrar alguma daquelas coisas no sistema de esgoto, só não imaginou que seria tão cedo. – Venha!

Desanimada e tentando sair da vista dos zumbis antes que chamasse mais atenção, Lex pulou. Foi envolvida, novamente, pelos braços de Trevor que rapidamente a colocou no chão.

- Precisamos sair daqui rápido, há mortos-vivos por toda a parte! – disse ele, em seu ouvido. Ele acendeu uma lanterna acoplada ao coldre que usava no tórax. E passou à frente do grupo, liderando-os.

- Certo! – falou  Lex acendendo a lanterna que Andreia lhe deu com a mão esquerda, mantendo o revólver com a direita. O rifle, pendurado ao ombro em viés, no modo ‘normal’, como Malvino lhe explicara no dia anterior. Não havia feito muitos treinos com o rifle. Achou que seria melhor se usasse a Glock. 

O grupo começou a se mover, com Jack à frente. Lex esperou os outros passarem e ficou por último, andando de lado, parte concentrada à frente para não se afastar do grupo, parte focada às costas, que era sua responsabilidade.

Escutou um grito à frente e depois dois disparos com a Colt de Jack Trevor. Como o grupo continuou, ela também avançou e logo viu o corpo de um zumbi com o cérebro exposto, destruído pela Colt de Trevor.

Alerta, percebeu um movimento atrás dela. Dois zumbis, um homem e um menino aproximavam-se rapidamente. Usou a Glock, mas então percebeu havia outro homem aproximando-se.

- É melhor irmos rápido! – gritou ela, enquanto matava o terceiro homem. – O barulho está atraindo mais zumbis!

Eles andaram muito e por muito tempo e com certa regularidade era possível escutar os tiros de Jack Trevor à frente e de Lex na retaguarda. Ela esperava os zumbis estarem a uma distância considerável para atirar. Em determinado ponto, percebeu que ficou com somente 6 balas no tambor da Glock, sem nenhuma reserva. Resolveu guardar o revólver no Coldre e colocou a bandoleira em posição ‘patrulha’. O barulho do rifle era muito maior do que a da Glock, mas o poder de destruição era maior. Bastava apontar a massa de pontaria para algum lugar aproximado da cabeça dos zumbis para atingi-los e o estrago era muito maior. O cérebro explodia como se ela estivesse acertando uma maçã podre. Era horrível. Horrível andar na escuridão e ver aqueles rostos desfigurados e ainda mais horrível destruí-los como se fossem vegetais. Eram pessoas, eram serem humanos. Homens, mulheres e crianças que viveram, que tiveram felicidades e tristezas, que amaram e foram amados. E ela agora os destruía.

Ficou óbvio depois de algum tempo que estavam perdidos, pois passaram mais uma vez pelo homem e o menino que ela havia matado em primeiro lugar. As horas foram passando. Sem relógio, Lex contava perto de 10 horas. Na rua, o sol já devia ter surgido e eles continuavam a caminhar, ainda que estivessem desanimados e cansados. Vez ou outra, Lex escutava Cindi choramingar que tinha medo ou estava cansada. Era só uma menina. Uma menininha que não precisava estar passando por aquele horror. E talvez por Cindi, Jack Trevor sugeriu que parassem. Havia encontrado um lugar que era conector entre vários túneis.

- Não é muito exposto aqui? – perguntou Toni, apavorado com o que acontecia.

- Há várias rotas de fuga, se precisarmos. – explicou Jack, suscintamente.

Toni escolheu uma lata de pêssegos e, abrindo-a, dividiu com os demais. A princípio, a menina não quis comer, parecia muito abatida, mas Molly convenceu-a. Aquilo animou o grupo, mesmo com a sugestão de Andréia de tentar voltar para a lanchonete.

- Precisamos continuar! – falou Jack. – Se voltarmos, morreremos. Não haverá comida para sempre.

O dia foi passando enquanto eles exploravam os túneis fétidos do sistema de esgoto. João parava algumas vezes, analisava os corredores e então o grupo continuava. Em determinado lugar, encontraram uma escada que dava para um bueiro cuja tampa era gradeada. Jack então subiu para tentar ver alguma coisa, depois desceu parecendo mais animado.

- É Limoeiros! – falou ele, reconhecendo o bairro pelas antigas casas enxaimeis alemães.  – Se formos nesta direção, tenho certeza de que poderemos chegar a Palmeiras.

- Muito bem... vamos logo então! – falou João, visivelmente cansado. Era possível ler no seu tom de voz que ele estava arrasado por não ter conseguido achar a direção naqueles túneis escuros.

Andaram mais duas horas antes de chegarem a um trecho que João reconheceu e dali caminharam mais meia hora.

- É aqui! – falou João, apontando uma saída bem parecida com a entrada na viela: não havia escada e a tampa era pesada, cerca de 2 metros do chão.  – Já é noite! – constatou ele, ao ver pelos buracos da tampa algumas estrelas no céu.

- E como fazemos para sair? – perguntou Toni, desanimado. – Já foi difícil para o senhor Trevor abrir aquela tampa de cima, como faremos para abri-la por baixo?

- Granada! – falou Lex, ainda com um olho na retaguarda.

- Alexia tem razão! Vamos estourar a saída! Mas a granada deve estar próxima da tampa. Eu preciso de corda, alguém lembrou de trazer barbante? – falou Trevor, analisando a situação.

- Não, mas espera um pouco – disse Toni, tirando os dois cadarços do seu tênis. Juntando os dois, daria um pouco mais de um metro.

Trevor deu um pulo, grudando os dedos na grade do bueiro. Passou o fio por um buraco e pulou de volta ao chão. Amarrou a ponta na granada, de forma que ficasse firme o suficiente.

- Ótimo! Agora protejam-se atrás do corredor. Quando a granada explodir, devem cair escombros, mas também o barulho deve atrair muitos zumbis. Teremos que ser rápidos. Quando saírem, devem cruzar a praça e entrar na rua em que há um posto de Taxi na esquina. É o quarto prédio da rua.

- E se os escombros trancarem a saída? – perguntou Andréia, com medo daquele plano que envolvia granadas.

- Vamos esperar que tudo dê certo! – disse Jack, visivelmente nervoso.

Todos, inclusive Lex, afastaram-se de Trevor, usando a esquina do corredor por onde vieram como proteção.

Trevor pulou novamente, segurando-se na grade da tampa do bueiro. Tirou o pino da granada e correu para a esquina do corredor, abrigando-se do lado direito, ao contrário de Lex, que estava no lado esquerdo. Os dois ainda cruzaram olhares quando um grande estouro se fez ouvir.

Lex virou-se para o outro lado quando as chamas atingiram o corredor. Como ela estava mais próxima da esquina, seu braço pegou fogo e ela deve alguma dificuldade para apagá-lo. Por sorte, Jack surgiu por entre uma nuvem de fumaça e usou as mãos para extinguir o fogo que ameaçava consumi-la.

- PRECISAMOS IR!  - Gritou Jack, agarrando a mão de Lex. Havia muita fumaça no corredor da saída, mas Lex percebeu que a explosão havia criado uma grande abertura no teto e uma montanha de entulhos que facilitou a saída. Trevor puxou-a, segurou em sua cintura e a colocou na superfície. Foi então que ela percebeu que os outros sobreviventes já estavam correndo na direção indicada por Jack. Lex imaginou que eles haviam fugido enquanto ela tentava apagar o fogo do braço. Ela se virou, rapidamente, e ajudou Jack a subir para a superfície e os dois começaram a correr atrás dos outros. Não havia nem um quinto de zumbis que havia na avenida Atlântida, mas todos pareciam estar se aproximando da explosão e depois que viram os sobreviventes correndo por ali, resolveram segui-los.

Adiante, Lex ficou horrorizada. João havia sido abatido, zumbis comiam seu intestino. Cindi gritava alucinada, porque havia um zumbi mordendo o braço de Molly. Lex abandonou o rifle, empunhou a Glock e atirou, espatifando a cabeça do zumbi. O sangue atingiu o rosto de Molly que parecia estar em choque.

- VENHA! VAMOS, ALEXIA! – disse Trevor, segurando Cindi nos braços.

-Vamos, Molly! – disse Lex, tentando puxar a velha cozinheira, mas ela estava parada, em estado de choque – Molly!

Lex levou um choque quando algo atingiu Molly na cabeça e ela despencou no chão, enquanto Cindi gritava e se esperneava no colo de Trevor. Quando Lex olhou para ele, viu que seu braço estava em riste, com a Colt na mão.

- Agora, vamos! – falou ele, friamente, como se não fosse nada.

Apavorada e meio em choque, sem saber o que dizer ou fazer, Lex achou que o momento agora pedia por ação e por isso ela passou a correr atrás dele.

Entraram pela rua desesperados a correr, desviando dos zumbis que vinham em sua direção.

O prédio da antiga Trevor & Associados era o único edifício da rua. Não era tão grande, devia ter uns quatro andares. Os andares superiores ainda tinham a parede de vidro, com muitas janelas bonitas, mas o primeiro e o segundo andar haviam sidos modificados e reforçados para serem um forte. A porta de entrada, que no passado talvez tivesse sido de vidro agora mostrava um pesado portão de ferro gradeado, de forma que quem estava no interior, podia ver o exterior. Ao aproximarem-se, Lex percebeu que Toni e Andreia batiam desesperados na porta, implorando para entrar, mas não parecia haver nenhum movimento para abri-la. Quando chegou a porta, Jack entregou Cindi à Lex e bateu com força na porta.

- Sou eu: Jack Trevor. Deixem-nos entrar, homens! É uma ordem! – gritou ele e segundos depois, a porta girou para cima.

Andreia e Toni foram os primeiros a entrar, mas quando Alexia iria entrar, um zumbi a agarrou por trás, puxando-a com violência. Por sorte, o Senhor Trevor o chutou e puxou Lex e Cindi para dentro. Dois homens trancaram o portão no momento exato em que alguns zumbis o atingiam.

- Senhor Trevor? Que surpresa! Estávamos imaginando quando o senhor viria! – disse um terceiro homem.

Lex virou para observar quem era o homem que falava. Trevor e ele se abraçaram como se fossem velhos conhecidos.

- Casper! – falou Trevor, cumprimentando-o. – Como é bom vê-lo!

“Casper”, pensou Lex, analisando o tal homem. De fato, era mesmo muito parecido com o Casper que já conhecia. Devia ser o irmão que o senhor Trevor havia comentado. Ele também era negro, muito bonito e com uma presença tão marcante quando o irmão, mas o Frank Casper que já conhecia parecia ser mais imponente, mais alto, mais velho, mais musculoso e assustador do que este.

- O que fazem por aí, Senhor? Achei que tinha dado ordens para que nenhuma missão externa fosse realizada até termos mais informações.

- Foi um erro! – falou Trevor, olhando de soslaio para Lex. – Por sorte fomos acolhidos por alguns sobreviventes. Estes são Toni e Andréia e a menina é Cindi. São os sobreviventes. Vou leva-los a Fortaleza.

- E a bebê? – perguntou ‘Casper-irmão-mais-novo’, tomando a mão de Lex e beijando-a. – Olá, senhorita, sou John Casper.

- Olá, John! – respondeu Lex, tentando ser simpática. Ainda estava em estado de choque com a morte de João e Molly, principalmente a cozinheira.

- Não se preocupe! Está segura aqui! – disse John, confundindo o choque de Lex com medo.

- Alexia é uma exímia agente. Faz somente três dias que ela entrou para o grupo e já resistiu a uma missão externa. – explicou Jack, como se não tivesse acabado de assassinar Molly.

- Alexia... bonito nome! – disse Casper, ainda segurando a mão de Lex. – Admiro-a cada vez mais.

Lex puxou levemente a mão de John e sem dizer uma palavra aproximou-se de Toni e Andreia, onde colocou Cindi no chão.

- Cade a Molly? – perguntou Andreia, olhando para Cindi! – João morreu, nós não conseguimos salvá-lo. Elas estavam atrás de nós e depois nós as perdemos.

- Molly está morta! – respondeu Lex, ainda apática com o que acontecia. Toni e Andreia começaram a chorar. Cindi que também estava abaladíssima com a morte de Molly que, provavelmente era quem estava cuidando dela, abraçou Toni e Andreia e os três soluçavam juntos a morte da cozinheira.

- Amigos... – disse Trevor, aproximando-se deles. – Sinto muito pela morte de Molly. Foi uma fatalidade, mas não havia outra opção. – ele falou, olhando para Lex, como se quisesse dizer a ela o quanto sentia – Venham. Nós poderemos tomar banho, comer e descansar. Amanhã, partiremos para a fortaleza.

Lex segurou novamente Cindi no colo e os quatro seguiram Trevor que subiu por escadas. Passaram pelo segundo andar e antes de subirem o último lance de escadas, Lex percebeu que havia uma sala fechada, cuja porta ostentava uma placa com ‘Dr. Brandon’ nela escrito. Foi tomada de curiosidade, mas manteve-se calada, subindo as escadas. No quarto andar, percebeu que havia um pequeno dormitório, bem menor do que o dormitório nº 2 que ocupava. Havia seis camas e três delas estavam sendo ocupadas por agentes que acordaram no momento em que eles adentraram o recinto.

- Sr. Trevor! – disse um deles e os três endireitaram-se no mesmo instante.

- Descansar, homens! – disse Trevor. – Vamos dividir esse dormitório com vocês. – e virando-se para os quatro, informou. – A porta da esquerda é o banheiro feminino – que nunca é usado – então eu nem sei se funciona! O da direita é dos homens.

Lex percebeu que ele se referia a duas portas que havia no final do dormitório, exatamente como os dormitórios da fortaleza foram elaborados.

Lex e Andréia nem esperaram para ir ao banheiro, levando Cindi com elas. Era um banheiro bem pequeno, com apenas um chuveiro.  Havia um pequeno armário ali, com várias camisetas de algodão e calças de moletom.

Lex levou Cindi primeiro ao banheiro, auxiliando a menina a se lavar. Cindi estava pior do que elas, não pela sujeira, o que era um problema também, mas pelo estado psicológico. Enquanto Lex vestia na menina uma camiseta que encontrou e que mais parecia uma camisola, Andreia tomou banho.

- Eu levo ela, ajudo ela a dormir! – disse Andreia, puxando a menina para o dormitório, depois que havia se trocado. Então foi a vez de Lex. Ela tirou o rifle e colocou sobre o armário. Tirou depois o coldre, o colete e a granada que sobrou. Depois tirou a camisa e quando iria dobra-la, percebeu com horror que ela estava rasgada com manchas de sangue quase imperceptíveis. Com um pavor que nunca antes sofrera, resolveu virar de costas para um pequeno espelho na porta do armário. Havia um arranhão em suas costas que começava logo abaixo do pescoço e ia até quase ao cóccix. Um arranhão que poderia ter sido feito pelo zumbi que a atacou à porta da Trevor & Associados.

- Meu Deus! Não! NÃO!!! – gritou ela, ao ver que talvez se transformasse como seu pai: um arranhão bastou para tirá-lo dela e agora talvez ela lhe fizesse companhia no tormento eterno de devorar carne humana.



ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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