quinta-feira, 16 de outubro de 2014

ULTRAVIOLÊNCIA: Episódio 1x8- Separação




Cinco viaturas da polícia federal e uma ambulância se encontravam estacionadas em frente ao palacete da família Brandão. Ambos estavam lá devido ao sequestro relâmpago de Rebecca, que havia se transformado em notícia até nos tabloides internacionais. A dama foi clicada por fotógrafos e curiosos ao chegar à casa toda machucada. Seu marido foi o primeiro a recebê-la, ele pareceu muito surpreso em relação à agressão física que ela havia sofrido.

–Querida... Eu fiquei desesperado, coloquei diversos detetives particulares, inclusive a polícia federal para procura-la. –Pedro era quase convincente. –Olhe só o que fizeram com você...
–Ele me estuprou, me obrigou a comer minhocas e animais crus. –Rebecca estava totalmente abalada. –Como um ser humano pode fazer isso com o outro?

Pedro não conseguiu responder a pergunta da esposa. Naquele instante ele só queria matar seu capanga, mas houve uma surpresa em relação a todo o sequestro. Nino, o capanga sequestrador de Rebecca, chegou horas depois dela ao palacete, contando que um homem usando uma touca havia roubado o carro sedan e levado Rebecca consigo. Pedro ficou com mais raiva ainda e como consequência, sua esposa ouviu toda a conversa.

–Foi você que planejou esse sequestro? –Indagou Rebecca, que surgiu de surpresa atrás do marido.
–Rebecca eu não tinha a intenção de... –Ele foi interrompido pela esposa.
–Como você teve coragem de me machucar? Logo eu, que sempre te apoiei. Logo eu, que acobertei todas as suas falcatruas com um sorriso forçado. Logo eu, que aceitei suas traições no início do casamento. Pedro o homem me estuprou! Você tem noção de como isso é grave?!
–Eu sei Rebecca! Mas você me traiu e eu estava sendo ameaçado. Recebi fotos suas com um rapaz de dezesseis anos em um motel. Como você queria que eu agisse?
–Eu preferia apanhar de você, a ser estuprada.
–Rebecca entenda...
–Amanhã de manhã eu vou à delegacia de polícia contar todos os seus desvios de dinheiro para contas fantasmas no Malauí. Quero o divórcio.
–Você não pode.
–Não só posso, como vou.

Rebecca deu as costas a Pedro, mas ele a puxou pelos braços:

–Se você fizer isso, a Alessandra vai saber a verdade sobre a mãe biológica dela.
–Você não se atreveria.
–Quer testar?

“Fiquei sentado sobre uma pedra fitando a cabana queimar em meio aquele fogo. Juro que pensei em me matar ali. Me sinto sujo por ter estuprado a Rebecca. Apesar de ela ter feito tudo o que fez, sou melhor que ela. Deveria ter agido de outra maneira. Mas o que fiz, já está feito. O remorso passou quando os pensamentos do que eu iria fazer vieram a minha mente. Eu precisava voltar a Detroit, era a vez de acertar as contas com o Di Silva. Consegui fotos dele, da Rebecca e do Juiz em um sexo grupal. Se vazasse, ambos estariam ferrados. Mas como eu sou amante do sadomasoquismo, preferi voar de avião até Detroit e resolver as coisas do meu jeito.”.

Patrick desembarcou no aeroporto e pegou um táxi. Ele encostou a cabeça na janela do veículo e uma espécie de linha do tempo surgiu em sua mente. Toda a sua infância estava sendo reprisada como um filme. Seu cérebro reconstruiu a vida dele, como uma espécie de camuflagem. Patrick adormeceu em um sonho profundo, do qual o homicídio de seu pai não ocorreu. Tudo estava diferente do hoje. Ele estava casado com uma mulher desconhecida, vivendo no interior de Nova York, com três filhos e um emprego fixo. Carlos, Alessandra e Rebecca nunca haviam existido. Seus pais estavam envelhecendo juntos na velha casa onde passaram a vida em Detroit. Patrick nunca havia usado drogas, nunca havia se entregado a prostituição, nem provado do mesmo sexo. No fim do sonho, ele percebeu que tudo estava tão artificial, que sua vida real podia não ser perfeita, porém era sua vida.

–Ei senhor? –O dono do táxi sacolejou Patrick. –Chegamos.
–Oi? Onde? Ah... –Patrick acordou do sonho sorrindo. –Desculpe.
–Tudo bem senhor. Só quis avisar que chegamos e que a corrida custou...
–Vou pagar. Obrigado.

“Naquela tarde eu percebi o quanto o mundo poderia ser cruel. A perfeição pode te deixar tão louco quanto à imperfeição. Então devemos aceitar nossas vidas como elas são? Será que existe predestinação as consequências ou é tudo por acaso? Fiquei me perguntando como nós humanos podemos ser capazes de matar uns aos outros. Será por sobrevivência ou apenas por diversão? E os loucos, um dia serão curados? A verdade, é que o mundo é tão cruel quanto seus habitantes.”.

Patrick chegou ao escritório de Di Silva, porém foi notificado pela secretária dele que o mesmo havia saído mais cedo. Depois de tanto pressioná-la, o rapaz descobriu que o promotor distrital estava em um Motel na ilha de Manhattan com sua amante. Patrick descobriu o nome do Motel e seguiu em direção ao mesmo. A corrida custou oitenta dólares. Ele pagou e desceu do táxi. O Motel era de luxo, apenas homens “do dinheiro” o frequentava. Patrick jogou seu charme sobre o recepcionista gay e conseguiu uma chave extra do quarto onde Di Silva e sua amante estavam. O rapaz subiu de elevador, preparou sua pistola. Andou pelo enorme corredor. Destrancou a porta vagarosamente sem fazer barulho e em seguida a abriu. O quarto era grande e bem arejado. A cama estava toda bagunçada. O casal se encontrava na banheira fazendo sexo. Patrick abriu a porta do banheiro e apontou a pistola para Di Silva.

–Se eu fosse você deixaria para foder essa vadia de esgoto mais tarde. –Patrick tocou um dos seios da amante do promotor e continuou: –Se bem que ela é gostosa...
–Quem é você? –Indagou Di Silva, desesperado. –O que você quer? Nos deixe em paz!
–Abaixe esse tom de voz seu velho imundo! Vá vestir uma roupa e me espere na recepção do Motel.
–E ela?
–Ela fica. O assunto é entre você e eu.

“Entrei no carro do Di Silva e mandei a ele que fosse para um lugar reservado. O desgraçado tentou me enganar, tive que dar uns socos nele na metade do caminho, mas nada grave, afinal eu precisava dele comigo por um bom tempo. Sinceramente, não sei o que a palavra “reservado” significava a ele, por que fomos parar em um restaurante famoso no centro de Beverly Hills. Eu o olhei com aqueles olhos de repulsa. O coitado logo se encolheu de medo. Se bem que o Carlos tinha razão, fiquei mais intimidador com a cabeça raspada.”.

O garçom trouxe o cardápio, porém os anfitriões pediram apenas uma garrafa de vinho tinto francês. Patrick resolveu ir logo ao assunto, sem muita demora. Ele revelou a Di Silva quem era. Contou que assistiu o julgamento e que sabia do envolvimento de Rebecca. O promotor distrital arregalou os olhos demonstrando estar impressionado com tamanha inteligência e determinação do rapaz, que pareceu não desistir tão cedo de sua vingança.

–Isso foi há quinze anos... Eu e a Rebecca nem temos mais contato. O juiz morreu no final do ano passado. –Disse Di Silva.
–Não me interessa quantos anos fazem ou se o juiz morreu, o que me importa agora, é que você irá fazer o que eu mandar! –Exclamou Patrick.
–E se eu não quiser?
–Você vai querer. –Patrick tirou do bolso de seu casaco um envelope, contendo as fotos da orgia envolvendo a Rebecca, o juiz e o promotor. –Dê uma olhada nisso.
–Onde você conseguiu isso?
–Tenho meus contatos... Pode ficar com essa leva, eu tenho mais. Muito mais... –Patrick levantou da cadeira e deu a entender que seguiria para a saída do restaurante, porém Di Silva interviu.
–Onde você vai?
–Escrever um filme erótico, “A orgia no tribunal”, o que acha?
–Por favor... Faço o que você quiser.
–Agora sim estamos falando a mesma língua.

“Minha parte com o Di Silva estava resolvida, ele vai viajar ao Brasil no dia seguinte a procura de Rebecca. Vai ameaçá-la. Dizer que precisa de dinheiro, senão as fotos irão vazar. Um melodrama todo, só quero intimidá-la indiretamente. Afinal a vadia está frágil, nunca saberemos qual será a reação dela. Depois da conversa com o promotor, eu saí do restaurante e quando olhei para trás, me deparei com Carlos vindo na minha direção.”.

Carlos estava com uma expressão frustrada. Ele não parecia feliz em ver Patrick. Logo atrás dele, Josh se encontrava sentado em um banco. Naquele instante, Patrick percebeu que estava vendo Josh em todos os lugares fazia um mês, no início ele achou ser paranoia, mas naquele instante teve certeza de que estava sendo vigiado.

–Você mandou o Josh me seguir esse tempo todo? –Indagou Patrick, furioso. –Eu não acredito... Então por que me deu a porra da liberdade? Por que não veio comigo para o Brasil?
–Patrick, eu precisava saber dos seus passos, e o Josh era o único em quem eu podia confiar. –Argumentou Carlos.
–Saber dos meus passos pra que?
–Pra garantir que você não faria nenhuma besteira como fez há dois dias.
–Está se referindo ao sequestro da Rebecca?
–Estou me referindo a sua obsessão por essa mulher. Isso está doentio.
–Carlos, quando eu tinha cinco anos, eu perdi meus pais por causa dela...
–Chega! –Exclamou Carlos. –Eu não aguento mais ouvir a mesma história. Você não tem mais cinco anos! Você tem vinte e é um homem feito.
–Afinal, o que você quer com isso?
–Vem viver comigo? Vamos viajar o mundo. Conhecer os Alpes Suíços. Vamos ser felizes.
–E desistir de tudo o que eu consegui até agora?
–Você será mais feliz comigo do que passando a vida perseguindo essa mulher. Venha, eu te protejo. Eu te dou carinho, amor, como sempre dei.
–Eu gosto da Alessandra.
–Não... Você só está com ela por causa da Rebecca.
–Que seja Carlos! Eu não posso abrir mão disso.
–E pode abrir mãe de mim? Pode abrir mão de nós?
–Carlos... Não faça isso... Eu...
–Já entendi. Você escolheu, vou respeitar sua escolha.

“Ele me abraçou forte antes de ir e eu fiquei intacto. As lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos. Tive vontade de gritar, mas só o que fiz foi entrar naquele táxi e ir... Ir para o aeroporto... Ir para um mundo do qual eu escolhi pertencer. O Carlos tinha razão. Ele não fez nada. Eu fiz. Eu escolhi. E não vou voltar atrás, até conseguir o que quero, destruir a Rebecca.”.