– Mas... E se a Angélica perder? – Disse ele, pessimista, enquanto continuava ouvindo a explicação da amante. – Torça pra isso, meu amor. Pois se ela ganhar, eu só sei que eu quero desgraçar com ela, no dia mais feliz de toda a sua vida. Porque esse dinheiro vai ser todo meu. Eu vou ter prazer de ver ela ‘morrendo’. Já to cansada, Luigi. Cansada! Ela sempre era a preferidinha. Depois que nossa mãe morreu eu tive que a aturar, até ela se casar com você. E foi aí que fizemos o pacto: destruir ela juntos.
–
Será que você só pensa em dinheiro?
–
E você só pensa em sexo? – Ela o desafiou – Meu filho, você se casou com a
Angélica pra poder transar com ela quando quiser. Disso sei muito bem. Não
venha querer ter razão, pois não tem.
–
Tá, é verdade. Mas não vem ao caso agora. O que eu acho é que essa sua ideia de
matá-la no dia do concurso, se ela vencer, é claro, é muito... Equivocada. Por
que não esperamos pelo menos uma semana? Se ela vencer, temos muitos meses e...
–
Não. O nosso trato terá de ser esse. A chácara aguarda com todos os materiais
precisos, Luigi. Se ela vencer, é hoje ou nunca. Entendeu? Hoje ou nunca! Lembre-se:
poderemos ficar com toda a minha fortuna. Toda. Toda!
Ela se virou para o
lado, e riu da cena: uma mulher deixava cair um brinco no chão. A criancinha,
que devia ser o filho, foi pegar, mas não pôde. A mãe lhe deu uma tapa. O
moleque começou a chorar e ela pôs o brinco de volta.
O
desfile finalmente havia começado. As candidatas eram as mais belas. Afinal,
era um concurso de “Miss Universo”. Representando o Brasil estava Angélica
Waltsalles. Antes de a mesma entrar na passarela, para poder se exibir aos
jurados, sentiu que algo iria acontecer. Estava com um forte frio na barriga.
–
Representando o Brasil: Angélica Waltsalles. – Disse o apresentador do
concurso.
A mulher chamada paralisou ao escutar aquilo.
Não estava a fim de entrar. Mas um empurrão de outra candidata – Inglesa, por
sinal – Fez com que ela tomasse uma atitude:
–
Is you!
Parecia
estar destreinada. Mas não era motivo para os jurados não gostarem. Ao
contrário: era a primeira candidata realmente bela. Sua beleza era extraordinária
– Magnífica. Seu sorriso estampado lembrava Britney Spears, ou até mesmo Ellie
Goulding. Mas era Angélica. Angélica Waltsalles.
O homem segurava em
suas mãos um papel – O que mudaria o destino de uma das candidatas. Antes de
abrir, ele checou se todas estavam ali, ansiosas. E sim, estavam. Por fim,
abriu o envelope. Fez um suspense, mas soltou o nome da vencedora, ou a nova
“miss universo”.
–
Angélica Waltsalles.
Ela pulou. Gritou. Chorou. Fez tudo o que uma
ganhadora faria. Havia ganhado o concurso. O coração bateu forte na hora de
receber a faixa e coroa.
Aplausos
e fotografias foram o que não faltaram em sua saída até seu carro. Ficou cerca
de uma hora registrando o momento. Mas chegou a hora de ir para casa. Não
queria ir ao mesmo dia começar a fazer tudo que uma miss faz. Queria descansar.
Seu marido entrou na limusine e se sentou ao lado.
–
Sabia que você ia ganhar Angélica. Eu sabia!
O motorista observava cada gesto que o homem
fazia para ela.
Eles
foram para uma chácara. Num lugar tranquilo. Era escondido e sem qualquer
chance de os encontrarem. Mas claro que antes trocaram de carro. Limusine não é
de andar em estrada de chão. Pegaram uma Hilux.
O
marido, que dirigia, estacionou o carro na garagem da mansão escondida. Desceu
para abrir a porta a fim de que a esposa fizesse o mesmo. Angélica foi sorrir,
mas Luigi tampou sua boca.
–
Feche os olhos. Não há saída alguma, meu bem.
Ele a levou aos gritos
para uma cerca. Seu material era simples e firme: madeira e aço. Angélica
gritava, tentando se soltar. Mas não obteve sucesso. Ele a jogou contra a
cerca. Imediatamente a miss sentiu outra pessoa a amarrando. Finalmente estava
presa, e pôde ver quem era o outro ser que estava ao lado do marido.
–
Triste fim. Agora o dinheiro da mamãe vai ser todo meu, Angélica – Disse
Eliana.
–
Desgraçada. Você não pode!
– Claro que posso! E como posso! Mas enfim:
quem nasce tem que morrer, não é? Irmãzinha. Ah, como eu adoro te odiar.
–
Por que vocês me amarraram aqui, hein? Por quê?
Eliana soltou uma gargalhada.
–
Eu já ia me esquecendo do grande clímax. Isso daí é uma cama de gato. Mas...
Dói muito.
– O que você tá querendo dizer com isso?
O marido apenas observava. Mas Angélica
insistiu nas perguntas.
–
Vocês dois não valem um centavo do que comem. Um centavo! Desgraçados.
–
Chega! – Eliana gritou, antes de soltar um sorriso, a expressão que dizia
exatamente como ela estava: feliz por finalmente estar realizando seu plano.
Aproximou-se de Angélica, e lhe meteu uma bofetada. A irmã não podia se
defender. Afinal, estava presa pelas cordas.
–
Hora do show.
Eliana foi se
afastando assim como Luigi. Eram altos os gritos de Angélica, que ainda tentava
se soltar. A irmã da última encostou-se a um aparelho. Um receptor. Havia
apenas um botão. A enorme descarga elétrica que havia nos fios ligados até a
cerca poderia causar morte instantânea. Eliana voltou a olhar para Angélica.
Era o último adeus. Virou-se novamente para o receptor. Respirou fundo. Apertou
o botão.