terça-feira, 7 de outubro de 2014

ULTRAVIOLÊNCIA - Episódio 1x5: Cada vez mais fundo






"Aquele foi o momento mais excitante da minha vida. Eu havia me desprendido do Carlos e dos Estados Unidos, para ir atrás do que eu realmente sempre quis. O avião internacional da companhia Airlines voou mais alto do que nunca, assim como eu, que estava me sentindo o cara mais gostoso da primeira classe. Dias antes de eu embarcar, Carlos providenciou uma identidade falsa para mim. Agora eu só uso o sobrenome Suliver, que é da minha mãe. Foi criado um novo Patrick. Sou de origem sulista do Brasil, nasci em Curitiba e meus pais vêm de uma linhagem europeia. Nunca tive ficha criminal. Estudei a minha vida toda em escolas públicas. Meus pais morreram em um acidente de avião quando eu tinha três anos de idade, desde então fui criado pelas minhas tias. Eu realmente estava pronto para recomeçar. Após o avião ter aterrissado no aeroporto internacional de Guarulhos, eu desci, carregando duas malas de viagem. Usando um óculos escuro Ray Ban. Notei que várias mulheres fitavam meu corpo, que estava coberto por uma camiseta apertada e uma calça jeans larga. Peguei um táxi, e mandei o taxista me levar ao jardim Europa, era lá o meu destino.”.

As bebidas mais caras estavam sendo servidas no antro da mansão mais vigiada do Jardim Europa. Era aniversário de casamento dos donos do aço. Rebecca e Pedro posavam para as lentes dos fotógrafos, passando a imagem de casal feliz, apesar de não ser nada daquilo. Ela usava um vestido Armani vermelho e ele as roupas formais de sempre.

–Quando vou poder acabar com o sorriso congelado? –Indagou Rebecca, aos fotógrafos.
–Só mais um minuto dona Rebecca e a senhora... –O fotógrafo foi interrompido pela empregada da família.
–Dona Rebecca? Telefonema da sua filha. –Disse Leila.
–Graças a Deus, alguém me salvou desse momento ridículo.

Quando Rebecca levantou de sua poltrona para atender o telefone convencional da casa, Pedro a puxou pelo braço:

–Não gostei das suas últimas palavras.
–Você nunca gosta de ouvir a verdade meu querido. –Ela se desprendeu do marido, a força.

“Assim que eu cheguei ao Brasil, fiz muitos amigos importantes. A maioria trabalha para os donos do aço. Assessores, operários, amigos. Eu consegui me aproximar deles sem que notassem. Estava muito perto de chegar aonde queria. Foi com a ajuda de um deles, que eu consegui entrar na festa de renovação dos votos de casamento dos magnatas. Enquanto o Pedro recebia os convidados, a Rebecca estava ao telefone com a filha. O que eu mais queria era olhar nos olhos daquela megera novamente, mas não pude, por que ela se recolheu cedo, parece que não gostou muito do que ouviu da filha.”.

A discussão entre Alessandra e Rebecca ao telefone foi tão intensa, que alguns convidados puderam ouvir. A filha única da megera mais invejada do bairro estava voltando ao Brasil, mas uma notícia não agradou muito sua mãe. Alessandra estava namorando um rapaz à contra gosto de Rebecca. Segundo ela, o cara não era bom o suficiente.

–A senhora não pode julgá-lo assim, nem o viu. –Argumentou Alessandra. –Esse é o seu problema mãe. Sempre se metendo na minha vida.
–Claro que eu me meto, por que o que você tem de bonita, tem de burra! Como uma pessoa fica noiva de um jardineiro fudido?! –Exclamou Rebecca, bem alto para todos ouvirem. –Você tem um sobrenome!
–Não... A senhora tem um sobrenome.
–Quando você pretende voltar?
–Em breve.
–Ele vem junto?
–Não sei ainda. Eu e ele não mantemos contato faz uns meses. Nos conhecemos na Espanha. Ele precisou viajar.
–Claro... Para renovar o curso de jardineiro perfeito.

“Eu ouvi a conversa das duas com um copo colado a porta do quarto da Rebecca, caí na gargalhada quando notei o ódio na voz daquela vadia. Bom... Acho que o curso de jardineiro perfeito veio a calhar para mim. Depois que ela desligou o telefone, eu desci as escadas da mansão prestando atenção atentamente em cada detalhe, já que em breve eu me tornaria integrante da família. Ao chegar ao salão principal, me aproximei de Pedro. Contei a ele que precisava de emprego e ele me perguntou o que eu sabia fazer, então eu comecei a dizer sobre minhas origens e meu curso de jardinagem. Foi um pouco fácil demais, ele me mandou voltar no dia seguinte para falar com a Rebecca, obedeci.”.

Usando um elegante vestido preto, com um longo decote nas costas, Rebecca se despediu do marido e garantiu que leria as indicações de Patrick, apesar de que um jardineiro era a última coisa que ela queria ver naquele momento. A campainha da mansão foi tocada, era Patrick. A empregada atendeu a porta e o levou até o escritório da casa, onde Rebecca o aguardava.

–Entre, por favor. –Disse Rebecca, educadamente. –Meu marido me falou sobre você e suas recomendações maravilhosas...
–Bom dia dona Rebecca. –Patrick cumprimentou a megera, notando a surpresa nos olhos dela.
–Pra um jardineiro, você é muito bonito... E esse seu olhar, me é familiar.
–A senhora deve ter me visto na edição da G Magazine do ano passado, resolvi posar nu quando as coisas se apertaram... E o meu olhar de jardineiro sedutor ficou marcado em outdoors por todo o Brasil.
–Deve ter sido. Trouxe as recomendações?
–Sim senhora.

“Ela não notou que aquele olhar era do garotinho de cinco anos que havia presenciado a prisão da mãe. Rebecca realmente acreditou que eu havia posado nu. E ela nem olhou as recomendações. A vadia me mandou tirar a camisa só para garantir que meus músculos eram bons o suficientes para não se ferirem no meio das roseiras. Depois da avaliação, eu comecei o trabalho. Ela saiu... E dois minutos depois eu já estava vestido para segui-la. A Rebecca foi para um motel no subúrbio com um jovem de dezesseis anos. Ela poderia não saber, mas a lei sabia que sexo com menores de dezoito anos é pedofilia. Fotografei o ato de cima de uma árvore com a minha boa e velha câmera polaroide, depois voltei ao trabalho. Aquelas fotos serviriam num futuro bem próximo. Eu a ameaçaria e a colocaria contra a parede. A Rebecca podia não saber que aquele inocente jardineiro era seu inimigo de anos, mas eu sabia.”.