terça-feira, 30 de setembro de 2014

ULTRAVIOLÊNCIA- Episódio 1x3: Pacto de Sangue




“Sob a luz da meia-noite eu fiz um pacto, o mesmo foi construído a partir de um pequeno corte realizado no meu pulso esquerdo em forma de cruz. As gotas de sangue foram pingadas nas fotos das duas mulheres da minha vida, Fernanda e Rebecca. Coloquei as cartas da minha mãe junto às fotos, peguei o fósforo e disse em voz alta as seguintes palavras: “Sob a luz da lua cheia, não importa o que eu tenha de enfrentar, não importa quantos demônios eu tenha que matar. Aqueles que destruíram a minha mãe irão pagar. Seja em vida ou morte. Não existe mais pranto ou dor, não existe perdão. Só há sede de vingança.”. Aquela madrugada significou muito para mim, eu havia acabado de completar dezoito anos e estava fora do reformatório. E tinha uma meta, conseguir dinheiro para ir ao Brasil, mas como? Foi aí que eu comecei a pensar em usar meu corpo. Passei meses me prostituindo em Las Vegas, e não fazia sexo só com mulheres, eu tive de me render a homens. Nesse tempo me descobri bissexual e não me arrependo. Mas foi em uma noite que minha vida mudou de verdade.”.

Patrick e seu amigo Josh haviam se metido em porte de drogas por falta de dinheiro. Os programas não estavam sendo suficientes para conter os gastos de ambos. Por isso eles aceitaram a proposta de Carlos Toledo, o chefe do narcotráfico na região. Tudo era muito simples, as vendas ocorriam de madrugada. Cada traficante tinha o seu ponto. Vendiam até para policias. O serviço era concentrado em maconha e cocaína, a segunda é a mais pedida. O lucro sempre varia. Metas são impostas a cada um. E todas as noites eles tinham de dar o melhor de si para bater a meta, se quisessem continuar trabalhando para Carlos, e Patrick era o melhor de todos.

–Eu vim lhe parabenizar pessoalmente, você ultrapassou a meta três vezes mais que os seus colegas de trabalho. –Disse Carlos, naturalmente. –Aqui está seu bônus.
–Obrigado senhor... –Respondeu Patrick. –Tenho dado o melhor de mim, afinal preciso de dinheiro.
–E para que tanto dinheiro?
–Pretendo me mudar para o Brasil daqui a dois anos.
–Posso saber o motivo dessa mudança?
–Eu falo se o senhor me responder uma curiosidade que eu tenho a seu respeito faz tempo.
–Estou ouvindo.
–Você é homossexual?

Carlos fitou Patrick nos olhos e o olhou de cima a baixo. O garoto de dezoito anos tinha um corpo incrivelmente bonito para sua idade. Sem contar que o mesmo tinha uma inteligência fora do normal. Carlos olhou novamente e o estudou, pensando se valeria a pena revelar sua homossexualidade aquele belo rapaz. Ele resolveu contar, afinal se alguém além dele ficasse sabendo, o mesmo seria morto.

–Sou. –Respondeu Carlos, tocando o rosto de Patrick. –Como descobriu?
–Foi fácil... Eu vendo meu corpo há algum tempo e conheço gays. O senhor olha para o meu traseiro de uma maneira que héteros não olham. –Patrick sorriu timidamente. –Não se preocupe, ninguém além de mim ficará sabendo.
–Eu não me preocupo, você é inteligente demais para revelar minha homossexualidade aos quatro ventos.
–É um tanto excitante saber que o chefe do tráfico é gay. Isso é quase impossível.
–Você também é gay?
–Não. Eu sou bissexual...
–Prefere meninos ou meninas?
–Prefiro quem me dê segurança. Não importa o sexo, só quero me sentir bem.

“Não demorou muito e o Carlos me levou para um motel. A partir daquela noite eu havia virado o putinho do traficante mais poderoso dos Estados Unidos. Minha vida mudou completamente, assim como minhas roupas e meu apartamento. Mas digo sem medo que nunca houve nada de sentimental na nossa relação. Eu só queria alguém que me bancasse e me apoiasse e consegui. O Carlos já sabia da minha história, eu notei que ele ficou com ódio da Rebecca, assim como eu. Ele prometeu que em 2000 iríamos para o Brasil e eu esperei pela promessa dele calorosamente.”.

Todas as noites de sexta-feira, Patrick acompanhava Carlos em reuniões com os traficantes que trabalhavam para ele. E em todas essas noites os dois terminavam em motéis planejando o futuro. Patrick havia se tornado o braço direito do chefão do narcotráfico. Tudo o que ocorria no meio do crime envolvendo o nome de Carlos, era passado a ele.

–Você conseguiu mesmo o que queria... –Josh surgiu atrás de Patrick, surpreendendo-o. –Parabéns!
–Do que você está falando? –Indagou Patrick, surpreso.
–Todos estão comentando sobre essa sua amizade repentina com o Carlos... Você ficou rico praticamente.
–E isso te incomoda?
–Eu acho que um novato surgir e mudar os rumos de tudo incomoda muita gente, não acha?
–Não sei... Mas, fica na sua aí. Por que nunca se sabe do que esse novato é capaz para se manter no topo.

“Eu fiz a cabeça do Carlos completamente, ele estava comendo na minha mão. Mas ainda não era o suficiente. Eu precisava de mais e mais. Foi quando aceitei a ajuda de um farmacêutico. O Carlos sofria de problemas cardíacos sérios e seu coração não era mais o mesmo fazia tempo. E ele nunca significou nada pra mim mesmo. Não faria diferença se sua morte fosse antecipada.”.

Em uma manhã tranquila, como todas as outras, Carlos Toledo havia dado entrada no hospital estadual de Nova York com insuficiência respiratória. O mundo do crime havia parado naquele dia. Até os policias que queriam pegá-lo ficaram surpresos, o homem era sadio e de repente se encontrava respirando por meio de aparelhos. A última visita que ele recebeu, foi dois dias após sua internação, minutos antes de sua morte. Era véspera de réveillon.

–Como você se sente querido? –Indagou Patrick, entrando no quarto de hospital vagarosamente.
–Estou cada vez melhor, os médicos disseram que daqui a alguns dias eu não precisarei mais da ajuda de aparelhos para respirar, não é ótimo? –Respondeu Carlos, aparentando estar realmente sadio.
–Seria... Se você ainda me fosse útil.
–Do que você está falando?
–Ainda bem que você fez um testamento deixando sua fortuna no meu nome, não é mesmo velho?

“Tranquei a porta do quarto de hospital, fechei as persianas, cantei cantigas de ninar, desliguei os aparelhos e não senti nenhum remorso. Muito pelo contrário, acelerei a morte do Carlos sufocando-o com um travesseiro. Ele começou a se debater desesperadamente e eu senti um prazer agudo, foi mais gostoso do que gozar. O coitadinho gemeu até morrer. Quando ele não apresentava mais sinais vitais, eu liguei os aparelhos e saí dali rapidamente. Fiquei muito satisfeito com o que fiz.”.