“Fernanda Suliver Salvatore, eu vos declaro
culpada pelo assassinato a sangue frio de Marco Salvatore. Sua pena é perpétua.”
“Aquele
foi o pior dia da minha vida, eu os vi levarem minha mãe como se fosse um
animal. Ela estava algemada, com os olhos lacrimejantes. Sua alma gritava por
socorro, mas aqueles malditos guardas a levaram para o inferno, do qual ela
nunca saiu. Minha mãe se matou três anos depois com três cortes no pulso
esquerdo, tentaram reanima-la, mas já era tarde demais. Na época eu tinha cinco
anos. Sou filho único dos Salvatore, me chamo Patrick e presenciei de perto o
fim da minha família. Tudo começou em 1984. Morávamos em Detroit, meu pai era
encanador e minha mãe professora. Eu estudava em uma pequena escola particular
no interior. Éramos o que os vizinhos chamavam de “família perfeita”, porém
tudo mudou a partir daquele verão.”.
Fernanda estava cansada de receber tantas
desculpas esfarrapadas do marido, que todo o fim de semana viajava ao Brasil
para consertar encanamentos. Era sempre a mesma história, porém dessa vez as
coisas eram diferentes, por que ela resolveu segui-lo. Patrick havia ficado com
a vizinha naquele fatídico dia.
–Cuide do meu precioso Patrick, confio a vida
dele em você.
–Pode ir tranquila Fernanda, ele estará bem.
–Disse Sarah.
A despedida foi chorosa, o pequeno Patrick nunca
havia ficado longe da mãe. Aquela era a primeira vez... Fernanda pegou um táxi
com destino ao aeroporto e embarcou no mesmo vôo que o marido. Ela estava
usando um disfarce. Seus cabelos estavam volumosos, óculos mascaravam seus
olhos e seu pescoço estava coberto por uma pashmina branca, valorizando o
decote do longo vestido vermelho. O pouso não foi demorado. Os passageiros
desembarcaram no aeroporto internacional de Guarulhos, São Paulo. Marco pegou
um táxi com destino ao Jardim Europa, onde se encontrou as escondidas com
Rebecca, a milionária do qual ele tinha prazer em dizer que era sua amante.
“Eu
me lembro que naquele dia meus pais chegaram juntos em casa. Minha mãe sorria
estranhamente bem, parecia um tipo de dissimulação. Ela não queria demonstrar
que havia algo de errado na minha frente. Porém quando a vizinha foi embora, a
gritaria começou. Meu pai falava alto com minha mãe, dizendo que ela não
deveria ter o seguido e que nada mudaria. Ela aumentou o tom agredindo-o com
palavras de baixo calão. Eles só pararam depois de uma bofetada, minha mãe caiu
deitada no sofá e ele saiu pela porta. Aquela foi à primeira de muitas brigas e
todas às vezes eu presenciei tudo.”.
Rebecca Brandão era uma mulher de trinta e
poucos anos. Possuía seios fartos, olhos azuis da cor do oceano e madeixas
louras. A mulher era casada com Pedro Brandão, ou o dono do aço, como os outros
chamavam. O magnata é dono de uma metalúrgica que produz aço usado em diversos
navios transatlânticos. Sua fortuna é estimada em meio milhão de reais. E como
resultado, o respeito que os outros têm com ele e sua família é enorme.
“No
natal de 86, meu pai viajou, alegando ter um trabalho para fazer. Anos depois
eu li que naquela mesma época a milionária brasileira Rebecca Brandão havia
passado o feriado anual em um resort no Havaí com o amante. Foi aí que eu
descobri que o tal amante era meu pai. Essa descoberta foi um choque enorme pra
mim. Eu tinha onze anos quando fiquei sabendo, o ano era de 1997, já morava em
um reformatório. Mandaram-me para lá depois do suicídio da minha mãe, por que
eu enlouqueci quando soube que ela havia se matado. Ela era tudo o que eu
tinha... A coisa ficou pior ainda quando eu descobri que a principal culpada
por tudo era essa tal Rebecca.”.
Decidida a se livrar do marido e da filha única
por algumas horas, Rebecca comprou duas passagens de avião e reservou
hospedagem em um resort no Havaí. O quarto em que ela e Marco estavam hospedados
era um dos mais luxuosos, possuía uma suíte enorme, com banheira de
hidromassagem e uma jacuzzi. O mesmo foi inaugurado na primeira noite, quando
Rebecca apareceu na frente de Marco vestindo uma camisola preta transparente:
–Me ajuda a tirar? –Indagou Rebecca.
–Nem precisava perguntar... –Respondeu Marco.
Marco agarrou Rebecca, rasgou a camisola dela e
acariciou todo o seu corpo com a boca, alcançando os lugares mais prazerosos. A
penetração iniciou-se dentro da banheira. Rebecca sentou sobre as pernas do
amante, rebolando em movimentos uniformes. A gemedeira foi tanta, que os
hóspedes dos outros quartos puderam ouvir. Ambos gozaram juntamente, em um
único impulso.
“Durante
todo o tempo em que eu passei com a minha mãe antes da morte do meu pai, eu
pude notar a tristeza nos olhos dela. O medo de perder o verdadeiro amor de sua
vida para outra mulher. Minha mãe era jovem, cheia de vida, tinha um coração
enorme, ela nunca mataria alguém... Porém matou. Saiu em todos os noticiários.
De alguma forma ela parecia querer ser presa, por que mamãe não limpou a cena
do crime, não se livrou da arma, ela se quer largou a arma... E eu vi tudo,
como das outras vezes.”.
Fernanda começou a receber cartas anônimas
dizendo que estava sendo traída pelo marido. Fotografias, recortes de jornais e
fitas eram anexadas às cartas, todo o documento era um dossiê sobre aquela
outra mulher, a tal Rebecca.
“O
crime ocorreu em 20 de julho de 1987, era verão e eu estava de férias. Meus
pais me mandaram para a casa da vovó Beth, que hoje já é falecida. Naquela
noite, eu havia voltado para casa, por que a vovó havia ficado doente. Minha
mãe me recebeu calorosamente com um jantar dos deuses, era realmente um
banquete muito delicioso. Eu comi até ficar farto, depois fui para o meu quarto
dormir, coisa que não aconteceu naquela noite. Meus pais começaram outra
discussão, e então eu levantei da cama, andei na ponta dos pés até a suíte
deles e fiquei observando tudo escondido. O medo veio até mim quando a minha
mãe tirou uma arma de dentro do guarda-roupa, ela apontou para o meu pai e indagou:
“Quer que eu diga algo de você para a sua amada Rebecca?”. Eu não entendi nada
e ele ficou em silêncio. A arma foi disparada. Dois tiros na cabeça e um na
perna. Minha mãe ficou imóvel sentada na cama, observando o sangue do corpo do
papai se espalhar. A polícia chegou e a levaram...”.