quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Me... I Am... Dudu Jean - Episódio 2


EPISÓDIO 1x02
“Retaliation”


CENA 1 — MANSÃO AMARAL/ INTERIOR/ QUARTO/ DIA.

Abre sobre a mesinha de cabeceira, com um abajur chamativo. Próximo ao abajur, um porta-retratos com a foto de um homem alto, moreno.

Eduardo Amaral, vestido com um pijama de coraçõezinhos, adentra no quarto, se aproxima do porta-retratos, pega e o beija. Dá um suspiro, fecha os olhos e aperta o objeto contra o seu peito.

Eduardo: Ai, Cristiano! Você me faz tanta falta! Até parece que foi ontem que eu te conheci. Mas aí eu quando me olho no espelho (caminha até o grande espelho do seu quarto e se olha) e vejo as marcas do meu rosto, percebo que o tempo passou e nos afastou (coloca o retrato de volta na mesinha de cabeceira) Mas nada que um renew ou um ômega 3 não resolva.

Os devaneios de Edu são interrompidos por Yuri, que abre a porta do quarto bruscamente e assusta o patrão.

Yuri: Rainha magnânima, já está na hora de você ir para a emissora.

Eduardo: (irritado) Aff, seu estrupício! Quantas vezes eu já te falei que tem que bater na porta antes de entrar, hein?

Yuri: Perdão, digníssimo. Já vi que o senhor não está num bom dia hoje.

Eduardo: Estou naqueles dias. Agora me dê licença Yuri, serviçal! Vai avisando ao motorista que eu já estou indo. Serve um suquinho pra ele enquanto eu me arrumo.

Yuri sai e fecha a porta do quarto. Eduardo dá alguns passos, chega até a porta e a tranca com a chave. Suspira e, novamente, vai até a mesinha de cabeceira pegar o porta-retratos.

Eduardo (V.O): Se eu pudesse voltar àquele tempo novamente, eu te perdoaria, mesmo depois de tudo o que aconteceu...



EFEITO: ESFUMAÇÃO
.

FLASHBACK 01/ ESCOLA DE EDUARDO/ INTERIOR/ PÁTIO/ NOITE.

LEGENDA: SALVADOR, BAHIA, 2001.

O pátio da escola está bastante movimentado. Uma música dançante anima vários jovens, garotos e garotas, por volta de dezesseis anos de idade. Eles estão vestidos com trajes de gala (terno, smoking, vestidos longos, etc.).  Há uma pista de dança com globo de luz, na qual a maioria dos jovens está concentrada. Logo acima, uma enorme faixa com o escrito: “PARABÉNS AOS CONCLUDENTES. TURMA DE 2001”.

Em um lugar afastado, está sentado, numa cadeira de plástico, um rapaz magro, alto, cabelo curto, com franja tingido de cor-de-rosa e vestido num terno lilás. Ele observa a movimentação na festa.

Eduardo: Que coisa mais brega! Levanto as mãos para os céus e agradeço imensamente por estar terminando essa droga de ensino fundamental. (uma garota loira passa e Eduardo a esnoba virando o rosto para ela). Gentinha mais chinfrim, escolinha de futuros marginais e delinquentes. Este não é o lugar para mim, Eduardo Amaral, futuro apresentador de TV e DJ.

Uma garota de cabelos castanhos, gordinha, vestida em um vestido amarelo e rodado, aparece dentre os convidados.

Zih: (alegre) Oi, amado!

Eduardo: Ai, Zih, manera aí no susto, por Jeová. Quase tive um ataque.

Zih: (entristecida) Eu to tão feia assim? Passei horas me arrumando. Não é possível que você não tenha percebido. (faz beicinho) E não é possível que hoje, no nosso último dia aqui nessa escola, a gente não se dê bem. Edu, a gente precisa pegar alguém!

Eduardo se levanta da cadeira e começa a desfilar: com as mãos na cintura, dá três passos para frente e volta para onde está. Zih, ao voltar, balança a cabeça, jogando a franja para trás.

Eduardo: Aqui só tem ralé. Eu só não peguei ninguém até hoje porque eu sei me preservar. E não vai ser hoje que eu vou me dar ao desfrute. Estou menstruada e usando absorvente de maracujá, para acalmar a periquita.

Zih: Acredito... (pausa)

Ambos de braços cruzados, escorados numa parede, observando a festa.

Zih: Edu...

Eduardo: O quê?

Zih rodopia. Seu vestido gira.

Zih: O que acha?

Eduardo: Amo Shakira! Quando toca essa música eu me sinto a Jade da novela O Clone, dançando pro gostosão do Said.

Zih: (ri, rodopiando mais uma vez) Seu besta! Não tô falando da música. Estou falando do meu vestido amarelo, que mamãe costurou especialmente para esta festa.

Eduardo: Ah, sim. Tá parecendo o Piupiu.

Zih: Ah, se fosse! Até ele tem um gatinho que vive o perseguindo. Quisera eu ter um Frajola na minha vida.

Eduardo: Tá bom, amiga. De brega já basta essa festa. (o rapaz fica pensativo).

Zih: O que foi, Dudu?

Eduardo: Tô pensando aqui. É que tipo assim, a gente passou esses anos todos aqui nesse muquifo de escola sendo excluídos e hoje estamos aqui, no último dia, excluídos de novo.

Zih: Querido, os últimos serão os primeiros. Enquanto esse povinho está aqui hoje curtindo e sambando em cima da gente, no futuro eles serão aqueles que servirão o nosso BigMac. A gente tem que tratar eles bem, pois eles podem servir e cuspir no nosso sanduíche no futuro. (a garota dá dois beijinhos por cima do ombro).

Eduardo: Ah, bicha! Adoro! Dudu fazendo escola. Disse tudo. Querida, você vai ser uma jornalista de sucesso no futuro, enquanto eu serei a nova Oprah Winfrey e entrevistarei as maiores celebridades do universo.

Os dois batem as mãos.

Zih: Vamos dançar?

FLASHBACK 02 – ESCOLA DE EDUARDO/ INTERIOR/ PISTA DE DANÇA/ NOITE.

A música da cena anterior ainda toca, quase chegando ao final. Zih puxa Eduardo pelo braço e ao chegarem à pista de dança, começam a se requebrar, chamando a atenção das outras pessoas que estão ali.

Zih: A gente tá arrasando!

Todos em volta riem.

Eduardo: Adoro! As verdadeiras rainhas desta escola sempre fomos nós, amiga!

Eduardo e Zih continuam dançando, fazendo passos engraçados, o que deixa não só os alunos, mas até os professores morrendo de rir. A música da Shakira acaba e começa a tocar um funk.



Zih
 (para de dançar): Ah, não! Eu detesto funk.

Eduardo: Querida, não renega suas origens.

Eduardo começa a fazer passos de funk, como descer até o chão e rebolar. Zih, incomodada com a música, sai e deixa o amigo sozinho.

Eduardo: (grita) Grande amiga você é! Sua gorda! Deixe estar, eu divo sozinha. Não preciso de baleias como você para estar no topo (dá língua).

O rapaz dança por mais algum tempo até avistar um garoto moreno, alto e de boa aparência, bebendo refrigerante.

Eduardo (V.O): Nossa, que gato! Nunca havia visto esse bofe aqui na escola. Se eu soubesse que havia gatinhos por aqui até que eu faria uma forcinha e não mataria aula.

Edu se aproxima do rapaz e lhe dá uma piscadela. Percebendo que é com ele, o garoto retribui a piscada de olho, apontando para a saída da escola e se encaminhando para lá. Eduardo o segue.

FLASHBACK 03 – ESCOLA DE EDUARDO/ EXTERIOR/ JARDIM/ NOITE.

Eduardo chega ao lado de fora do colégio e procura pelo garoto o qual seguia. Olhando para os dois lados, finalmente o encontra, atrás de uma das árvores do jardim. Edu corre até lá.

Eduardo: (voz rouca, tentando seduzir) Oi... Posso saber o nome do único príncipe encantado desta escola?

Cristiano: Eu? Príncipe? (gargalha) Se estiver se referindo a mim, eu me chamo Cristiano.

Eduardo: Hum... Me chamou aqui?

Cristiano: Eu queria saber o nome daquela sua amiga... (pausa) e se ela tem namorado.

Edu (V.O): Naquele momento, meu coração ficou partido em pedacinhos. Eu parecia ter sido mais espancada que a Rihanna. Porém, como eu sabia ser inteligente, principalmente em situações em que um bofe estava em jogo, eu tinha as minhas táticas.

Eduardo: Ela tem namorado. Um negão de dois metros de altura.

Cristiano abaixa a cabeça, entristecido.

Eduardo: Mas eu... (Edu se aproxima de Cristiano, olhando-o nos olhos) Eu estou totalmente a sua disposição.

Cristiano empurra Eduardo.

Cristiano: Ih, sai pra lá! Eu sou espada!

Eduardo: Aff, o que a Zih tem que eu não tenho, hein?

Cristiano: Você tem coisas a mais que ela, mas eu não estou interessado no que você tem.

Cristiano deixa Eduardo sozinho e volta para a festa. Minutos depois, Eduardo, de coração partido, também volta.

FLASHBACK 04 – ESCOLA DE EDUARDO/ INTERIOR/ PÁTIO/ NOITE.

Eduardo volta para o pátio da escola e observa Cristiano flertando com Zih. Ele tenta beijá-la, mas ela desvia o rosto.

Eduardo: (pensando) Bem feito, tomou um fora da gorda! Zih sambou na cara desse traste.



Eduardo
(V.O): Mesmo eu estando com ódio daquela filhote do capeta, Zih vingou o fora que Cristiano me dera, dando um fora nele também. Ok, ele continuava sendo um gatinho sedução e eu continuava querendo o seu corpo nu. E, quando eu menos achei que o teria, eis que ele me viu sofrendo no canto do pátio e veio para perto de mim. Teria ele se arrependido de ter me dado um pé na bunda?

Cristiano: Olha, velho, desculpa. Começamos errado. Vamos ser amigos, tá?

Eduardo: (cruza os braços, fecha os olhos e vira a cabeça) Só tá aqui porque a Zih te deu um toco. Adorei quando você saiu de perto dela feito um cachorrinho com o rabo entre as pernas.

Cristiano descruza os braços de Eduardo e o puxa para a pista de dança.

Eduardo (V.O): Nossa! Que pegada ele tinha! Eu queria me fazer de difícil, mas era impossível. Que homem! Que músculos!

FLASHBACK 05 – ESCOLA DE EDUARDO/ INTERIOR/ PÁTIO/ NOITE.

A mesma música da cena anterior ainda toca. Eduardo e Cristiano chegam à pista, onde vários casais estão dançando juntinhos.

Cristiano: Vamos dançar?

Eduardo: (desentendido) Mas... Mas essa música é lenta!

Cristiano traz Eduardo para junto de si e o abraça.

Eduardo (V.O): Quando eu senti seu corpo junto ao meu, fiquei com a periquita mais quente do que a da Taylor Swift. Ele queria dançar comigo, mesmo não se importando no que as pessoas ali iriam pensar. Cristiano, para mim, era um príncipe realmente. Ai meu coração... Apenas fechei meus olhos e deixei a música e ele me levar. Eu parecia, por alguns segundos, estar nas nuvens!

CAM próxima do rosto de Eduardo detalha seus olhos fechados; sua cabeça, encaixada ao ombro de Cristiano e as mãos tocando a cintura do rapaz. Eduardo, ainda de olhos fechados, tira sua cabeça do ombro do rapaz e, ao sentir a pressão sobre os seus lábios, abre os olhos. Cristiano o beija. Um selinho demorado. Eduardo volta a fechar os olhos, ainda o beijando.

Eduardo (V.O): Era um beijo quente, doce, mas inocente. Eu estava amando aquilo! De repente, porém, senti que um líquido descia sobre minha cabeça e percorria o meu corpo. Era algo viscoso e frio. Abri os olhos e soltei Cristiano.

CAM permanece no ato. Todas as pessoas que estão na pista de dança se afastam, fazendo um círculo. Eduardo olha para Cristiano, que está à sua frente, às gargalhadas. Olha em volta e todas as pessoas que formam aquele círculo, assim como Cristiano, estão rindo. Menos Zih, que tem uma expressão triste.

Eduardo: O que é isso? Por que vocês estão rindo, hein? Hein?

No chão, uma lata de tinta rosa jogada. Eduardo olha para a sua roupa e para as suas mãos: ele está coberto por tinta cor-de-rosa. Vê-se, nas mãos de Cristino, outra lata de tinta. Eduardo, imóvel: a tinta desce sobre o seu rosto e atrapalha sua visão. Ele escuta apenas as gargalhadas das pessoas.

Cristiano: E aí, veadinho. Você não gosta tanto de chamar atenção? Então toma!

Cristiano joga mais um balde de tinta em Edu. Eduardo cai no chão, chorando, de joelhos. Zih se aproxima do amigo para ajudá-lo.

Eduardo (V.O): Depois daquela humilhação, nunca mais vi Cristiano. A não ser por uma foto, que vi num jornal, anos depois. Recortei-a, ampliei-a e emoldurei-a, deixando o porta-retratos na mesinha de cabeceira, ao lado da minha cama. Cristiano, depois de tudo, ainda merecia mais um lugar na minha vida. Vida essa que é mais sofrida do que a da Maria do Bairro.

CAM se afasta, mas ainda conseguimos ver Zih, tentando ajudá-lo a se levantar. No ambiente, a movimentação das pessoas, deixando a festa.


Uma série de
Eduardo Amaral
Luiz Gustavo
Márcio Gabriel

Episódio escrito por
Márcio Gabriel

Revisão de texto
Félix Crítica

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