Capítulo 25
- É aqui? – perguntou Alex Cartumis para o Sr. Trevor quando o veículo
parou em frente ao orfanato.
- Sim. É aqui, sim. No outro dia a porta da Secretaria estava aberta –
falou ele, apontando para a única porta de entrada do orfanato que estava
cerrada – É meio cedo para estarem fechados, não? – falou Lucas dando uma boa
olhada no prédio cercado por muros altos. No outro dia em que viera falar com
Ir. Ágatha, ele pôde escutar o barulho de crianças brincando no pátio interno.
Agora parecia tudo muito silencioso – Você não acha que...
- Ná! – falou Alex – Brade era um policial esperto. Ele não as traria
aqui, no único lugar que poderia ser ligado a ele, além da casa, traria?
Lucas e Alex trocaram olhares. Aquela pergunta havia ficado no ar.
- Melhor pedir reforços – disse Alex, segurando o interfone do rádio do
seu impala 79 modificado para receber a sirene e o rádio da polícia. – Central,
aqui quem fala é Alex Cartumis, distintivo nr. 5215, responda!
- Aqui é a central, Tenente Cartumis – respondeu uma voz feminina. – Em
que posso ajudá-lo?
- Tenente, é? – perguntou Lucas com um sorriso.
- Eu fui promovido! – falou Alex, tampando o interfone com a mão para
responder a Lucas. Em seguida, falou novamente no interfone – Central, estou
entrando no orfanato “Santa Luzia” na rua St. Augustus, nr. 38 para investigar
um possível 152 em andamento. Solicito reforços, copia?
- Aguarde, estou mandando reforços. Câmbio.
- Certo, câmbio! – disse Alex, colocando o interfone novamente no
gancho.
(...)
- Isso tudo é culpa sua! – esbravejou Liz, depois de meia hora chorando
nos braços de Alis. – Se eu morrer, terá sido sua culpa!
Alis deu um muxoxo, levantou-se e afastou-se de Liz. Em seguida, aproximou-se da Ir. Agatha, mas esta também estava com uma expressão pesada no rosto.
- Ah, filha, quantas vezes eu tentei te ajudar, quantas vezes quis te
tirar da situação em que você estava. Por que sempre foi tão orgulhosa? Por que
deixou que chegasse a isso?
- Irmã, a senhora fala como seu eu realmente tivesse culpa pelas
loucuras de Brade – falou Alis, olhando aturdida para a Ir. Agatha.
- De certa forma, tem.
Alis franziu o cenho, sem entender onde a irmã queria chegar.
- Você deveria ter dado um basta nisso há muito tempo atrás. Há quantos
anos já vive nesse pesadelo que chama de casamento?
- Eu tentei irmã! – falou Alis, numa vozinha inaudível. A Ir. Agatha era
quase uma mãe para Alis e sua opinião lhe importava muito e achava que estava
sendo injusta para com ela. – A senhora sabe o que aconteceu comigo quando eu
tentei dar queixa contra ele. A senhora e a Ana Maria viram como eu fiquei. A
senhora não tem ideia dos horrores que tive que aguentar. Como eu poderia ter dado
um basta?
- IDO EM FRENTE, ALIS! É o que deveria ter feito. Brade só fez o que fez
porque você recuou, você teve medo. Se tivesse realmente dado queixa e
denunciado, talvez hoje você estivesse livre e ele preso e ninguém teria que
estar aqui, a mercê de um lunático.
- E talvez eu estivesse MORTA, irmã! – defendeu-se Alis. – Ele iria me matar, a senhora sabe que ele iria me matar.
- Talvez sim. Mas ao menos você morreria com orgulho, com a sensação de que sua morte não foi em vão, pois estaria lutando por um ideal contra aquilo que julgava ser injusto. Agora, você vai morrer de qualquer jeito, Alis. Mas como um cãozinho assustado.
- Irmã?? – reclamou Alis, assustada com a agressividade da religiosa.
- É melhor morrer com confiança, sendo fiel a si mesma, do que ter uma
semi-vida, com medo da própria sombra.
- Eu sou fraca, Irmã – falou Alis, sentindo raiva da irmã por estar
dizendo tudo aquilo e de si mesma, pois no fundo, sabia que era verdade. – Mas
eu não sou responsável por isso...
- Sim, Alis, você é a responsável e não, você não é fraca. Se há
algo que eu aprendi nessa minha vida, querida, é que Deus só nos dá a cruz que
podemos carregar. Seu fardo é pesado e eu não o queria para mim. Mas se isso
aconteceu a você é porque de alguma maneira, você tem a força necessária para
lidar com isso e para dar um basta nessa situação. Coragem, filha, é preciso
ter coragem para enfrentar as consequências de nossos atos. Não ter ido em
frente naquela queixa causou essa situação. E talvez pessoas inocentes possam
morrer hoje, como o pobre Rafael...
Alis olhou para irmã totalmente transtornada porque sabia que a irmã
tinha a razão. Quantas vezes quis enfrentar Brade sem ter sucesso. E, no
entanto, conseguiu enfrentar Dante quando Lucas estava em perigo. Aquilo lhe
dizia muito. Aquilo lhe dizia que Alis não ligava se ela estivesse em perigo,
mas se outra pessoa que ela amasse estivesse sob ameaça, ela sentia a força
necessária para enfrentar o que precisava enfrentar.
Olhou para fora tentando divisar uma ave que cruzou o céu. Queria poder ser aquele pássaro. Queria poder voar livre e solta, sentindo nada além do vento em seu rosto. Depois, Alis voltou a concentrar-se no velho rosto da irmã que olhava para ela com uma seriedade de assustar.
Resoluta, Alis cruzou a sala e bateu com força na porta que os mantinha
presos ali.
- BRADE! ABRA ESSA MALDITA PORTA, AGORA!!!
(...)
- Você escutou isso? – falou Lucas e no minuto seguinte, saiu do carro,
prestes a correr para o orfanato, quando sentiu a mão de Alex o segurando pelo
braço. – É a voz da Alis, eu sei que é!
- Tudo bem, amigo, mas você não vai entrar lá. Vamos esperar pelos
reforços. – falou Alex, tentando puxar Lucas, mas antes que pudesse
dissuadi-lo, Lucas desvencilhou-se dele e, correndo, esbarrou com toda a força
na porta de entrada, usando o ombro para tombá-la.
- ALIS!!! ALIS!!! – sumiu ele, gritando para dentro do orfanato.
- Maldito, ricaço mimado! – falou Alex, tirando a Colt automática
calibre 38 com pente de 10 balas no gatilho e outro do coldre, escondido sob o
paletó.
(...)
A porta da sala onde Alis, Liz, as religiosas e as crianças estavam
trancadas abriu-se subitamente. Para a surpresa de Alis, não era
somente Brade que estava ali diante dela, mas também Amélia, com uma perna
engessada, olheiras profundas e cabelo desgrenhado, diferente da educada
socialite que sempre fora.
Brade agarrou Alis pelo braço e em seguida fechou a porta novamente.
- É melhor não se aproximar mais, ou estouro os miolos da sua amante, TREVOR! – falou Brade, exasperado.
Foi então que Alis entendeu. Viu que o Lucas estava ali no corredor e havia parado ao ver que Brade tinha Alis em suas mãos. Amélia, atrás do Amilton, sorria sarcasticamente.
- Então vocês estão juntos? – falou Lucas, surpreso com a presença de sua sogra ali, junto com Brade.
- Foi Amilton que facilitou a minha fuga, caro genro. – falou Amélia, aproximando-se de Brade – Nós temos um acordo milionário. 10 milhões por cada irmã.
- Solte Alis, Amélia. Eu lhe dou o dinheiro que quiser, mas solte-a!
- Liga mais para essa idiota do que para Liz, que foi educada por mim
para ser a perfeita esposa de um homem importante? Você é mesmo ridículo,
Lucas! – esbravejou Amélia.
- Alis é muito mais do que você e Liz juntas podem ser... – falou Lucas
e seu olhar cruzou com o de Alis. Ele fez um leve movimento com a cabeça como
que para dizer “vai ficar tudo bem”. Mas nada ficaria bem. Brade
mantinha o revolver em riste, apontando direto para Lucas. Alis
jamais se perdoaria se algo acontecesse ao homem que amava.
- Não faça uma loucura, Brade! Vá embora e deixe-nos! – falou Alis, tentando chamar a atenção para ela.
- E deixar os meus milhões? – falou Amélia, aproximando-se de Alis por trás para puxar seus cabelos com força.
- Larga ela, maldita! – falou Lucas, dando alguns passos na direção
deles.
- Fique parado, ou a última coisa que verá será os olhos de Alis saltando da face – disse Brade, apertando o cano do revolver contra a têmpora dela.
- E se quiser ter ela de novo viva, terá que me dar 50 milhões de
dólares, hoje. – falou Amélia, ainda puxando os cabelos de Alis para
trás.
- Não a machuquem... eu tratei o dinheiro... – falou Lucas, gesticulando
com as mãos.
Lucas pensava em recuar, voltar e falar com Alex e explicar a situação, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma coisa aconteceu.
Alis estava entre Amélia e Brade, por isso, com a perna esquerda deu um
coice na perna quebrada de Amélia que caiu com o golpe e com o seu braço
quebrado (que também estava engessado), deu uma cotovelada em Brade que deixou
cair a arma.
Então Lucas agiu. Correu em direção a Alis e puxou-a afastando-a de Brade. Antes que pudessem fugir, Brade se levantou e em seguida, os dois começaram a brigar até rolarem pelo chão. Alis fez menção em catar do chão a arma de Brade, mas Amélia a segurou.
- Não mesmo, vadia! – disse Amélia, dando-lhe uma bofetada no rosto,
fazendo Alis cair. Em seguida, a bandida aproximou-se dos dois e com a arma deu
uma coronhada na cabeça de Lucas, fazendo-o cair desacordado. Alis, num
impulso, levantou-se e avançou contra Amélia, as duas lutando pela arma.
- Parem as duas! – gritou Alex Cartumis que havia invadido o corredor em que elas estavam de arma em punho.
Vendo a situação, Brade que havia acabado de levantar-se em pé, parou e
ergueu as mãos para alto, dando-se por preso, mas as duas, que estavam entre
Brade e Alex, ainda continuavam a lutar pela arma, até que um estampido se fez
ouvir por todo o orfanato.
Alex ficou apreensivo, sem saber o que fazer, sem saber se se aproximava
ou mantinha a distância necessária. Em seguida, Amélia tombou, uma grande
mancha vermelha se espalhava pelo estômago.
Alis estava ali parada, observando a vida se esvair do corpo da mulher
que foi sua mãe por alguns dias e uma sensação de perda lhe invadiu.
- Alis, dê-me a arma... dê-me a arma, Alis... – falou Alex, com uma voz
bem suave, tentando se aproximar.
Alis virou-se para ele e os dois trocaram olhares. Ele viu no semblante de Alis, algo que nunca pensou que iria encontrar: um sorriso irônico e um olhar maquiavélico. Depois disso, ela virou-se novamente para onde estava Brade, levantou o braço em riste, apontou para a cabeça do marido e atirou.