O
jantar estava sendo servido. A mesa de mármore preto, onde podiam ser vistos os
reflexos das três pessoas presentes, sustentava diversos talheres, além de três
pratos, algumas taças de cristal, e claro: um variado número de comida. Tomate,
macarrão, azeitona e um peru assado estavam misturados entre todas as opções. Paige
Simons arrancou a asa do peru com uma faca e um garfo de inox, colocando no
prato branco, e cortando em fatias a carne macia e branca. O casal Rowland não
parecia muito tranquilo com a presença duma mulher tão caracterizada. Os olhos
de Paige eram brilhantes, e aquilo causava certo frio na barriga nos detentores
da mansão.
— Só de olhar, já me dá água na
boca. — Explicou, e ingeriu um pedaço das fatias cortadas. — Eu quero agradecer
pela acolhida aqui. Se não fosse uma recepção tão boa quanto essa eu garanto
que seria ainda mais complicado resolver o caso da filha dos senhores.
Willians fixou o seu par de olhos
castanhos no par de olhos azuis de Paige. Olharam-se durante poucos segundos.
As pupilas da mulher eram irresistíveis. Em nenhum momento Penelope percebera o
clima que estava rolando o mais perto o possível.
— Não tem nada que agradecer
senhorita Paige. E para de nos chamar de senhores. Aqui, somos todos
praticamente da mesma idade. Ou se ofende se eu lhe comparar a Penelope e eu? —
Exaustou, fixando-se cada vez mais.
— Como quiserem. — Respondeu
educadamente. — Claro que não me importo. Então está resolvido. Willians,
Penelope e Paige.
A dama loira não estava gostando nem
um tanto do assunto que estava sendo discutido. Achava bobo e intolerável.
Tinha outras coisas pra falar com o marido. Mesma com a visita, ela não se
intimidou em dizer o que queria.
— Willians, amanhã eu preciso ir ao
shopping. Já estou cansada de usar as mesmas roupas em festas. Quero coisas
novas. Exijo roupas novas.
— Desculpem-me a interrupção. —
Paige parou a conversa, mas sem mudar de assunto. — Mas eu sei de uma seção de
um shopping daqui de Londres que agrada todos os tipos de mulheres. Não
gostaria de conhecer, Penelope?
— Eu adoraria. — Bastava este
convite e a Sra. Rowland acabara de se tornar a mais nova amiga de Paige
Simons.
— Então está combinado. — Paige
acaba se lembrando de outra coisa. — Ah, uma coisinha: ao término do jantar,
tem um tempo pra conversar comigo, Penelope? Preciso começar o meu trabalho.
— Como quiser. — Penelope aceitou o
convite, e em seguida colocou mais um pedaço de tomate ao molho em sua boca,
coberta por um batom rosa. Paige não deixou de notar essa característica um
tanto infantil, e uma única palavra que ela pensou a respeito da loira foi
“perua”.
O escritório estava repleto de
livros de grandes escritores de todo o mundo. Paige não deixou de notar a
enorme coleção do talentosíssimo Sidney Sheldon, e não resistiu, comentando com
a dona da casa sobre.
— Vejo muitos clássicos guardados na
prateleira... Posso pegar?
— Fique à vontade, Paige. —
Respondeu com um tom suave.
A detetive ficou de pé, passando as
mãos pelos livros guardados. Arrancou de lá o seu preferido. Penelope observava
tudo com uma expressão estranha. Ela não acreditava que uma mulher como Paige
perderia seu tempo lendo livros, ainda mais, enormes, como considerava.
— “Nada dura para sempre”... Este
livro é muito bom. O título não só traz toda a história, mas também um grande
sentido pra nossa vida. Não é mesmo?
Penelope estava intimidada.
— Claro!
— Então, de uma forma ou de outra,
nada dura para sempre. A beleza, o dinheiro, o poder... Nada.
— Concordo. — Completou friamente.
— Então vamos aos assuntos,
Penelope. Não precisa ter medo. — Gargalhou. — Acontece que eu sou gótica. Eu
sempre gostei de rock, sempre curti o lado sombrio da vida, mas não é motivo
pra me tornar uma pessoa má, certo? Portanto: tranquilize-se. Chamei-lhe aqui
pra falar de sua enteada. Stephany e você não se davam bem? — Sentou-se,
pondo-se a ouvidos da esposa de Willians Rowland.
— Exatamente... Brigávamos sempre,
Paige. Ela e eu éramos completamente diferentes. Ela era explosiva, rebelde, e
nunca aceitou o meu casamento com o Willians, enquanto eu sempre fui paciente,
tentando fazer do nosso relacionamento o mais calmo e verdadeiro o possível.
Mas nunca deu certo. Ela sempre se negava a me ouvir. Tanto que eu cansei. Eu
desisti de insistir. Deixei pra lá.
— Eu te entendo. Hoje em dia isso é
normal. Raros os filhos que aceitam os pais viúvos se casando novamente. Ainda
mais os adolescentes... Está com toda a razão, Penelope. Mas... Quanto à vida
dela? Como era? Quais as pessoas que ela mantinha uma relação?
— Stephany tinha um namorado e uma
amiga. E saía quase todas as noites com eles. — Deixou claro, logo de uma vez.
— Estou começando a gostar deste
caso... — Paige fez uma pausa para colocar a mão esquerda no queixo e sorrir,
porque tudo estava saindo como ela gostava. — Poderia me passar o endereço
destes dois jovens? Quero conhecê-los.
— Agora mesmo. — Penelope
levantou-se, indo de encontro à prateleira e pegando um caderno de anotações.
Passou a mão numa caneta, e sentou-se de frente a detetive. Fez uma cópia de dois endereços anotados numa
agenda.
— Por curiosidade: qual o motivo de
vocês terem o endereço anotado? — Perguntou, pois aquilo causava uma imensa
dúvida.
— São muitas pessoas nos procurando.
Você deve ser a centésima a fim de descobrir um pouco sobre esse assassinato.
Então eu tive que providenciar isso, senão, ficaria louca. O Willians não gosta
de se envolver com a mídia. Passa o maior tempo atrás das coisas do parque de
diversões, e acaba deixando a família em último lugar. Sobra pra eu cuidar de
tudo. — Suspirou.
— A sua situação é bem tensa. —
Agarrou o papel branco que Penelope a entregara. — Amanhã mesmo irei procurar
esses dois jovens. Quero conversar com eles. Obrigada, Penelope. Se não
importa, eu gostaria de me recolher. Posso?
— A casa é sua! — Disse, enquanto a
boca se abria para um largo sorriso. Acompanhou Paige Simons até o quarto de
hóspedes. A detetive se impressionou com a qualidade da arte nas paredes.
Muitas molduras, e a cores eram muito boas. Tudo era perfeito. Retirou sua
roupa de trabalho, pegando a sua camisola rosa de seda, e vestiu-se. Deitou na
cama, fechou os olhos e repousou.
O sol brilhava intensamente naquela
manhã. Paige estacionou a Hilux na beira da rua onde se localizava a residência
do namorado da jovem Stephany Rowland. Desceu, e olhou para os pés. O salto
alto preto, a calça jeans azul marinho, e a camisa branca estavam em uma
combinação inigualável. Ela estava vestida pra matar.
A campainha da residência tocou três
vezes. Uma voz masculina gritou “entre”, tanto que Paige abriu a porta.
Encontrou o homem do corpo atlético bronzeado, nem ao menos enrolado por uma
toalha, de frente ao seu. Ela colocou as mãos no rosto e implorou para que o
jovem se vestisse.
— Que falta de educação. Se vista,
por favor! — Implorou.
Mesmo exigindo, Paige não deixou de
olhar enquanto Cristian Lauster introduzia as peças para tampar o seu corpo
musculoso, e que incendiara como nunca um desejo terrível sobre ela. Estava
entregue à atração. E isso nunca acontecera em seus oito anos de trabalho.
Escrito por William Araujo
Colaboração de Luiz Gustavo
Direção de arte de Márcio Gabriel e William Araujo
Realização na emissora TV Virtual
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