VIGÉSIMO PRIMEIRO EPISÓDIO
ONCE UPON A TIME...
"ERA UMA VEZ..."
EPISÓDIO DO
PONTO DE VISTA DE ARIEL
Estou presa. Minhas mãos e meus pés estão amarrados em uma
cadeira de tortura. Viro a minha cabeça para explorar o ambiente ao meu redor.
As paredes são de cor escura, cobertas de musgo e rebocos de cimento e todas
elas estão repletas de rachaduras. Há uma porta uns cem metros á minha direita
e tendo em vista que não há mais nenhum cômodo por aqui, presumo que eu esteja
num armazém abandonado.
A porta se abre. Uma mulher de cabelos longos avermelhados
entra e seus pés fazem barulho ao andar por conta de seus sapatos. Ela está com
um vestido bege e um batom chamativo. Não reconheço seu rosto, mas sei que ela
não é boa coisa.
— Bom dia, princesa.
— Quem é você? – Pergunto.
— Ainda está com esse jogo, não é?
A mulher anda até atrás da cadeira de tortura à que eu estou
presa, pega um carrinho de ferramentas e posiciona-o do meu lado. Ela abre uma
pequena gaveta e de lá tira um par de luvas, veste-as e ouço o barulho da
borracha batendo com a pele.
— Quem é você?! – Torno a perguntar.
— Meu nome – Ela pega uma seringa, abre a embalagem e põe a
agulha num frasco, de onde tira um líquido verde – não vem ao caso. O que
importa aqui é que você tem uma habilidade que claramente não é humana e nós
precisamos nos certificar de que você não criará um problema com ela.
— DIGA-ME O SEU NOME! – Grito e me sacudo na cadeira.
— Certo. Meu nome é Amanda. Amanda Collins.
Nunca ouvi esse nome na minha vida inteira. Eu sei que não a
conheço e dada a sua personalidade, essa tal de Amanda certamente é alguém que
eu me lembraria. Tento me concentrar em suas palavras: “claramente não é humana”, “criará
um problema”. De repente, sinto uma dor insuportável na minha cabeça, como
seu tivesse algo dentro de mim lutando desesperadamente para escapar, é então
que meu corpo entra em colapso.
Eu começo a tremer desesperadamente, não consigo controlar
meus membros de jeito nenhum. Amanda ganha uma expressão de espanto e admiração
em seu rosto, com um sorriso irônico no canto da boca, ela caminha até a parede
e aperta um botão vermelho que eu não tinha reparado.
Um alarme começa a soar, meus sentidos começam a desaparecer
um a um. Um líquido esquisito e salgado começa a jorrar dos alarmes de incêndio
e meu corpo pára. Não consigo me mover. Uma respiração forte faz com que uma
espécie de fumaça saia da minha boca e crie forma diante de mim. Não acredito
em meus próprios olhos.
— Então você estava possuída. – Amanda afirma.
Uma garota de cabelos castanhos, rosto bonito e de baixa
altura aparece diante de mim. Diferentemente de Amanda, o rosto dela me é
familiar. É como se eu a conhecesse de muito tempo atrás.
— Vamos, temos que ir! – Ela diz.
Guardas armados tomam uma posição de batalha com suas armas
apontadas para nós. Uma forte ventania começa a se formar, objetos voam por
toda a parte, alguns acertando os guardas, outros sendo atingidos por tiros,
até que um dos tiros acerta a garota no ombro.
— Peguem-na. – Amanda ordena. Os guardas obedecem.
— Não! – Grito.
Vejo as balas paradas no ar. Todas as pessoas estão imóveis.
Algumas imagens aleatórias começam a aparecer na minha mente e elas passam de
forma rápida e misturada. Lembro-me de uma frase e isso me traz de volta. “... Lhe será concedida uma habilidade no futuro,
quando sentirmos que mereça tal”.
Zeus me concedeu a habilidade de parar o tempo.
Agora eu lembro de tudo.
Tenho que tirar Íris daqui.
Há uma ferramenta afiada sobre a minha barriga, presa pelo
cinto da calça. Com muita dificuldade, consigo alcançá-la com minha mão
esquerda e com mais dificuldade ainda, corto as cordas que me mantinham
amarrada. Ponho a ferramenta sob o meu cinto e tento preparar um curativo
improvisado para Íris.
Depois de mais ou menos dois minutos, consigo erguê-la e
tirá-la de lá. Só tenho que andar até a porta para conseguir voltar, assim
espero. Quando minha mão está prestes a encostar a maçaneta, eis que eu me
lembro de um pequeno detalhe do encantamento: Eu não posso aceitar nada de
ninguém aqui na ilusão.
Penso por uns instantes e definitivamente, Íris é o que há
de maior valor neste lugar para mim, mas Amanda não me conhecia, Amanda
conhecia Íris. Isso está ficando complicado.
— Droga. – Digo, e ponho Íris no chão.
Com a ferramenta, corto a garganta de todos os guardas e
posiciono Amanda na mesma cadeira de tortura em que eu estava e utilizo uns
pedaços das cordas para conseguir amarrar seus pulsos. Respiro fundo e o tempo
volta a ficar em fluxo.
— O quê? – Amanda indaga.
— O que você quer com Íris. Diga-me.
— Eliminar os poderes dela. Ela é uma ameaça. Ela é filha de
um Deus!
— Por que ela é tão importante para você? Pareceu que vocês
têm história.
Amanda se nega a responder. Pego a seringa do chão e
pressiono a agulha contra a pele de Amanda, mas não pressiono a seringa. Não
ainda.
— Eu não sei o que isso faz com os humanos, mas eu te
asseguro que estou querendo descobrir.
— Ela é minha filha! – Amanda grita. – Eu a abandonei quando
pequena. Eu sabia que ela estava dentro de seu corpo, mas achava que ela
possuía o controle, não você. Eu quero que ela seja humana, viva uma vida
normal.
— Não, você não quer. Sabe como eu sei disso? Por que isso
aqui é uma ilusão do passado, mas não do meu. Eu fui um contratempo. Minha
memória de tortura foi combinada com a mera lembrança que Íris tinha de você e
isso causou todo esse ambiente. Você é a pessoa que tentará com todas as forças
prender Íris aqui por toda a eternidade e adivinha? Eu não vou deixar isso
acontecer.
Íris abre os olhos e tenta dizer algo. Aproveito a chance.
— Íris, o que você mais se importa aqui neste local? O que
você quer levar de volta? Rápido.
Íris parece confusa, mas aponta para uma foto pregada na
parede. Aquela foto também não estava lá. É a foto dela com sua família. – Zeus
e Amanda. – Pego a foto e deixo Amanda na cadeira enquanto vejo Íris fechar os
olhos novamente. Volto para ela e ergo-a em direção a porta, onde atravessamos
com segurança.
[...]
— Ariel? –
Pergunto. Acho que ela voltou.
— Chase? Estou
tão feliz em ver você! – Ariel me abraça.
— Ok, isso foi
estranho.
Uma luz branca
ilumina todo o ambiente e vejo Íris despencar no chão. Olho para Ariel, um
pouco confuso.
— Não tenho
tempo para explicar. Onde estão os outros?
— Chase e eu
voltamos rápido. Nossos objetos estão uns trinta passos ao norte. São uma bola
autografada e um pingente de foice.
— Pingentinho
enjoado esse seu, não é? – Ariel ironiza.
— Milena não
conseguiu voltar. – Digo.
Ariel fica em
silêncio por alguns segundos, depois, levanta-se e vai até Íris, onde pega uma
foto e caminha até o local onde deixamos nossos pertences.
— E agora, o que
nós fazemos? – Pergunto.
— Esperamos. –
Ariel responde.
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL, FÉLIX E WALTER HUGO
ESCRITO POR - WALTER HUGO
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