quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Duas Faces no Espelho - Capítulo 20


Capítulo 20

Enquanto Raul dirigia com destreza rumo a mansão Trevor, Lucas olhava com preocupação para Alis, encolhida a um canto da limusine. Ela chorava baxinho, esfregando a bochecha onde uma grande mancha roxa começava a aparecer.

Ele não sabia o que fazer para aliviar a dor que ela sentia agora. Sabia que ela desconfiava de todos a sua volta e com razão. Já havia sofrido e sido magoada muitas vezes. Não foi a intenção dele trata-la como um objeto de compra-e-venda, mas era a maneira mais rápida e fácil e tirá-la da situação em que ela se encontrava.

Ele bem gostaria de ter socado Brade, mas ele era policial e Lucas poderia ser preso e Alis poderia voltar para as garras daquele mostro. Ele preferia ver Brade preso ao invés de ter dado R$100 mil de bônus para um troglodita que batia na própria esposa infinitamente menor e mais fraca do que ele.  Contudo, Alis havia chegado a uma situação limite e como não deixou que ele a ajudasse, forçou-o a tomar uma medida drástica. A ir. Ágatha havia alertado que Alis era uma mulher de princípio. E ele sabia o que ela pensaria dele, mas não podia simplesmente deixar que Brade colocasse as mãos nela.

Raul parou na frente da mansão e antes que Alis tentasse novamente fugir, Lucas segurou-a pela cintura e guiou-a para dentro. Ela estava gelada e Lucas gostaria de poder abraça-la, mas achou que uma mão na cintura dela era todo o contato que ela poderia aceitar naquele momento.

Quando entraram na sala de visitas, Vanessa, que assistia a televisão, levantou-se e aproximou-se de Lucas e Alis.

- Sr. Lucas, que bom que está de volta do hospital. O bebê estava com saudades. – falou a babá, simpática.

- Está dormindo? – perguntou Lucas olhando para cima, em direção ao quarto de Júnior.

- Sim, como um anjinho...

Foi então que Vanessa olhou para Alis e percebeu a mancha roxa no rosto dela.

- Tudo bem, Sra Trevor? – perguntou Vanessa, com preocupação.

- Esta não é Liz, Vanessa. Ela é Alis Brade, é a irmã gêmea de Liz.

- Mas são iguais... – falou Vanessa e como se tudo fizesse sentido, adicionou – Então, a senhora é que estava... quando o bebê teve a infecção no ouvido... foi a senhora que...

- Sim, Vanessa... – falou Lucas, num tom grave, quando Alis virou o rosto, enxugando as lágrimas com as costas das mãos. – Estou confiando isso a você, mas deve manter em segredo, por enquanto.

- Sim, senhor... quer que eu prepare um chá para ela, Sr. Lucas? – perguntou a babá, prestativa.

- Acho que sim, Vanessa... erva-doce com camomila, se não se incomodar...

Depois disso, Lucas, puxou Alis levemente para si e guiou-a para cima. Alis parecia se encolher a cada degrau que subiam.

- O que vai fazer comigo, Sr. Trevor? – perguntou Alis, sem conseguir segurar as lágrimas que vertiam livremente pelo rosto.

- Já lhe disse que não sou uma canalha, Alis... – falou Lucas, envolvendo-a ao perceber que ela intencionava se esquivar dele.

- Então para que me comprou? - perguntou ela, quando chegaram ao quarto que fora de Liz por alguns anos.

Lucas acendeu a luz do quarto, puxou as cobertas e fez Alis se deitar, cobrindo-a novamente.

- Um dia, você vai entender que o que eu fiz foi para o seu bem. – falou ele, preocupado, puxando a cadeira da cômoda para sentar-se no lado dela. Ele aproximou sua mão dela para tocar levemente no lugar onde Brade a havia golpeado. Ela se encolheu o máximo que pôde na cama, pois temia que ele a machucasse. – Alis... você não imagina o quanto eu queria ter evitado isso... – disse ele, escorregando o dedo levemente por seu rosto – Eu nunca mais vou deixar que ninguém te machuque, Alis, por favor, confie em mim... Eu sei que já te machucaram além da conta, mas eu não vou fazer isso.

- Você está mentindo! – falou Alis. Uma lágrima escorregou de seus olhos e caiu sobre a mão de Lucas que acariciava seu rosto. – Você vai me machucar também... é só uma questão de tempo.

- Senhor... aqui está o chá! – disse Vanessa, entrando no quarto, entregando o chá nas mãos de Lucas e saindo em seguida.

Lucas colocou o chá sobre a cômoda. Depois levantou-se e saiu também do quarto, deixando Alis sozinha.

Ela levantou-se no mesmo instante e aproximou-se da janela. Uma vez havia saído por ali. Saiu para salvar a Lucas e ao bebê, acreditando que ele era um bom homem.  Com um pouco de dificuldade, abriu a janela, sentindo o vento acoitar seu rosto já machucado, fazia menção em pular para o parapeito, quando sentiu uma mão segurando-a pela cintura.

- Eu sabia que tentaria isso! – falou Lucas, fechando de novo a janela. Dessa vez, ele passou uma corrente pelo corrimão e trancou-a com um cadeado. – É para sua própria proteção, Alis...

Alis ficou ali, olhando a janela trancada com uma profunda tristeza e sentou-se no chão, movimentando-se para frente e para trás.

Lucas olhou para a cena com um aperto no coração. Como provar a Alis que ele a amava, que ele só queria protege-la, que não lhe faria mal. Só o que ela tinha conhecido até agora era gente ruim que a havia enganado. Tocado, ajoelhou-se do seu lado e tentou abraça-la, mas ela gritou e se afastou dele, encolhendo-se num canto do quarto.

Lucas levantou-se, aproximou-se de Alis e agarrando-a pelo pulso, levantou-a no colo. Ela novamente resistiu, gritando e tentando afastá-lo dela, mas ele a colocou novamente na cama e a cobriu com os cobertores.  Ela agora estava totalmente transtornada, mas não queria que ela passasse a noite encolhida num canto do quarto.

- Tome o chá! – disse ele, firmemente, estendendo-lhe a xícara.

Ela encarou a xicara por vários minutos, antes de segurá-la. Começou a bebericar o conteúdo de pouquinho em pouquinho, mas logo bebeu todo o chá. Ele tirou a xícara dela, mas permaneceu ali, vigiando-lhe o sono. Aos pouco, viu que os cílios dela começaram a pesar e depois de muitos minutos, ela finalmente adormeceu. Enternecido, Lucas deitou na cama ao lado de Alise beijou sua testa, abraçando-a e certificando-se de que estava totalmente coberta e aquecida.

- Você vai ficar bem, Alis... sei que vai... – sussurrou ele nos ouvidos dela e, antes que pudesse controlar o cansaço que se abatia sobre ele, também adormeceu.