Capítulo 18
Lucas colocou o terno, ajeitou-se como podia e saiu para o corredor.
Havia acabado de ganhar alta do seu novo médico particular, o Sr. Thomas. Seu
ombro doía um pouco, mas cinco dias havia sido o suficiente para ele, já estava
ansioso para resolver tudo o que precisava resolver.
Estava saindo na sala de visitas do setor em que estava no hospital,
quando teve um sobressalto. Viu uma mulher igual a Alis ao lado do seu
motorista Raul, mas quando a mulher levantou-se, encaminhando-se na sua direção
com um sorriso insinuante, ele soube no mesmo instante que se tratava de Liz.
- Oh, querido! – disse ela, envolvendo seu pescoço com ambas as mãos. – Não sabe como estou contente por você estar bem!
- Imagino! – falou Lucas, afastando os braços de Liz. – O que você quer?
- Ora... ora, querido... só quero você, nossa casa, nosso filho...
- Ah... nosso filho? – falou Lucas, com um tom irônico. – Agora ele é NOSSO filho?
- Oh, querido. Você sabe que eu amo você e o nosso filho mais do que tudo no mundo. Sei que agi mal antes, mas agora, depois de tudo o que aconteceu, eu finalmente compreendi o quanto te amo e o quanto quero a nossa família juntos.
- Ah, é? – falou Lucas, no mesmo tom – Então não é porque Alex Cartumis confiscou os títulos ao portador como evidência e você está sem um tostão, não é?
Lucas sabia que esta era a verdade. Cartumis havia acabado de ligar para
ele e contado as novidades: Amélia estava no hospital e logo seria enviada para
a cadeia e os títulos que Liz tinha consigo haviam sido confiscados.
- Ora, qual é? – falou Liz, mudando de tom rispidamente. – Eu sou a sua
mulher...
- Não será por muito tempo. – falou Lucas, num tom sério agora. – Eu quero o divórcio! E se você não concordar, vou entrar com o litígio.
Liz olhou para Lucas com ódio nos olhos, parecia irritada.
- Tudo bem! – falou ela, depois de alguns segundos. – Eu lhe dou o divórcio, mas quero dinheiro. Eu quero 5 milhões! E saio da sua vida para sempre!
- Ah, claro! – falou Lucas, num tom bem incisivo. – Como se você
merecesse. Nós temos um contrato pré-nupcial, amor, deve estar lembrada disso.
Eu não preciso lhe dar um centavo. Mas serei bom pra você, coisa que você não
merece depois do que tentou fazer com a sua própria irmã: eu lhe darei o apartamento
do centro.
Era lá que Liz estava ficando, Lucas tinha certeza, pois os empregados
avisaram que ela não retornara para casa. Era neste apartamento que Liz havia
mantido o caso com Dante durante meses.
- Eu sei que você não precisa me dar nada. Mas se não me der o que eu
estou pedindo, eu vou fazer da sua vida um inferno. Vou pedir a guarda de Jr. E
juro que não vou desistir enquanto não conseguir.
Lucas olhou para Liz. Aquela realmente era Liz, imoral e mesquinha.
Negociando a guarda do bebê como se ele fosse uma moeda.
- Você está envolvida na morte de Eagleton. Alex falou que você está sendo investigada e agora que o dinheiro foi confiscado com você, haverá muita coisa para você esclarecer. E eu ainda tenho o testemunho de Alex Cartumis de que você trocou de identidade deliberadamente com Alis e esperava que ela fosse assassinada. Você acha que algum juiz seria louco de conceder a guarda do menino a alguém como você?
Liz pareceu titubear.
- Ninguém tem prova disso. E... ora Lucas, por favor, o que é 5 milhões pra você? Seu filho não vale isso? Eihn? 1 milhão, então...
Lucas se aproximou e segurou Liz pelos braços, fazendo-a olhar para ele.
- Eu lhe dou 2 milhões e você vai assinar um contrato abrindo mão da guarda de Júnior e ainda vai desaparecer da minha vida, está entendendo?
- Está bem! – disse Liz, um pouco assustada com o tom ameaçador de Lucas – E o apartamento? Posso ficar com o apartamento, não é?
- Sim... vá amanhã ao meu escritório, na empresa, não na mansão. Agora, finja que não me viu e suma daqui!
Lucas largou Liz. Ela queria dizer alguma coisa ainda, mas depois resolveu obedecer Lucas e sumiu no corredor para a saída do hospital.
Quando ela desapareceu, Lucas fez um sinal para Raul para que este o esperasse e caminhou até a recepção.
- Olá! Gostaria de saber o quarto da Sra. Alis Brade. – falou Lucas para a recepcionista atrás de um balcão - Ela está no quinto andar, me parece.
A recepcionista utilizou o computador, digitando algumas letras, depois
virou-se para Lucas:
- Ela recebeu alta ontem, Senhor.
Lucas franziu as sombrancelhas, sem saber direito o que fazer. Alex havia lhe dito que Alis estava fora de perigo, mas não estava muito bem. Como então ela já havia recebido alta?
- Você tem certeza? – insistiu Lucas, preocupado.
- Sim, Senhor. Quem lhe deu alta foi o Dr. Kristopher e... – a mulher voltou o olhar para o monitor do computador mais uma vez antes de terminar a frase - ... aqui consta que ela foi liberada com a assinatura do marido.
- O QUE? O MARIDO? AMILTON BRADE? – perguntou Lucas, sentindo um embrulho no estomago, só de pensar em Alis com o monstro que era o marido dela.
- Sim, Senhor!!! Amilton Brade...
Meia hora depois, Raul acelerava cada vez mais o carro ante o pedido do chefe. Lucas, ao lado de Raul, parecia nervoso e agradeceu por Raul saber onde ficava a casa de Alis. Pouco tempo depois, a limosine estacionou.
- É aqui? – perguntou Lucas olhando para a humilde casa lá fora. Era um
casebre, para falar a verdade. Uma casa pequena num terreno pequeno rodeado por
uma pequena cerca de madeira. Ao menos o jardim era bem cuidado. Rosas, na
maioria. Certamente, aquela era a casa de Alis.
Ele saiu do carro e caminhou em direção a casa, pulou a cerca que se
erguia até um pouco mais que seu joelho, foi até a porta da frente e bateu.
Como ninguém atendeu, ele bateu novamente.
- Só um minuto! – falou um vozinha lá dentro e Lucas respirou aliviado,
ao reconhecer a voz de Alis.
Quando a porta se abriu, Lucas ficou atônito, tanto quanto Alis que o
olhava sem saber direito o que fazer.
- Sr. Trevor... ? – falou ela, olhando em volta. Parecia com medo.
- Posso entrar? Precisamos conversar, Alis... – falou ele, contendo a
vontade de abraça-la e beijá-la. Sabia que isso a assustaria.
- Bem... – falou Alis, parecendo mais nervosa. Por fim, saiu da frente para que Lucas pudesse passar.
Internamente, a casa de Alis era ainda mais humilde, mas bem ajeitada. Havia uma pequena sala com um sofá pequeno. Ela indicou a Lucas que se sentasse e se sentou na poltrona ao lado. Ela esfregava nervosamente as mãos e olhava o tempo todo para o relógio.
- Você está bem, Alis? Cartumis falou que você não estava muito bem,
imaginei que ficaria mais tempo no hospital...
- Estou bem... – respondeu ela, simplesmente.
- E onde está o seu marido?
- Trabalhando... – falou Alis, meio sem jeito. – Como sabia que eu era casada?
- Eu sei de tudo, Alis. Sei que seu marido é violento com você e é por isso que eu estou aqui... vim para te ajudar. Você vai pegar as suas coisas e nós vamos sair daqui agora. Não vou deixar você aqui... – falou Lucas, de uma vez só. Sabia que precisava ter cautela com Alis, mas estava preocupado demais para deixa-la ali. Alis, por outro lado, parecia inquieta. Observava-o com os cenhos franzidos, mas parecia aborrecida.
- E depois, Sr. Trevor...? – falou ela, num tom distante e frio –
Deixe-me dizer: depois, o senhor irá dizer que vai me proteger. Que jamais me
machucará. E eu, como uma tola, vou acreditar. Vou me sentir protegida e
segura, até que as humilhações comecem. Um pequeno empurrão hoje, um tapa na
cara amanhã e quando der por mim, estarei algemada numa cama !!! – disse ela,
num tom sombrio e distante.
- Alis... – falou Lucas, com calma. Por que diabos Alis estava
daquela maneira?, pensou Lucas, preocupado. – O que o seu marido fez com você?
- Eu só queria ser amada. Eu queria poder me sentir segura... mas não
posso... sabe por que, Sr. Trevor? Todos os homens mentem: meu padrasto mentiu
para mim quando disse que seria o pai que eu nunca tive. Meu marido mentiu para
mim quando disse que me amaria e o senhor mentiu para mim quando sabia de tudo.
Sabe o quanto eu sofri? Sabe quantas vezes quis dizer a verdade? Você, minha
irmã, Brade.. . – disse Alis, com tristeza, fechando os olhos. – Por que todos
só querem me machucar???
- Alis, por favor, deixe-me ajuda-la – disse Lucas, saindo do seu sofá
para aproximar-se dela, mas quando ele tocou em seus braços, Alis se afastou,
assustada, como se ele fosse machuca-la. Estava muito óbvio para ele que Brade
havia feito alguma coisa para ela.
- Vá embora! – disse ela, por fim, parecendo muito perturbada. – Vá
embora, Sr. Trevor.
- Eu não vou deixar você aqui... vem comigo, Alis... por favor... –
disse Lucas, já quase desesperado. – Eu juro que não vou machuca-la.
- Foi o que Brade disse... ele jurou... prometeu que jamais faria comigo
o que meu padrasto fez e, no entanto, ele conseguiu ser muito pior, em todos os
sentidos. – revelou Alis e quando piscou, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
- Eu vou chamar a polícia. Alex Cartumis vai prender esse canalha! – disse Lucas, tirando o celular do bolso, mas Alis atacou-o, arrancando o celular de sua mão.
- Não... por favor, você não sabe do que ele é capaz. Ele vai me matar se você chamar a polícia, ou vai fazer algo muito pior.
- Não vai não, Alis! – falou Lucas, resoluto. – Você não está sozinha agora. Eu estou com você... não vou abandoná-la.
- NÃO! NÃO!!! - gritou Alis... – Eu tenho medo... eu tenho medo...
Lucas olhou para Alis completamente confuso. Não sabia o que fazer. Simplesmente não sabia o que fazer.
- Alis.... por Deus, apenas me escute – disse ele, calmamente. – Pense no que fez enquanto estava naquela mansão. Você sobreviveu a um acidente horrível. Sobreviveu quando quiseram te envenenar. Você sobreviveu quando Dante quis mata-la. E você ainda foi forte o suficiente para me defender... Você matou Dante para me salvar Alis. Então, não me diga que tem medo, por que eu sei que dentro de você há uma verdadeira fera prestes a sair... E se você pôde me defender de Dante, eu posso defendê-la de Brade.
Alis parecia titubear, mas ainda não quis lhe entregar o celular.
- Eu sei o que parece, Alis. Sei que a você parece que todos os homens
são iguais. Mas nem todos são iguais. Nem todas as pessoas são cruéis e
mesquinhas... mas se você pensar que são e se enfiar numa casca sem deixar que
as outras pessoas se aproximem de você, então jamais saberá que existem pessoas
boas, pessoas que fazem a nossa existência ter sentido...
Lucas parou de falar, mas tinha seu olhar fixo em Alis. Ela parecia estranhamente calma agora.
- Eu entendo. E acho que o senhor tem razão. Ir. Agatha sempre foi boa
pra mim. E ela faz parte da minha vida – falou ela, entregando o celular para
Lucas. – Mas o senhor não! E não deve se intrometer em assuntos que não lhe
dizem respeito. Agora saia, ou eu mesmo chamo a polícia...
- Alis...
- Saia! – falou ela, num tom sério.
Lucas respirou fundo. Ela parecia resoluta e não poderia simplesmente arrancá-la dali contra a vontade dela, podia?
- Tudo bem... eu vou, agora – disse ele, vencido. – Mas se você tiver qualquer problema, qualquer ínfimo problema que seja, basta me ligar, Alis. Você é a tia do meu filho. Você é minha família e mesmo que ache que não, eu agora faço parte da sua vida.
Contrariado, Lucas saiu da casa, atravessou a rua e entrou na limusine.
- Para casa agora, Sr. Trevor? – perguntou Raul.
- Não! Dê a volta, Raul e estacione mais a frente. Vou esperar aquele desgraçado chegar...