Capítulo 15
Alis retornou ao quarto, com o pensamento em turbilhão. Sentiu-se mal. O
peito pesava e o ar parecia cada vez mais rarefeito. Não sabia se era em função
do acidente ou em função do que havia bebido naquele chá que Amélia havia lhe
dado. Era veneno, só podia ser. Tentou dar alguns passos mais caiu no lado da
cama. Apoiou-se na cômoda e levantou-se. Divisou seu rosto no espelho da cômoda
e assustou-se: estava rosada, como se estivesse sufocando. Por um instante, sua
aparência a alarmou mais ainda e tomada com o desespero caiu novamente de
costas ao chão. Ela olhou para o teto e tudo ficou escuro. Faltava ar e quanto
mais ela puxava menos conseguia respirar. “Deus, eu não posso morrer agora!”,
disse a si mesma e fechou os olhos. “Concentre-se, acalme-se, há pessoas que precisam
da sua ajuda!”.
Aquilo pareceu acalmá-la um pouco e um pequeno fio de ar encheu seus
pulmões. Expeliu com calma o ar e puxou novamente. Era difícil e levou alguns
segundos, mas conseguiu controlar a respiração o suficiente para não perder os
sentidos e renovada, ajoelhou-se. Precisava pensar rápido e agir rápido, mas o
que ela poderia fazer contra três homens armados e uma mulher má intencionada?
Escutou um barulho - um toque em vibração - e procurou com o olhar sua
bolsa. Estava perto dela, entre a cômoda e a cama. Abriu depressa o zíper da
bolsa e achou o celular tateando com a mão. Era o celular de Liz e no
mostrador do celular estava seu nome: Alis. Como elas haviam trocado de
celular, era Liz quem ligava para ela agora. Alis atendeu imediatamente:
- Liz, Liz, é você? – perguntou ela, em sussurro, não queria que ninguém
a escutasse.
- Não, Srta. Brade, aqui é Alex Cartumis, o detetive que estava cuidando
do caso do assassinato de Eagleton...
Alis lembrava-se de Alex. Ele fora o homem que a prendera.
- Oh, por favor, eu preciso de ajuda. A mansão foi invadida e pegaram
Lucas, o bebê, a babá e Dunga de reféns, o senhor precisa me ajudar...
- Sim, Senhora, não se preocupe, estamos conscientes da situação. Há
câmeras instaladas na mansão, estamos monitorando. Estou, na verdade,
preocupado com a senhora. Ao que parece, a senhora Amélia Eagleton a envenenou
com Cianeto, achávamos que a senhora estava morta.
- Estava muito próxima disto, mas estou bem agora.
- A senhora não está entendendo, Sra. Brade. Cianeto é um veneno letal, causa asfixia, parada cardíaca ou isquemia cerebral! Se foi acometida com o veneno, a senhora pode vir a falecer...
- Eu vomitei, creio que tenha vomitado todo o conteúdo. – explicou Alis
– Estou bem, o senhor precisa fazer alguma coisa para ajudar Lucas e os outros.
- Há uma ação em andamento, Sra. Brade. Vamos invadir a mansão, mas eu
quero que a senhora procure um abrigo, um banheiro se possível, e tranque-se
até que a situação esteja sob controle.
- Esta bem! – falou Alis e desligou o celular, mas manteve-o na mão. Ela
não iria se esconder. Não dessa vez. Já havia cansado de se esconder durante
toda a sua vida: de seu maldito padrasto, do seu marido idiota. Sempre que se
escondia, mais cedo ou mais tarde, Alis era descoberta e o castigo era muito
pior. Cansou-se. Cansou-se e não iria deixar que nada acontecesse com Lucas ou
o bebê. Por isso, respirou fundo e aproximou-se da janela, abrindo-a. Pulou a
mureta, equilibrando-se no parapeito e mirando uma árvore perto, pulou. Bateu
com força sobre um galho de arvore e quase escapou, mas conseguiu se segurar.
Arrastou-se para baixo. Quando alcançou o chão, sua camisola estava
completamente suja e rasgada, mas não ligava. Era hora de fazer algo.
(...)
- Não acredito! – falou Liz observando a ação de Alis nos monitores da Van. Não
havia câmeras no quarto, mas os monitores externos cobriam quase todo o entorno
da mansão – A idiota vai acabar se matando.
- É, não dá pra acreditar, como é que uma pessoa que acabou de se
recuperar de um acidente e de um envenenamento por Cianeto pode estar bancando
a heroína? – falou Alex, com calma. Pensava se poderia esgueirar-se pelos
jardins e resgatar Alis. O problema é que Alis estava na parte de trás da casa
e para chegar até ela era preciso passar pelo labirinto verde. Alex odiava
labirintos.
- Senhor... a equipe de assalto chegou – disse um outro policial,
abrindo a porta da Van.
- É, o show vai começar! – falou Alex, observando Alis esgueirar-se pela
parede da casa até encontrar uma das janelas do que parecia ser o porão.
(...)
Alis quebrou com os pés os vidros da janela a um centímetro do chão.
Eram três vidros pequenos e chatos o suficiente para uma pessoa exageradamente
magra como ela passar. Alis nunca tinha estado antes no porão, mas era
como qualquer outro: escuro e empoeirado. Ela utilizou a luz do monitor do
celular para tentar divisar um caminho. Encontrou logo a escada para cima, mas
não subiu, na verdade, procurava outra coisa e quando encontrou, procurou no
celular o seu próprio nome e discou:
- Sr. Cartumis? – falou ela, quando o outro lado atendeu:- Escute-me
bem: eu tenho um plano!
(...)
- Estou escutando – Falou Cartumis, observando o monitor que mostrava
Alis diante dos disjuntores de luz no porão. No mostrador digital o horário
apontava: faltava apenas cinco minutos para a meia noite!