sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Duas Faces no Espelho - Capítulo 15


Capítulo 15

Alis retornou ao quarto, com o pensamento em turbilhão. Sentiu-se mal. O peito pesava e o ar parecia cada vez mais rarefeito. Não sabia se era em função do acidente ou em função do que havia bebido naquele chá que Amélia havia lhe dado. Era veneno, só podia ser. Tentou dar alguns passos mais caiu no lado da cama. Apoiou-se na cômoda e levantou-se. Divisou seu rosto no espelho da cômoda e assustou-se: estava rosada, como se estivesse sufocando. Por um instante, sua aparência a alarmou mais ainda e tomada com o desespero caiu novamente de costas ao chão. Ela olhou para o teto e tudo ficou escuro. Faltava ar e quanto mais ela puxava menos conseguia respirar. “Deus, eu não posso morrer agora!”, disse a si mesma e fechou os olhos. “Concentre-se, acalme-se, há pessoas que precisam da sua ajuda!”.

Aquilo pareceu acalmá-la um pouco e um pequeno fio de ar encheu seus pulmões. Expeliu com calma o ar e puxou novamente. Era difícil e levou alguns segundos, mas conseguiu controlar a respiração o suficiente para não perder os sentidos e renovada, ajoelhou-se. Precisava pensar rápido e agir rápido, mas o que ela poderia fazer contra três homens armados e uma mulher má intencionada?

Escutou um barulho - um toque em vibração - e procurou com o olhar sua bolsa. Estava perto dela, entre a cômoda e a cama. Abriu depressa o zíper da bolsa e achou o celular tateando com a mão. Era o celular de Liz e no mostrador  do celular estava seu nome: Alis. Como elas haviam trocado de celular, era Liz quem ligava para ela agora. Alis atendeu imediatamente:

- Liz, Liz, é você? – perguntou ela, em sussurro, não queria que ninguém a escutasse.

- Não, Srta. Brade, aqui é Alex Cartumis, o detetive que estava cuidando do caso do assassinato de Eagleton...

Alis lembrava-se de Alex. Ele fora o homem que a prendera.

- Oh, por favor, eu preciso de ajuda. A mansão foi invadida e pegaram Lucas, o bebê, a babá e Dunga de reféns, o senhor precisa me ajudar...

- Sim, Senhora, não se preocupe, estamos conscientes da situação. Há câmeras instaladas na mansão, estamos monitorando. Estou, na verdade, preocupado com a senhora. Ao que parece, a senhora Amélia Eagleton a envenenou com Cianeto, achávamos que a senhora estava morta.
- Estava muito próxima disto, mas estou bem agora.

- A senhora não está entendendo, Sra. Brade. Cianeto é um veneno letal, causa asfixia, parada cardíaca ou isquemia cerebral! Se foi acometida com o veneno, a senhora pode vir a falecer...

- Eu vomitei, creio que tenha vomitado todo o conteúdo. – explicou Alis – Estou bem, o senhor precisa fazer alguma coisa para ajudar Lucas e os outros.

- Há uma ação em andamento, Sra. Brade. Vamos invadir a mansão, mas eu quero que a senhora procure um abrigo, um banheiro se possível, e tranque-se até que a situação esteja sob controle.

- Esta bem! – falou Alis e desligou o celular, mas manteve-o na mão. Ela não iria se esconder. Não dessa vez. Já havia cansado de se esconder durante toda a sua vida: de seu maldito padrasto, do seu marido idiota. Sempre que se escondia, mais cedo ou mais tarde, Alis era descoberta e o castigo era muito pior. Cansou-se. Cansou-se e não iria deixar que nada acontecesse com Lucas ou o bebê. Por isso, respirou fundo e aproximou-se da janela, abrindo-a. Pulou a mureta, equilibrando-se no parapeito e mirando uma árvore perto, pulou. Bateu com força sobre um galho de arvore e quase escapou, mas conseguiu se segurar. Arrastou-se para baixo. Quando alcançou o chão, sua camisola estava completamente suja e rasgada, mas não ligava. Era hora de fazer algo.

(...)

- Não acredito! – falou Liz observando a ação de Alis nos monitores da Van. Não havia câmeras no quarto, mas os monitores externos cobriam quase todo o entorno da mansão – A idiota vai acabar se matando.

- É, não dá pra acreditar, como é que uma pessoa que acabou de se recuperar de um acidente e de um envenenamento por Cianeto pode estar bancando a heroína? – falou Alex, com calma. Pensava se poderia esgueirar-se pelos jardins e resgatar Alis. O problema é que Alis estava na parte de trás da casa e para chegar até ela era preciso passar pelo labirinto verde. Alex odiava labirintos.

- Senhor... a equipe de assalto chegou – disse um outro policial, abrindo a porta da Van.

- É, o show vai começar! – falou Alex, observando Alis esgueirar-se pela parede da casa até encontrar uma das janelas do que parecia ser o porão.

(...)


Alis quebrou com os pés os vidros da janela a um centímetro do chão. Eram três vidros pequenos e chatos o suficiente para uma pessoa exageradamente magra como ela passar.  Alis nunca tinha estado antes no porão, mas era como qualquer outro: escuro e empoeirado. Ela utilizou a luz do monitor do celular para tentar divisar um caminho. Encontrou logo a escada para cima, mas não subiu, na verdade, procurava outra coisa e quando encontrou, procurou no celular o seu próprio nome e discou:

- Sr. Cartumis? – falou ela, quando o outro lado atendeu:- Escute-me bem: eu tenho um plano!

(...)

- Estou escutando – Falou Cartumis, observando o monitor que mostrava Alis diante dos disjuntores de luz no porão. No mostrador digital o horário apontava: faltava apenas cinco minutos para a meia noite!