sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Duas Faces no Espelho - Capítulo 12


CAPÍTULO 12

Alis sentiu um perfume no ar e quando abriu os olhos divisou em algum ponto uma rosa vermelha. Do lado da cama de hospital, Lucas dormia desajeitado sobre a poltrona. Alis tentou sentar-se e depois de algumas tentativas desistiu. A essa altura, Lucas havia acordado e agora tentava ajeitar os travesseiros dela.

- Desculpe, não quis acordá-lo! – falou Alis, preocupada com a aparência de Lucas: ele parecia cansado e abatido.

- É com você que tem que se preocupar agora e pare de se desculpar, Liz! – falou Lucas, sentando-se na beirada da cama.  – Como você está?

- Acho que estou viva! – falou Alis, levando a mão ao peito demonstrando dificuldades para respirar.

- A enfermeira tirou o oxigênio, mas falou que se você tivesse dificuldades para respirar,  ela pode recolocar...

- Estou bem... vou ficar bem, pelo menos! Acho que já é alguma coisa!

Lucas olhou para Alis com um certo orgulho. Ela era mesmo uma coisinha frágil, mas ao mesmo tempo, demonstrava uma fortaleza silenciosa ao enfrentar aquela situação de dor e abalo físico. Sabia que não era a primeira vez que ela passava por uma situação difícil. Ele mesmo, não saberia como enfrentar aquilo tudo.

- Eu adoro flores! – falou Alis, observando a flor, completamente alheia ao olhar observador de Lucas que a comparava com Liz. Liz detestava tudo e qualquer outra coisa que não fosse ela mesma. Para satisfazê-la, era melhor dar um perfume francês, ou uma gorda conta em algum cartão de crédito. Alis parecia ser uma pessoa de outro mundo. Ninguém poderia ser tão doce e tão ingênua quanto ela, poderia?

- Eu estava muito preocupado com você... Dante falou que você estava se recuperando, mas não conseguia recobrar a consciência. Você ficou acordando e adormecendo durante todo esse tempo como se estivesse fora de si. Estou contente por ver você consciente, acordada, alerta... 

- Tempo...? – falou Alis num vozinha quase inaudível. Lembrou-se da louca situação em que se encontrava, a troca com Liz, a acusação de assassinato e, por fim, o acidente.  Achava incrível que sua irmã não tivesse desfeito a troca e esclarecido tudo enquanto ela estava inconsciente, a não ser que ela não tivesse sabido. - Lucas... a quanto tempo eu estou aqui no hospital?

- Já fez um mês, Liz! Um mês que estamos fora de casa.

- Oh, meu Deus! Para mim é como se o acidente tivesse acontecido ontem. – Era tempo demais. Alis começava a suspeitar que Liz não queria fazer a troca e isso era prejudicial tanto para ela quanto para Liz a não ser se algo tivesse acontecido a Liz. Sabia que Brade era perigoso. Estaria sua irmã a salvo?

- E o bebê, Lucas? E quanto ao Júnior? Como está o bebê?

- Ele está bem, Alis. Está com Vanessa e eu tenho ido para casa em alguns intervalos. Uma vez por dia, pelo menos, para ver o bebê, tomar banho, ver como estão as coisas...

- Oh, meu Deus... eu sinto tanto por todo esse inconveniente! Por favor, desculpe-me, Lucas

- Já disse para parar de se desculpar... foi um acidente, você ficou doente, não foi culpa sua... não é? – falou Lucas, tentando jogar a semente da dúvida na mente de Alis. Se Alis soubesse de alguma coisa a respeito de quem poderia estar atrás dela, ela daria pistas, mas Alis continuou como se não soubesse de nada e como se o ‘acidente’ havia sido de fato um incidente do acaso.

Apesar de um início lento e conturbado, a recuperação de Alis progrediu desde de a noite em que Alis acordou pela primeira vez. Dali a uma semana, Dante falou que, se Alis tomasse as devidas precauções e permanecesse em repouso, ela poderia ser liberada para continuar o tratamento em casa. Alis concordou no mesmo instante, mas Lucas ficou um pouco apreensivo. Não sabia exatamente  o que esperar ao leva-la para casa. No hospital, Lucas tinha as desculpas perfeitas para ficar o tempo todo de olho em Alis. Se ela fosse para casa, ele teria que voltar ao escritório em algum momento, se não quisesse chamar a atenção. E isso significaria deixar Alis sozinha na mansão a mercê de quem atentava contra a sua vida.

Lucas se opôs veemente, mas não teve muitos argumentos para manter Alis ali no hospital. Aceitou por fim, que Alis retornasse para casa depois de alguns dias. Lucas falou com o policial Cartumis sobre a alta de Alis e ambos tramaram um plano. Lucas liberou alguns empregados e os que restaram foram obrigados a ir ao hospital. Dante e Amélia também foram ao hospital no dia em que Alis seria liberada. E enquanto a mansão estava completamente abandonada, o policial Cartumis e dois policiais de sua confiança entraram e instalaram dezenas de microcâmeras por toda a mansão.

Alex queria ter mais tempo para investigar a mansão com mais cuidado a procura de indícios, mas quando pensou em fazer uma vistoria, vislumbrou um dos carros cruzando a entrada da mansão. Cartumis gritou aos dois policiais para que saíssem pelos fundos. Alex faria o mesmo, mas quando tentava descer as escadas viu as portas se abrirem e uma gama de pessoas entrando. Só teve tempo para entrar num dos quartos, que por infelicidade percebeu se tratar dos aposentos de Liz Trevor. Entre se esconder no banheiro, resolveu tentar a sorte no closet que era enorme. Achou um lugar entre um dos armários e sentou sobre um cobertor bem dobrado. Percebeu então, que havia alguma coisa dura abaixo dele. Achou uma pasta trancada. Era uma daquelas pastas que alguns colegas detetives guardavam seus coldres e armas. Seria este o caso? Como estava escondida, deveria ser algo importante, pelo menos, para Liz. Escutou um grande barulho no quarto e percebeu que havia muitas pessoas no quarto.

- Coloque ela sobre a cama, Lucas! – falou Amélia, ajeitando a cama.

Alis que estava no colo de Lucas, parecia não querer mais desgrudar do marido da irmã. Não era por mal, pensava Alis para si mesma. Ela nunca tivera algo como aquilo: um marido para segurá-la nos braços, confortá-la, cuidar dela. Eram coisas que não podia imaginar Brade fazendo.

Lucas depositou Alis com cuidado sobre os lençóis e depois a cobriu com a coberta.

- A tipóia encomoda? – perguntou Lucas, colocando o braço quebrado de Alis cuidadosamente sobre a coberta.

- Nada... – respondeu Alis, sem tirar os olhos de Lucas. Ele, é claro, percebia que há alguns dias a irmã de Liz olhava para ele com outros olhares. Precisava ter cuidado. Não queria magoá-la. Nem fazê-la se apaixonar por ele. Mas não podia evitar. Tinha pena dela, pelos maus tratos que sofrera na vida. E já estava na hora de alguém ser gentil com aquela doce menina.

E, pensando assim, sentou-se na beirada da cama, e segurou a mão boa de Alis.

Dante e Amélia que observavam a cena trocaram olhares.

- Nossa... sis - falou Dunga, com um sorriso irônico. – O que você fez para conquistar Lucas de novo? E melhor, né... esses olhares apaixonados dá até vontade de vomitar.

- Dessa vez, tenho que concordar com Dunga – falou Amélia. – Nunca vi vocês dois assim.

Lucas disfarçou um sorriso. Ah se eles soubessem! Mas quando olhou para Alis, viu que ela estava ruborizada e parecia perturbada com aquilo, afastando sua mão de Lucas, inconscientemente.

- Bem... acho que devemos deixar Liz dormindo e descansando. Já foi muita coisa esse translado do hospital para cá... Vou fazer um chá e te trago em seguida, querida... – falou Lucas e depositou um sóbrio beijo na testa de Alis.

Geralmente, bastava a Lucas dar a ordem para alguém, mas como havia dispensado quase todos os empregados, achou mais fácil fazer logo o chá do que achar alguém disponível para assessorá-lo na cozinha a essa hora da noite. Colocou a chaleira com água para ferver e procurava por um sachê na gaveta de chás quando percebeu um vulto atrás de si e virou-se com agilidade.

- Cartumis! Achei que estaria longe a uma hora dessas. O que está fazendo aqui? Amélia e Dunga podem ver você...

- Achei algo que você vai querer ver... – falou Alex num tom bem baixo, olhando para a porta de acesso a cozinha com medo de ser descoberto ali.

Cartumis colocou a pasta que havia encontrado no quarto de Liz sobre a mesa. Ele havia estourado a abertura arriscando perder evidências, mas não pode conter a curiosidade.

- O que é tudo isso? – perguntou Lucas, sem entender direito o que via.

- Passaporte em nome de Alis Brade. Apólices de seguro, documentos falsos, mas isso não é o pior. Há documentos aqui que provam que parte do dinheiro do Sr. Eagleton foi desviado para uma empresa fantasma.  Ele não faliu como o senhor me falou, Sr. Lucas. Ele foi levado a falir. Foi ludibriado. Milhões. Eu não tive tempo para ler tudo isso, mas algo perto dos 30 milhões de dólares.

- Meu Deus! – falou Lucas, escutando o barulho da chaleira como se estivesse a milhares de quilômetros de distância. – Então Liz está mesmo por trás disso tudo. Ela desviou o dinheiro do pai e o matou para encobrir tudo.

- Acho que sim. Acho que sua esposa plantou Alis aqui para que ela fosse indiciada como Liz na Polícia e depois tentou matar a garota. Se a falsa ‘Liz Trevor’ morresse, ela estaria livre e podre de rica para ir aonde bem quisesse como Alis Brade. Como ambas são rés primárias, nenhuma das duas tinha registro na polícia e ninguém iria verificar a autenticidade sendo elas tão parecidas. Seria o crime perfeito se vocês não tivessem sobrevivido ao acidente.

- E agora? – perguntou Lucas.

- Bem... a armadilha está pronta, Sr. Lucas. E como o senhor está pagando, tenho empregados de tocaia e vigiando as câmeras instaladas vinte quatro horas por dia. Agora é só esperar...