CAPÍTULO 12
Alis sentiu um perfume no ar e quando abriu os olhos divisou em algum
ponto uma rosa vermelha. Do lado da cama de hospital, Lucas dormia desajeitado
sobre a poltrona. Alis tentou sentar-se e depois de algumas tentativas
desistiu. A essa altura, Lucas havia acordado e agora tentava ajeitar os
travesseiros dela.
- Desculpe, não quis acordá-lo! – falou Alis, preocupada com a aparência
de Lucas: ele parecia cansado e abatido.
- É com você que tem que se preocupar agora e pare de se desculpar, Liz!
– falou Lucas, sentando-se na beirada da cama. – Como você está?
- Acho que estou viva! – falou Alis, levando a mão ao peito demonstrando
dificuldades para respirar.
- A enfermeira tirou o oxigênio, mas falou que se você tivesse dificuldades
para respirar, ela pode recolocar...
- Estou bem... vou ficar bem, pelo menos! Acho que já é alguma coisa!
Lucas olhou para Alis com um certo orgulho. Ela era mesmo uma coisinha
frágil, mas ao mesmo tempo, demonstrava uma fortaleza silenciosa ao enfrentar
aquela situação de dor e abalo físico. Sabia que não era a primeira vez que ela
passava por uma situação difícil. Ele mesmo, não saberia como enfrentar aquilo
tudo.
- Eu adoro flores! – falou Alis, observando a flor, completamente alheia ao olhar observador de Lucas que a comparava com Liz. Liz detestava tudo e qualquer outra coisa que não fosse ela mesma. Para satisfazê-la, era melhor dar um perfume francês, ou uma gorda conta em algum cartão de crédito. Alis parecia ser uma pessoa de outro mundo. Ninguém poderia ser tão doce e tão ingênua quanto ela, poderia?
- Eu estava muito preocupado com você... Dante falou que você estava se recuperando, mas não conseguia recobrar a consciência. Você ficou acordando e adormecendo durante todo esse tempo como se estivesse fora de si. Estou contente por ver você consciente, acordada, alerta...
- Tempo...? – falou Alis num vozinha quase inaudível. Lembrou-se da
louca situação em que se encontrava, a troca com Liz, a acusação de assassinato
e, por fim, o acidente. Achava incrível que sua irmã não tivesse desfeito
a troca e esclarecido tudo enquanto ela estava inconsciente, a não ser que ela
não tivesse sabido. - Lucas... a quanto tempo eu estou aqui no hospital?
- Já fez um mês, Liz! Um mês que estamos fora de casa.
- Oh, meu Deus! Para mim é como se o acidente tivesse acontecido ontem.
– Era tempo demais. Alis começava a suspeitar que Liz não queria fazer a troca
e isso era prejudicial tanto para ela quanto para Liz a não ser se algo tivesse
acontecido a Liz. Sabia que Brade era perigoso. Estaria sua irmã a salvo?
- E o bebê, Lucas? E quanto ao Júnior? Como está o bebê?
- Ele está bem, Alis. Está com Vanessa e eu tenho ido para casa em
alguns intervalos. Uma vez por dia, pelo menos, para ver o bebê, tomar banho,
ver como estão as coisas...
- Oh, meu Deus... eu sinto tanto por todo esse inconveniente! Por favor,
desculpe-me, Lucas
- Já disse para parar de se desculpar... foi um acidente, você ficou
doente, não foi culpa sua... não é? – falou Lucas, tentando jogar a semente da
dúvida na mente de Alis. Se Alis soubesse de alguma coisa a respeito de quem
poderia estar atrás dela, ela daria pistas, mas Alis continuou como se não
soubesse de nada e como se o ‘acidente’ havia sido de fato um incidente do
acaso.
Apesar de um início lento e conturbado, a recuperação de Alis progrediu
desde de a noite em que Alis acordou pela primeira vez. Dali a uma semana,
Dante falou que, se Alis tomasse as devidas precauções e permanecesse em
repouso, ela poderia ser liberada para continuar o tratamento em casa. Alis
concordou no mesmo instante, mas Lucas ficou um pouco apreensivo. Não sabia
exatamente o que esperar ao leva-la para casa. No hospital, Lucas tinha
as desculpas perfeitas para ficar o tempo todo de olho em Alis. Se ela fosse para
casa, ele teria que voltar ao escritório em algum momento, se não quisesse
chamar a atenção. E isso significaria deixar Alis sozinha na mansão a mercê de
quem atentava contra a sua vida.
Lucas se opôs veemente, mas não teve muitos argumentos para manter Alis ali no hospital. Aceitou por fim, que Alis retornasse para casa depois de alguns dias. Lucas falou com o policial Cartumis sobre a alta de Alis e ambos tramaram um plano. Lucas liberou alguns empregados e os que restaram foram obrigados a ir ao hospital. Dante e Amélia também foram ao hospital no dia em que Alis seria liberada. E enquanto a mansão estava completamente abandonada, o policial Cartumis e dois policiais de sua confiança entraram e instalaram dezenas de microcâmeras por toda a mansão.
Alex queria ter mais tempo para investigar a mansão com mais cuidado a
procura de indícios, mas quando pensou em fazer uma vistoria, vislumbrou um dos
carros cruzando a entrada da mansão. Cartumis gritou aos dois policiais para
que saíssem pelos fundos. Alex faria o mesmo, mas quando tentava descer as
escadas viu as portas se abrirem e uma gama de pessoas entrando. Só teve tempo
para entrar num dos quartos, que por infelicidade percebeu se tratar dos
aposentos de Liz Trevor. Entre se esconder no banheiro, resolveu tentar a sorte
no closet que era enorme. Achou um lugar entre um dos armários e sentou sobre
um cobertor bem dobrado. Percebeu então, que havia alguma coisa dura abaixo
dele. Achou uma pasta trancada. Era uma daquelas pastas que alguns colegas
detetives guardavam seus coldres e armas. Seria este o caso? Como estava
escondida, deveria ser algo importante, pelo menos, para Liz. Escutou um grande
barulho no quarto e percebeu que havia muitas pessoas no quarto.
- Coloque ela sobre a cama, Lucas! – falou Amélia, ajeitando a cama.
Alis que estava no colo de Lucas, parecia não querer mais desgrudar do
marido da irmã. Não era por mal, pensava Alis para si mesma. Ela nunca tivera
algo como aquilo: um marido para segurá-la nos braços, confortá-la, cuidar
dela. Eram coisas que não podia imaginar Brade fazendo.
Lucas depositou Alis com cuidado sobre os lençóis e depois a cobriu com
a coberta.
- A tipóia encomoda? – perguntou Lucas, colocando o braço quebrado de
Alis cuidadosamente sobre a coberta.
- Nada... – respondeu Alis, sem tirar os olhos de Lucas. Ele, é claro,
percebia que há alguns dias a irmã de Liz olhava para ele com outros olhares.
Precisava ter cuidado. Não queria magoá-la. Nem fazê-la se apaixonar por ele.
Mas não podia evitar. Tinha pena dela, pelos maus tratos que sofrera na vida. E
já estava na hora de alguém ser gentil com aquela doce menina.
E, pensando assim, sentou-se na beirada da cama, e segurou a mão boa de
Alis.
Dante e Amélia que observavam a cena trocaram olhares.
- Nossa... sis - falou Dunga, com um sorriso irônico. – O que você fez
para conquistar Lucas de novo? E melhor, né... esses olhares apaixonados dá até
vontade de vomitar.
- Dessa vez, tenho que concordar com Dunga – falou Amélia. – Nunca vi
vocês dois assim.
Lucas disfarçou um sorriso. Ah se eles soubessem! Mas quando olhou para
Alis, viu que ela estava ruborizada e parecia perturbada com aquilo, afastando
sua mão de Lucas, inconscientemente.
- Bem... acho que devemos deixar Liz dormindo e descansando. Já foi
muita coisa esse translado do hospital para cá... Vou fazer um chá e te trago
em seguida, querida... – falou Lucas e depositou um sóbrio beijo na testa de
Alis.
Geralmente, bastava a Lucas dar a ordem para alguém, mas como havia
dispensado quase todos os empregados, achou mais fácil fazer logo o chá do que
achar alguém disponível para assessorá-lo na cozinha a essa hora da noite.
Colocou a chaleira com água para ferver e procurava por um sachê na gaveta de
chás quando percebeu um vulto atrás de si e virou-se com agilidade.
- Cartumis! Achei que estaria longe a uma hora dessas. O que está
fazendo aqui? Amélia e Dunga podem ver você...
- Achei algo que você vai querer ver... – falou Alex num tom bem baixo,
olhando para a porta de acesso a cozinha com medo de ser descoberto ali.
Cartumis colocou a pasta que havia encontrado no quarto de Liz sobre a
mesa. Ele havia estourado a abertura arriscando perder evidências, mas não pode
conter a curiosidade.
- O que é tudo isso? – perguntou Lucas, sem entender direito o que via.
- Passaporte em nome de Alis Brade. Apólices de seguro, documentos
falsos, mas isso não é o pior. Há documentos aqui que provam que parte do
dinheiro do Sr. Eagleton foi desviado para uma empresa fantasma. Ele não
faliu como o senhor me falou, Sr. Lucas. Ele foi levado a falir. Foi
ludibriado. Milhões. Eu não tive tempo para ler tudo isso, mas algo perto dos
30 milhões de dólares.
- Meu Deus! – falou Lucas, escutando o barulho da chaleira como se
estivesse a milhares de quilômetros de distância. – Então Liz está mesmo por
trás disso tudo. Ela desviou o dinheiro do pai e o matou para encobrir tudo.
- Acho que sim. Acho que sua esposa plantou Alis aqui para que ela fosse
indiciada como Liz na Polícia e depois tentou matar a garota. Se a falsa ‘Liz
Trevor’ morresse, ela estaria livre e podre de rica para ir aonde bem quisesse
como Alis Brade. Como ambas são rés primárias, nenhuma das duas tinha registro
na polícia e ninguém iria verificar a autenticidade sendo elas tão parecidas.
Seria o crime perfeito se vocês não tivessem sobrevivido ao acidente.
- E agora? – perguntou Lucas.
- Bem... a armadilha está pronta, Sr. Lucas. E como o senhor está pagando, tenho empregados de tocaia e vigiando as câmeras instaladas vinte quatro horas por dia. Agora é só esperar...