DÉCIMO OITAVO EPISÓDIO
LIFE AS IT IS
"A VIDA COMO ELA É"
A vida é difícil
quando você não sabe quem você é. É mais difícil ainda quando você não sabe o que você é. Andar comigo é carregar
uma sentença de morte. Eu estive perdido por anos, procurando enquanto me
escondia, apenas para descobrir que eu pertencia à um mundo escondido dos humanos. Mas eu não vou mais me esconder. Eu vou viver a vida que eu escolhi
para mim.
Deveria
ser simples. Deveríamos poder sair do inferno apenas num estalar de dedos ou
num piscar de olhos ou ainda mesmo com o próprio pensamento, mas há várias
coisas nos impedindo de realizar isso e a maior delas tem um nome.
Lilith.
Ariel está nos
guiando pelo inferno inteiro, mas não nos diz onde ela está nos levando
exatamente. Quando a noite cai, o céu ganha um tom negro, embora tenham bem
menos almas habitando esse lugar agora do que quando chegamos.
Estou muito
cansado, mas me recuso a dormir. Da última vez que eu dormi, eu vi Katherine
sendo capturada em seu próprio Limbo, e isso só faz com que a minha culpa
aumente cada vez mais. Luna pega pela minha mão e me leva floresta adentro até
um lago.
— Por que você
me trouxe aqui? – Pergunto.
— Eu e você
vamos treinar nossas habilidades novas. É uma coisa boa, não acha?
— E quanto aos
outros?
— Eu conversei
com Silas praticamente o dia inteiro. Ele virá treinar aqui pela manhã,
juntamente com Milena, Ryan e E.D.. Eu sei que não devemos focar em nada mais
do que acabar com a raça de Lilith, mas não há maneira melhor de fazer isso
senão treinar bastante. Preparado? – Luna me pergunta e eu assinto com a
cabeça.
Ela pega a minha
foice das minhas costas, seu cajado, uma presilha de cabelo, uma faca bastante
afiada e o pingente de foice. Luna arremessa a presilha e a faca dentro do
lago.
— Concentre-se
em sua telecinese. Esvazie todos os seus pensamentos e foque toda a sua energia
em tirar a faca de dentro do lago. Acha que pode fazer isso?
Digo a Luna que
sim. Inspiro e expiro constantemente, até me sentir inteiramente calmo e vazio
de pensamentos. Concentro toda a minha energia na faca e, por impulso, deixo
meu braço estendido. Sinto que a faca está se movendo, mas ainda não consegui
tirá-la do lago. Fecho os meus olhos e tento mais uma vez.
— Droga! Eu não
consigo fazer nada direito! – Grito e chuto o tronco de uma árvore, mas meu pé
acaba cortando a madeira.
— Chase, olhe ao
seu redor. – Luna afirma e eu me viro.
Vejo frutas,
folhas e os objetos flutuando. Vejo minha foice pairando no ar, próximo ao
cajado de Luna. Dessa vez, tento não me esforçar tanto e, lentamente, movimento
o cajado de volta às mãos de Luna, em seguida, o pingente de foice volta a
ficar em seu pescoço.
Luna sorri e eu
coro. Minha distração faz que tudo despenque no chão e o barulho é um pouco
alto. Vejo um objeto prateado pairando sobre o lago e percebo que é a faca e
que está vindo em minha direção, mas meu susto é tão grande que não consigo
pará-la. Luna olha diretamente nos meus olhos e grita para que eu desvie o
objeto, mas continuo imóvel como uma estátua. Seus olhos tomam uma coloração
acinzentada e ela diz mais uma vez para que eu desvie a faca, e dessa vez, o
objeto vai parar num tronco de árvore ao meu lado.
Luna conseguiu
usar o hipnotismo.
— Chega de
treinamento por hoje, não acha? – Pergunto.
— É melhor irmos
dormir. Vejo você de manhã.
[...]
Estamos de volta
ao lago. Ariel resolveu se isolar, ficando num canto um pouco distante, apenas
observando o treinamento de Silas. Milena começa a criar um escândalo por causa
da sua presilha de cabelo e eu me lembro que ela ainda está no lago. Com um
pouco de esforço, consigo trazer a presilha até Milena e ela me encara.
— Não precisa
agradecer. – Digo.
Silas
posiciona-se na margem do lago. Ele fecha os olhos e movimenta os braços.
Conforme seus braços se movem, a água acompanha o mesmo curso. Quando Silas
levanta os braços, o lago se divide em dois e então, um caminho de areia é
revelado. Todos nós aplaudimos.
Agora é a vez de
Milena. Silas movimenta um pouco de água até criar uma espécie de barreira
entre nós e ele. Milena está a dez metros de distância e Silas comanda que ela
acerte o seu joelho com uma de suas adagas. Ela atira a adaga e a parede de
água impede que a adaga acerte Silas, embora o objeto tenha ficado exatamente
no joelho dele. Em seguida, ele ordena que Milena atire uma adaga em seu peito
e outra no seu pescoço, e ela mais uma vez repete o feito. Por último, ele pede
que ela atire suas duas adagas e a faca presa no tronco da árvore de uma vez.
Uma delas deve acertar seu ombro, outra deve acertar a sua cintura e a última
deve acertar o seu olho. Nas duas primeiras, Milena acerta o alvo com precisão,
mas na terceira, Silas perde a concentração e a parede se desmancha e, se não
fosse pelo meu susto, a faca teria atravessado a cabeça de Silas.
— Obrigado. –
Ele agradece.
— Por nada, eu
acho.
— Eu sinto
muito. – Milena diz, e Silas parece ignorá-la. Ele é um vampiro, ele poderia se
curar.
— Ryan, sua vez.
– Silas grita e Ryan pula no lago.
Um fato
interessante sobre os lagos do inferno: Eles são insanamente quentes. É claro,
Ryan é um dragão, mas ainda não controlamos totalmente as nossas habilidades.
Por três segundos, não vemos nada acontecer, mas então um dragão aparece e sai
do lago, batendo suas asas e gritando. Silas utiliza a água para criar uma
espécie de escudo redondo – com ele dentro do escudo – e pede para que Ryan
cuspa fogo nele.
Quando Ryan
cospe o fogo, todos nós corremos com o susto, e observamos Silas controlar a
água da melhor maneira possível, sem ser atingido por uma faísca sequer. Ryan
volta à sua forma humana e Silas volta para o chão.
— Podemos ir? –
Ariel pergunta.
Estávamos tão
concentrados no treinamento que nem percebemos Ariel se aproximando.
— Ainda não. –
Luna diz. – Agora somos só eu e você.
Luna e Ariel se
sentam no chão, uma olhando nos olhos da outra. A cor dos olhos de Luna passa
de castanho para acinzentado novamente e ela inicia suas perguntas.
— Qual é seu
nome? – Luna pergunta.
— Ariel Bates
LockMuse.
— Qual é a sua
espécie?
— Musai.
— Ótimo. Qual a
sua idade?
— Quatrocentos
anos. Vinte e um, em idade humana.
— Por que você
nos trouxe ao inferno?
— Eu queria
dominar o universo e achei um meio rápido de fazer isso. Eu matei o Morte.
— Infelizmente
ele ainda estava vivo. Como você sobreviveu à queda do castelo?
— Katherine me
salvou.
— E como você
voltou ao inferno?
— Através de uma
pena que eu encontrei no meu Limbo.
— Você sente
algo pelo Chase?
— Sim.
— O que?
— Medo.
— Como sairemos
do inferno?
Pingos de chuva
começam a cair. Sinto uma gota no meu pulso e percebo que a temperatura é
elevadíssima. A cor dos olhos de Luna volta ao normal e Silas acena para irmos
em direção ao lago, pois do outro lado não está chovendo. Ele abre os braços e
o lago se divide em dois, e todos nós corremos pelo caminho, enquanto a água
volta a ficar em seu lugar de origem. Luna cai no chão e eu volto para
ajudá-la. Abraço Luna quando a água passa por cima de nós dois.
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL, FÉLIX E WALTER HUGO
ESCRITO POR - WALTER HUGO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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