Capítulo 34: A Vítima Culpada
Nos capítulos anteriores...
Os dias estavam passando muito rápido, faltava
pouco para o réveillon e Rachel estava disposta a fazer absolutamente qualquer
coisa para se livrar do marido e voltar para o palacete dos Gouveia, para
garantir sua fortuna no ano novo que estava chegando. Para tal coisa acontecer,
Rachel estava tendo um caso com o farmacêutico que cuidava dos remédios de
Joaquim.
–Você precisa
se apressar, logo meu marido está em casa! –Exclamou Rachel ao farmacêutico,
que vestia sua roupa após o sexo com a amante.
–Não se
preocupe Rachel. –Disse Magno.
A megera levantou da cama, beijou a nuca de
Magno e em seguida ajeitou o nó da gravata dele.
–Quanto
tempo você acha que deve demorar para os novos remédios fazerem efeito?
–Não
muito tempo, esses novos são muito mais fortes, creio que o organismo de seu
marido não vai aguentar por muito tempo.
–Eu
sempre tive medo da morte, mas parece que dessa vez ela está ao meu favor.
Tenho que admitir, é meio excitante esperar meu marido ter um ataque do
coração.
Três horas antes dos policiais e peritos chegarem à mansão.
Havia um cômodo que
ainda não havia sido revistado e era a suíte principal do palacete, onde Sônia
dormia. Os batimentos cardíacos de Dupré aceleraram enquanto ele passava pelo
enorme corredor. Com uma luva preta, o mordo girou a maçaneta, que abriu a
porta da suíte máster do palacete. A imagem de Rachel caída sobre o corpo ensanguentado
de Joaquim ficou marcada na memória de Dupré. [...]
Já havia passado três
dias do assassinato em “legítima defesa” de Joaquim Araújo. O velório ainda não
havia sido providenciado, a pedido de Rachel o homem seria cremado. Os
paparazzis ainda se mantinham apostos como abutres na porta do hospital, devido
aos grandes boatos de que a herdeira dos Gouveia receberia alta.
–Pelo visto você será notícia por muitos dias...
–Disse Sueli, ao terminar de tomar o depoimento da vítima.
–Um
estorvo que não vai acabar tão cedo. –Assentiu Rachel, com a cabeça.
Magno estava do lado esquerdo da cama onde
Rachel se encontrava. O quarto de hospital era particular, obviamente. Nele se
encontravam flores de vários amigos da estilista. A decoração do ambiente era
adorável. Quadros do Picasso enfeitavam as paredes com tintura morta. Jarros de
vidro coloridos mantinham-se intactos sobre uma enorme prateleira de madeira
envernizada. Tudo havia sido redecorado para que Rachel pudesse sentir-se em
casa. E toda a decoração foi ideia de Sônia, que se aproximava cada vez mais da
prima.
–Nem sei
como agradecer... –Dizia Rachel, fitando Sônia nos olhos. –Você deixou o Magno dormir aqui. Pediu a
direção do hospital para me transferir enquanto decoravam esse quarto.
Sinceramente... Não entendo. Eu fui uma das primeiras a te renegar quando
descobrimos que você era a herdeira perdida.
–Rachel
eu não guardo mágoas, somos primas, moramos embaixo do mesmo teto. –Sônia se
aproximou de Rachel e tocou suas mãos. –Quero ser sua amiga. Quero que você
seja minha amiga... Ainda mais agora nesse momento.
–Você
realmente não existe. O Lúcio tem muita sorte em tê-la.
–Posso
fazer uma pergunta?
–Claro.
–Por que
você quis esperar tanto para velar o corpo do Joaquim?
–Eu quero
vê-lo antes da cremação.
–Mas as
condições do corpo dele devem estar pavorosas... Já se passaram três dias
Rachel.
–Não
importa, fomos casados durante sete anos. Preciso vê-lo.
–Você
acha que irão deixar você ver?
–Ele é
meu marido... Irão sim.
Existia algo estranho na voz de Rachel. Era como
se ela estivesse gostando de toda aquela situação. Era como se deixar o corpo
de Joaquim definhar, fosse um certo tipo de vingança. Sônia havia percebido
aquilo e estava disposta a não esperar mais para o velório. Mesmo que isso
pudesse chatear Rachel.
–Você não
pode fazer isso querida. –Disse Lúcio, acariciando o rosto de Sônia. –Ela era
esposa dele. Só ela pode decidir.
–Lúcio o
olhar dela era apavorante! –Exclamou Sônia. –O tom de voz dela então...
Ameaçador! A Rachel está fazendo isso para se vingar do marido que tentou
mata-la. Talvez o casamento dos dois não fosse tão equilibrado quanto
pensávamos.
–O que
você quer dizer com isso?
–Acho que
a Sueli deve saber...
–Sônia,
vamos deixar tudo como está.
–Não acho
que seja...
–Vamos
deixar tudo com está.
Os boatos haviam sido confirmados. Rachel
recebeu alta naquele mesmo dia. Ela estava se preparando para sair do hospital.
A megera havia vestido um longo vestido preto, acompanhado de simples pérolas
no pescoço, que destacava o xale de seda preto transparente envolvido na parte
superior de seu corpo. Um dos enfermeiros já havia trago a cadeira de rodas.
Rachel estava pronta para sair do hospital como uma vítima... Nada inocente.
–Podemos
ir? –Indagou Magno à Rachel, que estava cercada da família.
–Ele vai
sair conosco? –Indagou Dupré à Rachel.
–Podemos...
–Respondeu Rachel. –Vai sim Dupré. Magno e eu não vamos esconder nosso romance
da sociedade, por que pretendemos casar.
–Mas isso
é absurdo! Vai ser um escândalo enorme sobre a família e...
–Eu não
vou abrir mão da minha felicidade por causa do status social da família.
Já no fim do corredor em direção à saída, Rachel
foi abordada pelo médico chefe do hospital:
–Algum
problema doutor? –Perguntou Rachel, preocupada.
–Na
verdade sim... –Respondeu o médico. –Fizemos alguns exames e só agora
descobrimos que a facada afetou a senhora.
–Continue...
Eles são da família. Não há segredos para esconder.
A euforia dos jornalistas do lado de fora do
hospital pela saída de Rachel Gouveia era enorme. Os flashes ultrapassavam o
vidro da enorme porta do lugar. Paparazzis fotografavam Rachel sendo abordada
pelo médico, enquanto repórteres falavam ao vivo para a sede da emissora de T.V
Radar. Algo de errado estava acontecendo lá dentro e mais cedo ou mais tarde, a
notícia vazaria.
–A facada
atingiu o centro do útero da senhora, causando danos internos ao mesmo. –O
médico continuou, sem hesitar: –Dona Rachel, a senhora ficou estéril. Sinto
muito.
–Tem
certeza? –Indagou Rachel, com os olhos lacrimejantes. –Tem certeza?!
–Absoluta.
A enorme porta de vidro automática do hospital
foi aberta. Os fotógrafos clicaram Rachel de todos os ângulos possíveis. Ela
usava óculos escuros para esconder as lágrimas. A polêmica havia começado
quando Magno mostrou o rosto.
“Depois de assassinar o marido, Rachel Gouveia
ousou e saiu do hospital acompanhada do amante.”
A capa da Revista Caras dizia o seguinte:
“Ainda são boatos, mas parece que a facada
que Rachel Gouveia levou do marido morto, afetou seu útero, deixando-a estéril.”
A notícia de sua esterilidade havia vazado. Mas
aquilo pouco importava para Rachel. O que realmente a deixava com raiva, era
que mesmo depois de morto, o marido podia assombrá-la. Com ódio, a cremação foi
adiada por mais três dias. E como resultado, seis dias haviam passado desde o
homicídio. Agora era o momento certo para o velório e cremação do corpo. Mas
antes, Rachel fez questão de ver o marido morto pela última vez.
–Me
espere no carro. Eu não demoro. –Disse Rachel à Magno.
A megera vestiu um longo Versace vermelho, que
possuía um decote imenso nas costas. Rachel aparentemente estava recuperada.
Mas a cicatriz do corte, havia ultrapassado sua pele e destruído seu útero. E
aquilo a deixou muito desequilibrada emocionalmente, de acordo com ela, Joaquim
teria de pagar. Antes de entrar na sala climatizada onde seu marido estava
estirado morto sobre uma maca, Rachel pôs uma máscara, devido ao odor e
bactérias, e luvas nas mãos, caso quisesse tocá-lo.
–A
senhora ainda pode desistir, se quiser. –Disse o médico do IML.
–Já estou
aqui. Abra logo essa porta.
O quarto era frio e o odor insuportável. Joaquim
estava estirado sobre a maca como um animal qualquer. Seu corpo estava coberto
por um enorme lençol branco, que o cobria dos pés a cabeça. O médico avisou a
Rachel que o marido estava nu e em seguida saiu. A megera puxou o lençol em um
impulso só. Revelando o corpo ereto do morto. Rachel ficou surpresa com a
perfeição em que o corpo ainda se mantinha, mesmo depois de seis dias.
–Aposto
que é o formol. –Sussurrou Rachel no ouvido do marido morto.
De dentro do bolso do jaleco branco que Rachel
vestia para cobrir seu vestido, ela tirou um pequeno estilete. Seus olhos se
inundavam de lágrimas acompanhadas por uma mistura de sentimentos, envolvendo
amor, ódio e remorso. A estilista aproximou seus lábios dos lábios dele e o
beijou, e ao mesmo tempo, pressionou o estilete contra sua coxa esquerda,
fazendo um corte. Mas nenhuma gota de sangue havia saído daquela enorme massa
morta, deixando Rachel com ódio. Sem medo, a megera pressionou o estilete
contra o abdômen do marido várias vezes, originando cortes aleatórios. E
nenhuma gota de sangue havia saído.
–Seu
desgraçado! –Exclamou Rachel. –Você tentou destruir a minha vida, mas eu
destruí a sua primeiro. Agora você está aí morto e eu viva. Acabou Joaquim!
Rachel cobriu o corpo do marido com um lençol,
beijou seus lábios pela última vez e fechou seus olhos, para sempre.