Nos capítulos anteriores...
Em baixo do chuveiro,
Wagner e Pedro se amavam incondicionalmente. O que eles faziam, parecia tão
proibido e tão bonito, que a cada movimento, a vontade de continuar o ato se
tornava mais forte. Ambos exploravam seus corpos de uma maneira tão “suja” ao
modo de ver pela sociedade. O toque de ambas as mãos foi muito mais além do que
imaginavam. A água quente que caía do chuveiro, apenas contribuiu para tornar
tudo mais perfeito. E em um momento de transe, Wagner disse a Pedro,
silenciosamente:
–Eu te amo, espero que quando acordamos no dia
seguinte, você possa me perdoar.
Pedro calou a boca do amado com um beijo, que
continuou em sua cama e terminou no dia seguinte, quando ambos acordaram
entrelaçados um nos braços do outro, incrivelmente apaixonados, porém
incrivelmente assustados. Eles haviam acabado de experimentar o sexo proibido e
condenado pelas pessoas que faziam parte de suas vidas. Mas absolutamente nada,
poderia estragar aquele momento.
Denise deitou em sua cama passando mal, as
lágrimas escorriam pelo seu rosto descontroladamente... Seu cérebro buscava
memórias de Pedro quando ainda tinha um aninho de idade. O menino era lindo,
estampou diversas capas de revistas, ele era o orgulho dos pais e a inveja das
colegas de Denise. Aos sete anos, Pedro havia ganhado uma medalha de ouro em
natação. Aos quatorze, Denise percebeu que ele notava muito o corpo dos homens,
mas sempre pensara que aquilo fosse uma fase da adolescência. Sem poder
suportar a dor, ela tomou dois comprimidos sedativos, que congelaram sua alma e
a fizeram dormir. Mas o dia seguinte ainda estava por vir.
Em caminho para o consultório, Sônia pôde sentir
uma sensação de alívio em seu peito. Dessa vez ela assumiria o controle da
situação, sem ninguém para dizer a ela o que fazer. Daqui para frente, seria
ela e seu filho e mais ninguém. Após chegar ao consultório, seu nome foi logo
chamado. O exame foi rápido e o resultado não demorou vinte minutos para ficar
pronto.
–E então
doutor? –Indagou Sônia, apreensiva. [...]
Os efeitos dos sedativos que Denise tomara noite
passada haviam acabado, ela acordou no susto e com uma forte dor de cabeça. Ao
olhar para o relógio, a atriz notou que já eram nove horas da manhã e se ela
não corresse contra o tempo, todos saberiam da opção sexual de seu filho.
Denise levantou da cama, despiu-se e deixou a água quente do chuveiro lavar a
sua alma. Às nove e meia da manhã, ela já se encontrava no banco, depositando
os meios milhões de reais na conta do chantagista. Assim que ela saiu do banco
seu celular tocou. Era Giorgio.
–Bom dia
querida. –Disse Giorgio, à esposa. –Eu não quero invadir a sua privacidade e nem
dizer o que você tem ou não o que fazer com seu dinheiro, mas...
–Sabia
que você ligaria, bateu no seu computador o depósito que eu acabei de fazer,
não bateu? –Indagou Denise, tentando encontrar uma desculpa para não contar a
verdade.
–Sim. Um
depósito de quinhentos mil reais... Isso é muito dinheiro Denise!
–Eu sei
querido, mas foi necessário. Estou contribuindo com uma doação para crianças
negras carentes. A África continua em decadência e nós temos tanto dinheiro,
que não nos fará falta.
Denise ficou apreensiva para ouvir o que Giorgio
iria dizer. Ela e o marido jamais mentiram um para o outro em quase vinte anos
de casamento, mas dessa vez a situação era completamente diferente. A tensão
acabou, quando ele finalmente respondeu:
–Você tem
razão querida, aquelas crianças precisam muito mais do dinheiro do que nós.
–Obrigada
por entender Giorgio. Muito obrigada querido. –Podia-se notar o alívio na voz
de Denise, ela odiava mentir para o marido, mas no momento a atriz não podia
dar-se o luxo de dizer a verdade.
–Agora
que tudo está esclarecido, eu preciso desligar querida, tenho muito o que
escrever. Estão pensando em adaptar Fantástica para a T.V, não é maravilhoso?
–E como
é! Mas me conte como surgiu a ideia?
–A ABC
quer uma série nova e então o diretor da emissora leu Fantástica e foi aí que
eu recebi um e-mail do mesmo, no qual ele disse: “Será que podemos trazer Edna Moda para a T.V?”.
–Mais
isso é Fantástico querido! Mais já está tudo certo?
–Parece
que sim, estamos selecionando o elenco, a cidade cenográfica e eu já estou
adaptando os capítulos para episódios. Minha primeira série mal posso
acreditar.
–Boa
sorte querido, espero que saia tudo como planejado.
Rachel foi acordada com o seu celular tocando,
era o gerente de seu banco:
–Dona
Rachel, foi depositado em sua conta bancária exatos quinhentos mil reais.
Ela mal podia acreditar que Denise havia se
rendido a chantagem, tudo estava indo como ela planejara e agora faltava muito
pouco para a morte do marido. Para comemorar sua primeira vitória, Rachel
levantou da cama, tomou um banho bem quente, vestiu algo “apresentável”,
maquiou o rosto e pôs seus documentos dentro de sua bolsa Louis Vuitton. Ao
passar pelo corredor, ela pôde escutar uma conversa mais do que intrigante,
entre Sônia e Dupré.
–Ontem eu
fiz o exame de sangue e como eu previa, o resultado deu positivo. –Disse Sônia
à Dupré. –Eu estou realmente grávida Dupré!
–Mais
isso é maravilhoso Soninha! –Exclamou Dupré, sorrindo.
–É sim...
Para ser perfeito, o João Pedro poderia saber que o filho é dele, mas acho que
tenho que me contentar.
–Minha
querida, faça o que você iria fazer. Eduque o seu filho longe daqui, ele não
precisará de um pai, ele precisará de uma mãe maravilhosa e isso você já é.
–Você tem
razão...
De boca aberta, Rachel escutou toda a conversa.
A megera mudou seus planos de visitar Magno, para ir até a imprensa.
–Quando
você pretende terminar com o Lúcio? –Indagou Dupré à Soninha.
–Estou
saindo para fazer isso. –Respondeu Sônia. –Essa sem dúvidas será a pior parte.
–Ele
ainda pode ser o pai do seu filho...
–Não
Dupré, o Lúcio merece ter um filho legítimo, ele merece ser feliz.
–Você
também merece.
Enquanto Sônia descia as escadas para ir se
encontrar com Lúcio, Rachel entrou no quarto dela para procurar o exame de
gravidez. Gavetas e portas do armário de roupas foram abertas. Pastas de
documentos foram reviradas, mas nada do exame. Rachel se pôs no lugar de Sônia
e começou a pensar onde ela poderia ter guardado o exame. Até que ela se
lembrou do porta-luvas do carro. A megera desceu as escadas desesperadamente,
chegou à garagem de carros da mansão e viu o carro de sua prima estacionado.
Provavelmente, Sônia havia ido de táxi se encontrar com Lúcio. Rachel puxou a
maçaneta da porta do motorista e naquele momento a sorte estava ao seu favor, o
carro se encontrava destrancado. A megera estendeu sua mão até o porta-luvas do
carro, abriu-o e como ela havia pensado, o exame realmente se encontrava ali
dentro.
–Realmente...
Hoje é meu dia de sorte!
Sem medo, pudor ou qualquer outra palavra gerada
por um sentimento ruim que pudesse crucifica-los, Wagner e Pedro se arriscaram
novamente e passeavam de mãos dadas pela Praça da Sé. Ambos arrancaram olhares
de muitas pessoas ao redor. Alguns fitavam-nos com repulsa, outros com um ar
surpreso... Mas nada, poderia estragar aquele lindo momento que ambos passavam
juntos. Estavam lutando contra o preconceito. Eles estavam juntos na revolução
do amor gay. Wagner e Pedro usavam óculos escuros e bonés para não serem
reconhecidos por paparazzis.
–Não está
com medo de apanhar? –Indagou Wagner. –Skinheads é o que mais tem em aqui em
São Paulo.
–Acho que
medo todos nós temos, mas acho que se todos não se escondessem, os homofóbicos
seriam vencidos. –Respondeu Pedro. –Infelizmente hoje em dia se você usa uma
camisa rosa, automaticamente te chamam de gay, se você tinge o cabelo de loiro
também te chamam de gay, se você prefere Pop a Rock te julgam gay. O
preconceito está por todo o lado, mas com você eu encaro de cabeça erguida. Sou
homossexual sim, com orgulho. Eu deveria ter vergonha se eu usasse drogas ou
roubasse casas. Mas em vez disso, só curto meninos em vez de meninas. Sou
homem, só que minha orientação sexual não é pelo sexo oposto.
–Eu te
amo Pedro! –Wagner roubou um beijo do amado em praça pública, atraindo olhares
de muitos.
Em caminho ao aeroporto, Denise saía de Beverly
Hills com destino ao Brasil, ela tinha de entender toda aquela situação com seu
filho. Durante o embarque, ela notou pela primeira vez alguns casais gays. Sorrindo,
sussurrando coisas uns nos ouvidos dos outros, de mãos dadas... Denise tentou
ver aquilo como algo “normal”, na verdade ela apoiava o homossexualismo antes,
mas agora a situação estava completamente diferente. Antes era com os outros,
agora é com seu filho. Um dos gays que entravam no avião esbarrou em Denise,
derrubando a mala da atriz. Ele gentilmente pegou sua mala e pediu desculpas.
–Que
estupidez a minha. –Disse o rapaz, de aparentemente vinte e dois anos, olhos
azuis incrivelmente claros e de uma aparência muito bonita. –Me desculpe
senhora.
–Tudo
bem. –Respondeu Denise, fitando-o nos olhos. –Eu também deveria ter prestado
atenção.
–Nossa,
parece que sentaremos juntos.
–Mas você
não estava acompanhado?
–Não, meu
namorado só veio comigo até o aeroporto. Eu tenho uma entrevista de emprego em
São Paulo.
–Entendi.
–Denise sorriu e sentou em sua poltrona, pedindo aos céus que aquela viagem não
durasse muito.
Usando um disfarce para não ser reconhecida,
Rachel pegou um táxi até o apartamento de um de seus “amigos” jornalistas. Ela
pagou a corrida, entrou no prédio e subiu de elevador até o último andar.
Rachel tocou a campainha e minutos depois foi atendida por Rafael Azevedo, um
dos jornalistas mais comprados no mercado da fama.
–Olá. O
que a senhora deseja? –Indagou Rafael, fitando a linda loira dos olhos verdes,
de cima a baixo.
–Você é
Rafael Azevedo? –Indagou Rachel, sorrindo.
–Sim...
Sou eu.
–Muito
prazer Rafael, me chamo Judith e gostaria de saber se você estaria interessado
em uma notícia bombástica.
–Depende
da notícia.
Sem perder tempo, Rachel tirou de dentro de sua
bolsa o exame de sangue que Sônia fizera, exame do qual confirmava sua
gravidez, e entregou nas mãos do jornalista. Rafael havia ficado pasmo com a
notícia, seria um furo de reportagem incrível, mas também destruiria a vida
pessoal de Sônia. Curioso para saber o interesse daquela mulher naquilo tudo,
ele indagou:
–Por qual
motivo você quer que isso caia na mídia?
–O filho
é do João Pedro. –Respondeu Rachel, sem hesitar.
–Como?
–Acho que
isso acaba com a sua curiosidade em saber o motivo... Bem espero que daqui há
alguns minutos todos saibam que Sônia Gouveia está grávida de João Pedro. Vou
indo.
–Espera. –Rafael
segurou o braço de Rachel, antes que ela pudesse partir.
–O que
foi?
–Eu só
quero te dizer o quanto você é linda e incrível.
–E mais o
que?
–E o
quanto eu te desejo...
–Vaze a
notícia, que em breve nos encontraremos, daí poderei realizar todas as suas
fantasias.
–Me dá
seu telefone.
–Não. Eu
voltarei, na hora certa. –E ela se afastou, deixando-o.
Sônia e Lúcio almoçavam em um dos restaurantes
mais populares de São Paulo. Ambos passaram a manhã toda passeando. Ela ainda
não tinha tido coragem para contar toda a verdade. O medo havia entrado pela
sua pele e invadido seu coração. Seus sentimentos por Lúcio eram verdadeiros e
deixa-lo seria doloroso demais. Porém, aquela era a hora. Se Sônia não fizesse
agora, não faria nunca mais.
–Lúcio eu
te convidei para sairmos hoje por que eu precisava conversar com você. –Disse
Sônia.
–Eu
também preciso conversar com você, já está mais do que na hora. –Disse Lúcio,
sorrindo.
–O que
você quer conversar?
–Diga
você primeiro, depois eu falo.
–Não,
fala você. Eu fiquei muito curiosa.
Lúcio chamou o garçom, que trouxe em sua bandeja
uma aliança de ouro. Assim como todos pararam de comer para ver aquele lindo
momento, Sônia sentiu seus sentidos paralisarem. Ela não podia acreditar. Lúcio
estava fazendo tudo o que João Pedro não teve coragem de fazer. O rapaz
levantou de sua cadeira, pegou a aliança da bandeja, se ajoelhou aos pés de sua
amada e sorriu dizendo:
–Sônia,
minha linda. Você é a Deusa que trouxe sentido a minha vida. Você me tirou de
um estado preto e branco e me colocou em um mundo inundado pelas cores do amor.
Eu te amo e acho que você também sente algo por mim... Então eu pensei, por que
perder tempo? A vida é curta e devemos aproveitá-la ao máximo. Casa comigo?
Rafael estava no meio daqueles que presenciaram
aquele incrível momento. Ele rasgou a cópia do exame que Judith lhe dera e saiu
do restaurante. Seu foco era o jornalismo e não destruir a felicidade dos
outros.