quarta-feira, 18 de junho de 2014

Império Feminino: Capítulo 23


Nos capítulos anteriores...

Em um impulso violento, Soninha finalmente conseguiu abrir os olhos e sair do pesadelo que tivera noite passada. Em seguida, ela tocou a mão em sua barriga, pensou em Wagner, João Pedro e nessa criança. Mas como ela poderia ter tanta certeza de que havia alguma criança? Talvez o seu organismo só estivesse desregulado. Afim de deixar o assunto da gravidez para mais tarde, ela levantou da cama, abriu o registo da banheira e a pôs para encher, e enquanto a mesma enchia, ela pensava em um jeito de consertar aquilo tudo, e foi quando Dupré passou no corredor, que Soninha o chamou, para tentar uma solução.

 –Você já acordou? –Indagou Dupré. –Mas são cinco da manhã... A fábrica só abre as sete.
 –Eu não consegui dormir a noite toda, e ainda por cima tive um pesadelo terrível. –Ela levou a mão aos seus cabelos e continuou: –Vou pensar mais um pouco, e se for verdade, terei meu filho longe do Brasil.

Em caminho para o consultório, Sônia pôde sentir uma sensação de alívio em seu peito. Dessa vez ela assumiria o controle da situação, sem ninguém para dizer a ela o que fazer. Daqui para frente, seria ela e seu filho e mais ninguém. Após chegar ao consultório, seu nome foi logo chamado. O exame foi rápido e o resultado não demorou vinte minutos para ficar pronto.

 –E então doutor? –Indagou Sônia, apreensiva.
 –O resultado deu positivo, você está realmente grávida. –Respondeu o médico.

Com uma peruca loura, lentes de contato verdes, unhas postiças e um vestido que pudesse marcar todo o seu corpo, Rachel passou por um enorme corredor e no final entrou no elevador, do qual a deixou de frente para a porta do quarto 330. Ela bateu na porta e Magno abriu.

 –Trouxe o que eu pedi?
 –Sim. [...]

Com um cigarro na mão, observando Magno dormir, Rachel arquitetava seu plano contra Joaquim, ela tinha de pensar em um jeito de mata-lo, porém de uma maneira produtiva. E foi quando ela pegou uma revista de fofoca em cima da mesinha de cabeceira da cama, em que ela e Sônia se encontravam na página principal pelas respectivas notícias:

Rachel Gouveia resolveu voltar à mansão dos familiares para tratar do marido doente, e Sônia parece estar vivendo um romance feliz ao lado do namorado Lúcio Prates.

Que Rachel teve uma ideia incrivelmente excepcional. A megera deixou o cigarro no cinzeiro, despiu-se e tomou um banho rápido na ducha do Motel. Ela escreveu um bilhete para Magno, no qual dizia:

Obrigada, logo nos veremos novamente.

Pegou os novos remédios de Joaquim e saiu pela porta. Sem a peruca loura e as lentes de contato, agora ela deixava de ser aquela personagem para voltar à realidade e encarnar na pele de Rachel Gouveia, a esposa dedicada de Joaquim. Paparazzis a perseguiram, e com óculos escuros e sem dizer nada, ela despistou-os até encontrar um táxi.

 –Por favor, para o Jardim Europa. –Pediu Rachel, ao taxista.
 –Sim senhora.

A felicidade no rosto de Sônia era notável, ela saiu do consultório do doutor Daniel com um sorriso de orelha a orelha. Seus olhos também brilhavam. O trânsito de São Paulo parecia não incomodá-la, pelo menos não naquele dia tão importante. A palavra positivo ficou repetindo diversas vezes em sua mente e minutos depois, ela já se encontrava na Fábrica.

 –Bom dia a todos. –Disse Sônia, que entrou cantarolando.
 –Bom dia dona Sônia. –Respondeu um faxineiro.
 –Que dia lindo não é dona Sônia? –Aquele era Martin, ele trabalhava na parte contábil da empresa.
 –Dia perfeito para um aumento dona Sônia. –Lilian, a secretária de Soninha, nunca perdia o sarcasmo.
 –Lilian, traga-me um café bem forte e bem açucarado, hoje eu estou pegajosa e doce.
 –Sim senhora.
Ao chegar à mansão, Rachel deu um telefonema internacional para um amigo americano, a fim de saber se seu pacote havia chegado às mãos de Denise e a resposta que ela esperava, foi dita por ele:

 –Tudo como planejado Rachel, inclusive o bilhete.

Ela caminhou alguns passos à frente e observou Wagner e Pedro no jardim. A cena que Rachel havia visto algumas semanas atrás era a confirmação que ela precisava, Wagner realmente era homossexual e Pedro seu namorado. “É tudo tão sórdido e nojento que não irá durar muito tempo... Minha priminha dará um jeito na situação logo, logo e de quebra eu ainda ganho um dinheiro nas custas da Denise.” Pensou Rachel, sorrindo para Wagner, que acenava para ela do jardim. A megera abriu sua bolsa de couro e tirou de dentro um vidrinho transparente do qual estava escrito, cianureto.

 –Mais cedo ou mais tarde, as coisas irão mudar aqui dentro. –Ela pusera o vidro de volta dentro da bolsa e em seguida fora tomar um banho.

Eles iniciaram uma correria apaixonante em volta do palacete e acabaram no chão, envolvidos pelo cheiro de ambos corpos. Pedro, que estava por cima do corpo de Wagner, beijou sua boca, ali mesmo. O perigo era desafiador e correr o risco de serem pegos por algum empregado ou jardineiro, tornava aquele momento mais excitante.

 –Você não tem medo? –Indagou Pedro.
 –Medo de... –Wagner hesitou por alguns instantes, mas acabara dizendo. –De ser pego?
 –É.
 –Eu acho que mais cedo ou mais tarde eles saberão... O único medo que eu tenho, é da catástrofe que isso vai causar. Afinal sua mãe é uma atriz muito conhecida e a minha tem uma personalidade incrivelmente forte, da qual não me perdoaria nunca.

Pedro aproximou seus lábios do ouvido de Wagner e sussurrou:

 –Nos amamos e por isso a influência da minha mãe ou a personalidade forte da sua não irão interferir.
 –Promete? –Pediu Wagner.
 –Prometo meu pequeno... Mas só se você me disser “eu te amo”.
 –Eu te amo, incondicionalmente meu amor.
 –Ainda amo mais. –Pedro roubou um beijo apaixonante do amado.
Nas ruas de Beverly Hills, Denise estava participando das primeiras filmagens da série americana na qual ela protagonizaria com data marcada de estreia para março, quando o diretor interrompeu as filmagens, pois alguém gostaria de lhe entregar um pacote.

 –Sem remetente? –Indagou Denise, curiosa para saber quem havia lhe enviado.
 –Só pediram para lhe entregar senhora. –Respondeu um menino negro, que aparentava ter uns doze anos. –O homem disse para a senhora não demorar a abrir, pois o tempo é curto.
 –Você está me deixando nervosa, o que tem aqui dentro?
 –Confira você mesma dona Denise.

A atriz resolveu não se deixar levar pelas palavras do garoto e resolveu deixar para abrir o envelope quando estivesse em seu hotel durante a noite, assim que as filmagens terminassem. E foi o que ela fez. Gravou o episódio piloto da série, retornou ao hotel, pediu o jantar no quarto e agora abriria o envelope. “Não foi fácil me segurar, agora irei até o fim.”

No envelope continha fotos de Pedro e Wagner se beijando e um bilhete que dizia o seguinte:

Já imaginou se essas fotos caem na mídia? Pedro Lemos, filho da atriz Denise Lemos e do escritor Giorgio Lemos, é homossexual e mantém um namoro com Wagner Gouveia, o bisneto de Helena. Daria uma ótima matéria, você não acha minha querida? Bom... Se você não quer que isso aconteça, eu peço uma quantia no valor de quinhentos mil reais para ser depositada até amanhã. O nome do banco e todas as informações da conta para onde deve ser feito a transação está em uma das fotos. E lembre-se, não demore muito, se até amanhã ao meio dia o dinheiro não estiver na conta, à mídia ficará sabendo que o Pedro Lemos é uma bicha!

Denise deitou em sua cama passando mal, as lágrimas escorriam pelo seu rosto descontroladamente... Seu cérebro buscava memórias de Pedro quando ainda tinha um aninho de idade. O menino era lindo, estampou diversas capas de revistas, ele era o orgulho dos pais e a inveja das colegas de Denise. Aos sete anos, Pedro havia ganhado uma medalha de ouro em natação. Aos quatorze, Denise percebeu que ele notava muito o corpo dos homens, mas sempre pensara que aquilo fosse uma fase da adolescência. Sem poder suportar a dor, ela tomou dois comprimidos sedativos, que congelaram sua alma e a fizeram dormir. Mas o dia seguinte ainda estava por vir.