Nos capítulos anteriores...
Em um impulso violento, Soninha finalmente
conseguiu abrir os olhos e sair do pesadelo que tivera noite passada. Em
seguida, ela tocou a mão em sua barriga, pensou em Wagner, João Pedro e nessa
criança. Mas como ela poderia ter tanta certeza de que havia alguma criança?
Talvez o seu organismo só estivesse desregulado. Afim de deixar o assunto da
gravidez para mais tarde, ela levantou da cama, abriu o registo da banheira e a
pôs para encher, e enquanto a mesma enchia, ela pensava em um jeito de
consertar aquilo tudo, e foi quando Dupré passou no corredor, que Soninha o
chamou, para tentar uma solução.
–Você já
acordou? –Indagou Dupré. –Mas são cinco da manhã... A fábrica só abre as sete.
–Eu não
consegui dormir a noite toda, e ainda por cima tive um pesadelo terrível. –Ela
levou a mão aos seus cabelos e continuou: –Vou pensar mais um pouco, e se for
verdade, terei meu filho longe do Brasil.
Em caminho para o consultório, Sônia pôde sentir
uma sensação de alívio em seu peito. Dessa vez ela assumiria o controle da
situação, sem ninguém para dizer a ela o que fazer. Daqui para frente, seria
ela e seu filho e mais ninguém. Após chegar ao consultório, seu nome foi logo
chamado. O exame foi rápido e o resultado não demorou vinte minutos para ficar
pronto.
–E então
doutor? –Indagou Sônia, apreensiva.
–O
resultado deu positivo, você está realmente grávida. –Respondeu o médico.
Com uma peruca loura, lentes de contato verdes,
unhas postiças e um vestido que pudesse marcar todo o seu corpo, Rachel passou
por um enorme corredor e no final entrou no elevador, do qual a deixou de
frente para a porta do quarto 330. Ela bateu na porta e Magno abriu.
–Trouxe o
que eu pedi?
–Sim.
[...]
Com um cigarro na mão, observando Magno dormir,
Rachel arquitetava seu plano contra Joaquim, ela tinha de pensar em um jeito de
mata-lo, porém de uma maneira produtiva. E foi quando ela pegou uma revista de
fofoca em cima da mesinha de cabeceira da cama, em que ela e Sônia se
encontravam na página principal pelas respectivas notícias:
“Rachel Gouveia resolveu voltar à mansão dos
familiares para tratar do marido doente, e Sônia parece estar vivendo um
romance feliz ao lado do namorado Lúcio Prates.”
Que Rachel teve uma ideia incrivelmente
excepcional. A megera deixou o cigarro no cinzeiro, despiu-se e tomou um banho
rápido na ducha do Motel. Ela escreveu um bilhete para Magno, no qual dizia:
“Obrigada,
logo nos veremos novamente.”
Pegou os novos remédios de Joaquim e saiu pela
porta. Sem a peruca loura e as lentes de contato, agora ela deixava de ser aquela
personagem para voltar à realidade e encarnar na pele de Rachel Gouveia, a
esposa dedicada de Joaquim. Paparazzis a perseguiram, e com óculos escuros e
sem dizer nada, ela despistou-os até encontrar um táxi.
–Por
favor, para o Jardim Europa. –Pediu Rachel, ao taxista.
–Sim
senhora.
A felicidade no rosto de Sônia era notável, ela
saiu do consultório do doutor Daniel com um sorriso de orelha a orelha. Seus
olhos também brilhavam. O trânsito de São Paulo parecia não incomodá-la, pelo
menos não naquele dia tão importante. A palavra positivo ficou repetindo
diversas vezes em sua mente e minutos depois, ela já se encontrava na Fábrica.
–Bom dia
a todos. –Disse Sônia, que entrou cantarolando.
–Bom dia
dona Sônia. –Respondeu um faxineiro.
–Que dia
lindo não é dona Sônia? –Aquele era Martin, ele trabalhava na parte contábil da
empresa.
–Dia
perfeito para um aumento dona Sônia. –Lilian, a secretária de Soninha, nunca
perdia o sarcasmo.
–Lilian,
traga-me um café bem forte e bem açucarado, hoje eu estou pegajosa e doce.
–Sim
senhora.
Ao chegar à mansão, Rachel deu um telefonema
internacional para um amigo americano, a fim de saber se seu pacote havia
chegado às mãos de Denise e a resposta que ela esperava, foi dita por ele:
–Tudo
como planejado Rachel, inclusive o bilhete.
Ela caminhou alguns passos à frente e observou
Wagner e Pedro no jardim. A cena que Rachel havia visto algumas semanas atrás
era a confirmação que ela precisava, Wagner realmente era homossexual e Pedro
seu namorado. “É tudo tão sórdido e
nojento que não irá durar muito tempo... Minha priminha dará um jeito na
situação logo, logo e de quebra eu ainda ganho um dinheiro nas custas da
Denise.” Pensou Rachel, sorrindo para Wagner, que acenava para ela do
jardim. A megera abriu sua bolsa de couro e tirou de dentro um vidrinho
transparente do qual estava escrito, cianureto.
–Mais
cedo ou mais tarde, as coisas irão mudar aqui dentro. –Ela pusera o vidro de
volta dentro da bolsa e em seguida fora tomar um banho.
Eles iniciaram uma correria apaixonante em volta
do palacete e acabaram no chão, envolvidos pelo cheiro de ambos corpos. Pedro,
que estava por cima do corpo de Wagner, beijou sua boca, ali mesmo. O perigo
era desafiador e correr o risco de serem pegos por algum empregado ou
jardineiro, tornava aquele momento mais excitante.
–Você não
tem medo? –Indagou Pedro.
–Medo
de... –Wagner hesitou por alguns instantes, mas acabara dizendo. –De ser pego?
–É.
–Eu acho
que mais cedo ou mais tarde eles saberão... O único medo que eu tenho, é da
catástrofe que isso vai causar. Afinal sua mãe é uma atriz muito conhecida e a
minha tem uma personalidade incrivelmente forte, da qual não me perdoaria
nunca.
Pedro aproximou seus lábios do ouvido de Wagner
e sussurrou:
–Nos
amamos e por isso a influência da minha mãe ou a personalidade forte da sua não
irão interferir.
–Promete?
–Pediu Wagner.
–Prometo
meu pequeno... Mas só se você me disser “eu te amo”.
–Eu te
amo, incondicionalmente meu amor.
–Ainda
amo mais. –Pedro roubou um beijo apaixonante do amado.
Nas ruas de Beverly Hills, Denise estava
participando das primeiras filmagens da série americana na qual ela
protagonizaria com data marcada de estreia para março, quando o diretor
interrompeu as filmagens, pois alguém gostaria de lhe entregar um pacote.
–Sem
remetente? –Indagou Denise, curiosa para saber quem havia lhe enviado.
–Só
pediram para lhe entregar senhora. –Respondeu um menino negro, que aparentava
ter uns doze anos. –O homem disse para a senhora não demorar a abrir, pois o
tempo é curto.
–Você
está me deixando nervosa, o que tem aqui dentro?
–Confira
você mesma dona Denise.
A atriz resolveu não se deixar levar pelas
palavras do garoto e resolveu deixar para abrir o envelope quando estivesse em
seu hotel durante a noite, assim que as filmagens terminassem. E foi o que ela
fez. Gravou o episódio piloto da série, retornou ao hotel, pediu o jantar no
quarto e agora abriria o envelope. “Não
foi fácil me segurar, agora irei até o fim.”
No envelope continha fotos de Pedro e Wagner se
beijando e um bilhete que dizia o seguinte:
“Já
imaginou se essas fotos caem na mídia? Pedro Lemos, filho da atriz Denise Lemos
e do escritor Giorgio Lemos, é homossexual e mantém um namoro com Wagner
Gouveia, o bisneto de Helena. Daria uma ótima matéria, você não acha minha
querida? Bom... Se você não quer que isso aconteça, eu peço uma quantia no
valor de quinhentos mil reais para ser depositada até amanhã. O nome do banco e
todas as informações da conta para onde deve ser feito a transação está em uma
das fotos. E lembre-se, não demore muito, se até amanhã ao meio dia o dinheiro
não estiver na conta, à mídia ficará sabendo que o Pedro Lemos é uma bicha!”
Denise deitou em sua cama passando mal, as
lágrimas escorriam pelo seu rosto descontroladamente... Seu cérebro buscava
memórias de Pedro quando ainda tinha um aninho de idade. O menino era lindo,
estampou diversas capas de revistas, ele era o orgulho dos pais e a inveja das
colegas de Denise. Aos sete anos, Pedro havia ganhado uma medalha de ouro em
natação. Aos quatorze, Denise percebeu que ele notava muito o corpo dos homens,
mas sempre pensara que aquilo fosse uma fase da adolescência. Sem poder
suportar a dor, ela tomou dois comprimidos sedativos, que congelaram sua alma e
a fizeram dormir. Mas o dia seguinte ainda estava por vir.