quarta-feira, 14 de maio de 2014

Império Feminino: Capítulo 11

Capítulo 11: O início do turbulento fim de ano dos Gouveia

Nos capítulos anteriores...

Decidido a passar as festas de fim de ano longe de todo aquele ninho de cobras, Wagner foi pedir permissão a mãe para viajar com o amigo ao Rio de Janeiro. O adolescente teve de optar entre a namorada, a família e a tradição ou o amigo, a família dele e um mundo novo.

 –Quando decidiu que não iria passar o Réveillon conosco? –Indagou Silvana, preocupada. –A Bella mal chegou de Curitiba...
 –Não pode me deixar viajar? Ainda estou abalado com a morte da vovó... –Respondeu Wagner, dando uma desculpa.
 –Tudo bem meu amor.

Após diversas especulações dentro da delegacia, Sueli saiu do ambiente, entrou em seu carro vestindo um terninho azul marinho e dirigiu até a casa dos Gouveia, a fim de interrogar Dupré sobre o desaparecimento de Esther Gouveia e a procura de seu paradeiro realizada há anos atrás.

 –Ah que lhe devo a honra minha querida? –Indagou François Dupré encarando a delegada.
 –Eu vim interroga-lo. –Respondeu Sueli.
 –Imagino que seja a respeito da morte de minha patroa... Eu acho que vocês deveriam deixar essas interrogações de lado, lembrar de um ente querido que não está mais entre nós é um caso muito delicado.
 –Imaginou errado senhor Dupré, estou aqui para interroga-lo a respeito do desaparecimento de Esther Gouveia.
Após a saída de Sueli, Dupré limpou a testa suada com um lenço, pegou o celular no bolso esquerdo e discou os números do celular de Soninha, com quem marcou um encontro no Parque do Ibirapuera naquela mesma tarde.
 –Por que marcou esse encontro? –Indagou Soninha.
 –Por que eu quero que seja breve em sua decisão. Preciso de uma posição logo. –Respondeu Dupré.
 –Eu vou assumir a minha identidade de herdeira dos Gouveia. [...]
Banhada a ouro, blush e pérolas, Silvana vestiu um clássico Armani rosa e calçou o salto agulho mais alto do brechó fabricado por Prada. A perua, como todo fim de ano, comprava sua roupa natalina no brechó das irmãs Silva, era um tipo de tradição que sua avó lhe ensinara. E apesar de tudo, toda a mercadoria do lugar já foi usada por condes, princesas e rainhas. A família real em peso doara roupa para Elenirtes e Elenita, as donas do lugar. Pessoas da mais alta burguesia paulista, faziam a festa no lugar em datas comemorativas, deixando os shoppings e lojas de “marcas” baratas às moscas.

 –Se eu fosse você levaria aquela bolsa... Foi usada pela princesa Diana. –Disse Elenirtes, a Silvana.
 –Mesmo? –Indagou Silvana, segurando a bolsa.
 –Sinta o cheiro. É de realeza!
 –E quanto custa?
 –Essa está saindo por...
 –Mil reais... Por ser a última peça e mais valiosa se torna a mais cara. –Completou Elenita.
 –Podem por na minha conta, eu vou levar!

Após sair do brechó das irmãs Silva, Silvana entrou no carro onde deixou suas bolsas plásticas com roupas e se dirigiu até a loja da Louis Vuitton. Ao entrar no ambiente, ela se deparou com Clarinha Amaral levando a bolsa de couro mais cara da loja. Clarinha Amaral, alta, loira, olhos azuis, aparentando ter no máximo uns vinte e cinco anos, com um corpo escultural de dar inveja em diversas adolescentes de dezesseis anos. Aquela mulher foi “amiga” de Silvana, uma traidora que roubou seu primeiro marido. Silvana pegou seu ex-marido e Clarinha na cama de um dos motéis em que ambos passaram a lua de mel no Havaí. Sem pensar duas vezes, Clarinha congestionou o caixa para ir cumprimentar Silvana.

 –Queridinha, é você mesma? –Indagou Clarinha, sorrindo. –Mais que pele única, parece até que você se banha com formol!
 –Não vou descer do salto... –Pensou Silvana. –Clarinha?! Mais que surpresa querida. Ainda naquela vida de roubar homens casados?
 –Sempre irônica... E você, já se casou de novo? Será a sexta vez, não é mesmo?
 –Não sabia que a minha vida conjugal interessava a você... Desde quando Clarinha Amaral é jornalista? Que eu saiba você se sustentava com o dinheiro arrecadado dos seus casos extras-conjugais.
 –Como é que é?
 –Convenhamos que você nunca se deu bem como puta de um homem só, não é mesmo amiga?
 –Você me paga Silvana...
 –Quanto é que eu lhe devo? Fale o valor... Tenho dinheiro em espécie na minha carteira.

Cuspindo fogo pela boca, Silvana comprou o que tinha que comprar e saiu da loja furiosa. Se Clarinha havia retornado depois de anos a sua vida, era bem provável que seu primeiro marido João Pedro, retornasse das cinzas para lhe atazanar. A perua entrou em sua BMW e seguiu sua rota em direção ao palacete dos Gouveia. Ao chegar, ela se deparou com Wagner e Isabella discutindo.

 –Mais o que está acontecendo? –Indagou Silvana. –Eu nunca vi vocês dois discutindo...
 –Acontece que o seu filho vai passar o Natal e o réveillon no Rio de Janeiro com um amigo dele. –Respondeu Isabella. –O Wagner me trocou por um amigo! Que homem troca a garota por um cara?
 –Chega Isabella! –Exclamou Wagner, com raiva. –Você sumiu durante muito tempo, e agora que voltou acha que as coisas estão como antes, mas acontece que tudo mudou, eu mudei e se você não está conformada com estas mudanças é melhor darmos um tempo.
 –Filho, não haja de cabeça quente, é a pior coisa...

Wagner não tolerou as últimas palavras da namorada e subiu as escadas da mansão até seu quarto, abriu seu armário de roupas, pegou sua mala, algumas blusas, bermudas, calças, cuecas e tênis, e começou a se preparar para a viagem. Depois de ter posto tudo dentro da mala, o rapaz se olhou no espelho, tocou a face e fitou seu reflexo durante um bom tempo, tentando se encontrar. Após alguns minutos, alguém estava batendo em sua porta.

 –Tem alguém aqui fora querendo ver você. –Disse Dupré.
 –Quem? –Indagou Wagner.

Era Pedro, que surpreendeu o amigo e sem seguida foi convidado a entrar no quarto dele.

 –Eu não esperava pela sua visita... –Wagner sorriu para Pedro, aliviado. –Pensei que fosse a Isabella.
 –Recebi uma ligação da sua mãe... Ela me contou sobre sua discussão com a guria e pediu que eu viesse falar com você. –Pedro estendeu os braços ao amigo, abraçando-o.
 –O que ela pediu que você falasse?
 –Ela pediu que eu te fizesse ver o mundo de um jeito diferente durante a nossa viagem... Vou cumprir o que prometi a ela, loirinho.
 –Nunca pensei que alguém pudesse me fazer tão bem como a minha avó me fazia, sinto vontade de viver... Só ela me fazia sentir isso, e agora que ela se foi, você parece ter substituído seu lugar, como um anjo.
 –Não sou um anjo Wagner, mas sinto uma afeição muito grande por você.
 –Também gosto de você, de verdade Pedro.

Após se concentrar apenas no caso “Esther Gouveia”, Sueli parecia ter tido respostas para suas perguntas, e uma cartada incrível estava em sua manga. No dia seguinte, a delegada apareceu na mansão dos Gouveia com um mandato judicial para entrar no palacete, subestimando Dupré e espantando a todos os outros.

 –O que é que você quer desgraçada? –Indagou Dupré, com ódio da delegada. –Você deveria ir para o quinto dos infernos!
 –Olha como você fala, eu posso te prender por desacato a autoridade ou gritar aos quatro ventos onde está a herdeira perdida. –Disse Sueli, sorrindo. –Você decide... Ou eu te prendo por desacato a autoridade e faço um escândalo, ou conversamos em particular, então Dupré, qual vai ser?