Capítulo 11: O início do turbulento fim de ano dos Gouveia
Nos capítulos anteriores...
Decidido a passar as
festas de fim de ano longe de todo aquele ninho de cobras, Wagner foi pedir
permissão a mãe para viajar com o amigo ao Rio de Janeiro. O adolescente teve
de optar entre a namorada, a família e a tradição ou o amigo, a família dele e
um mundo novo.
–Quando decidiu que não iria passar o
Réveillon conosco? –Indagou Silvana, preocupada. –A Bella mal chegou de
Curitiba...
–Não pode me deixar viajar? Ainda estou
abalado com a morte da vovó... –Respondeu Wagner, dando uma desculpa.
–Tudo bem meu amor.
Após diversas especulações dentro da delegacia,
Sueli saiu do ambiente, entrou em seu carro vestindo um terninho azul marinho e
dirigiu até a casa dos Gouveia, a fim de interrogar Dupré sobre o
desaparecimento de Esther Gouveia e a procura de seu paradeiro realizada há
anos atrás.
–Ah que lhe devo a honra minha querida?
–Indagou François Dupré encarando a delegada.
–Eu vim interroga-lo. –Respondeu Sueli.
–Imagino que seja a respeito da morte de minha
patroa... Eu acho que vocês deveriam deixar essas interrogações de lado,
lembrar de um ente querido que não está mais entre nós é um caso muito
delicado.
–Imaginou errado senhor Dupré, estou aqui para
interroga-lo a respeito do desaparecimento de Esther Gouveia.
Após
a saída de Sueli, Dupré limpou a testa suada com um lenço, pegou o celular no
bolso esquerdo e discou os números do celular de Soninha, com quem marcou um
encontro no Parque do Ibirapuera naquela mesma tarde.
–Por que
marcou esse encontro? –Indagou Soninha.
–Por que
eu quero que seja breve em sua decisão. Preciso de uma posição logo. –Respondeu
Dupré.
–Eu vou
assumir a minha identidade de herdeira dos Gouveia. [...]
Banhada a ouro, blush e pérolas, Silvana vestiu
um clássico Armani rosa e calçou o salto agulho mais alto do brechó fabricado
por Prada. A perua, como todo fim de ano, comprava sua roupa natalina no brechó
das irmãs Silva, era um tipo de tradição que sua avó lhe ensinara. E apesar de
tudo, toda a mercadoria do lugar já foi usada por condes, princesas e rainhas.
A família real em peso doara roupa para Elenirtes e Elenita, as donas do lugar.
Pessoas da mais alta burguesia paulista, faziam a festa no lugar em datas
comemorativas, deixando os shoppings e lojas de “marcas” baratas às moscas.
–Se eu
fosse você levaria aquela bolsa... Foi usada pela princesa Diana. –Disse
Elenirtes, a Silvana.
–Mesmo? –Indagou
Silvana, segurando a bolsa.
–Sinta o
cheiro. É de realeza!
–E quanto
custa?
–Essa
está saindo por...
–Mil
reais... Por ser a última peça e mais valiosa se torna a mais cara. –Completou
Elenita.
–Podem
por na minha conta, eu vou levar!
Após sair do brechó das irmãs Silva, Silvana
entrou no carro onde deixou suas bolsas plásticas com roupas e se dirigiu até a
loja da Louis Vuitton. Ao entrar no ambiente, ela se deparou com Clarinha
Amaral levando a bolsa de couro mais cara da loja. Clarinha Amaral, alta,
loira, olhos azuis, aparentando ter no máximo uns vinte e cinco anos, com um
corpo escultural de dar inveja em diversas adolescentes de dezesseis anos. Aquela
mulher foi “amiga” de Silvana, uma traidora que roubou seu primeiro marido.
Silvana pegou seu ex-marido e Clarinha na cama de um dos motéis em que ambos
passaram a lua de mel no Havaí. Sem pensar duas vezes, Clarinha congestionou o
caixa para ir cumprimentar Silvana.
–Queridinha,
é você mesma? –Indagou Clarinha, sorrindo. –Mais que pele única, parece até que
você se banha com formol!
–Não vou
descer do salto... –Pensou Silvana. –Clarinha?! Mais que surpresa querida.
Ainda naquela vida de roubar homens casados?
–Sempre
irônica... E você, já se casou de novo? Será a sexta vez, não é mesmo?
–Não
sabia que a minha vida conjugal interessava a você... Desde quando Clarinha
Amaral é jornalista? Que eu saiba você se sustentava com o dinheiro arrecadado
dos seus casos extras-conjugais.
–Como é
que é?
–Convenhamos
que você nunca se deu bem como puta de um homem só, não é mesmo amiga?
–Você me
paga Silvana...
–Quanto é
que eu lhe devo? Fale o valor... Tenho dinheiro em espécie na minha carteira.
Cuspindo fogo pela boca, Silvana comprou o que
tinha que comprar e saiu da loja furiosa. Se Clarinha havia retornado depois de
anos a sua vida, era bem provável que seu primeiro marido João Pedro,
retornasse das cinzas para lhe atazanar. A perua entrou em sua BMW e seguiu sua
rota em direção ao palacete dos Gouveia. Ao chegar, ela se deparou com Wagner e
Isabella discutindo.
–Mais o
que está acontecendo? –Indagou Silvana. –Eu nunca vi vocês dois discutindo...
–Acontece
que o seu filho vai passar o Natal e o réveillon no Rio de Janeiro com um amigo
dele. –Respondeu Isabella. –O Wagner me trocou por um amigo! Que homem troca a
garota por um cara?
–Chega
Isabella! –Exclamou Wagner, com raiva. –Você sumiu durante muito tempo, e agora
que voltou acha que as coisas estão como antes, mas acontece que tudo mudou, eu
mudei e se você não está conformada com estas mudanças é melhor darmos um
tempo.
–Filho,
não haja de cabeça quente, é a pior coisa...
Wagner não tolerou as últimas palavras da
namorada e subiu as escadas da mansão até seu quarto, abriu seu armário de
roupas, pegou sua mala, algumas blusas, bermudas, calças, cuecas e tênis, e
começou a se preparar para a viagem. Depois de ter posto tudo dentro da mala, o
rapaz se olhou no espelho, tocou a face e fitou seu reflexo durante um bom
tempo, tentando se encontrar. Após alguns minutos, alguém estava batendo em sua
porta.
–Tem
alguém aqui fora querendo ver você. –Disse Dupré.
–Quem? –Indagou
Wagner.
Era Pedro, que surpreendeu o amigo e sem seguida
foi convidado a entrar no quarto dele.
–Eu não
esperava pela sua visita... –Wagner sorriu para Pedro, aliviado. –Pensei que fosse
a Isabella.
–Recebi
uma ligação da sua mãe... Ela me contou sobre sua discussão com a guria e pediu
que eu viesse falar com você. –Pedro estendeu os braços ao amigo, abraçando-o.
–O que
ela pediu que você falasse?
–Ela
pediu que eu te fizesse ver o mundo de um jeito diferente durante a nossa
viagem... Vou cumprir o que prometi a ela, loirinho.
–Nunca
pensei que alguém pudesse me fazer tão bem como a minha avó me fazia, sinto
vontade de viver... Só ela me fazia sentir isso, e agora que ela se foi, você
parece ter substituído seu lugar, como um anjo.
–Não sou
um anjo Wagner, mas sinto uma afeição muito grande por você.
–Também
gosto de você, de verdade Pedro.
Após se concentrar apenas no caso “Esther Gouveia”,
Sueli parecia ter tido respostas para suas perguntas, e uma cartada incrível
estava em sua manga. No dia seguinte, a delegada apareceu na mansão dos Gouveia
com um mandato judicial para entrar no palacete, subestimando Dupré e
espantando a todos os outros.
–O que é
que você quer desgraçada? –Indagou Dupré, com ódio da delegada. –Você deveria
ir para o quinto dos infernos!
–Olha
como você fala, eu posso te prender por desacato a autoridade ou gritar aos
quatro ventos onde está a herdeira perdida. –Disse Sueli, sorrindo. –Você
decide... Ou eu te prendo por desacato a autoridade e faço um escândalo, ou
conversamos em particular, então Dupré, qual vai ser?