Capítulo 10: Marcas de um acidente fatal (Parte 3- Final)
Nos capítulos anteriores...
Como uma deusa,
Helena desceu as escadas do palacete vestindo um legítimo Armani vermelho,
carregando nos ombros uma bolsa tiracolo preta da marca Prada, calçando um
salto agulha da mesma marca e cor para combinar, e se cobriu com pérolas no
pescoço e nas orelhas. Os olhares estavam destinados apenas a ela, à mulher do
século. Toda a sociedade brasileira compareceu ao evento em combate ao câncer
de mama. Atores, cantores e até mesmo pessoas do governo estavam lá, mas quem
mesmo chamou atenção foi Helena Gouveia, que entrou acompanhada de duas
mulheres com a cabeça raspada, atrizes, para representarem as portadoras do
câncer que perderam cabelo e sua mama.
“Quando eu aceitei esse convite para comparecer ao evento, eu me
imaginei com câncer de mama, tendo que ir a sessões de quimioterapia...
Imaginem só essas mulheres que têm de tirar a mama? Meu Deus é tudo tão
absurdo! O câncer é uma doença incrivelmente pavorosa. Sem contar a perda de cabelo,
do nosso precioso cabelo. É óbvio que após a morte tudo isso acaba, mas durante
a vida nós mulheres sempre lutamos para nos manter lindas e sempre à frente do
nosso tempo. Eu por exemplo, temo a velhice e isso não é segredo a ninguém. Só
que agora temo muito mais o câncer.”
Ao chegar a casa,
Helena notou que seu filho e sua nora já haviam viajado com as meninas. Ela
subiu as escadas, foi até o quarto de Esther, beijou sua testa e lhe desejou
boa noite, em seguida foi para sua suíte e se deparou com Jardel. Ele estava
despojado sobre a cama de bruços como um modelo escultural, totalmente nu.
–Por que se rendeu? –Indagou Jardel, por cima
da amada gemendo. –Disse que eu nunca mais possuiria seu corpo, disse para eu
procurar uma prostituta de esgoto.
–Eu não pude resistir... –Respondeu Helena,
prestes a ter um orgasmo. –Por favor, me possua.
Do lado de fora da
suíte, com o copo na porta, Berenice ouviu os gemidos de prazer de seu marido e
sua melhor amiga. [...]
O amanhecer no
Palacete dos Gouveia começou um pouco turbulento. Dupré foi o primeiro a
acordar, como sempre ele ordenou que as empregadas colocassem a mesa do café
para que todos pudessem se servir quando despertassem. Durante as tarefas
matinais, o mordomo recebeu uma ligação de um dos diretores da Fábrica de
Lingeries Gouveia, que queria tratar de um assunto de extrema importância com
Helena. Sem perder tempo, Dupré subiu as escadas do palacete e entrou na suíte
da patroa, que estava entrelaçada nos braços do amante nu. Ele se aproximou, jogou
um cobertor por cima do corpo de Jardel e tentou acordar Helena.
–Dona Helena... Acorde dona Helena. –Disse
Dupré, no ouvido da patroa. –Dona Helena, é importante!
–Dupré? –Indagou Helena, um pouco zonza. –O
que... Houve?
Ao olhar para o lado direito
da cama, Helena se assustou, Jardel não havia voltado para seu quarto aquela
madrugada e o relógio já marcava oito e meia da manhã. Rapidamente, ela deu
dois tapas no rosto do amante, que despertou assustado.
–Eu não voltei para o meu quarto?! –Indagou
Jardel, pálido. –O que o Dupré faz aqui Helena? Meu Deus fomos descobertos!
–O Dupré sabe que somos amantes... Confio
minha vida a ele. –Respondeu Helena, se vestindo. –Agora vá, levante e invente
uma boa explicação para a sua esposa, precisamos ir para a fábrica, parece que
algo grave aconteceu.
–O que?
–Eu não sei homem de Deus! Agora vá antes que
a idiota da Berenice descubra que somos amantes.
De frente para o
espelho de seu quarto, escovando o cabelo, sorridente e totalmente
irreconhecível, Berenice se deparou com o marido a fitando do corredor. Ela o
olhou de cima a baixo, sorriu para ele e o mesmo retribuiu o sorriso. Sem mais
delongas, Berenice indagou:
–Aonde é que você passou a noite, querido?
–Eu estava na fábrica... –Respondeu Jardel.
–Estamos com sérios problemas, e inclusive terei de voltar para lá daqui a
pouco com a Helena.
–Está mentindo... Ontem eu liguei para a
fábrica e me disseram que você nem havia posto os pés lá.
–Ele estava comigo. –Disse Helena, segurando
uma caixa.
Era incrível como
Helena sempre tinha uma solução para todos os seus problemas. Ela surgiu como
uma fênix por detrás de Jardel, com uma caixa nas mãos, que dentro continha um
colar de diamantes. Era a solução perfeita para enganar Berenice e por uma pedra
naquele assunto.
–O Jardel mentiu em algumas coisas... Não
estávamos na fábrica, estávamos no meu apartamento próximo à fábrica, porém
realmente estamos com problemas sérios. –Ela ergueu a caixa em direção a
Berenice. –Abra.
–O que é? –Indagou Berenice.
–Descubra você mesma, minha amiga.
Ao abrir a caixa,
Berenice se deparou com um lindo colar de diamantes com pequenos detalhes
moldados a ouro branco. Deveria ter custado uma fortuna, ela pensava. Realmente
era uma maravilha, e pelo bom gosto só podia ter sido comprado por Helena, que
sempre tinha a solução para todos os seus problemas.
–É lindo... –Disse Berenice, sorrindo.
–Agradeça ao seu marido, que em meio a tanta
confusão pensou em lhe comprar um presente. –Helena se aproximou de Berenice e
lhe beijou o rosto. –Bom, eu preciso ir, os problemas não se resolverão
sozinhos.
–Eu irei com você... –Falou Jardel.
–Não precisa o Dupré lhe substituirá, se eu
fosse você mostraria a sua esposa que o tratamento contra os seus problemas
urológicos estão fazendo efeito.
Com óculos escuros,
um longo vestido amarelo e batom vermelho nos lábios, Helena entrou na limusine
acompanhada de Dupré, com destino ao centro de São Paulo, onde se localizava a
Fábrica. Durante todo o percurso, ambos não trocaram palavras... Ao chegarem,
um tumulto tenebroso de funcionários rodeava os corredores da empresa. Anselmo,
um dos diretores, aguardava a ricaça em sua sala.
–Qual é o problema? –Indagou Helena. –O que
deu em todos eles que não estão trabalhando?
–Creio que é o fim Helena... –Respondeu
Anselmo, sem palavras. –A fábrica sofreu um roubo que nos custará à vida.
–Não fique rodeando, diga logo de uma vez o
acontecido!
–Alguém muito esperto, roubou todo o nosso
capital de giro. Estamos limpos, sem um centavo... Até mesmo nas contas
internacionais.
–Como é que é?
–Veja você mesma os extratos.
Dupré teve de trazer
água com açúcar para Helena, que quase desmaiou com o baque que acabara de
levar. Não havia absolutamente nada nos fundos bancários da fábrica, nem mesmo
um centavo. O problema realmente era mesmo sério, e talvez fosse o fim.
–Eu não entendo... Não consigo entender...
–Disse Helena, desolada. –Como? Quando? Por que isso aconteceu logo comigo?
–É o fim Helena. –Anselmo também tomou um
pouco da água com açúcar. –Não temos dinheiro nem para pagar os funcionários.
–Acho que não tem como ficar pior...
A secretária de
Anselmo entrou na sala de Helena, desesperada, ela ligou a TV e chocou a todos
que estavam lá dentro. O noticiário falava sobre a queda do avião com os filhos
da ricaça Helena Gouveia, que morreram no local do acidente, já que a aeronave
havia explodido no ar, por sabotagem de uma das turbinas. Em estado de choque,
a magnata caiu inconsciente sobre o mordomo.
–Santo Deus, é o fim dos Gouveia! –Exclamou
Dupré.
Naquele dia mais
tarde, Helena teve de comparecer ao IML para a liberação dos restos mortais de
seus filhos. O mundo parecia ter desabado sobre sua cabeça, ela não tinha mais
vontade de nada, parecia que os seus dias haviam chegado ao fim.
–Meus filhos estão mortos Dupré. –Helena
enxugou o pouco de lágrimas que habitava-lhe os olhos, com as mãos. –Minha
fábrica faliu e meu poder todo parece ter sucumbido.
–Me desculpe senhora, dessa vez não tenho
palavras para lhe consolar. –Disse Dupré.
–Não existem palavras nesse momento que me
console...
Sem condições de ir a
lugar algum, Helena pediu a Dupré que a levasse de volta para o palacete.
Durante todo o percurso, ela tentava encontrar qual fora o erro de sua vida...
E alguns instantes depois ela lembrou que Esther estava com Berenice e Jardel
em casa. Berenice e suas outras duas netas ainda não sabiam que os pais haviam falecido.
Após o motorista entrar na mansão, Dupré e Helena desceram do carro, que em
seguida encontraram Jardel no chão da sala morto com uma faca no estômago e ao
lado um bilhete.
“Querida Helena... Eu descobri que você e o meu marido mantinham um
caso, fiquei com tanto ódio que tive vontade de provocar um escândalo, só que
em vez disso o matei, assim ambos nunca mais terão noites de sexo, e quanto a
sua netinha “Esther”, eu a roubei, finalmente poderei ser mãe. Eu espero que
você passe o resto dos seus dias ao lado do demônio, pois é com ele que você
deve conviver.
Atenciosamente, sua melhor amiga.”
–A carta é anônima. –Helena caiu sentada ao
lado do corpo de Jardel. –Ela fez isso para não se transformar em uma prova
para levarmos a polícia. Deus o meu mundo caiu!
“Todo o poder que Helena Gouveia
adquiriu durante sua carreira, se voltou contra ela, destruindo-a!”
Era o que os jornais
noticiaram durante muitos meses.