segunda-feira, 17 de março de 2014

Alta Tensão - Capítulo 11




DÉCIMO PRIMEIRO CAPÍTULO

No capítulo anterior, Bruno descobre que Ingrid é faxineira da Flash Magazine. Ela por sua vez, assusta-se, foge e acaba sendo atropelada por um carro.

***
     Ingrid abre os olhos. Lacrimejando, apenas deseja que ainda esteja viva. Sua visão está embaçada, e alguém de branco se aproxima.
     ― Olá, garota. — cumprimenta o médico. — Como se sente?
     ― Bem... Onde eu estou? – tenta se levantar, mas o médico a impede.
     ― Calma, Ingrid. Você foi atropelada hoje pela manhã, mas está tudo bem. Apenas quebrou o braço.
     Ingrid começa a lembrar das coisas, mas o desespero é maior quando se lembra da causa do acontecido.
     ― Eu preciso falar com ela! — uma voz masculina desesperada soa do lado de fora do quarto. — A culpa foi minha! A culpa foi minha!

Bruno invade o quarto. Ele e Ingrid trocam olhares e finalmente Bruno implora:
     ― Me perdoa Ingrid. Eu não quis te assustar. Olha o que aconteceu!
     ― Fica tranquilo...
     ― Sério mesmo?
     ― Sério.
     ― Ei... Quer um conselho? Qualquer trabalho honesto é digno. Não precisa ficar com vergonha só por que é faxineira...
Ingrid abaixa a cabeça. Bruno continua:
     ― Fique bem.
     Bruno sai, e Ingrid não deixa de ficar surpresa coma visita dele.
***
     Dia seguinte. Amanhece ao som da música anterior. Na mansão Peregrini, Fidel esfrega o chão da cozinha. Ainda é bem cedo, mas ele está fazendo aquilo para que Wagner o libere mais cedo. Analú sairá do hospital.
     Ao terminar, o mordomo vai até Wagner, que lê o exemplar da revista Flash daquela semana.
     ― Senhor Wagner...
     Wagner, que está de costas, pousa a revista na mesa e vira a cadeira de rodas.
     ― Pois não.
     ― Eu vim agradecer o senhor mais uma vez pelo dinheiro da cirurgia da minha filha...
     ― Opa! Não foi um favor. Você vai pagar cada centavo, com o seu suor. Ouviu bem, Fidel?
     ― Claro. O senhor me libera pra ir buscá-la?
Wagner assente com a cabeça.
     ― Sim? – Fidel espanta-se.
     ― Sim. E ainda te empresto o Ugo e o meu carro.
     ― Obrigado, Doutor. Muito obrigado mesmo! – Fidel beija a mão de Wagner e sai.

***



     Analú sai do hospital com a cadeira de rodas. Ela ainda se recupera da cirurgia no coração.
     ― Por pouco eu não morri, pai. Não foi?
     ― Nem lembra disso, filhota.
     ― Mas se fosse, até que seria os dezenove anos mais bem vividos da minha vida. — ela ri.
     ― Credo, que brincadeira dark, filha! Agora esquece. Você tá bem e é isso o que importa.
         Ugo ajuda Fidel a pôr a moça no carro.
***




     Na mansão Peregrini, antes mesmo que Ugo desça do carro (depois que Fidel e Analú entram na casa), Wagner aparece no jardim onde o carro esta estacionado. Ele conduz sua cadeira de rodas vagarosamente.
     ― Pode ficar aí no mesmo lugar, Ugo.
     ― Deseja ir a algum lugar, doutor?
     ― (sarcástico) Não, eu quero fazer uma pintura sua. Claro que sim, não é palerma!? Me ajuda a entrar no carro.
     ― Onde nós vamos, senhor?― Ugo faz questão de perguntar.
     ― Enfrentar o meu pior medo... Sabia que a Alessandra voltou ao Brasil? Eu tenho que falar com ela...
     Ugo toma um susto. Wagner está mesmo decidido a procurar seus filhos.
     ― Então... Vamos?

***

     A mesma música da cena anterior ainda toca. Alessandra está em seu escritório provisório desenhando, criando peças para a sua próxima coleção. Sua secretária chama e ela atende ao telefone.
     ― Diga que eu estou em reunião...
     ― Mas ele insiste em falar com você! Eu não sei o que eu faço...
     ― Chama a segurança, ora!
Alessandra desliga o telefone.
     ― Incompetente...
Ela se assusta com o barulho da porta. Um homem numa cadeira de rodas sendo conduzido por outro invadem sua sala. Trata-se de Wagner e Ugo.





Alessandra engole a seco. O susto a fez paralisar. Há quanto tempo não via seu pai!
     ― Ugo? Wagner?
     Ugo apenas se encosta na parede, como faz todas as vezes. Porém, Wagner ordena que o seu motorista se retire.
     ― Por favor... Preciso ter um particular com minha filha.
     ― Não sou sua filha e não tenho nada pra tratar com você. — levanta-se da cadeira. — Ponha-se daqui pra fora já!
     ― Antes você vai ter que me ouvir.
     ― Ouvir o quê? Suas lamentações? Saiba que tudo o que você fez pra nós não vai se apagar jamais.
     ― Eu reconheço o meu erro, Alessandra! Perdão! Perdão! Eu gostaria muito de me ajoelhar e implorar pelo seu perdão aos seus pés... Mas olha o meu estado, querida... Estou morrendo! — Ele se aproxima guiando a cadeira e abraça a cintura da filha. Ela o empurra.
     ― Vai embora, Wagner. Morra naquele chiqueiro onde o senhor ainda vive, mas longe de mim.
     ― Eu só queria o seu perdão... E queria que você ficasse ao meu lado. E que cuidasse de todos os meus bens depois da minha morte. Sei que... Sei que não passo deste ano.
     ― Vou chamar a segurança...
     ― Ugo!
     Ugo abre a porta por causa do chamado do patrão. Ele troca olhares com a moça, mas sem dizer nenhuma palavra, guia a cadeira de rodas de Wagner até a saída.

***


     Ugo fecha os olhos e lembra do olhar de Alessandra para ele, enquanto conduz Wagner para o carro.
     ― Ugo? Ugo!
     ― Sì, sì patrão?
     ― Agora só falta falarmos com o Adriano. Terei de viajar até Recife ainda essa semana. Se ele recusar a minha proposta, terei de mudar meu testamento. Não conte isto a ninguém, mas descobri que minha filha com Yolanda está viva!
     Ugo finge espanto, mas já sabia da notícia, por ficar ouvindo atrás da porta. Ele aproveita então para tirar mais algumas informações para passar para a pessoa misteriosa com a qual mantém contato.
     ― Sabes onde ela mora, senhor? — pergunta, enquanto carrega o patrão nos braços e o põe no banco do passageiro.
     ― Não sei ao certo, mas contratei um detetive para descobrir. Só sei que ela é catadora de lixo. Só isso.
     ― Hum... — Ugo finalmente dá partida no carro. Wagner fica pensativo e comenta:
     ― Primeiro foi o Alex, depois a Alessandra. O Adriano com certeza também não aceitará, mas tentarei. Caso ele recuse minha proposta, peço para que Dra. Albaniza mude o meu testamento e deixe tudo para minha filha com Yolanda. Bando de filhos ingratos! Não veem que tudo o que eu fiz foi para o próprio bem deles...

***

     Analú repousa em sua cama, no pequeno quarto que divide com o pai na mansão. Seu celular toca, trata-se de Alex.
     ― Alô?
     ― Analú? Fiquei sabendo do que aconteceu com você! Ta tudo bem?
     ― Agora ta.
     ― Me desculpa não ir aí te visitar, mas não quero ver meu pa... O Wagner tão cedo. Só te liguei pra te desejar melhoras.
     ― Obrigado por se preocupar comigo. Sou só uma empregada e você me da essa atenção...
     ― Você é minha irmã! A gente meio que foi criado juntos... Eu, você. Considero o tio Fidel até como se fosse o meu pai.
     ― Do jeito que meu pai é, ele ficaria se achando.
     ― Agora eu tenho que desligar. Consegui um show, vou cantar num bar. Provavelmente amanhã, mas hoje eu tenho que acertar lá com o dono...
     ― Nossa, que legal! Tomara que de tudo certo, hein?
***



     Chega o dia seguinte. Wagner telefona para que deixem pronto o seu jatinho particular. Ele quer voar para Recife naquele dia mesmo.
     Ugo está lavando o carro no jardim da mansão, quando o seu celular toca.
     ― Cérebro?
     ― Mais notícias do Wagner? — uma voz abafada soava no ouvido de Ugo pelo celular.
     ― Sim... Parece que ele quer mesmo deixar tudo o que ele tem para a tal filha bastarda dele. Idiota...
     ― Descubra quem é, onde mora e mate-a. Ouviu bem? É para isso que eu te pago. E muito bem. Ok?
     ― Como quiser, Cérebro.
     Ugo desliga e guarda rapidamente o telefone, quando é surpreendido por Fidel, com um rádio e uma roupa de ginástica (calças coladas e uma faixa amarrada na cabeça) no jardim.
     O rádio é portátil, mas bem anos 80. Tanto que a música que o mordomo coloca nada mais é do que numa fita.


     Fidel estica o braço direito para cima, depois o outro. Começa a fazer polichinelos. Põe as duas mãos na cintura e começa a flexionar o corpo para os dois lados.
     ― Quando eu era mais novo, eu sempre quis ser a musa do Flashdance... — comenta consigo mesmo.
     Ugo observa a cena, mas continua lavando o carro com a mangueira. Depois ele resolve fazer a maldade de direcionar a água da mangueira para o mordomo e para o seu rádio.
     ― Ui! Ai!  Ai seu italiano fdp! Isso é recalque por que queria estar aqui fazendo as mesmas poses que eu e não pode. — Fidel mostra a língua para o segurança de Wagner.
     — Ui, que inveja. — ironiza.
     — Fique sabendo que o seu recalque bate na minha beleza e volta.
Wagner interrompe a briga do mordomo e do motorista.
     ― Ugo, arrume suas malas. — guia a cadeira até mais perto. — Hoje viajaremos à Recife.




COLABORADOR - LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE -  MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - MÁRCIO GABRIEL
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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