quarta-feira, 26 de março de 2014

A ERA DOS MORTOS - 35


CAPÍTULO 35



Jack subiu as escadas exausto. Parecia que o mundo inteiro estava desabando sobre sua cabeça e sabia que ele era o culpado por aquilo. Ele deveria ter expulsado Brandon quando teve a chance, ou melhor, deveria tê-lo matado. O que ele estava pensando? Manter Brandon foi um grande erro. Imaginou que ele poderia significar alguma moeda de troca, mas ficou claro que Abraham Smith não estava interessado em tê-lo de volta. Se o matasse, não faria mal algum à humanidade.

- Chefe? Como estão as coisas? – perguntou Casper que analisava um mapa sobre a mesinha no centro do lobby do andar dos agentes especiais quando Jack chegou.

- Muito ruins, Casper – desabafou Trevor passando a mão pelos cabelos negros. – Por fim, conseguimos calçar os portões e reforçá-los. Mas pode ser uma faca de dois gumes. Se tivermos que proceder com uma evasão forçada, estaremos presos na fortaleza.  Metade dos agentes estão de guarda na muralha. A muralha interna não é tão alta e nem tão resistente quanto a externa. Não sei por quanto tempo iremos aguentar. E aqui, como estão as coisas?

- O helicóptero veio da Trevor & Associados. A menina está no seu quarto. A irmã e Janaira estão no quarto de Barbra. Já deve ter sabido do que aconteceu com sua ex, não é?

- Nem fale. É o que estão todos comentando. Dois agentes testemunharam ela entrando e saindo da prisão um pouco antes de Brandon fugir. Eu estou sem cabeça para falar com ela, agora.  Não consigo acreditar que ela fez o que fez. Ajudar Brandon a fugir? Depois de tudo o que ele fez? O que aconteceu com aquela maluca? Barbra sempre esteve conosco em todos os momentos. Parte das idéias que sustentam essa fortaleza partiram dela. Eu não consigo entender o motivo.

- Você é o motivo! Eu avisei a você que Barbra estava obsecada com você. Eu avisei, não avisei!

- Avisou, sim. Há muito tempo eu estava dizendo a ela que o nosso caso tinha acabado, mas ontem ela me procurou de novo. Ela viu Alexia saindo do meu quarto e acho que surtou com isso.

- Isso é só metade da missa! – falou Casper, com uma cara de desanimo.

- Ah, meu Deus... o que Barbra andou aprontando?

- Ela tentou matar Alexia! As duas lutaram, por sorte a menina conseguiu tirar a arma dela e ainda deu soco em Barbra.

- E Alexia? – perguntou Jack, tomado pela preocupação.

- Ela está bem. Parece um pouco abatida. Enquanto eu saí ela acabou pegando no sono no seu quarto. Deixei ela lá...

- Melanie falou que Alexia está com anemia profunda. – falou Jack, preocupado.

- Parece mesmo! Ela está bem abatida. Até eu estou com pena dela. Ela tem coragem... isso eu tenho que admitir. Mesmo abatida ela quase nocauteou Barbra...

- E Bio? Como está na pesquisa? – perguntou Jack, com a cabeça cheia de tudo o que Barbra havia feito.

- Ele diz que está quase conseguindo. Mas se precisarmos fazer uma evasão de emergência, parte do material de que ele precisa ficará aqui. Isso não é bom, Jack. Ele diz que já está muito perto, mas...

- Ficar aqui não é mais seguro. Nunca imaginei que diria isso, nunca. Essa fortaleza era o que eu tinha de melhor, Casper. Malditos Brandon e Barbra! – desabafou Trevor, desanimado. - Mande Bio pra Trevor & Associados. Fale para ele organizar a ida para lá com tudo o que precisar.

- Mas Alexia terá que ir junto com ele. E precisaremos avisar a Cidadela e isso é ruim, chefe. – retrucou Casper. – Isso pode ser um problema.

- Não... vamos manter Alexia aqui por enquanto. Mandaremos o helicóptero buscar o material coletado pela Dr. Melanie todos os dias. Faremos isso por enquanto, para evitar mais especulações da Cidadela. Eles buscam o material de helicóptero sempre pela manhã.  Mande seu irmão mandar o helicóptero à tarde, Casper.

- Isso é um gasto desnecessário, Jack. Mas vou fazer o que quer! E quanto a nós?

- Vamos aguentar as pontas, Casper. As pessoas estão entrando em pânico. Temos que aparentar controle. Tenho pensado no que fazer. Eu poderia evacuar as pessoas e encaminhá-las para o supermercado onde Alexia ficou por dois meses. É uma opção. É grande o suficiente para manter as pessoas da fortaleza.

- Mas e a pneumonia? Aqui conseguimos controlar o surto de pneumonia, mas lá, chefe... sem enfermaria, sem os recursos que temos aqui, o que acha que irá acontecer? Além do mais, as pessoas estarão tão inseguras lá do que estão aqui.

- É... você tem razão. Mas se o pior acontecer, será nossa única opção. Mande uma equipe a uma missão externa, se possível, use o helicóptero. No supermercado, há uma área atrás, por onde Alexia entrou, que está livre de Zumbis. Mande um carregamento com os antibióticos para lá e assegure se o Supermercado pode acolher pessoas.

- Se o pior acontecer, não vai dar tempo para evacuar todas as pessoas daqui, chefe. Teremos de abandoná-las.O helicóptero pode levar apenas seis pessoas: eu, você, Alexia, Janaira, a irmã e o sobrinho de Smith. Isso se Bio já tiver ido, ou teremos que deixar Smith.

- Eu vou ficar. No meu lugar, leve a Dr. Melanie. Ela é importante para a causa.

- Mas Jack...? – Casper estava pasmo. – Como assim, você vai ficar???

- Não pretendo deixar a minha fortaleza, Casper, nem as pessoas que estão aqui. Todo capitão afunda com seu navio. Se o pior acontecer, não sairei daqui. Você será o próximo chefe. Leve-os a Trevor & Associados ou então para o Casarão. Será sua escolha! Mas sabe que, faça o que fizer, Alexia precisa ficar a salvo. Você precisa me prometer que vai defendê-la com sua vida.

- Jack... é cedo para falar. Quem sabe não conseguimos aguentar as pontas aqui. Perdemos espaço, mas se a muralha interna aguentar, podemos continuar, não é? A plantação e os animais estão a salvo. Se mantermos turnos de guarda bem rígidos e organizados, podemos conseguir, chefe.

- É nisso que estou colocando as minhas forças e as minhas esperanças, Casper. Mas se o pior acontecer, já tem as minhas ordens.

- Certo! – concordou Casper, por ora, mas ele não tinha intenções de deixar Jack na fortaleza.

- Vou pro meu quarto. Preciso descansar desesperadamente... – falou Jack.

- A menina está lá...

- É... tô sabendo! – replicou Jack com um sorriso agradável, apressando os passos para chegar até a porta do seu quarto.

Ele entrou em completo silêncio e fechou a porta atrás de si. Alexia dormia tranquilamente em sua cama, com as pernas encolhidas e uma mão sob o travesseiro que ele costumava usar. Com o maior cuidado para não acordá-la, Jack sentou-se na beirada da cama e tirou uma mecha de cabelos do rosto de Alexia. Ela se mexeu um pouco, mas não acordou. Estava abatida.

Ele ficou ali contemplando a beleza singela de Alexia, imaginando como poderia se aproximar dela, sem machucá-la ainda mais.

Tocou seu rosto com os dedos, numa carícia suave para que ela não acordasse. Ela era tão frágil e doce e ao mesmo tempo tão forte e batalhadora. Uma menina inocente e uma mulher fenomenal.

- Sr. Trevor... -  sussurrou Lex, acordando meio sem jeito por ter adormecido assim no quarto dele. – Me desculpe... acho que estava mais cansada do que imaginava.

- Você parece abatida. A Dr. Melanie me informou que você não está bem. Vamos dar um jeito para diminuir as coletas.

- As coletas já diminuíram, Sr. Trevor. Não se preocupe comigo, na verdade, estava mais preocupada com você. Casper me contou o que Brandon fez. Como está a situação? – disse Lex, se sentando ao lado dele.

- Ele fez uma bagunça. As coisas não estão bem, mas estamos aguentando.

- Casper me deixou com a impressão de que uma saída de emergência talvez seja necessária.

- Sim... talvez sim. – falou ele, com uma sombra no rosto o que não passou despercebido por Lex.

- E as outras pessoas, Jack? – perguntou ela, colocando a mão sobre a mão dele. – O que acontecerá com elas?

- Eu não sei, Alexia. Não sei o que fazer.  Estamos presos na fortaleza, não há como sair como antes conseguíamos com a muralha externa. Se os zumbis conseguirem atravessar...

- Acho que entendo, mas é cruel. As pessoas alimentaram esperanças aqui dentro. Fizeram desta fortaleza um lar. E eu sei disso porque foi o que aconteceu comigo. É injusto imaginar que as pessoas sobreviveram até agora para acabarem...

- Há sempre uma chance... não é?

- Suponho que sim... – disse Lex, sem se convencer de que houvesse muita esperança pela situação em que a fortaleza se encontrava e sentia-se culpada, afinal, fora ela quem havia exposto Brandon. Mas não era sobre Brandon que desejava falar naquele momento – Sr. Trevor... acho que preciso pedir desculpas pelo que eu disse na última vez em que nos vimos.

Jack sorriu sem que Lex conseguisse entender o motivo, mas antes que pudesse fazer ou prever o que ele faria ele se aproximou dela, colocou uma mão em sua cintura, a outra segurou o rosto de Lex.

- Jack.. Jack... o que está fazendo? – disse ela, a beira do desespero. Não queria ter um novo ataque de pânico, mas o teria se ele se aproximasse mais.

- Eu sei que você precisa de tempo. Sei disso e estava disposto a te dar todo o tempo do mundo. Sei que você foi muito machucada e não quero machucá-la também.  Eu não queria me aproximar de você a principio. Você é uma menina comparada comigo, Alexia. Eu tenho muito mais experiência do que você. E você... você é inocente demais pra mim, querida. Eu tenho medo de machucar você, mais do que você já foi machucada e que perca totalmente a fé nos homens. Eu tenho medo de destruir a última chance de você poder confiar em alguém e ser feliz. E tenho medo de fazer isso porque sou egoísta demais para deixá-la ir.

- Sr. Trevor... eu

- Jack, querida... me chame de Jack. Às vezes você me chama assim... – disse ele, sorrindo. Queria que ela confiasse nele.

- Jack... eu... – Lex não conseguia dizer nada. Seu coração parecia querer saltar pela boca. Sentia-se desconcertada com aquela aproximação ao mesmo tempo em que desejava aquilo. Se estivesse em pé, com certeza, já teria desmaiado, sucumbido nos braços do homem que amava e que temia.

- Eu não sei o que será do amanhã, Alexia. E achava que havia tempo para lidar com você. Mas o tempo parece curto agora e não quero morrer sem antes fazer isso.

Ele se aproximou ainda mais e tocou seus lábios. Levemente, docemente, fazendo pequenas carícias em seus lábios. Lex sentia-se nervosa, mas lutou com todas as forças para manter-se bem. Ao ver que ela não surtara como da primeira vez, Jack puxou-a para mais perto de si. Depois de alguns minutos que pareceram segundos, ele se afastou dela.

Ela levou a mão ao peito e parecia envergonhada.

- Tudo bem, Alexia? – ele disse, colocando a mão sobre o ombro dela. – Eu não quero assustá-la!

- Eu estou assustada! – confessou ela, com os olhos marejados. – Mas não queria estar...  

Jack a abraçou, beijando sua testa.

- Eu sei que o que você viveu com Brandon foi horripilante, minha querida, mas a intimidade de um casal pode ser muito bonita quando queremos... confie em mim... se há alguma vantagem da minha experiência contra a sua inocência, Alexia, é que posso afirmar que não vou machucá-la. Mas você precisa confiar em mim, se quiser, é claro....

Lex olhou para os próprios pés e depois levantou os olhos para o Sr. Trevor.

- Eu quero! – disse ela, tomando coragem. Sentia o corpo todo tremer de uma emoção que nunca antes sentira. Estava na hora de se livrar das amarras que haviam em sua alma. Estava na hora de esquecer Brandon. Estava na hora de tentar ser feliz, de encontrar o amor. Ela amava Jack, como nunca amara ninguém. Sabia das diferenças e demônios que havia entre eles. Sabia que a diferença de idade, a diferença cultural, as dificuldades e tramoias que aconteceram para os dois estavam conspirando para afastá-los e ainda assim, não havia como negar que a atração entre eles era imensa.  Era tempo de deixar de ser uma menina... era hora de ser a mulher que Trevor queria a seu lado. Uma mulher forte... e era isso o que Lex queria ser. Tudo o que acontecera no passado, precisava e iria permanecer no passado. E pensando nisso, tirando coragem de onde não tinha, segurou o rosto de Jack entre as mãos e o beijou.

- Eu amo você... – disse ela, afastando-se dele para contempla-lo.

Os dois se entreolharam por alguns instantes. Era um olhar sério, intenso, uma estranha energia pairava no ar.  Parecia que o tempo havia parado naquele instante. Como se nada pudesse atingi-los, nenhum zumbi, nenhum inimigo, nenhuma ameaça. Parecia que a existência do planeta se confinara naquele quarto, naquela troca de olhar repleto de algo que Jack jamais experimentara em suas vivências...

Ele tirou o colete dela, enquanto ela se concentrava na própria respiração. Depois, lentamente, tirou a camisa, deixando-a apenas de sutiã. Ela se retraiu instintivamente, mas Jack fez uma carícia em seu ombro, percorrendo os dedos pelo braço dela, quando atingiu sua mão, Jack a tomou para si e beijou seus dedos.

Foi então que ele viu as profundas cicatrizes abaixo do seio. Quando as tocou, Alexia tremeu em seus braços.

- Ele a machucou muito, não é?

Alexia fez que sim com a cabeça, sentindo-se envergonhada.

- Deite-se, querida! – sussurrou ele, tirando o próprio colete a camisa. Quando ela se deitou, ele se aproximou dela, fazendo com que ela espalmasse as mãos em seu peito e depois o envolvesse, fazendo carícias em suas costas. Aquele contato fez uma estranha energia percorrer seu corpo. Tinha vontade de toma-la passionalmente, mas precisava ser paciente... precisava dar a ela o tempo que ela necessitava.

Ele a beijou novamente. Lenta e sedutoramente e depois beijou seu pescoço fazendo Alexia arquejar diante de seu toque. Abaixou-se ainda mais e beijou suas cicatrizes.

- Não vou deixar que ninguém mais a machuque, Alexia, eu prometo.

Jack desabotoou a calça de Alexia e a puxou com cuidado, verificando a bandagem na coxa.  Havia filetes de sangue coagulado pela perna.

- Você está machucada! – falou ele preocupado.

Jack levantou-se, buscou no toalete uma pequena bacia com agua morna e passou a lavar a ferida de Alexia, trocando a bandagem.

Enquanto isso, Lex aguardava, ansiosa pelo momento em que Jack retomaria as carícias que fazia e que a faziam mordiscar o lábio inferior.

- Talvez devamos esperar mais um pouco. – falou Jack, depois de terminar o curativo de Alexia. - Esse ferimento na coxa pode piorar e não quero que...

Alexia calou-o com um beijo, puxando-o para si, envolvendo-o pela cintura

- Eu quero você agora, Jack... eu preciso de você... – sussurrou ela em seu ouvido, beijando-o no pescoço e nos ombros.

Jack afastou-se um pouco para contempla-la. Tirou uma mecha de cabelos de seu rosto e fez uma carícia com a ponta do polegar na sua face.

- Você tem certeza, Alexia. Não quero que tenha medo de mim.

- Eu não tenho mais medo...


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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