quarta-feira, 19 de março de 2014

A ERA DOS MORTOS - 32


CAPÍTULO 32



Apesar de Lex se sentir complemente bem no dia seguinte, ainda levou mais um dia para sair da enfermaria, junto com Janaira. A Dr. Melanie, a que cuidou de Janaira, agora assumira o posto de Dr. Brandon como chefe da enfermaria e foi promovida a Agente Especial. Ela até ganhou um uniforme como o do Dr. Brandon, com a insígnia em forma de estrela.

Lizzie foi forçada a permanecer na enfermaria. E como ela, muitos outros foram internados no dia seguinte com a mesma doença. Havia muitos doentes na fortaleza e ninguém sabia ao certo o que fazer. Para alguns, bastava tomar antibióticos, para outros, era necessário ficar naquela bolha de oxigênio como era o caso de Lizzie e, para outros, não havia o que fazer, simplesmente faleciam.

Lex não sabia como seria retornar para o dormitório nº 02, afinal, muitas das mulheres ali com as quais Lex e Janaira haviam convivido por muito tempo haviam se voltado contra elas, quando souberam da armada ‘traição’ de Brandon. Embora estivessem um pouco nervosas, foram bem acolhidas e algumas até pediram desculpas por terem pensado mal delas.

As duas permaneceram descansando por um dia, mas no outro dia foram chamadas por um agente para o treinamento diário. Agora, havia escalas de treinamento e todos os moradores da fortaleza acima de 10 anos treinavam no campo de treinamento da fortaleza, no interior da muralha externa.

Lex e Janaira e outras pessoas foram levadas por um ônibus até o campo e quando chegaram, Lex assustou-se com o barulho de agouro que os zumbis produziam. Era óbvio que o número deles havia aumentado do lado de fora pelo estardalhaço que faziam.

Os agentes atiravam pedras por cima da muralha e de vez em quando, atiravam com os rifles. Havia uma aura de medo pairando no ar e aquilo perturbava os que estavam ali.

Lex e os outros tiveram aula de defesa pessoal e manuseio de armas brancas (facas, canivetes, facões e outras armas cortantes). O treino com tiro ao alvo estava suspenso para todos, pois as balas precisavam ser racionalizadas agora. Lex sentiu-se aborrecida por isso, pois queria melhorar no alvo, mas como foi escolhida para um turno de patrulha na muralha naquela noite, sentiu-se melhor. Achou que era uma ótima oportunidade para treinar tiro ao alvo e ainda fazer exercícios mais pesados arremessando pedras e tudo o mais.

Quando retornava ao ônibus, entretanto, Zotar, o agente que ficou no lugar de Malvino, falou que haviam cometido um erro e que Lex não poderia ficar de guarda. As ordens eram para que Lex fosse para a fortaleza e a partir dali, o seu treinamento seria reduzido.

- Maldito! – respondeu Lex no mesmo minuto.

- Como é, agente? – perguntou Zotar, aborrecido com o desrespeito de Lex.

- Desculpe-me, Senhor. Não é para o senhor.

- Se não é para mim esse “maldito”, para quem é, então? – perguntou Zotar.

- Para ninguém, Senhor. Estava distraída, Senhor. Devo fazer algumas flexões?

Flexões eram um castigo óbvio. Geralmente, os agentes superiores a colocariam de castigo na guarda da muralha, mas como isso estava fora de questão, imaginou que seriam as flexões.

- Olha aqui, MacNichols. Sei o que está fazendo! Está querendo criar caso. Tem uma maldita recomendação na porra da sua ficha dizendo que você não deve fazer nenhum exercício pesado. Tá querendo sacanear comigo, é? Tá pensando que suas costas quentes fazem alguma diferença aqui?


- Pelo jeito, é exatamente o que faz!!! Diferença!!! E eu não quero ser tratada com diferença. Trevor deu essa ordem, não é? – perguntou Lex sentindo-se enrubescer. Janaira, atrás de Lex, tentava puxar a amiga para o ônibus. – Fala, anda... !!!

- É, porra! – confessou Zotar - E é SENHOR Trevor pra você.

Depois disso, Lex subiu no ônibus, sentindo o sangue ferver.

- Não faz besteira, Lex. Nós não queremos ser expulsas novamente, lembre-se disso.

Mas Lex não conseguia escutar Janaira e assim que o ônibus parou em frente ao saguão de entrada da fortaleza, Lex desatou a correr, subindo as escadas da fortaleza até o andar dos agentes especiais. Sem dar satisfação a Barbra e Bio que a encontraram no corredor, Lex prosseguiu e entrou estrondosamente no quarto que sabia ser ocupado pelo Sr. Trevor.

- Você não pode me tirar do treinamento, Sr. Trevor... não pode!!!

Jack, que estava deitado sobre a cama, lendo um relatório de Barbra assustou-se ao ver Lex ali no seu quarto, totalmente transtornada.

- Alexia?? – disse ele, colocando o relatório sobre o criado-mudo. – Quer se acalmar. Nem sei do que você está falando.

- Você me tirou da escala da patrulha da muralha e ainda colocou restrições para que eu não faça exercício pesados.

- Ah... isso?!?  Foi por sugestão da Dr. Melanie. Bio falou que a partir de amanhã precisará coletar seu sangue diariamente. Muito sangue. A Dr. Melanie falou que isso vai debilitá-la. Só estava pensando no seu bem estar.  Você deve saber, Lex, que Abraham Smith também está solicitando uma remessa de sangue e tecidos da sua parte. Isso quer dizer que você precisa estar bem pra poder suprir as nossas pesquisas e ainda, as pesquisas da Cidadela. Sabe o quanto isso vai difícil pra você? Acha mesmo que ainda pode continuar com treinamento pesado e patrulhas que exigem concentração, noites mal dormidas, precisão?

No mesmo instante, Lex sentiu-se boba por estar ali, exigindo o treinamento. Claro que agora, as pesquisas para achar uma cura eram a prioridade total e que isso só dependeria dela. Novamente, o Senhor Trevor estava pensando nela e em seu bem estar. “Maldição”, pensou ela, “Maldito Trevor!”

- Sinto muito... eu... eu achei que o senhor estava tentando...

- Te proteger... ? – falou ele, levantando-se da cama e aproximando-se dela.

- Me subestimar... me tratar como uma criança, uma doente mental.  – falou Lex, envergonhada.  – O treinamento é muito importante pra mim. Quando eu comecei a treinar, senti que tinha algo contra Brade e as suas ameaças. Isso me fez me sentir muito bem, Sr. Trevor, o senhor nem imagina.

- Brade está preso e jamais irá te machucar novamente, eu prometo. – disse ele, aproximando-se ainda mais.

- Eu sei... e sei também que devo estar preparada e bem para as coletas de sangue e outros materiais. Sei que isso é a prioridade.  Então eu sinto muito pelo meu comportamento.  Vou deixá-lo em paz agora, senhor.

Lex fez menção em deixar o quarto do Sr. Trevor, mas ele a segurou pela mão e a puxou para si, para muito perto dele.

- Sr. Trevor... – falou ela, sentindo-se nervosa com a proximidade dele.

- Eu tenho querido ficar a sós com você, Alexia. Uma vez, na torre do heliporto, nós quase nos beijamos. Naquela ocasião, sim, tratei você como uma criança, mas não desejo cometer esse erro novamente. Quando achei que a tinha perdido, percebi que o que eu sentia por você era mais do que uma atração...  não dá mais pra negar, querida.

Foi então que aconteceu. Jack Trevor, o Senhor da fortaleza, tornou a distancia entre eles inexistente. Aproximou seus lábios dos dela e a tocou. Doce e suavemente. Segurava em sua cintura quando provou dos seus lábios e Lex sentiu quando as mãos dele deslizaram pelas suas costas. Ela não conseguia se mover, seu coração disparando a uma velocidade inigualável.

Trevor afastou-se depois de alguns segundos pois percebeu que Lex parecia estranha em seus braços.  Ela estava pálida, sem poder falar ou se mover.  Uma estranha energia perpassara seu corpo e ela mal podia respirar tal era a emoção que sentia.

- Tudo bem? – perguntou ele, tirando uma mecha de cabelo do rosto de Lex.

Ela tremia da cabeça aos pés e seus olhos lagrimejaram.

- Alexia? – insistiu ele, preocupado.

Lex sentiu-se fraca e seus joelhos dobraram. Cairia se Jack não a segurasse em tempo. Agilmente, ele a ergueu nos braços e a colocou sobre a cama, sentando ao seu lado.

- Alexia, você está bem? – Ele perguntou, colocando a mão sobre o peito de Lex. – Tente controlar a sua respiração, Alexia, você está tendo um ataque de pânico.

A sensação era mesmo muito ruim. Parecia que o mundo inteiro estava abrindo aos seus pés e a engoliria naquele instante.

- Eu vou morrer... – balbulciou ela, procurando os braços do senhor Trevor.

- Não vai não! Acalme-se, fique calma. – disse ele, acolhendo-a em seus braços, enquanto ela se afundava cada vez mais no seu peito. – Eu não deixaria... Alexia... fique calma...

- Eu vou morrer... eu não consigo respirar – disse ela, entrando em desespero.

- Acalme-se, querida... acalme-se... – disse ele, fazendo carícias em suas costas e nos longos cabelos de Lex.

Ficaram assim por mais alguns minutos, mas depois aquela horrível sensação foi diminuindo da alma de Lex. Ela sabia que o Sr. Trevor estava ali com ela e que a protegeria não importando o que houvesse e esse pensamento lhe trouxe a paz que necessitava para controlar seu próprio corpo. O problema é que quando finalmente conseguiu respirar e a fraqueza lhe deu tréguas, sentiu uma terrível vergonha.

- Sinto muito! Sinto muito... – falou Lex, chorando, enquanto Trevor a abraçava. – Eu não queria ser tratada como criança... mas sou algo ainda pior...

- Não se preocupe por isso, Alexia! – falou o Sr. Trevor, afastando-se um pouco para enxugar suas lágrimas com a ponta do polegar. – Depois de tudo o que aconteceu entre você e Brandon, é normal que você tenha desenvolvido a síndrome de pânico diante de um contato com um homem, querida. Eu deveria ter previsto isso. Não foi agradável tomá-la de surpresa, assim...

- Mas... – Lex tentou argumentar. Tentou dizer que isso era tudo o que desejava. Que o amava mais do que tudo. Tentou dizer que se sentia emocionada por ele ter retribuído o sentimento que ela nutria por ele, mas não conseguiu. No lugar, só conseguiu perguntar: - Por que fez isso agora? Porque me beijou agora? É porque sente alguma coisa por mim, ou porque se sente culpado por ter me jogado fora daqui depois de eu ter aberto meu coração. Eu havia acabado de revelar meus sentimentos e assim mesmo, o senhor preferiu achar que eu era uma menina instável psicologicamente. Uma MENINA! Uma maldita MENINA! E agora me beija... pra que? Pra eu aceitar melhor o fato de que não passo de um rato de laboratório numa gaiola um pouco maior???

- Está me ofendendo, Alexia! – falou Trevor, num tom profundo e distante. Parecendo verdadeiramente magoado e surpreso com a explosão de Lex, mas ela não parou por ali.

Lex se levantou afastando-se dele com uma certa violência, empurrando-o na cama.

- Eu tenho sido usada o tempo todo desde que nasci. Por Lanister e MacNichols, por minha mãe, ambas as mães, por Brade, por Smith e agora por você. A única diferença agora é que eu sei que estou sendo usada e manipulada. E o pior é que eu preciso concordar porque você é o menos pior... o menos pior... – disse ela, levantando as mãos, completamente irada, sem conseguir controlar o que dizia.

- Eu não estou te manipulando, Alexia. Eu preciso de você para as pesquisas de Bio. Preciso do seu corpo e da sua disposição física. Mas o fato de eu tê-la beijado não tem nada a ver com isso. Você pode não acreditar em mim, mas se o fiz, fiz de coração. Eu não faria isso com você, Alexia. Eu já lhe disse que sou um canalha... mas jamais te manipularia deste jeito. Não depois de tudo o que você sofreu com Brade.

- Assim como o senhor não acreditou em mim antes, não acredito em você agora!!! – disse Lex e saiu do quarto do Sr. Trevor da mesma forma estrondosa com que entrou... 


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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