CAPÍTULO 30
Lex esforçava-se para manter a consciência. Abria os olhos esporadicamente. Só o que via a princípio era o rosto preocupado do Sr. Trevor olhando para ela. Ele a mantinha firme em seus braços e fazia pequenas carícias em seus cabelos. O vento soprava forte em seu rosto. Olhou ao redor numa das vezes em que conseguiu abrir os olhos. Estava em um jipe. Na frente, Casper dirigia acompanhado de alguém, talvez Janaira. Os cabelos longos da morena eram jogados para trás.
- Você está a salvo agora... – escutou
o Sr. Trevor dizer.
Não conseguiu responder imediatamente.
Fechou os olhos. Alguns segundos passaram.... talvez minutos... talvez horas.
- Ninguém está a salvo! – balbulciou
ela sem saber se estava ou não dentro de algum contexto inteligível.
- Ela está delirando... – a voz agora
parecia ser de Briam. Mas estava diferente. A voz estava mais grave, mais
profunda, mais triste.
- Vai ficar bem? – perguntou Janaira,
virando-se. Lex assustou-se ao ver a amiga. Ela tinha o belo rosto cheio
de hematomas e o lábio inferior cortado.
- Espero que sim... – falou o Sr.
Trevor, puxando Lex para mais perto de si.
Lex não sabia o que estava acontecendo.
E, para falar a verdade, tinha raiva e mágoa do homem que sempre disse querer
protegê-la. Entretanto, aquele contato quente e aconchegante era o suficiente
para fazê-la se afundar ainda mais em seus braços, buscando pelo carinho
daquele homem cruel que a expulsara do único lugar a salvo do mundo, jogando a
ela e a sua irmã no mundo infestado por zumbis...
Sua irmã...
- Lizz... lizzie... min-minha irmã...
- Não se preocupe... Lizzie está a salvo. Está na enfermaria desde que nós a resgatamos daquele supermercado.
- Graças a Deus! - falou Briam,
emocionado. - Achei que ela havia sucumbido à pneumonia.
- A pneumonia agora é geral... - explicou o Sr. Trevor - há uma epidemia na fortaleza... e pelo que entendi, na Cidadela também. Abraham Smith jogou na atmosfera algo que ele imaginou ser a cura para o vírus, uma espécie de contra-vírus. As pessoas boas começaram a morrer de uma estranha pneumonia, pois o contra-vírus alastra-se pelo ar. O contra-virus causou uma estranha chuva que não fez nada a não ser infectar os zumbis com uma carga extra de adrenalina. Eles estão mais fortes, mais agressivos e supervelozes agora, maldito Smith.
- Não acredito! – falou Janaira – Então
era pra isso aquela chuva estranha?
- Sim... a coisa está ainda mais feia
do que já esteve. Daí o desespero de Smith em encontrar Alexia a todo custo.
Ela é imune ao vírus e ao contra-vírus.
- E porque meu tio deixou que você a
tirasse junto conosco daquele inferno se ela é tão preciosa para ele? –
perguntou Briam.
Lex moveu-se para contemplar a face de
Briam, ao lado de Trevor no jipe e ficou assustada ao ver o rosto do sobrinho
de Abraao Smith. Briam estava ainda pior do que Janaira. O cabelo estava
raspado e na cabeça havia uma cicatriz feia, como se ele tivesse passado por
uma cirurgia cerebral.
- Foi pura sorte. Assim que eu descobri
que o Dr. Brandon era o verdadeiro traidor, eu fui até o supermercado onde
vocês se abrigaram. Foi então que achei Lizzie e os outros. Mas ela não sabia
do paradeiro de vocês. Só sabia que vocês tinham saído para conseguir
antibióticos. Eu procurei por toda Parnaso, inclusive naquela farmácia na
avenida Atlantida, o que não foi uma boa idéia. Perdemos muitos homens. Foi
então que descobrimos o efeito do contra-virus nos zumbis. Eu fiquei
derrotado, achei que vocês haviam sido atacados quando a chuva parou e que
haviam se transformado. Durante todo o tempo, ficamos monitorando as
comunicações da Cidadela e foi quando eu descobri que eles haviam encontrado
vocês e Lanister.
- Lanister foi capturado junto conosco.
Janaira e eu fomos encaminhados a ala dos escravos e nunca mais vimos Lex ou o
Sr. Lanister.
- Ala dos Escravos?? – perguntou o Sr.
Trevor, com um estranho olhar para Briam que o retribuiu.
- A Cidadela não é nenhum pouco
parecida com a Fortaleza, Sr. Trevor. As pessoas que pagaram milhões por um
abrigo agora são escravas e são obrigadas a trabalhar por restos de comida. O
trabalho é pesado e nos chicoteiam se recusamos ou demoramos muito tempo para
fazer algo.
- Deus do Céu! – falou Casper,
desconcentrando-se um minuto da direção para olhar para Janaira. – Isso
aconteceu com você também?
- As mulheres bonitas se tornam escravas sexuais e se recusam, são torturadas... – respondeu ela, num tom amargo.
- Sinto muito, querida... - falou Casper, estendendo a mão para acariciar o rosto de Janaira, mas ela o repeliu.
- É bom sentir muito. Não imagina os
horrores que eu vi e vivi naquele inferno..
- Voltamos a selvageria! – falou o Sr.
Trevor. – Chicotear pessoas...? E eu que achava que a nossa prisão era
medieval.
- É muito pior do que você imagina...-
desabafou Briam - no final do dia, eles nos jogam em buracos úmidos no chão.
Numa noite, fiquei com vinte pessoas num buraco em que só caberia uma pessoa.
Pode imaginar o que é tentar dormir em pé, sem espaço para respirar. Um garoto
morreu nessa noite.
- Não imagina o terror que vivemos lá,
Sr. Trevor. – falou Janaira – Por isso, fiquei surpresa quando nos buscaram e
disseram que estávamos livres para ir com o senhor.
- Como eu falava...isso foi pura sorte.
– o Sr. Trevor continuou. – E graças ao Lanister. Ele exigiu que Alexia e vocês
dois fossem soltos ou não iria trabalhar na cura.
- Mas se Lex é a cura...
- Eles coletaram sangue suficiente para continuar o trabalho e ainda Smith me obrigou a manter uma escala de suprimento com o sangue de Lex ou irá invadir a Fortaleza. Mas confessou que irá invadir a Fortaleza assim que Lanister encontrar a cura.
- Isso não nos dá muita esperança,
então! – falou Briam. – Há milhões de soldados. Eles é que torturam os escravos
e pelo que vi, estão bem armados. Não temos chance, Sr. Trevor.
- Sempre há esperança, Briam. Ganhamos
um pouco de tempo, até Lanister achar a cura ou até Smith perder a paciência
com Lanister. Acho que agora, vamos ter que planejar uma fuga ou uma defesa
espetacular contra um exército implacável.
- Não temos chances... – falou Briam,
parecendo derrotado – O mais fácil é nos espalharmos... alguns morrerão, mas
alguns poderão sobreviver.
- Eu pensei nisso e esse era um plano
viável até antes daquela chuva maldita. Não creio que há chance de vida fora da
fortaleza com o estado em que estão os zumbis agora.
- Os zumbis estão tão agressivos assim?
- Você verá!!!
Eles se aproximavam da entrada da
fortaleza. O Sr. Trevor tirou um revolver sinalizador e disparou. Em seguida,
veio o barulho da primeira explosão. Era o padrão de jogar a granada para
afastar os zumbis da entrada.
- Preparem-se! – gritou o Sr. Trevor.
Ao longe, era possível ver que o portão da fortaleza estava aberto e que uma
grande quantidade de zumbis estava reunido ao redor da explosão da granada,
vinte metros adiante da entrada, entretanto, ao verem o jipe, eles começaram a
correr em direção ao carro. Lex gemeu nos braços do Sr. Trevor ao ver a reação
dos mortos vivos. Sempre lentos, agora moviam-se numa velocidade assustadora.
Corriam como bichos selvagem em direção a presa, fazendo estranhos
contorcionismos com o corpo putrefato. Um deles alcançou o jipe, saltando para
dentro, mas Casper acertou-o com um tiro e acelerou o jipe. Quando o portão se
fechou, dois deles já haviam entrado e atacaram um guarda que gritou em
desespero. Os outros agentes que estavam sobre a muralha atiraram nos mortos e
no guarda com vontade e depois voltaram a atirar para fora da muralha.
- Eles pulam alto, como se tivessem
super poderes. Já gastamos vinte por cento da nossa munição, desde que a chuva
parou. – falou Trevor. – Eles já conseguiram invadir a muralha sete
vezes. Por sorte, conseguimos conter uma catástrofe, mas a qualquer momento
imagino que não teremos mais chance. O portão foi reforçado três vezes, mas eles
estão mais fortes, então... não sei o que pode acontecer. Já não está mais
seguro ficar nessa muralha. Tampouco, é seguro sair. Os sentidos dos mortos
ficaram mais aguçados. Bio acha que eles conseguem sentir o nosso cheiro há uma
distancia ainda maior. Por isso, cada dia mais, há mais e mais zumbis à nossa
porta e por mais zumbis que matemos, mais aparecem. Nesse prognóstico,
Barbra calcula que nossos armamentos acabarão em dois meses... talvez menos.
- Isso quer dizer que não podemos sair
e não podemos ficar... – falou Janaira, com os olhos marejados. – Eu achei que
estaria a salvo...
- Não... Alexia está certa... ninguém
está a salvo. Mas nós a temos agora. E ela é a única arma que temos nesse
momento. Bio está convencido de que pode trabalhar na cura, ele acha que as
amostras que Lanister mandou anteriormente naquela maldita pasta, devem ser
testadas com o sangue de Alexia. Por isso Lanister insistiu tanto que Smith
soltasse Alexia sob meus cuidados. É a nossa última e única chance:
acharmos a cura...
O Sr. Trevor baixou os olhos para Lex
que o contemplava. Então era por isso que Trevor havia se dado ao trabalho de
encontrá-la? Por que ela era a cura? Lex não conseguiu deixar de sentir uma
certa tristeza, mas sabia que agora era importante que se recuperasse pois seu
sangue e sua vida eram preciosos naquela batalha apocalíptica.
Os portões da muralha interna se
abriram e Lex pode enfim ver a sua querida fortaleza. Achou que jamais a veria
novamente. E, principalmente, achou que jamais veria sua irmã Lizzie novamente.
Por isso, seria eternamente grata ao Sr. Trevor, entretanto, havia uma mágoa
profunda em seus sentimentos em relação a ele.
Quando o jipe parou, o Sr. Trevor
ajeitou Lex nos braços e saiu do veículo, encaminhando-se para a entrada da
fortaleza. As pessoas paravam para ver, mas Lex fechava os olhos, pois não
suportaria olhar em seus olhos. Trevor entrou pelo corredor da enfermaria e
entrou numa sala com vários leitos. Seus olhos marejaram ao ver Lizzie num
deles, mas ela estava envolta numa bolha de plástico. Parecia bem, abatida, mas
bem.
Trevor colocou-a delicadamente numa
cama ao lado da de Lizzie e Lex estendeu a mão tocando no plástico. Do outro
lado, Lizzie fizera o mesmo, colocando a palma examente onde estava a mão de
Lex.
- Achei que jamais a veria. – falou
Lex, deixando que as lágrimas rolassem – Achei que a havia perdido.
- Eu também, Lex... eu também...
O Sr. Trevor sentou-se na beirada do
leito de Lex e segurou sua outra mão.
- Não imagina o quanto eu me sinto
culpado pelo que aconteceu a ambas! – começou ele, mas Lex não deixou que ele
continuasse. Puxou sua mão e a levou ao peito.
- Não quero suas desculpas, Sr. Trevor.
Eu sempre serei grata por você nos ter recebido aqui, e por ter me salvado e à
minha irmã. – falou Lex, sentindo o embargo na garganta. – Mas não sabe o
quanto me fez sofrer ao duvidar de mim... ter nos expulsado. Lizzie poderia ter
morrido. Eu poderia ter morrido.
- Deus... eu sinto tanto por isso...
não sabe o quanto. Eu sempre suspeitei de Brandon, mas...
- Mas achou melhor confiar nele do que
numa garota instável psicologicamente, não é?
- Tudo conspirava contra você,
Alexia... Tente entender... – disse ele, com uma nota de tristeza.
- Eu sei. Entendo. – falou Lex,
tentando mostrar-se o mais distante possível.
- Alexia...
- Estou cansada, Sr. Trevor. – disse Lex e virou-se na cama, dando-lhe as costas, afundando-se no travesseiro. Por alguns minutos ela ainda o sentiu presente, mas depois, ele a cobriu com um cobertor que estava dobrado aos pés da cama e sumiu em seguida.
- O que está acontecendo entre vocês
dois? – perguntou Lizzie que assistiu a tudo.
- Nada... é o que está acontecendo
entre nós dois... apenas o nada, o vazio e a distância.
ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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