CAPÍTULO 29
15 dias depois...
Lex abriu os olhos. Ainda o mesmo teto branco e a luz pálida de sala de cirurgia estavam sobre ela. Cerrou os olhos e uma gotícula de lágrima banhou seu rosto de pele ressecada.
Suspirou com tristeza. O peito ergueu-se com dificuldade e abaixou-se em seguida. Tentou mexer os braços, mas estavam firmemente atados num suporte em ambos os lados. Se estivesse em pé, Lex estaria simulando uma cruz, mas deitada como estava já há quinze dias sentia as feridas nas costas aumentando e os braços dormentes.
Quinze dias, Lex... dizia a si mesma.
Sua irmã deveria estar morta agora. Só o que podia fazer era rezar por um milagre. Talvez Lizzie tivessse se curado sozinha. Às vezes sonhava que retornava a tempo ao supermercado e lhe dava o antibiótico. Mas parte de si acreditava enquanto outra parte lhe dizia “-Você matou sua irmã ao arriscar-se tanto e por qual motivo? Para achar um pai que não era seu pai nem biológico nem de criação. Alguém que talvez estivesse por trás da emboscada que colocou Briam e Janaira também em perigo.
Gostaria de pensar que seus amigos estavam bem, mas escutou no helicóptero que a trouxe até a cidadela que os soldados tinham ordens para manter somente os Lanisters em segurança e que os outros poderiam ser mortos se resistissem. Até onde sua memória não lhe falhara, lembrava que Janaira chorava muito, mas não resistia e Briam, quando tentou lutar, levou um coronhada forte na cabeça e ficou desacordado.
O helicóptero sobrevoou toda Parnaso e só parou bem distante, nos arredores da capital. Não conseguia ver direito, pois estava muito escuro, mas os contornos da Cidadela a assustaram: o lugar parecia ter quilômetros de distância, quase vinte vezes o tamanho da fortaleza, com uma muralha menor, mas muito iluminada. Depois, quando o helicóptero pousou, um homem colocou um lenço branco sobre o nariz e a boca de Lex e ela desmaiou. Quando acordou, já estava ali, naquele lugar estéril, claro e irritantemente branco. Quando a Lanister e os outros, Lex só podia imaginar.
Vez ou outra, uma pessoa vestida de
jaleco branco entrava, trocava-lhe o soro, aplicava-lhe algumas soluções, coletava
material e depois saía. Minutos depois, vinha a dor, uma dor que iniciava nas
veias que recebiam o soro e se espalhavam por todo o corpo. Lex gritava,
chorava, contorcia-se implorando para que aquele horror parasse, mas aquilo
continuava ainda por uma hora até que parasse completamente.
Três vezes por dia, todos os dias desde
que chegara. Com o tempo, parou de gritar e implorar, simplesmente não tinha
mais forças. Era como se estivesse novamente na posse de Brandon. Era como se
estivesse novamente sendo violentada e torturada sem esperanças de fugir dali.
Era tortura, uma tortura incessante e
nada poderia salvá-la de um fim trágico e devastador. Gostaria de, ao menos,
poder dormir. Esquecer por alguns segundos sua condição de escrava e cobaia,
mas a luz forte sobre seu rosto e o branco estéril da sala impediam-na de
descansar, mesmo por poucos segundos.
Havia escutado que a falta de sono
levava a insanidade em poucos dias. Talvez já estivesse chegado mesmo à
loucura, pois a porta abriu-se de repente e Jack Trevor entrou, olhando sério
para ela.
- Que diabos você fez com ela? –
esbravejou Jack olhando para a porta, onde um homem baixo, com muitos quilos a
mais, de nariz estranho e olhos estreitos havia se encostado.
- Testes! Mas ela está viva, como você
vê...
- Maldito – vociferou Jack.
- Cuidado como fala! – falou o homem em
tom zombeteiro. – Você não está em condições de me exigir nada.
- Lanister está do meu lado! – retrucou
Jack, fechando a mão em murro.
Lex sabia que o “Senhor da Fortaleza” segurava-se
para não bater naquele homem estranho.
- Lanister está do lado da filha – o homem apontou Lex com a cabeça –e assim que aquele velho maluco descobrir a maldita cura, eu esmagarei você e sua ridícula fortaleza como se esmaga uma barata.
Após a aberta ameaça, o homem saiu da
sala onde Lex estava, mas deixou a porta aberta.
Lex piscou várias vezes para ter certeza de que o Sr. Trevor não iria desaparecer no ar como uma miragem. Mas ele aproximou-se dela e tocou em sua mão e, embora sua mão estivesse há dias dormente, ela pôde sentir a energia que vinha de Jack perpassando seu corpo, como se aquela fosse uma experiência metafísica.
- Se... senhor... Trev...trevor... –
balbulciou ela, sem saber distinguir o turbilhão de emoções que tomavam conta dela.
- Vou tirar você daqui em um minuto! –
falou ele com confiança, mas Lex duvidava que ele poderia enfrentar Smith e a
Cidadela. Mas somente por poder vê-lo e sentir em suas mãos, os dedos dele a
acariciando era como se o céu lhe desse um pequeno pedaço do paraíso.
Em poucos minutos, o homem apareceu na
porta. Agora, estavam com ele Janaira e Briam com aparência horrível e o
próprio Sr. Lanister.
- Está vendo? – disse o homem estranho
para o Sr. Lanister – Eu não iria matar Paris... não quando o sangue da menina
é tão precioso para nós, não é Lan?
- Smith, você é desprezível! –
respondeu Lanister, com um olhar cansado. E aproximou-se de Lex também. –
Minha filha, minha filhinha... você vai ficar bem, agora... Eu já soube de
tudo. Sei que você é mesmo minha filha... minha Paris. Não me importa que não
seja minha filha natural. Você sempre será minha filha, Paris... sempre. – Os
olhos de Lex lacrimejaram. Ela gostaria de poder dizer algo. Mexeu os lábios,
mas nem som saiu - O Sr. Trevor vai cuidar de você... prometeu-me que iria
cuidar de você, Paris... bem... quero dizer... Alexia.
- Sim, Lanister... eu cuidarei de sua
filha, isso é uma promessa. – falou Trevor se aproximando.
- Agora, saiam daqui antes que eu mude
de idéia. E lembre-se, Trevor, a garota deverá ficar disponível para mim quando
eu quiser testá-la. Se não obedecer... todos da sua preciosa fortaleza
perecerão...
Jack não escutou duas vezes. Libertou
impacientemente Lex das ataduras que a prendiam na cama e a levantou em seus
braços. Lex tentou passar os braços pelo pescoço de Jack, mas estava tão fraca
e debilitada que os braços escorregaram, ficando inertes ao lado do corpo. Ela
apoiou a cabeça em seu peito e sabia que, apesar de tudo, ele a protegeria.
- Querida... você vai ficar bem
agora... eu prometo...
Escutando a agradável voz do homem que
amava, Lex cedeu enfim ao sono e ao cansaço e desfaleceu em seus braços...