CAPÍTULO 23
A única luz que havia na prisão era de
um foco de rosca que pendia no centro da sala. Bruxuleava com pequenos
movimentos circulares. Parecia haver alguma rajada de vento vindo de algum
lugar. Mais ou menos de doze em doze horas um novo agente aparecia na antessala,
servia-lhes sopa, dava comprimidos a Lex e depois sumia novamente. Quando Lex
contou quatro dias naquela prisão úmida e nojenta que eles compartilhavam com
baratas e ratos, Casper surgiu novamente e retirou-lhes da cela. Como haviam
comido pouco, não haviam visto a luz do dia e não puderam banhar-se, os cinco
prisioneiros estavam num estado lastimável. Casper levou-os até os dormitórios
no primeiro andar e mandou todos se banharem, o que fizeram em banheiros
separados. Depois de lavados e vestidos com um novo jogo de conjunto moletom
cinza os cinco foram levados ao salão de jantar, onde lhes foi oferecida uma
refeição bem mais reforçada do que lhes foi dada na prisão.
- Comam tanto quanto puderem! – falou
Casper, num expressão séria – Talvez seja a sua última refeição...
Lex percebeu que Janaira estremeceu.
Talvez por medo, talvez por rancor. Sabia que havia algo entre ela e Casper e
ele a tratava agora como um lixo humano que mal merecia aquela refeição, o que
não era muito diferente de como Jack Trevor a estava tratando, não que houvesse
algo entre eles. Trevor deixara claro que não tinha sentimentos por ela.
Gostaria de poder odiá-lo depois de tudo o que ele fez para ela, o que não foi pouco, mas sabia que não poderia mandar em seu coração. Na verdade, embora tivesse mantido um pouco da sua dignidade no final, sem ficar implorando a ele para deixa-los ali, o que seria completamente inútil, sabia que seu maior desejo era que ele a abraçasse e lhe dissesse que a amava e que a mantivesse consigo.
Como era ingênua! Como era tola! E como
foi idiota por cair naquela armadilha do Dr. Brandon. Deveria ter ficado calada
desde o início. Deveria ter observado e atacado o maldito psiquiatra quando ele
menos esperasse. Deveria tê-lo matado silenciosamente e culpado os zumbis.
Estaria livre daquele pesadelo e ainda, ficaria a salvo na fortaleza, onde
poderia viver para sempre com Janaira, Lizzie, Briam e o Sr. Trevor. Mas
agora era tarde demais para pensar no que poderia ter feito.
- Vamos... chegou a hora de partirem...
! – anunciou Casper quando eles terminaram a refeição.
Ao lado de Lex, foi Lizzie quem
estremeceu agora, mas Lex passou um dos braços pelo ombro da irmã e a abraçou,
tentando consolá-la.
- Vai ficar tudo bem, não se preocupe!
– mentiu ela, com o sorriso mais amarelo que pôde elaborar naquela hora.
Casper levou os cinco num dos jipes que
o Sr. Trevor costumava usar até os portões da muralha interna e depois até os
da muralha externa, que ficava perto da área de treinamento dos agentes, onde
mandou descerem do veículo. Havia mais ou menos dez agentes ali e todos eles
apontavam armas para eles.
- Cada um vai receber uma mochila. –
falou Casper, jogando para cada um uma mochila esverdeada tipo militar. – Há
uma beretta em cada uma, com 10 balas na agulha e mais 3 pentes com 10 balas
cada. Colocamos também um cantil cheio de agua, cerca de meio litro, e alguns
sanduíches. Há uma coberta também em cada mochila e um casaco a mais. Não
percam a mochila, pois não irão ganhar outra. Vocês não poderão se armar agora,
se o fizerem, meus homens atirarão.
- Mas nós vamos agora? Agora? De noite?
– perguntou Lizzie, confusa. – Meu Deus, isso é crueldade.
- Não, não é! – falou Lex, colocando a mochila nas costas e auxiliando Lizzie a fazer o mesmo – Os zumbis não enxergam bem a noite. Isso vai nos dar uma chance.
- Aguardem até que os portões estejam abertos, depois saiam e se afastem. Se retornarem, serão imediatamente executados pelos guardas dos portões que estão autorizados a atirar. Nós iremos cobrir a sua saída, até onde pudermos. Boa sorte! – falou Casper, olhando de soslaio para Janaira.
Lizzie e Janaira se aproximaram de Lex
que ficou ao centro, com Briam e Malvino na extremidade de cada lado, os cinco
perfilados aguardando que os portões se abrissem. O que havia em cada coração
era um mistério, mas sabia que todos estavam nervosos quando ao futuro. As
próximas horas eram cruciais e deveriam achar um abrigo funcional se quisessem
continuar existindo. Era tudo tão injusto, principalmente, saber que
provavelmente o Dr. Brandon deveria estar agora na Fortaleza, rindo às custas
da tristeza dos cinco renegados.
- Fiquem calmos e tentem me
seguir. Assim que sairmos, tentem alcançar as armas das mochilas, mas não
percam tempo. Os zumbis não são tão velozes, mas são fortes, então tenham
cuidado. - falou Lex, tomando a liderança, uma vez que Malvino, o agente de
maior experiência entre eles estava lívido e mudo.
- Ah, meu Deus... meu Deus... – falou
Janaira, agarrando o braço de Lex que também respirava fundo, nervosa com a
possibilidade de encontrar o seu fim e o de sua irmã logo atrás daqueles
portões tão protetores.
Olhou em volta, tentando encontrar o
rosto de Jack Trevor em um dos agentes, mas ele não estava ali. Nem ao menos
veio vê-la partir. Aquilo, de fato, magoava seu coração. Ele a abandonara. Não
que tivesse alguma responsabilidade para com ela, mas sempre sentiu-se salva e
protegida quando ele estava perto dela. “Como pode deixa-la daquela forma?”
Casper subiu as escadas da muralha e
atirou uma granada do outro lado, exatamente como da outra vez que ela saiu com
Nilson e os outros. De repente, Casper gritou lá de cima e os portões se
abriram. Lex viu imediatamente que os zumbis estavam andando na direção
contrária, em direção a uma bola de fogo causada pela explosão da granada.
- Vamos... chegou a hora!!! – disse Lex, puxando Lizzie pela mão. Os outros a seguiram. Passaram silenciosamente pelos carros e começaram a se afastar das muralhas. Lex puxou a mochila das costas e passou a procurar com uma das mãos pela Beretta, enquanto olhava em volta. Alguns zumbis começaram a notar a presença deles ali. O vento estava contra eles, levando o odor de carne fresca aos narizes já apodrecidos dos zumbis que ali vagavam.
- Anda, rápido! – falou Lex, para os
outros, conseguindo tirar a Beretta. – Se formos rápido, não precisaremos
gastar balas!!!
Levou um susto quando uma morta-viva
surgiu por trás da irmã, mas quando ia ataca-la, uma bala atravessou seu
cérebro. Casper cumpria a palavra de que os cobriria. Ele e os outros
agentes estavam armados com as snipers evigiavam a passagem
dos renegados, enquanto eles avançavam. Logo, porém, a muralha ficou para trás
e com ela, os agentes. Passaram pelo centro de Gregória e continuaram pela
estrada, caminhando velozmente.
- Não seria melhor entrarmos numa das
casas e usá-la como abrigo? – perguntou Malvino, que olhava para a ala
residencial da cidade, onde havia um grande aglomero de mortos-vivos.
- Eles sentem o cheiro de carne. Antes que déssemos conta, estaríamos cercados e sem alimento, Malvino. Eu tenho outro plano. Um plano mais arriscado, mas se der certo, teremos alguma chance.
- Certo. – concordou
Malvino, sem oferecer nenhuma resistência. Ele mesmo estava perdido e sem saber
o que fazer, agora que estava longe da fortaleza. Talvez o desânimo o tivesse
vencido, talvez ele confiasse na garota que saiu numa missão suicida e retornou
com vida. Só o que sabia era que se Alexia fosse mesmo uma traidora,
encomendada por Lanister, o melhor era ficar ao lado dela e quem sabe, ganharia
alguma recompensa por isso. Quem sabe tudo o que fora dito era mesmo verdade e
se de fato Alexia os levasse a tal Cidadela que Trevor comentara, talvez aquilo
fosse seu futuro em outro lugar...para longe da fortaleza Trevor...
ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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