O
salto alto de dez centímetros pisava exageradamente no acelerador da Hilux cor
verde metálico. A dama dos olhos azuis e cabelos negros, lisos e compridos, vestia
uma calça de couro preta, e a jaqueta marrom combinava com esse traje. A
maquiagem forte e chamativa trazia à sua personalidade uma aparência gótica e
sombria. Ela olhou no ponteiro do automóvel. Viu que ultrapassava os cento e
vinte quilômetros por hora. Logo atrás, um Celta preto vinha totalmente
descontrolado pelas ruas de Londres. A cidade inglesa estava iluminada, e o
trânsito, muito calmo para aquela noite.
A mulher pisou ainda mais um pouco
no acelerador, e o carro começou a dançar no meio da pista. Assim que viu um
caminhão de transporte de laranjas vindo, ela saiu da sua mão na estrada. O
Celta ocupou o lugar vago, e tentava ultrapassar a caminhonete. Havia dois
homens no carro preto. Enquanto um dirigia, o outro, não parava de atirar na
direção da motorista da Hilux.
De repente a mulher virou o volante
no ângulo noventa graus. O carro girou no meio da pista. Por falta de atenção,
o motorista do Celta saiu da estrada, e chocou contra um chafariz. O carro
tombou duas vezes e saiu lixando pelas ruas, soltando faísca. A motorista da
Hilux desceu, pondo no chão o seu salto preto e pontudo. Ergueu os seios, e se
aproximou do automóvel estraçalhado. A partir destes segundos, o trânsito
cercava o local do acidente.
— Doutor Paul. — A bela dama causadora
do acidente estava ao telefone. — Acabei de dar um jeito nos capangas dos
irmãos Gregory.
— Que ótimo, senhorita Paige. — O
homem do outro lado da linha era o delegado daquela região de Londres. Alto,
pele clara e cabelos castanhos, doutor Paul era muito desejado pelas colegas de
trabalho, pela aparência executiva e máscula, além dos belos olhos azuis. Estava
de frente a dois homens inescrupulosos, que o fitavam, segurando nas grades de
uma cela. — Neste momento estou de frente aos dois. O que houve com os
capangas?
— Acabaram sofrendo um acidente com
um carro. Tentaram me seguir. Quem faz isso se dá mal. — Paige afirmou.
— Imagino como deve ter sido. Espere
a ambulância chegar. Depois, pode ir pra casa. Iremos dar um jeito de impedir
que estes homens recebam alta. Vão sair do hospital mas irão direto para a
cadeira. A senhorita precisa descansar. Mais um caso resolvido.
— Obrigada, doutor Paul. — Ela
desligou a chamada, e fitou uma ambulância se aproximando. Logo em seguida, os
bombeiros também chegaram. Alguns homens desceram do veículo, muito apressados.
Paige entrou na Hilux, deu a partida. Pisou na embreagem. Soltou, engatando a
primeira marcha.
Algumas semanas
depois...
As sirenes dos carros de polícia
entravam e saíam dos ouvidos dos homens que dirigiam os mesmos veículos. A
mansão estava cercada desse tipo de gente. Jornalistas apressados corriam em
frente à residência, com o microfone na mão, tentando a todo custo conseguir
algumas informações.
— Alô telespectador da News England.
— A jornalista loira e alta, com um charmoso rabo de cabalo preso a uma chucha
branca, olhava para uma câmera, mesmo com a presença da noite, sua imagem podia
ser vista e instantaneamente transmitida às televisões de toda a Inglaterra. — No
momento, parece que não temos mais nenhuma informação sobre o polêmico ‘Caso
Stephany Rowland’. Aguardaremos as informações e anunciaremos as novidades.
Continuaram com aquela agitação
toda. Muitas pessoas, apressadas, olhavam em seus relógios. Aquilo era como o
fim do mundo. Quem imaginava que a filha de Willians Rowland, o dono do parque
consagrado de Londres, — o Rowland. — morreria aos seus dezesseis anos?! E
pior: dentro de sua própria residência, pra lá de luxuosa, vítima de uma forte
pancada na cabeça. Naquele exato momento, o corpo da jovem Stephany estava
sendo levado para a ambulância. Os flashes das câmeras fotográficas registravam
cada passo transcorrido. Por fim, a vítima adentrou no veículo, seguindo para o
hospital.
A semana passou muito devagar, e com
muito peso para o pai da jovem morta. Sentou-se em uma cadeira da elegante mesa
de vidro transparente, no centro da enorme sala, podendo colocar o charuto na
boca. Suas mãos estavam frias, e seguram esse mesmo objeto, meio que tremulamente.
A esposa loira e esguia percebeu toda a aflição de Willians.
— Não fique assim, meu amor. — Por
estar de frente ao homem, pegou no queixo dele, fazendo que sua cabeça
inclinasse. — Hey! Eu estou aqui! Stephany não gostava de te ver triste.
Lembra?
— Ainda não me convenci de que você
me ama! — Willians se estressou, sendo obrigado a se levantar da cadeira, e
encarar a dama, espantada com a reação do homem. — Você e a minha filha nunca
combinaram! Disso eu sei muito bem! Quem garante que não foi você a assassina?
— Como ousa apontar esse tipo de
acusação pra cima de mim, Willians? — Desta vez, ela não tolerou. Sacudiu seu
corpo, e apontando o dedo na cara do marido, ela soltou pra fora o que pensava
a respeito das palavras ditas por ele. — Está certo que eu e a sua filha nunca
nos demos bem. Mas não chega a ser um motivo. Essa é uma acusação muito séria.
Ninguém tem o direito de dizer isso! Não confia em mim?
— Quer saber mesmo a verdade,
Penelope? A partir de agora eu não confio!
— Bom saber, seu ingrato! Bom saber! —
Ela empurrou o marido contra a mesa, virou-se, mexendo seu cabelo loiro e
sedoso. — Dá licença! Não vou perder meu tempo discutindo com a sua
ignorância. — Antes de sair, foi
segurada por um dos braços, e logo em seguida, pelos cabelos. Willians era quem
a arrastava para trás. Ele arremessou uma bofetada contra o rosto da mulher,
que foi se afastou a dois metros após o golpe.
— Você me paga! — Penelope agarrou um
vaso, que estava em cima da mesa. Virou-o de cabeça para baixo, fazendo com que
as flores ali dentro caíssem. Em seguida, o soltou contra o rosto de Willians.
Não acertou, mas o objeto caiu no chão, desmanchando-se em pedaços.
— Desgraçada! Se esse vaso me acertasse,
você iria ver o que... — Penelope não ouviu mais nada, pois adentrou para os
outros cômodos da casa, aos berros.
Willians ficou observando os corredores
da mansão. Escutou algumas batidas, como se fosse um salto alto. Virou-se para
todos os lados, mas não viu ninguém. De repente, uma dama de beleza encantadora
e atrevida, o fitava, dos pés à cabeça. Willians sorriu para ela, indo de
encontro.
— Decidi entrar sem chamar ninguém.
Estava ouvindo alguns gritos. Poderia ser um caso de polícia. — Gargalhou num
tom crítico.
— Você deve ser a detetive Paige Simons.
— Willians já havia percebido, pela aparência, que aquela era a mulher que
resolveria o caso do assassinato de sua filha.
— Eu mesma. Quero ficar por aqui. Vou
alertar a vocês como funciona o meu trabalho, e fazer o possível para resolver
esse mistério. — Paige entreabriu os lábios, e sorriu para o dono da mansão. A dama mal imaginava que estava pronta para começar um jogo
duro, e acima de tudo: absolutamente perigoso.
Escrito por William Araujo
Colaboração de Luiz Gustavo
Direção de arte de Márcio Gabriel e William Araujo
Realização na emissora TV Virtual
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