segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Duas Faces no Espelho - Capítulo 19


Capítulo 19

Alis observou a limusine do Sr. Trevor se afastar com uma tristeza profunda no coração. Nunca imaginou que pudesse sofrer tanto ao vê-lo se afastar. As lembranças dos dias que vivera na mansão Trevor ainda estavam vivas na sua mente. Nunca fora tão feliz, nunca se sentira tão protegida e amada, como quando pertencia a família Trevor. E no entanto, parecia que tudo se dissipava no ar. E ela voltou a seu humilde lar, do qual até sentia falta. Alis era simples e lhe incomodava um pouco aquela vida fútil que Liz vivia. Preferia sua vida simples, o problema mesmo era o que acompanha seu humilde lar: Brade.

Suspirando com tristeza, Alis deu três passos que foram o suficiente para cobrir toda a casa e abriu a porta do quarto com estrondo:

- Pode sair! – falou Alis, observando a irmã, sentada melindrosamente com as pernas cruzadas sobre a cama que costumava dividir com Brade.

- Você fez o certo! – falou Liz, levantando e passando uma mão pelo rosto de Alis. Alis, entretanto, virou o rosto rejeitando aquele contato.

- Não sei porque está brava consigo. Você sabe que eu só estou defendendo a minha família.

- Você não me engana mais, Liz. Você não está fazendo isso para salvar a sua família. Você está fazendo isso porque é mesquinha e fútil.

- E você é o que? Tentando conquistar o meu marido? Ele é MEU marido, Alis. – retorquiu Liz, voraz, como Alis nunca a viu.

- Pouco me importa, Liz. De qualquer forma, eu vou cumprir a minha promessa, se você cumprir a sua.  – agulhou Alis.

- Não se preocupe! Eu prometo que não vou brigar pela guarda do meu filho. Prometo que Jr. Ficará com o pai – mentiu Liz, sem conseguir evitar um sorriso no canto dos lábios. Sabia que não tinha chance de tentar tirar Júnior de Lucas, mas Alis não sabia disso – De qualquer forma, isso é temporário. Logo estarei de volta ao lado do meu marido.  Afinal, somos uma família e você não é nada para Lucas...

- Ok! Eu já entendi. Agora saia e finja que nunca teve nenhuma irmã – respondeu Alis, com amargura.

- Não seja tão má! – disse Liz, melindrosa – Você estava implorando para morrer, irmã, quando eu te conheci. Eu só quis dar um empurrãozinho.

- Você me enganou! – esbravejou Alis, sentindo seu rosto ferver. – Fingiu que seria minha irmã e só me manipulou.

- Não se faça de pobre coitada! Eu também perdi muito nessa história: os meus milhões foram confiscados pela polícia e ainda perdi meu irmão que era a única pessoa que eu tinha no mundo.

- Você tinha a mim. Se tivesse me dito a verdade, eu teria te ajudado.

- Como Alis? Você nem consegue SE AJUDAR. Você está com um homem horrível, violento, agressivo e nem consegue se livrar dele. Como é que você conseguiria me ajudar, hein? Eu tinha uma verdadeira ‘Carminha’ no meu pé. Amélia era profissional. Ela só estava com o meu pai por dinheiro.

- E você? Não é por dinheiro que está com Lucas? – provocou Alis, nervosa.

- Eu amo meu marido – disse Liz, irritada. – E agora que Dunga está morto, ele é tudo o que me resta e você não vai tirar isso de mim.

- Já lhe disse que não. Agora saia da minha casa. Saia agora!!!

Liz ainda queria dizer algo, mas calou-se e deixou Alis a sós, que se deixou cair sobre o sofá, a cabeça entre as mãos. Escutou o ranger da porta e imaginando se tratar de Liz, Alis levantou-se prestes a gritar quando viu a figura de seu marido em pé, diante dela, com uma expressão de confusão.

- Achei que você tinha saído da casa. Jurava que você havia saído agora mesmo.

- Deve ter sido a minha irmã! – esclareceu Alis, simplesmente, sentindo seu coração disparar.

- Você não tem irmã. Se não fosse por mim, você não teria ninguém pra tomar conta de você. – falou ele como se lhe fizesse um favor. – Isso está me soando muito estranho... Aliás, tudo ultimamente está me soando estranho em você. E agora chegou a hora de você começar a cantar, antes que eu perca a estribeira...

Ali estava nítida a ameaça que Alis aguardava desde ontem.

No dia anterior, Brade havia feito um escândalo no hospital, obrigando o médico a dar-lhe alta e depois, durante o trajeto para casa, seu marido respirava fundo, contraindo o maxilar. Alis sabia que logo ele explodiria com ela, mas antes mesmo de chegarem em casa, ele havia sido chamado ao trabalho.

Parando no meio do nada, ele mandou que ela saísse do carro e partiu para longe. Alis andou, com um pouco de dificuldade, até a sua casa e ficou ali aguardando o momento que ele chegasse. Mas a noite passou e ele não havia chegado.

Algo muito importante havia acontecido no trabalho, mantendo-o longe dela. Agora, contudo, ali estava ele e ela sabia o que a aguardava.

- Pensa que sou otário? Eu percebi que ultimamente você tem se esquivado de mim, deixado tudo uma imundície. Não tem mais limpado a casa, nem tem feito as coisas da forma que eu gosto. Depois, some com o meu carro e eu nem sabia que você dirigia. Sabe onde encontrei o meu carro? Na porra do meu trabalho! Na garagem da PM. Dois PM’s falaram que o carro foi envolvido na merda de um caso de tiroteio. Disseram que havia títulos ao portador dentro da merda do carro. Eu tive que pagar uma multa do cacete pra retirar o carro. Foi quando eu descobri que você havia participado do tiroteio na casa de um grã-fino. Ah, Alis... você sabe que eu odeio te machucar, mas as vezes, você pede por isso. Estava pensando o que? Que o teu amante rico ia te livrar do castigo que eu vou te dar...

- Eu posso explicar – disse Alis, tentando controlar a respiração. Sabia o que a aguardava. Sabia exatamente o que ele faria.

- Então, explica! – disse ele, aproximando dela e agarrando-a pelo pulso que não estava engessado. – Explica logo que a minha paciência tá no limite...

- Foi a minha irmã-gêmea! Minha irmã é que estava com você nos últimos dias. Minha irmã pegou o carro. – disse Alis, tentando se livrar das mãos dele. O pulso ficou automaticamente vermelho.  

- Claro... depois vai dizer que o teu amante é a porra do papai noel... – disse ele, com um sorriso sarcástico no rosto.

- Me larga, Amilton. Me largue, agora! – falou ela, num tom baixo, mas decidido.  Com a outra mão (a do braço engessado), ela tentava se libertar.

- Acabou a palhaçada! Você sabe que eu tenho tentado ser bom pra você. Você sabe que você não tem nada, nem ninguém. Eu tenho sido a única companhia que você tem. Mas parece que você gosta de me provocar. Gosta de me ver bravo com você. Gosta de me fazer de bobo!!! Eu deveria ter te mandado pro teu papai... aposto que ele ia dar um corretivo em você.

- Você não é melhor do que ele... – falou Alis, amargurada. Deveria ter fugido quando Brade a deixara ontem para ir trabalhar. Mas o Policial Alex Cartumis deu-lhe ordens para que não saísse da cidade. De qualquer forma, Brade a encontrou todas as vezes que ela tentou fugir. Agora era tarde para se lamentar. Mas não queria ser uma vítima nas mãos dele novamente.  Depois de ter estado nos braços de Lucas, um homem que a fez sentir que o amor entre um homem e uma mulher poderia ser terno e maravilhoso, era impossível para ela, deixar que Brade a tocasse novamente. E por isso, juntou suas forças e empurrou-o.

Brade cambaleou para trás e olhou surpreso para Alis.

- Você deve estar louca!! – falou ele, e aproximou-se mais agressivo.

Com agilidade, ela desviou dele e correu para a porta. Quando abriu a porta para fugir dali, ele empurrou novamente a porta, fechando-a com estrondo e levantando  braço, desferiu o primeiro golpe.


Alis caiu com a violência do soco. Sabia o que a esperava e protegeu o rosto. O chute chegou com força ao estômago, mas ela se encolheu para proteger as costelas. Os outros chutes foram na cocha e nas pernas. Ela choramingava e implorava para que ele parasse, mas aquilo parecia pior e cada golpe parecia mais forte.  

- VOCÊ VAI SE ARREPENDER, PUTA!!!

Brade se preparava para um golpe mais forte no rosto de Alis quando uma mão surgiu no seu campo de visão. Lucas segurou o braço de Brade e o empurrou.

- QUE MERDA É ESSA? – falou Brade, olhando assustado para Lucas. Raul também havia entrado na casa e os dois olhavam para Brade.

Lucas estava tomado de raiva. Brade era um homem grande e forte. Era, para dizer o mínimo, uma covardia sem tamanho ameaçar uma mulher pequena como Alis.

- EU SOU POLICIAL, E ISSO É INVASÃO!! SAIAM DA PORRA DA MINHA CASA! – esbravejou Brade, mas manteve-se a distancia.

- Escute aqui! – falou Lucas, segurando a vontade de socar aquele monstro até fazê-lo parar de respirar – Eu sou um homem de negócios! E podemos resolver isso sem violência! Quanto quer para deixar sua esposa em paz e ainda assinar o divórcio?

Alis levantou a cabeça com dificuldade para olhar para Lucas e seus olhares se cruzaram. Ela marejou os olhos ao perceber o que estava acontecendo.

- Quer comprar essa daí? – falou Brade, com um sorriso zombeteiro, olhando para a Alis. – Essa puta não vale a merda que investi nela.  Mas é a minha puta e você não vai conseguir ela assim sem pagar muito dinheiro, grã-fino do caralho!

- Ótimo! – falou Lucas, mantendo a classe - Raul, leve a Sra Brade para a limusine enquanto eu e o Sr. Brade chegamos a um acordo.


Raul ajudou Alis a se levantar e começou a arrastá-la para fora. Alis tinha dificuldades para andar, mas quando estava lá fora, fez menção em fugir, correr para longe dali, mas Raul a segurou.

- Fique calma, senhora – falou Raul, puxando Alis para a limusine. – O chefe vai cuidar de você agora!

Quando entrou na limusine, Alis tentou abrir a porta do outro lado, mas Raul foi mais rápido e a travou.

- Escute aqui, menina! – falou Raul, segurando os pulsos de Alis – Eu fui fiel a sua irmã e serei fiel a você, e estou fazendo isso pra o seu próprio bem!  O chefe vai cuidar de tudo. Você deveria estar grata!

- Eu não sou uma mercadoria! – gritou Alis, debatendo-se contra Raul. – Me deixe sair... me deixe sair...

- Pode deixar, Raul, já estou aqui – falou uma voz atrás de Raul e quando o motorista saiu, Lucas entrou na limusine e se sentou ao lado de Alis. – Isso foi necessário, Alis... foi necessário...

- Eu odeio você! – disse ela, sentindo as lágrimas correrem pelo rosto. Estava dolorida, mas o que sentia na alma era muito pior. Sentia que tudo o que Lucas era para ela havia se partido no momento que ele a comprou de Brade – Você, Brade, Liz.. são todos iguais... são todos iguais... e só dinheiro a linguagem que vocês sabem falar...

- Então queria que eu visse o que aquele idiota estava fazendo com você sem fazer nada? Que cretino acha que eu sou, Alis? Será que você não consegue entender que eu estou tentando te ajudar???

- Se quer me ajudar, me deixe ir embora. Eu vou fugir e você e nem Brade jamais ouvirão falar de mim...

- Você pode me odiar para sempre se quiser, Alis... mas jamais deixarei você sair de perto de mim, novamente... JAMAIS!!!