Capítulo 33: "Em legítima defesa."
Nos capítulos anteriores...
Com um cigarro na mão, observando Magno dormir,
Rachel arquitetava seu plano contra Joaquim, ela tinha de pensar em um jeito de
mata-lo, porém de uma maneira produtiva. E foi quando ela pegou uma revista de
fofoca em cima da mesinha de cabeceira da cama, em que ela e Sônia se
encontravam na página principal pelas respectivas notícias:
“Rachel Gouveia resolveu voltar à mansão dos
familiares para tratar do marido doente, e Sônia parece estar vivendo um
romance feliz ao lado do namorado Lúcio Prates.”
Que Rachel teve uma ideia incrivelmente excepcional.
A megera deixou o cigarro no cinzeiro, despiu-se e tomou um banho rápido na
ducha do Motel. Ela escreveu um bilhete para Magno, no qual dizia:
“Obrigada,
logo nos veremos novamente.”
Pegou os novos remédios de Joaquim e saiu pela
porta. Sem a peruca loura e as lentes de contato, agora ela deixava de ser
aquela personagem para voltar à realidade e encarnar na pele de Rachel Gouveia,
a esposa dedicada de Joaquim. Paparazzis a perseguiram, e com óculos escuros e
sem dizer nada, ela despistou-os até encontrar um táxi.
Em um movimento
extremamente rápido, Rachel injetou o composto de cianureto na veia do marido.
[...]
Todos os 500 m² do palacete dos Gouveia estava
interditado. Paparazzis se encontravam do lado de fora como abutres. Jornalistas
e curiosos também se mantinham apostos. A família, que também não sabia o que
realmente acontecia dentro da propriedade, foram barrados. Apenas François
Dupré, o mordomo dos Gouveia, se encontrava dentro da mansão.
–Deus me perdoe, eu fiz isso para proteger a família de um escândalo.
–Pensou Dupré.
Três horas antes dos policiais e peritos chegarem à mansão.
Depois de tirar todos
da mansão e passar o dia fora a pedido de Joaquim, Dupré imaginou que ele já
pudesse voltar ao palacete. O mordomo dos Gouveia tomou um táxi com destino ao
jardim Europa e em minutos chegou à grande mansão. Aparentemente, nem
empregados e nem familiares haviam chegado, por que o jardim da casa estava
vazio e era algo raro de acontecer. Dupré andou em direção a enorme porta da
frente de carvalho, com pequenos revestimentos de ouro que detalhavam as
laterais e a abriu.
–Mais o que é...? –Indagou Dupré a si mesmo.
Dupré olhava
espantado para as fotos de Rachel fazendo sexo com aquele homem desconhecido,
que estavam espalhadas pela casa. No enorme televisor da sala de estar, um
vídeo de sexo entre ela e outro homem, mas que parecia familiar estava sendo
executado repetidamente. Sem palavras para aquilo tudo, Dupré começou a
procurar o casal pelo resto da casa. Sobre a mesa de jantar, ele encontrou duas
taças e uma garrafa de vinho, que aparentava ter sido consumida. Ao subir as
escadas, o mordomo pensou em pôr a mão no corrimão, mas algo lhe dizia para não
tocar em absolutamente nada.
–Rachel?! –Gritou Dupré, que se encontrava
dentro do quarto de Silvana. –Joaquim?!
Havia um cômodo que
ainda não havia sido revistado e era a suíte principal do palacete, onde Sônia
dormia. Os batimentos cardíacos de Dupré aceleraram enquanto ele passava pelo
enorme corredor. Com uma luva preta, o mordo girou a maçaneta, que abriu a
porta da suíte máster do palacete. A imagem de Rachel caída sobre o corpo
ensanguentado de Joaquim ficou marcada na memória de Dupré.
Três horas depois...
As lembranças de
Dupré sucumbiram no momento em que ele pôs a mão esquerda no bolso de seu
casaco, sentindo o DVD de sexo entre Rachel e Rafael, um jornalista que há dois
anos fez uma matéria sobre o poder de Helena Gouveia relacionado a sociedade. E
se aquele DVD fosse parar nas mãos dos peritos, eles correriam um risco enorme
de um escândalo ainda maior envolver a família. E tudo do que os Gouveia menos
precisavam naquele momento, era de outro escândalo.
–Senhor François? –Indagou um policial.
–Sim? –Respondeu Dupré, nervoso.
–Acho que já está na hora de avisar a família
e a imprensa, sobre o que houve aqui.
–Pode deixar...
E no dia seguinte...
Os noticiários matinais diziam:
“Rachel Gouveia, que se encontra na UTI do hospital particular Aguilar,
matou o marido em legítima defesa, que pretendia matá-la primeiro. O acontecido
foi devido a uma possível traição por parte dela, com o farmacêutico Magno
Sanches.”.
–Isso é inacreditável!
Sônia ainda estava
incrédula com aquilo tudo. Aquele escândalo só prejudicaria a fábrica, mas o
pior ainda estava por vir. A família irá passar por uma série de depoimentos,
para que através deles a polícia possa julgar o relacionamento amoroso que
Rachel e Joaquim tinham um com o outro.
–Eles se amavam, como ela pode traí-lo?
–Não sei querida... Realmente não sei.
–Respondeu Lúcio, fitando a noiva.
–Eles pareciam felizes, não pareciam? Bom,
pelo menos para mim pareciam...
–Acho que o peso de cuidar de um marido
doente, fez Rachel procurar por outro homem que lhe desse prazer, já que o
Joaquim não podia.
–Ele tentou mata-la...
–É o que as impressões digitais dizem.
–O que você quer dizer com isso?
–Nada querida... Não quis dizer nada.
Silvana e João Pedro
também não acreditavam no que estava acontecendo na família. Rachel e Joaquim
pareciam se amar incondicionalmente. Os dois eram o casal mais equilibrado que
carregavam o sobrenome Gouveia. Porém todo o equilíbrio parecia ter sido
perdido, junto com a razão.
–Tenho que te agradecer por você não ter
tentado me matar quando descobriu que eu te traía. –Disse João Pedro, sorrindo.
–Apesar de tudo, eu sempre te amei e você
sabe. –Silvana levantou do sofá e tentou seguir adiante, mas João Pedro segurou
seu braço esquerdo.
–E me ama agora?
–E você ainda pergunta?
Ele pôs suas mãos nas
costas dela um pouco acima de seu quadril, contraiu o corpo de Silvana contra o
seu e a beijou na frente de todos que estavam na sala de espera. As mãos de
João Pedro corriam pelo corpo de sua esposa, que tremia com a pegada do marido.
O perfume dela fazia com que ele não a largasse, prolongando mais e mais o
beijo, que mais parecia de cinema americano.
–O que foi isso? –Indagou Silvana, olhando
timidamente para João Pedro. –Nós dois sabemos quem você ama e não sou eu...
–Já te amei um dia. –Respondeu João Pedro.
–Então isso significa que posso te amar de novo. Só quero tentar, você me dá
uma chance?
Silvana sorriu
timidamente para o marido, acariciou seu rosto e respondeu:
–E você ainda pergunta?
O carro de Sueli
voltou a espantar os pombos que haviam tido sossego durante algum tempo. A
delegada, que vestia algo estranho parecido com um vestido preto, botas
amarelas e um chapéu roxo, se dirigiu a sala de espera do hospital Aguilar para
iniciar com os depoimentos sobre o relacionamento de Rachel e Joaquim.
–Atrapalho? –Indagou Sueli à Dupré.
–E quando é que você não atrapalha? –Respondeu
Dupré, sorrindo.
–Eu só não te prendo, por que tenho coisas
importantes pra fazer... Mais me diz, que beijo foi aquele?
–Também não entendi nada.
–Pensei que os dois se odiavam.
–É eu também pensava, mas vai saber, não é?
Enquanto Sueli e
Dupré conversavam, Magno deu um jeito de passar pela segurança do hospital
usando uma identidade falsa e um crachá de enfermeiro. O farmacêutico caminhou
pelo corredor rapidamente, segurando uma prancheta branca, para não ser
reconhecido por ninguém ou expulso por não fazer parte da equipe médica do
hospital. Por sorte, não havia ninguém na UTI. Rachel estava toda entubada e
parecia estar dormindo em um sono profundo.
–É incrível como até inconsciente você fica
linda. –Disse Magno, tocando a mão direita de Rachel. –Se você soubesse como eu
te amo...
Durante aquele
instante, algo mudou no computador que registrava os batimentos cardíacos de
Rachel. Ela parecia estar reagindo. E segundos depois de Magno soltar sua mão,
Rachel abriu os olhos, que estavam fixamente vidrados naquele homem que havia
vindo visita-la.
–Rachel?! –Indagou Magno, surpreso e com
lágrimas nos olhos. –Eu pensei que algo grave estivesse acontecido com você.
Não sei o que faria se algo de ruim acontecesse a você.
–Magno... –Ela estava fraca demais para falar,
mas ainda sim poderia se lembrar perfeitamente em relação ao que acontecera na
mansão. –O Joaquim... Ele descobriu... E eu não tive escolha...
Sem conseguir se manter
acordada, Rachel fechou os olhos e acabou dormindo novamente.