Capítulo 4: Do Subúrbio ao paraíso, Soninha Berenice da Silva retorna as origens!
Nos capítulos anteriores...
Após a empregada de
Rachel trazer uma bandeja com chá inglês, a delegada começou as interrogações.
–Onde a senhora estava na hora da explosão?
–Indagou Sueli.
–Junto com os convidados do evento realizado
em homenagem a vovó. –Respondeu Rachel.
–E a dona Helena, onde estava?
–Para ser sincera eu não sei... A última vez
que eu vi a minha avó antes de subir no palco, foi quando ela saiu da limusine.
–Vocês mantiveram contato durante o dia da
explosão antes de irem ao evento?
–Eu não lembro...
–Como não lembra? Não se passou nem 127 horas
que aconteceu o acidente.
–Eu simplesmente não lembro, por favor, não me
pressione!
–Ok... E o seu marido, onde estava?
–No banco. O Joaquim e a minha avó não se
davam bem...
–Suponho que ele seja um suspeito por manter
antipatia com a magnata mais rica e famosa do Brasil.
–Como assim mais rica?
Encostada na
limusine, usando um longo vestido Armani, calçando Prada e carregando nos olhos
óculos escuros. Helena espiou por alguns minutos uma mulher que jantava em um
restaurante classe baixa, localizado no subúrbio Paulista. Ao lado de Dupré, a
empresária estava certa de que aquela era uma de suas netas perdidas.
–Tem certeza senhora? –Indagou Dupré,
espantado.
–Absoluta, essa é a Esther, a filha roubada do
meu menino... Que agora se chama Soninha Berenice da Silva.
Antes de sair da
mansão, Helena escreveu uma carta e mandou um dos empregados entregarem há uma
mulher e junto a esta carta continha outro documento. [...]
Campo Belo- São Paulo
Era dia dos carteiros
passarem nas casas para entregar contas, correspondências, pacotes e entre
outras coisas. Horas antes da morte de Helena, Adalberto recebeu uma missão da
patroa, de entregar um envelope há uma mulher no subúrbio Paulista. O empregado
aproveitou que era dia dos carteiros e se passou por um, deixando o envelope na
caixa de correspondência da endereçada. Ele saiu como uma nuvem de fumaça, mas
antes para se certificar de que ela receberia o envelope, bateu no portão da casa
a fim de fazê-la sair para ver o que era. A reação da mulher não foi diferente,
ela saiu pelo portão vestindo um baby-doll transparente surrado pelo tempo e
logo se deparou com o envelope em sua caixa de correspondência.
–Mamãe a senhora estava esperando alguma carta
ou correspondência de alguém? –Gritou Soninha à mãe. –Tem um envelope na caixa
de correspondência...
–Não tem remetente? –Indagou a mãe, saindo
pela porta da casa com pintura descascada.
–No envelope não...
–Vamos entrar, lá dentro abrimos e
verificamos.
Curiosa para saber o
que continha no envelope, Soninha Berenice não perdeu tempo, abriu o mesmo e se
surpreendeu, nele continha uma carta de Helena Gouveia, a ricaça que acabara de
falecer em um misterioso acidente, e um testamento. Ambos endereçados a ela. Ao
olhar para a mãe, ela percebeu que algo estava errado, pois a mesma estava
pálida e com as mãos trêmulas.
–A senhora está bem? –Indagou Soninha.
–Como pode depois de tantos anos essa mulher
pode ter nos encontrado? Como ela teve coragem de mandar isso para você?
Maldita! –Exclamou Leda. –Nem depois de morta me deu sossego.
–Do que a senhora está falando?
–Seja lá o que ela tenha escrito aí, saiba que
eu te amo muito minha filha, apesar das coisas que eu tenha feito no passado.
Na mansão dos
Gouveia, Adalberto chegou ofegante e nervoso, no fundo ele sabia que algo
bombástico aconteceria. O empregado se dirigiu ao quarto de François Dupré, que
já havia voltado do evento em homenagem à Helena. Gaguejando e com as mãos
trêmulas, Adalberto assustou o fiel escudeiro da falecida, que lhe ofereceu
água com o intuito de acalmá-lo.
–Beba isso e fale devagar. –Disse Dupré.
–Desse jeito você vai acabar se engasgando homem! Que diabos aconteceu?
–Antes de morrer a dona Helena pediu que eu
entregasse um envelope a uma moça pra ela. E eu fiz isso a pouco, não podia
deixar de executar um pedido da dona Helena. –Respondeu Adalberto.
–Suponho que você tenha ido até o subúrbio
Paulista... Não foi?
–Sim, senhor.
–É melhor prepararmos o mundo para mais um
choque de ordem, é incrível como até depois de morta a minha rainha pode causar
tanto alvoroço.
–Fiz mal em entregar o envelope?
–Fez muito bem! Era vontade da dona Helena.
–Que bom... Assim fico um pouco mais calmo.
Novamente os pombos
correram da viatura da delegada Sueli, mas dessa vez ela havia estacionado em
frente ao palacete dos Gouveia, sua meta no momento era interrogar alguns
integrantes da família que habitam a mansão. Dessa vez usando um terninho bege
e óculos escuros na cabeça, a mulher nada sensual desceu do carro acompanhada
de dois policiais e mostrou seu distintivo ao segurança da mansão, que em
seguida a deixou entrar. Com um olhar desconfiado, Silvana recebeu à delegada,
que visualizava tudo ao redor, cada detalhe não passava despercebido. Sueli
mais parecia uma perita do que delegada.
–A que lhe devo a honra, delegada? –Indagou
Silvana, em um tom irônico.
–Eu vim fazer algumas interrogações à senhora.
–Respondeu Sueli, no mesmo tom irônico.
–Aceita algo? Suponho que esteja faminta ou
sedenta.
–Estou faminta e sedenta sim, mas por
respostas concretas... Aceito que a senhora responda as minhas perguntas sem
hesitação.
–Pois então comece querida.
De longe, Dupré
observava os olhares mal-encarados das duas partes, aquelas duas mulheres
pareciam estar disputando uma posição, difícil dizer quem perderia.
–Como era a relação da senhora com a dona
Helena? –Indagou Sueli. –Ouvi boatos de que não era das melhores.
–Eu e a vovó não éramos melhores amigas, mas
também não éramos inimigas. Tínhamos uma relação um tanto adocicada.
–Defina, adocicada.
–Dias estávamos bem uma com a outra, dias
estávamos mal.
–E na noite do acidente, vocês estavam bem ou
mal uma com a outra?
–A verdade é que a minha avó nunca gostou da
maneira como eu tratava meu filho, Wagner, e nunca suportou a ideia dos meus
cinco casamentos fracassados, ela queria que eu fosse como a Rachel, só que com
um marido superior ao Joaquim.
–Não foi isso que eu perguntei.
–Estávamos... Bem.
–Entendo. Como o seu filho está reagindo em
relação a isso tudo?
–O Wagner está tão abalado... Não o vejo desde
o velório de hoje cedo.
–Tem ideia de onde ele pode estar?
–Infelizmente não.
–Como era a relação dele com Helena?
–A mais amorosa possível. Ela tinha um amor de
mãe sobre ele e ele um amor de filho por ela, a verdade é que minha avó possuía
meu filho de uma maneira que eu nunca consegui possuir.
–E isso te abalada?
–Sim.
–A ponto de querer destruir a sua avó?
–Claro que não.
–Ouvi dizer que mães fazem de tudo para ganhar
a confiança dos filhos.
–Não ganharia a confiança do Wagner matando a
pessoa mais importante da vida dele.
–Faz sentido.
–Se não se importa... Podemos continuar isso
depois? Estou um pouco indisposta.
–Ok. Voltarei em breve, mas não para
interroga-la...
–Não quero o meu filho envolvido nisso, ele é
apenas um adolescente.
–Sinto muito Silvana, mas é o meu trabalho.
Bem longe de casa e
acompanhado de um rapaz belo, Wagner pode espairecer um pouco e “esquecer” os
acontecimentos dos últimos dias. Sentado na beira da cama de Pedro, Wagner
observou as paredes do rapaz, repletas de molduras em preto e branco de fotos
suas e de sua família, de quando ele era criança. Ambos de mãos dadas na praia,
em parques temáticos... Em todas as fotografias um sorriso imenso habitava o
rosto daqueles que faziam elas. Ver aquelas fotos fez com que lágrimas
brotassem nos olhos de Wagner.
–Tem algo de errado? –Indagou Pedro,
preocupado.
–Por que me trouxe até a sua casa? Nem me
conhece... –Disse Wagner. –As pessoas não trazem estranhos até seu quarto, se
for me matar faça logo.
–Não seja bobo. Eu não sou qualquer pessoa,
meu sentimentalismo faz com que eu me preocupe até com quem eu não conheço, e
você estava em prantos no velório da sua avó.
–Ela era a pessoa mais importante da minha
vida, difícil não estar em prantos.
–Onde você vai passar o natal e o réveillon?
–Em casa... Por quê?
–Meus pais e eu iremos celebrar no Rio de
Janeiro, a queima de fogos na praia de Copacabana é divina, poderia vir com
agente.
–Prometi a minha namorada que daria atenção a
ela depois que tudo isso passasse.
–Se mudar de ideia, meu convite ainda está de
pé.
–Obrigado.
–Agradeça aceitando o meu convite.
Soninha ficou
espantada com a reação da mãe e cada vez mais curiosa para ler o que estava
escrito naquela carta. Perguntas como Por
que um testamento? Por que a minha mãe está tão nervosa? O que de tão tenebroso
há nessa carta? Surgiram na mente dela. Que sem conseguir conter a tensão,
rasgou o envelope e abriu a carta com a mãe direita, segurando o testamento com
a esquerda. A letra era bonita e começou assim:
“Sei que você deve estar se perguntando o porquê desse envelope e o
porquê da reação assustada de sua mãe. Eu queria poder te contar pessoalmente a
verdade, mas infelizmente não sei o que poderá me acontecer nos próximos dias,
por isso mandei que lhe entregassem essa carta. Antes de tudo não sinta medo,
você é apenas uma daquelas que talvez fará por merecer toda a minha herança.
Soninha, seu nome era Esther, você é a filha sequestrada do meu falecido
primogênito que morreu em um acidente de avião, levada para o subúrbio por essa
mulher que um dia fora minha amiga e se diz sua mãe. Só o que eu posso dizer é
que você é neta de Helena Gouveia e está incluída no testamento da família, que
deve ser lido em breve. A cópia que está no envelope inclui o nome das suas
primas e algumas informações da família e da empresa que você deve saber, mas o
valor só será discutido na leitura do testamento original. Leve essa cópia,
está registrada em cartório, suas primas não poderão te impedir, você é uma
legítima Gouveia.”